Enquanto dançava alegremente, o globo começava a piscar e as luzes se apagaram. Nessa hora todos gritaram de alegria e a música ficou mais alta. Eu estava perdida na pista, não sabia mais quem estava ao meu lado dançando. Senti mãos na minha cintura, mas não sabia de quem eram. A pessoa que estava atrás de mim me puxou para perto e dançamos juntos. Estava escuro e a pessoa fazia de tudo para eu não vê-la. Desisti de saber quem era e dancei. Dançamos muito, eu ria, a pessoa ria. Sentia a respiração dela bem no meu ouvido. A música agitada mudou para uma lenta e a pessoa me girou e me puxou para mais perto. Agora estávamos com os corpos colados. A pessoa me apertou contra seu corpo para eu não poder vê-la. Se não podia vê-la, podia senti-la. Então apoiei minha cabeça naquele ombro largo, fechei os olhos e agarrei a minha mão direita em sua nuca. A outra mão estava segurando o braço musculoso dele. Senti a maciez do cabelo e sei que era enrolado. Ele me segurava firme contra seu corpo, senti que estava acariciando as minhas costas. Ele suspirou. Na realidade parecia que ele estava cheirando a minha pele. Quando a música acabou senti seus lábios no meu ombro, depois ele me virou e quando olhei para trás tinha sumido. Fiquei olhando pelo salão em vão, não consegui identifica-lo. Sair da pista para comer algo e tomar um ar. Quando estava colocando algo na boca, senti uma mão ao meu ombro.

— Aceita dançar comigo?

Virei e vi Apolo com aquela cara de galanteador. Dei risada e segurei em sua mão.

— Aceito.

Fomos até a pista. Apolo colocou as minhas mãos envolta do seu pescoço enquanto ele segurava a minha cintura. Acompanhamos a música em silêncio, um olhando para o outro. Para mim era estranho dançar desse jeito com ele, afinal sempre o vi como um amigo. Segurei o cabelo dele e percebi que não fora ele que dançou comigo minutos atrás.

— O que está pensando?

Suspirei.

— Tentando achar a resposta de algo.

— Mais cedo ou mais tarde irá achar. Está se divertindo?

A imagem de Dionísio dançando me fez rir.

— Claro que sim! Essa festa me rendeu boas risadas. Estou adorando tudo.

Ele sorriu.

— Fico feliz, afinal você andava tão mal-humorada. Estava precisando de uma diversão para colocar um sorriso neste rosto.

— Você tem razão. Como estão as coisas com você e Ártemis?

— Na mesma. Cada um se amando mais a cada dia.

Dei risada.

— Amor de irmãos.

— Nos amamos do nosso jeito. Aquele jeito torto de ser.

— Estou percebendo.

O silêncio voltou e eu não aguentava mais encarar Apolo, então apoiei a minha cabeça no ombro dele. Apolo é bem bonito, mas não o vejo de um jeito diferente além de amigo.

— Eu tenho uma coisa para te dizer.

Não gostei muito desta frase.

— Diga.

Ele demorou um pouco e depois suspirou.

— Nos conhecemos há tanto tempo e não consigo mais esconder esse sentimento de atração que tenho por você, Alexis.

Tentei fugir dessa confissão por tanto tempo... Não quero magoa-lo.

— Sei que você me considera o seu amigo, mas se você me der uma chance talvez consiga transformar essa amizade em outra coisa.

Ainda continuo achando que não é uma boa ideia. Mas também não quero magoa-lo...

— E então, o que me diz? Você está tão calada que me dá medo.

Ri sem emoção depois dessa confissão.

— Não quero mentir para você, mas estava tentando evitar esse tipo de confissão tem muito tempo e admito que só o vejo como meu amigo. Não sei se daria certo, Apolo.

— Entendo o seu ponto de vista. Me coloco em seu lugar, até, mas bem que você poderia se colocar em meu lugar também. Imagine como é gostar de uma pessoa e só tê-la como amiga? É chato. Põe-se em meu lugar só um pouquinho.

Fiquei pensando naquilo e ele tem razão. Creio que ele não me disse nada todo esse tempo porque se colocava em meu lugar. Agora é a minha vez de me colocar no lugar dele. Levantei a cabeça e o encarei. Os olhos dele refletiam esperança. Ai, isso me matava por dentro.

— Não sei o que fazer, na realidade.

Ele sorriu.

— Só fique quieta e deixe o resto comigo.

Ele segurou a minha cabeça e me beijou suavemente. Ele acariciava o meu rosto e aos poucos prolongava o beijo. Deixei que ele me beijasse verdadeiramente, afinal estava dando uma chance para ele me mostrar esse lado. Abri os lábios e deixei que nossas línguas se encontrassem. No começo foi estranho, para mim era estranho beija-lo. Mas depois, no decorrer do beijo, meu coração começava a disparar e eu me agarrava a essa sensação que penetrava o meu corpo. Quando o beijo terminou ficamos abraçados e nos balançando de acordo com a música, quer dizer, a música era agitada, todo mundo a nossa volta dançava de acordo com a batida, menos eu e Apolo, estávamos distraídos ainda. Alguém esbarrou em nós dois que nos fez olhar de cara feia para pessoa. Quando vimos que era Ártemis e percebemos a cara dela de “eu vi tudo”, nos olhamos e rimos. Depois entramos na folia junto com os outros deuses.

A noite parecia que nunca iria acabar.

Quando a festa acabou já era dia. Todos os deuses foram para os seus respectivos lugares para descansarem dessa farra que durou muito tempo. Quando cheguei ao meu quarto, caí na cama e dormir feito uma pedra. Todos os deuses trocaram o dia pela noite. Depois daquela festa, ninguém quis mais levantar da cama. Quando levantaram foram reclamando de dores em tudo quanto é canto e que nunca mais iriam participar de uma festa promovida por Apolo. Mal sabem eles que quem teve a ideia fui eu.

Quando eu acordei, vi que estava escuro do lado de fora. Levantei da cama e fui comer algo enquanto preparavam o meu banho. Depois de comer fui tomar um banho bem quente para relaxar as partes tensas do meu corpo. Também repassei aquela noite louca. Fora uma noite divertida e cheia de surpresas. A declaração de Apolo juntamente com o beijo e a dança com aquele estranho. Primeiro imaginei que fosse Poseidon. Se fosse ele, com certeza eu iria dar outro tapa naquele descarado. Por enquanto, irei esquecer e ficar neste mistério, afinal uma hora eu iria descobrir quem dançou daquele jeito apaixonado comigo. Terminei o banho e fui aos meus aposentos dormir novamente. Dessa vez eu iria trabalhar um pouco.