Morgana deixou os aposentos com o coração na garganta por um lado se culpava por não tê-lo aproveitado, por não ter esfregado na cara dele tudo o que acontecera quando estava enfeitiçado, claro que ele sabia, mas pensava que tudo era ilusão, por outro lado, se parabenizava pelo auto controle, podia ter se entregado a ele naquele segundo em que ele a tomou, mas não, ela o prendeu e fez o que devia ter sido feito, era assim que precisava agir.

O treino de Aithusa não iria demorar a chegar, mas precisava se concentrar em outras coisas nesse momento, ainda se perguntava por que Merlin não entregava Emrys, ele não era tão leal como ela pensava e mesmo assim se mantinha firme quanto a identidade desse homem.

Ela desceu as escadas até onde seu pequeno dragão estava preso e o soltou, o animal a rodeou e a cheirou pedindo por carinho, varias vezes parecia com um cachorro de rua, tão esperto quanto qualquer outro, mas era forte, uma vez Merlin a levara para voar em seu lombo e tivera medo de cair, era um dos primeiros voos do bicho e por isso tremia, mas Merlin a abraçou e aquilo a fez sentir melhor. Eles cruzaram o deserto de gelo, o vento frio fazia com que ela tremesse e se apertasse mais contra o feiticeiro atrás dela, Merlin era quente e confortável e a manteve quente durante todo o passeio, antes de Aithusa descer ele sussurrou para ela.

- Eu sempre te amei – aquilo a fez a arrepiar e ele a apertou com mais força, ela precisava soltar aquelas palavras, precisava dizer que o amou por todo o tempo que estivera em Camelot, precisava confessar que Morgause as vezes brigava com ela por pensar demais nele e que quando ficava sozinha na pequena cabana, quando exilada, pensava nele, ele havia sido seu maior inimigo, era sempre o primeiro que pensava quando ia dormir e o primeiro apensar quando acordava, seus ataques se voltavam a ele e era ele que ela queria ao seu lado no trono, mas qualquer coisa quebraria o feitiço.

Ela foi tirada de seus devaneios por um ronco do dragão , sabia que Aithusa sentiria falta dele quando fosse embora e o pequeno detalhe era o fato do animal sempre pedir quando chegava a hora das aulas.

- Ma – a pequena dragão resmungou enquanto mastigava um pedaço de seu vestido, aquilo trouxe água nos olhos da bruxa, “logo estará falando”, disse o dragonlord dias antes, agora queria simplesmente lhe contar o que estava acontecendo.

Aithusa esvoaçou até o teto e bateu com a cabeça na pedra dura que separava a caverna das masmorras e resmungou – Pa.

- Você quer ver o seu pai não é – Morgana simplesmente deduziu, o dragão o amava quase tanto quanto a ela – Vá para fora que eu já o levo.

O dragão saiu da caverna e Morgana voltou a subir para as masmorras.

Merlin tinha os braços pesados, tentara reaver a voz de tantas formas, mas nenhuma funcionou muito bem, sua voz soava rouca e cansada, como a de Emrys, seus braços reclamavam levemente, mas ainda aguentariam um bom tempo, mas tinha de treinar Aithusa e essa era sua esperança de sair dali.

Morgana abriu a porta e entrou, sabia que não poderia falar, tinha medo de ser descoberto, mas Morgana agarrou seu rosto e sussurrou em seu ouvido, seus pelos da nuca se eriçaram sem que ele pudesse controlar, podia ser pelo perigo ou simplesmente pela tensão sexual.

- Quem é Emrys – ela falou pausadamente como se fosse debilmente.

- Se soubesse já o teria entregue a Arthur – sua voz voltara ao normal quando respondera e Morgana não pareceu surpresa por isso – Sabe que foi ele quem matou seu pai? – Morgana o encarou raivosa, quase podia ver a espuma escorrendo pelos cantos de sua boca e os olhos vermelhos como o de um animal feroz - Uther?

- Vamos Merlin, ambos sabemos que você mais esperto do que isso – os rostos estavam tão próximos que o cheiro doce de Morgana o invadia de forma quase obscena. – Você sabe que eu matei Uther – ela sussurrou centímetros longe de seus lábios.

- Seu próprio pai, que menina má você, não Morgana? – ele sabia que estava provocando demais, mas não podia parar agora, não com aquela tensão crescente entre eles.

- Ele não era meu pai – ela falou olhando em seus olhos – Eu era sua bastarda.

- Mas ele lhe amava – aquelas palavras haviam mexido com ela, mas jamais deixou Merlin saber.

- Assim como você, não Merlin? – o olhar assustado de uma criança quando é pega desobedecendo a mãe se instalou nos olhos do servo, agora a brincadeira estava ficando divertida – Assim como toda a Camelot, que amava sua pequena bonequinha obediente, amavam aquela estúpida que baixava a cabeça para um rei tirano, mas ninguém contava com a magia.

- Você está corrompida. – ele atirou simplesmente – A magia não é má.

- Eu sei que não, mas Uther era – ela respondeu – Merlin, admita que mesmo você agradece a morte de Uther – o rapaz não respondeu a provocação da mulher a sua frente, ela não precisava saber o quando os atos dela haviam sido uteis a ele – Agora você diz que estou corrompida, sim estou e quer uma confissão formal? Ai vai ela – ela agarrou sua mandíbula e o trouxe, novamente, para centímetros de distancia, onde ele podia ver com clareza seus olhos e cuidar cada movimento de seus traços faciais – Eu, Morgana Pendragon, sou a responsável pela morte do senhor, meu pai, Uther Pendragon, rei de Camelot

- Bem, então parece que terei de entrega-la.

- Você faria isso se pudesse, não tenho duvidas, mas eu realmente não vejo como, se não possui sua voz.

A voz voltou a lhe faltar, com um baque surdo o feitiço de Morgana fez suas correntes se soltarem e ele desabar no chão.

Eles caminharam em silencio até o pátio exterior, Merlin na frente e Morgana logo atrás carregando suas correntes, impedindo qualquer forma de fuga e ela só o liberou depois que o enorme dragão branco já estava sobre ele, apesar de seu tamanho Aithusa ainda podia ser considerada um bebê e não se deixava agir de outra forma.

- Calma garota eu não vou fugir, eu juro – Morgana apenas viu a cena de longe, mas ao ouvir as palavras do bruxo, desejou, internamente, que fossem para ela, que ele nunca tentasse fugir.