Quando Kagome e seus amigos terminar de jantar, a moça se levantou e arrastou a Sango pelo braço até sua própria cabana.

- Kagome? Está tudo bem? – Ela perguntou preocupada. Sango havia percebido que Kagome estava estranhamente quieta durante o jantar. Ela suspeitava que tivesse alguma coisa a ver com Kouga, Miroku já havia lhe contado sobre a chegada do youkai à vila, mas ela queria saber a verdade pela boca de Kagome.

A jovem sacerdotisa se jogou em sua cama.

- Ah Sango, eu não sei o que fazer! Eu não sei o que dizer, o que pensar!

- Kagome, você está me deixando confusa. Se você me explicar o que está acontecendo talvez eu possa ajudar...

- Eu sei, desculpe-me. – Ela suspirou e se ajeitou na cama. – Você sabe que eu estava me encontrando com o Kouga e que ele foi embora para cuidar de sua alcateia e tal. – A exterminadora concordou com a cabeça. – Ele voltou hoje. Na verdade foi o Miroku quem me avisou que o lobo estava me esperando. Bem ele... O Kouga me pediu para...

- Para quê? Para acasalar com ele? Não há nenhuma surpresa aí, mas e então o que você vai dizer? Vai aceitar? – Ela perguntou animada.

- Não! Sango! É verdade que ele já pediu uma vez para eu virar sua mulher e é bem provável que ele me faça outro pedido... Mas Sango, como eu poderia aceitar? – ‘Por que será que ela parece tão animada com a possibilidade de eu acasalar com o Kouga?’ Ela perguntou para si mesma. – Eu não o amo...

- Bem, eu sempre achei que você tivesse certa afinidade com ele... – A caçadora retrucou.

- Talvez eu tenha. Eu gosto muito dele. Mas apenas gostar de uma pessoa não é motivo suficiente para se juntar com essa pessoa para o resto da eternidade! – Kagome disparou em sua defesa.

- É, eu sei. Desculpa. – Sango segurou uma risada. Estava claro para ela que a Kagome não apenas gostava do youkai lobo. – Mas então o que ele lhe pediu?

- Ele me pediu para morar com ele na Tribo do Leste... – A garota contou, corando.

- O quê?! – Seu queixo caiu. – Eu sei que ele lhe ama, mas ele realmente pediu para você fazer parte de sua alcateia?

As bochechas já rosadas de Kagome ficaram ainda mais vermelhas.

- Uhm, sim.

- Para um youkai lobo convidar um forasteiro para se juntar à alcateia... Principalmente uma humana... Kagome, você deve ser muito, e eu quero dizer muito, especial para ele!

- Eu não havia pensado dessa forma. Você tem razão. Convidar alguém para fazer parte de sua tribo deve ser algo muito sério para os youkais lobos...

- Eeeeeee? O que você respondeu para ele? Qual foi sua resposta? – Sua amiga perguntou, incrivelmente animada novamente. – Você respondeu “sim”, não respondeu?

- Sango! Eu nem dei a ele uma resposta ainda!

- Por que diabos você ainda não o respondeu? Corra lá e diga que aceita!

Kagome encarava sua melhor amiga com curiosidade e cautela. A animação e o incentivo que Sango demonstrava às ideias de Kagome e Kouga ficarem juntos estavam assuntando a sacerdotisa.

- Eu não o respondi ainda porque eu estava pensando em vocês, por isso eu lhe trouxe até aqui. Eu não sei o qual resposta dar!

Sango sorriu e se sentou ao lado de Kagome na cama. – Kagome, se você está indecisa só por causa do Shippo, do Miroku e de mim... Você deveria ir. Nós ficaremos bem. – Ela abraçou a amiga com força. – Vamos sentir sua falta, mas acredite, nós entendemos.

- Mas e o coitadinho do Shippo? Ele é apenas uma criança... Ele é muito apegado à mim...

- Eu sei. Mas ele vai partir para a academia de kitsunes em alguns meses de qualquer maneira. E só Deus sabe quando ele vai voltar para nós. Ele está crescendo, Kagome. – Ela apertou ainda mais o abraço. – E eu consigo ver em seus olhos que você quer ir com Kouga!

- Mas não será errado? Eu não sou nada dele. Se fosse para eu ser sua fêmea daí seria aceitável. Mas eu não sou nem nunca serei, e ele sabe disso.

- Ele lhe deseja lá e é isso que importa. – Sua amiga respondeu dando de ombros. – Ele não é o príncipe? O lobo Alpha? Eu acho que ele não precisa de uma razão para lhe trazer junto com ele. – Ela deu uma leve risada. – E todos sabem que o que ele quer é acasalar com você.

- Sango! – Kagome protestou envergonhada. – Eu acho que vou dar uma volta. Caminhar sempre me ajuda a pensar.

- Claro. Só tome cuidado.

-x-

A noite estava incrivelmente agradável e o céu estava maravilhoso. Não havia uma única nuvem, permitindo assim as estrelas a brilharem livremente. Kagome estava deitada na grama fofa da clareira, olhando as estrelas. Ela notou que era noite de lua nova e seus pensamentos viajaram quase que instantaneamente para Inuyasha.

‘Onde será que ele está agora?Ele deve estar muito longe do vilarejo à essa altura.’Ela pensava. ‘O que ele pode estar fazendo?Ah, pare de se enganar Kagome, você sabe muito bem o que ele está fazendo. Ele está deitado em um galho forte de uma árvore bem alta, olhando para os céus, igual a mim... Provavelmente... Provavelmente pensando na Kikyou...’

Ela se levantou e começou a dar voltas na clareira. ‘Talvez ele esteja pensando em mim. Ou talvez em todos nós. Eu sei que ele ainda pensa em nós.’ Ela tentou livrar sua mente dessas ideias. ‘Eu não posso mais pensar nele. Preciso seguir em frente. Preciso decidir se vou ou não com Kouga.’ Kagome suspirou. ‘A Sango tem razão, eu quero mesmo ir. Não que eu queria deixar meus amigos, não. Mas o Kouga também é meu amigo, e eu já estive aqui por tanto tempo...’

Ela decidiu ir até o Poço, seu velho amigo. ‘Talvez seja melhor se eu for.’ Kagome olhou para a grande árvore sagrada e abraçou seu tronco. ‘Eu sei que eu jamais esquecerei Inuyasha se eu permanecer aqui. E eu preciso esquecê-lo... Eu nunca mais vou vê-lo mesmo...’ Após alguns minutos sentada embaixo da árvore ela sorriu. Ela já sabia sua resposta.

-x-

Na manhã seguinte Kagome estava radiante. Ela já havia empacotado seus poucos pertences em uma trouxa, mesmo sabendo que ela ainda teria que esperar alguns dias para Kouga retornar. Ela contou primeiro à Velha Kaede, e depois deu a notícia ao Miroku e à Sango que não pareceram muito surpresos.

Agora ela estava com Shippo, coletando água do rio em pequenas vasilhas.

- Ei Kagome. – O pequeno youkai chamou. – Você se encontrou com o Kouga ontem?

Suas bochechas ficaram um pouco rosadas.

- Sim. Na verdade há algo que eu preciso lhe contar. – Ela disse, deixando sua vasilha de lado e encarando o kitsune com um olhar sério. – Algo importante, Shippo.

- Ah não, Kagome. – Os olhos do menino que a pouco estavam alegres se tornaram tristes. – Da última vez que você me contou “algo importante” o Inuyasha foi embora...

O coração da sacerdotisa se encheu de pesar. Ele já havia entendido do que o assunto se tratava.

- Você vai nos deixar também, não é? – Ele perguntou-lhe. Pequenas lágrimas começaram a se formar nos cantos de seus brilhantes olhos verdes. A Kagome não tinha coragem de responder. Ela apenas o encarou com um olhar de alguém culpado, mas que sentia muito. – Oh, Kagome! – Ele gritou e se jogou em cima dela, envolvendo-a no abraço mais apertado que seus pequenos braços permitiam.

Shippo dormiu com Kagome naquela noite. Ela pensou em levá-lo junto com ela, mas se ela o fizesse não teria como o pequeno youkai ir para a academia de kitsunes. Ela sabia que ele precisava ir para poder virar um forte e poderoso youkai como seu pai fora. De todas as coisas que ela já teve que fazer na vida, dizer adeus ao Shippo era uma das piores que ela teria que enfrentar.