Cego Coração escrita por Aella


Capítulo 19
Décimo Nono Capítulo - Juntos


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Espero que esse capítulo grande e cheio de surpresas, emoções, esperanças e descobertas compense! *-*



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‘É amanhã, Kouga. É amanhã.’ Kouga dizia para si mesmo. O vento voava feroz contra seu rosto, carregando seus cabelos negros, presos em seu habitual rabo de cavalo, junto com ele.

Estava em seu lugar favorito, sentado, como havia estado no dia da invasão dos Youkais Aves, e em incontáveis outros dias desde sua infância. Respirou o ar quente de verão, sentindo o cheiro do rio que atravessava seu território, da vasta floresta que delimitava sua fronteira, das montanhas sobre a qual sua tribo habitava.

‘Amanhã.’

Ele já havia planejado tudo. Sairia cedo, antes do amanhecer. Faria sua caminhada para o topo dessa montanha, trazendo consigo dois gravetos, algumas pelagens para servir de guardanapo, e, o mais importante, uma coroa de flores. Flores de cerejeira, para ser mais exato. Sua flor favorita. Elas lembravam-no de Kagome, linda, cheirosa, rosada e delicada, como sua Kagome. Após fazer isso, iria caçar peixes do rio, colocá-los em uma bacia. E ele taparia seus olhos por todo o caminho, carregando-a para ela não ter ideia de onde estaria indo.

‘Amanhã...’

Continuou sonhando acordado, até escurecer e ele ter que voltar aos seus afazeres. Dormir estava fora de cogitação. Ele estaria ansioso demais para conseguir sequer fechar seus olhos.

-x-

- Naraku! Desapareça! Deixe esse mundo e pare de atormentar todos, pare de promover o caos, pare de tingir tantas vidas com ódio e dor, e leve todo seu terror com você!

Meu dedo soltou a flecha purificadora, atingindo o hanyou, que há tempos era nosso pior e mais detestado inimigo, bem em seu coração. Inuyasha havia rompido sua barreira com a Tessaiga vermelha. Sango, Miroku, Kirara e Kouga cuidavam dos últimos youkais que restavam, que haviam se juntado a Naraku. Sesshoumaru havia atacado Naraku, distraindo-o por tempo suficiente para eu conseguir preparar uma flecha certeira e lançá-la.

Nosso inimigo mal teve tempo de reagir. Quando me ouviu gritando, virou sua cabeça rapidamente em minha direção, conseguindo apenas fazer uma cara de espanto antes de sentir a ponta da flecha corroer sua pele, purificando-o por inteiro. Graças à Shikon no Tama e meu desejo a ela, meus poderes de purificação contra Naraku estavam ampliados.

- Kikyou... Sua maldita... – Foram suas últimas palavras, e, por alguns momentos, eu me senti como se fosse mesmo a Kikyou, suspirando aliviada pela morte de Onigumo e Naraku, os dois homens – e, ao mesmo tempo, um só – que haviam feito de minha vida um mar de rancor, remorso, raiva e ódio. Assisti ao corpo do infeliz hanyou virar pó, e ser levado pelo vento para bem longe. Finalmente, poderia descansar. Eu já havia morrido, muito mais vezes do que eu tinha direito, era até engraçado, mas agora eu podia, finalmente, deixar esse mundo por completo. Esse sentimento dentro de mim... Eu finalmente achei minha redenção, finalmente estava livre.

E, como se uma força invisível tivesse me puxado para frente e depois me largado, a sensação de ver e pensar como Kikyou sumiu.

‘Ela estava morando dentro de mim todo esse tempo... Desde sua morte... Precisava de sua real vingança para descansar.’

Olhei para Inuyasha. Estava com a Tessaiga fincada no chão. Estava arfando, tentando recuperar sua respiração. Finalmente havia acabado. O fim de Naraku chegara. Ele me olhou, abrindo um sorriso de orelha a orelha. Nós conseguimos afinal, recuperar todos os fragmentos da Jóia, fazer o pedido e fazer a Jóia sumir desse mundo para nunca mais voltar, e destruir e nos vingar de Naraku.

Confesso que houve vezes em que eu até pensei que não conseguiríamos, que não aguentaríamos, que era impossível. Eu nunca iria desistir, mas houve mesmo vezes em que eu achei que era tudo em vão. Graças a Kami-sama eu estava errada. Eu nunca iria subestimar o poder do trabalho em equipe, da amizade, e da perseverança. Nós realmente conseguimos...

-x-

Sentiu um gostoso afago em seus cabelos, e abriu seus olhos lentamente. Encontrou, encarando-a de volta, um par de olhos azuis vivos como o céu de verão. Sua pele morena se esticou em um sorriso e seus olhos brilharam. A moça sorriu de volta.

- O que está fazendo aqui, Senhor Alpha poderoso e ocupado? – Brincou Kagome. – Não tem coisas para fazer a essa hora da manhã?

- Não hoje. – Respondeu, continuando a mexer nos cabelos negros e sedosos de Kagome. – E nem você. – Ela apenas o olhou confusa, pedindo-lhe silenciosamente por uma explicação. – Quero lhe levar num lugar especial hoje. Falei com Katsumi, você será livrada de qualquer tarefa hoje, e eu também. Hakkaku cuidará de tudo por mim.

- Levar-me num lugar especial? – Perguntou. – Mas que lugar é esse, que é tão especial ao ponto de nós dois tirarmos o dia de folga? – Riu, levantando-se parcialmente, ficando sentada na cama.

- Aí é que está, é surpresa. Você só saberá quando chegar lá.

- É tão longe assim?

- Não. Mas eu quero aproveitar cada segundo, então vamos com a maior calma possível, e vamos passar o dia inteiro lá. – Ele puxou seu rosto e depositou um beijo leve em sua testa. – Arrume-se, por favor. Eu gostaria que partíssemos o quanto antes. Quero aproveitar todo o tempo que eu tiver com você, Kagome.

A moça corou com as últimas palavras do lobo, mas fez como ele havia pedido. Levantou-se da cama e foi fazer sua higiene e se preparar para o dia intrigante que iria ter.

Enquanto se arrumava, vestindo um vestido de pelagens de um tom um pouco mais claro de marrom do que o normal para a tribo, Kagome refletiu sobre seu sonho.

Havia sonhado sobre a luta contra Naraku, a luta final. Não era exatamente um sonho, pois tudo era como realmente havia sido. Era mais uma memória, uma lembrança de que ela e todos seus amigos haviam conseguido. Eles foram vitoriosos. Eles agora estavam livres para viver suas vidas, finalmente, e serem felizes. Mesmo esse importantíssimo dia ter sido há três anos, Kagome sabia que ela não havia vivido feliz como deveria após o ocorrido. Só há alguns meses, depois que veio morar com Kouga, é que ela finalmente estava desfrutando da liberdade que conseguira ao acertar aquela flecha em Naraku.

Mas por que essa lembrança voltou a ela como sonho? Seria apenas aleatório? Ou seria um sinal? Mas sinal de quê?

‘Viva.’ Ela ouviu em sua mente, mas não eram pensamentos dela. Ela se olhou no espelho, e viu os olhos de Kikyou, poucos tons mais escuros do que os dela, encarando-a de volta. ‘Viva, Kagome. Não deixe de aproveitar sua vida, como eu.’ E, tão rápido quanto veio, a presença da antiga sacerdotisa se foi.

As perguntas continuavam a atormentar Kagome, porém. Kikyou? O que ela queria dizer com isso?

- Kagome? – Soou a voz levemente rouca, mas doce de Kouga. – Está pronta? – Ele não se aproximou, ficou em seu lugar, na entrada da caverna, não querendo entrar e invadir sua privacidade no caso de Kagome ainda estar se vestindo.

- Sim, Kouga. Estou pronta. – Ela sorriu para si no espelho.

Seja lá o que que a Kikyou quis dizer com sua mensagem, Kagome iria segui-la. Ela já passou por apertos e sofrimento demais em sua vida. Estava na hora de aproveitar, de rir, e de experimentar tudo ao máximo.

Ela saiu da caverna, encontrando Kouga. Ele se abaixou até a altura de seu rosto, beijando-a.

- Está muito bonita. – Disse, corando um pouco, e consequentemente arrancando um pouco de cor das bochechas da moça também.

- O-obrigada.

Kouga tirou de dentro de sua armadura um pedaço de tecido, estreito, mas comprido.

- Feche os olhos, Kagome. Irei tapá-los com isso. – Balançou o tecido. – Como eu havia dito, nosso destino será surpresa, então nada de olhar para onde estamos indo, viu mocinha? – Ele riu, e ela apenas assentiu, um pouco intrigada e envergonhada com tanto mistério.

Posicionou o tecido no rosto delicado de Kagome, e amarrou-o atrás. Kagome ouviu-o andar para um pouco mais longe, ajoelhar-se no chão, pegar algo, e voltar até ela.

- O que é isso? – Perguntou, mas ela já sabia a resposta.

- Surpresa. – Ele gargalhou por causa da expressão no rosto de Kagome. – Vou carregar-lhe até lá, tudo bem?

- Mhm. – Posicionou um braço embaixo de seus joelhos e um em suas costas, levantando-a.

Kagome podia sentir que em sua mão direita, o braço que estava segurando suas pernas, ele carregava aquilo que fora buscar, mas não quisera contar. Tentou alcançar o objeto com o braço enquanto Kouga andava, mas ele fez um som em reprovação, fazendo ambos rirem.

- Você está me matando de curiosidade, Kouga. Não é justo! – Reclamou.

- Prometo que valerá toda sua agonia e curiosidade.

Com isso, Kagome decidiu acreditar nele e se aquietou. Começaram a conversar sobre quaisquer assuntos triviais enquanto Kouga a carregava e, após algum tempo, Kagome sentiu uma diferença em sua inclinação. Kouga estava subindo algum lugar, uma montanha provavelmente, pois as cavernas dos lobos eram situadas bem em cima de uma cadeia de montanhas.

- O que acha de Sakuras, Kagome? – Perguntou Kouga de repente.

- Como assim, o que eu acho?

- Gosta dessa flor?

- Ah. Sim. – Sorriu. – Acho que elas são muito fofas e têm um cheiro delicioso.

- Também acho. – Falou o youkai. – Elas são rosadas, mas clarinhas. Puras. São macias de se tocar e delicadas. Sempre que elas estão em algum lugar, todas as outras flores ficam mais opacas, não conseguem competir com o brilho e beleza das Sakuras.

Kagome fez um barulho em aprovação, sem perceber que Kouga estava, na verdade, falando sobre ela mesma.

- E você, Kouga? Gosta de Sakuras?

- É minha flor favorita.

Foi carregada por mais vários minutos. Calculava que já havia passado mais de uma hora de caminhada, mas, Kouga sendo youkai, ele não cansaria, e ela estava sendo carregada, não podia reclamar.

De repente, sentiu os lábios carinhosos de Kouga descansarem momentaneamente em sua testa, e ele a pôs em pé no chão.

- Chegamos? – Perguntou a sacerdotisa.

- Chegamos. Venha, tirarei sua venda. – Kagome foi até mais perto de Kouga, e ele tirou o tecido que tapava seus olhos, como prometido.

- Uau... – Ela arfou em surpresa, desnorteada pela vista magnífica. Ela andou mais até a ponta da montanha, vendo o horizonte ao longe e a terra dos lobos abaixo.

Ela conseguia ver as crianças brincando no rio, pareciam minúsculas da altura que estava. Via os guardas, alguns parados e alguns andando, contornando as fronteiras. Via a grama verdinha entre a beira do rio e o início das cavernas. Via a imensa floresta na qual havia corrido e corrido quando Ayame veio visitá-los, um bom tempo atrás. Via a caverna principal, onde os lobos conversavam e interagiam, e mais tarde comiam. Via as outras cavernas dos outros lobos, e a que dividia com Kouga, a mais alta e maior, com a abertura por onde entrava a água da piscina e o sol.

Era uma vista e tanto, e ela pode entender o porquê de Kouga querer aproveitar a subida e ir devagar. Deveria ser lindo ver a paisagem enquanto subia.

Virou-se para dizer a Kouga o quão lindo ela achou aquilo tudo, o quanto estava impressionada, mas suas palavras travaram em sua garganta quando viu os preparativos no chão. Kouga já estava sentado na grama, bacia de peixes em sua frente, esperando-a.

- O-o quê...

- Venha, Kagome. Junte-se a mim. Vamos comer. – Chamou-a com um aceno de mão. – Você fazia essas coisas toda hora com seus amigos, como é que vocês humanos chamavam isso mesmo...?

- Um piquenique.

- Isso! Nome esquisito, mas é isso mesmo. – Ele riu, jogando sua cabeça para trás. – Vocês humanos dão cada nome peculiar para as coisas...

- Ah, e como é que vocês youkais chamam isso, então? – Retrucou ela, brincalhona.

- Apenas “lanche de peixe na montanha com minha fêmea”. – Seu sorriso convencido, que era sua marca legítima, estava estampado em seu rosto.

- Que original. – Ela riu, mas sabia que estava um pouco ruborizada. – Já volto.

Ele levantou uma sobrancelha em curiosidade, mas deixou-a ir. Ela logo voltou com alguns galhos e pedras. Vendo a expressão ainda curiosa de Kouga, ela se explicou.

- Fogo. Vou grelhar esses peixes para nós.

- Ah, é! Esqueci! – Ele deu um leve tapa em sua própria testa. – Ainda bem que você lembra de tudo Kagome. – Ele sorriu para ela e tirou de trás de si dois gravetos. – Eu também havia pensado em nós fazermos isso, por isso trouxe esses dois gravetos para espetarmos os peixes e colocá-los ao fogo, mas esqueci dos suplementos para criar o fogo.

Ela deu uma alta risada gostosa e sentou ao seu lado, montando os gravetos no lugar e chocando uma pedra na outra, até criar uma chama.

- O que seria de você sem mim, Kouga? – Perguntou, brincando, mas ele a olhou com um olhar tão sério e penetrante que ela sentiu seus pelos da nuca se arrepiar.

- Absolutamente nada, Kagome.

Pegou seu rosto com sua mão esquerda, trazendo-a para mais perto.

- Você é incrível. É a única coisa que eu quero em minha vida. – Sussurrou em seu ouvido, segundos antes de beijar-lhe apaixonadamente.

O beijo foi tão apaixonado e tão forte que Kagome amoleceu, caindo para trás. Kouga foi junto com ela, seus lábios não deixando os dela nem por um momento. Sua mão direita descansou na grama ao lado da cabeça da sacerdotisa, enquanto sua mão esquerda segurava seu pescoço, traçando seus dedos por ele delicadamente. Esses movimentos fizeram os pelos na nuca de Kagome se arrepiar ainda mais, e ela fechou seus olhos, aproveitando a sensação.

Sem perceber, as mão de Kagome estavam explorando as costas de Kouga, seus dedos estudando os traços dos músculos bem definidos do youkai lobo. Kouga trocou seus lábios pelo seu pescoço, empurrando os cabelos de Kagome para o lado e depositando beijos quentes ao longo de sua pele.

Um baixo gemido escapou dos lábios de Kagome quando sentiu a língua de Kouga traçar uma linha até sua orelha. Uma de suas mãos foi até os cabelos do príncipe, puxando seu rabo de cavalo e desfazendo-o. Os cabelos lisos e negros como a noite de Kouga cascatearam por cima de seus ombros, e Kagome adorou a sensação de passar seus dedos entre os fios. Ela puxou ele delicadamente pelos cabelos, afastando seu rosto de seu pescoço, onde ele estava a provocando. Ela deu uma boa olhada nele. Seus cabelos negros e soltos, rebeldes, contornavam seu rosto forte e moreno, um pouco ruborizados por causa do calor que passava entre os dois. Seus lábios partidos, seus olhos devorando-a, sua respiração irregular. Puxou-o com ferocidade para si, preenchendo os lábios partidos de Kouga com sua fome evidente, explorando seu interior.

O que eu estou fazendo?’ Sua mente perguntava, enquanto seu corpo ignorava. ‘Eu nunca agi dessa maneira antes, meu corpo nunca reagiu a nada assim. Mas eu... Mas eu... Estou amando...’

Ambas suas mãos agarravam Kouga pelos cabelos, e suas pernas começaram a entrelaçar-se automaticamente na cintura de Kouga. Abruptamente, ele soltou-se dela.

- Kagome... – Falou, arfante, piscando várias vezes. Tirou suas mãos dela, usando-as para tirar seu cabelo do rosto. – Eu... Precisamos parar. Viemos aqui para comer, então vamos comer. – Saiu de cima dela, delicadamente tirando suas pernas de seu lugar envolta dele.

A moça sentou-se, arrumando suas roupas, envergonhada. Havia adorado o que estavam fazendo, mas sentia-se um pouco ferida por ele parar de repente. Ele não havia gostado? Não queria que ela o tocasse daquela maneira?

Kouga arrumou seu cabelo de volta em sua devida maneira e pegou um graveto, espetando um peixe e pondo-o ao fogo que Kagome fizera. Olhava fixamente para as chamas. Kagome o imitou, pondo seu peixe ao lado do dele ao fogo. De vez em quando olhava para ele de canto de olho, tentando disfarçadamente estudá-lo, mas ele percebeu.

- Desculpe, Kagome. – Ele disse por fim, com um suspiro. Virou seu rosto para ela, dando um sorriso pedindo perdão.

- Você não... Queria? – Ela imediatamente colocou sua mão livre à boca, não acreditando que havia falado isso. – Q-quer d-dizer... Eu não q-quis perguntar i-isso...

Para sua surpresa, ele riu.

- Kagome! Primeiro, você não precisa ter vergonha de mim. – Ele lhe disse, seu tom de voz era rouco e um pouco perigoso, lembrando ela de um predador, mas um predador do qual elaadoraria fugir. – Segundo, é claro que eu queria. – Ele pegou sua mão livre na dele, acariciando-a. – Mas não irei continuar ou iniciar isso novamente.

- P-por quê? – Sentiu-se um pouco ofendida.

Ele levou sua mão até seus lábios, depositando ali um beijo.

- Vou ter que pedir para que fique sem enxergar novamente, mas não irei colocar um tecido sobre seus olhos. – Ela assentiu, relutante. – Estou confiando em você, hein. Nada de espiar.

Ele deu seu graveto para ela segurar e ela, em seguida, fechou seus olhos. Ouviu ele se levantar e andar para longe. Voltou segundos depois, foi bem rápido. Sentiu ele se aproximando dela e pondo alguma coisa em sua cabeça. Era leve e tinha um cheiro delicioso. Ele a beijou de leve antes de permiti-la abrir os olhos.

Ela assim o fez, e levou suas mãos ao topo de sua cabeça, sentindo pétalas macias roçando seus dedos. Ela reconhecia o cheiro agora. Sakuras. Flores de cerejeira. Ela sorriu para ele, ostentando sua coroa de flores com orgulho.

- Obrigada Kouga, mas ainda não entendo...

- Kagome, o que você sabe sobre o acasalamento de youkais lobos? – Ele perguntou de repente. A completa troca de assunto deixou Kagome um pouco assustada.

- B-bem, honestamente, acho que não sei nada. – Ela murmurou e ele sorriu.

- Nós não somos como os outros youkais. Todos youkais acasalam, mas nenhum como os lobos. – Ele explicou, pegando os dois gravetos com peixes, que há essa hora já estavam grelhados, da mão de Kagome e descansando-os na grama. – Nós temos uma cerimônia, onde o Alpha e todos da tribo devem comparecer, e alguns outros convidados de outras tribos se desejado. Nessa cerimônia, há um banquete e muita festança, onde todos darão as felicidades ao casal e todos se divertirão bastante. Porém, essa cerimônia não é o que sela a união. – Kouga pegou novamente a mão de Kagome na sua. – O que torna mesmo um macho e uma fêmea companheiros é a marca.

- A marca?

- A marca. A marca da mordida que o lobo macho dá na fêmea durante sua... Erm, primeira noite juntos. – Kagome enrubesceu. – A marca é deixada no pescoço da fêmea como um alerta para quaisquer outros machos de quaisquer espécies. Ela sinaliza que a fêmea já foi tomada, e que nenhum outro macho terá sequer chances com ela. – As pontas dos lábios de Kagome viraram um pouco para cima. Ela não podia deixar de achar tudo isso um tanto romântico. – Enquanto a fêmea fica com a marca, o macho não pode fazer nenhuma espécie de avanço em nenhuma outra fêmea. Não pode porque nunca terá o desejo. A marca pode não ser visível nos machos, mas está igualmente presente. Nenhum youkai lobo acasalado sentirá atração ou necessidade por alguma fêmea que não seja a sua.

Ele levou suas mãos até a coroa de Sakuras na cabeça de Kagome, ajeitando-a melhor nos cabelos escuros da sacerdotisa. Ela desviou seu olhar do dele, sentindo-se, de repente, muito envergonhada. Ela amava Kouga, sim, mas, como qualquer outra mulher, não conseguia segurar o rubor de suas bochechas quando o assunto evoluía para acasalamento e fidelidade.

- Lobos acasalam para a vida toda, Kagome. – Ele disse, passando as costas de sua mão de leve por sua bochecha, levantando seu queixo para forçá-la a olhá-lo. – Não há separação, não há volta. É aquele casal para toda eternidade. – Seus olhos azuis estavam incrivelmente sérios. - Você me ama?

Ela arregalou seus olhos com sua pergunta. Ele duvidada de seu amor por ele? Mas como, se era tão óbvio?

- Como você consegue fazer uma pergunta dessas, Kouga? – Ela murmura. – Está estampado em meu rosto, a cor rosa invadindo minha face sempre que você me toca, sempre que você dirige sua palavra a mim de forma mais doce. Está evidente em meus movimentos, em minhas ações. Você não acabou de ver onde fomos parar há pouco? Entrelaçados na grama? – Sua visão começou a borrar, pois lágrimas invadiam seus olhos castanhos. – Você sempre foi o centro do meu universo, mesmo eu demorando em perceber. Eu nunca estive tão feliz em minha vida, como estou agora em sua alcateia. – Ela lembrou-se da mensagem de Kikyou. “Viva, Kagome. Não deixe de aproveitar sua vida, como eu.” – Eu amo você. Oh céus, como eu amo você! E essas lágrimas que escorrem pelo meu rosto, traçando um caminho sobre minhas bochechas agora, são lágrimas de felicidade. Felicidade essa que eu demorei três anos para sentir, e que nunca quero deixar de sentir mais. Uma felicidade que só consigo alcançar com você.

Ele sorriu, todos seus dentes brancos à mostra. Seu peito tremeu com seu riso contente. Abraçou Kagome, enterrando seu rosto em seu cabelo, sentindo seu cheiro.

- Eu só tenho olhos para você, Kagome. Você é minha Sakura. – Sua voz estava abafada por causa de seu lugar em seus cabelos. Ela tirou-o de lá, para poder escutá-lo e olhá-lo melhor. – Eu amo você também. – Beijou-a, pegando seu delicado rosto em ambas as mãos. – Prometo que nunca terá que abrir mão de sua felicidade. Jamais deixarei seu pequeno e puro coração sentir medo, tristeza e pesar novamente. Porém, só conseguirei fazer isso se você me aceitar como seu companheiro. Por isso eu disse que nunca mais faríamos isso que fizemos na grama, por isso tive que nos interromper, antes que nos descontrolássemos. Eu quero fazer tudo certo, Kagome, tudo impecavelmente correto com você.

O coração de Kagome – o cego coração de Kagome, agora realmente cego de tantas evidências que havia visto, cego de amor – parou de bater por meio segundo. Piscou várias vezes. Ele já havia dito inúmeras vezes que ela seria sua mulher, mas nunca havia pedido assim, dessa maneira. Era mágico. Era um sentimento tão poderoso que fazia o estômago de Kagome se encher de borboletas, encher-se de expectativa e, de repente, inquietação. Ela queria ser a fêmea de Kouga, e queria agora.

- Acasale comigo, Kagome. Seja minha, só minha, finalmente. – Seus olhos azuis não deixavam os dela. Estavam absorvendo todas as reações de Kagome, e pareciam estar muito contentes com o que viam.

Ela pulou em cima dele, surpreendendo-o, mas ele conseguiu a segurar confortavelmente. Eles riram juntos, como duas crianças alegres, ele a rodopiando pelo ar, arrancando várias risadas dela.

‘Eu vou ser sua fêmea. Eu vou ser a mulher de Kouga, sua noiva. De verdade, dessa vez, sem mais fazer de conta para as outras tribos. Eu vou acasalar! Serei marcada, e todos saberão que eu pertenço ao Príncipe do Leste, e que ele pertence a mim.’

Ele a pôs no chão, um pouco tontos. Sorriam um para o outro como se nada mais existisse além deles dois.

- E então? Você ainda não respondeu. – Ele provocou. – Gostaria de se tornar minha?

Kagome jogou a cabeça para trás com uma alta risada que ecoou pelas montanhas. Agarrou-o pelo pescoço, dando-lhe um beijo feroz.

- Sim, Kouga. É lógico que sim. Sim, sim, mil vezes sim. – As lágrimas voltaram aos seus olhos, mas ela gostava de sua companhia. Eram lágrimas bem-vindas. – Eu sempre fui sua.

Com isso, riram e desfrutaram da companhia um do outro pelo resto do dia, comendo seus peixes, conversando, apreciando a vista e, ocasionalmente, roubando um beijo e uma carícia um do outro. O dia seguinte seria um dia muito ocupado para ambos.


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Notas finais do capítulo

Como sempre, peço que deixem suas opiniões, boas ou ruins, nos comentários. ^-^ Desculpem qualquer erro.
Esses dois são muito lindos não? Kagome ficando safadinha hein? haushau E os lobos são românticos ou o quê? *--*
PS: O que acharam do Kouga com o cabelo solto? sahuashua *babando*



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