Lycanthrope escrita por Kyoto, tomm


Capítulo 5
4. Irmandade


Notas iniciais do capítulo

Uma noite de enganos puxou o gatilho que move duas vidas em direções contrárias.



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 Henrique se lembrava daquela noite com dificuldade. Uma agulhada na lateral do pescoço o acorda, e depois uma paralisia momentânea, até que perdeu novamente os sentidos.

 Sonhou algo obscuro, negro. No mundo onírico, via sua vida se distanciando, para cada vez mais longe, e ele mesmo sendo deformado e lentamente, destruído. Sentia dores chatas, que teimavam em lembrá-lo que havia algo errado com seu corpo. Olhou para sua família. Seu pai alto e com os primeiros sinais de idade aparecendo em forma de rugas nas laterais dos olhos e cabelos prateados ao lado das orelhas. Sua mãe baixinha e rigorosa, com os cabelos artificialmente ruivos e alisados. Seu irmão alto e confiante, que apesar de completamente oposto, era uma das únicas pessoas em quem conseguia confiar plenamente. Todos eles, se movendo, chamando o garoto para a felicidade. Ele queria, com todas as forças alcançá-los, mas não conseguia mover seu corpo. Com horror, notou que eles se entristeciam, e viravam as costas decepcionados, indo na direção contrária. Não! Não me deixem aqui! Eu quero ficar com vocês! Não entendo, me salvem!! 

 Suplicando, foi acordado pelo impacto de ser jogado no chão. Estava em pânico. Tateou a superfície resistente que o prendia, e os sentidos mais primitivos que nunca se lembrou de ter afloraram de repente. Junto com eles, veio a dor. Seu pescoço queimava como o próprio inferno, e seu coração parecia gelado. Sentia o sangue como se fosse ácido correndo por suas veias e corroendo seus órgãos. Seus olhos pareciam espetados por mil agulhas, e especialmente, seus dentes teimavam em abrir espaço para inchar, sem que seu corpo tivesse o espaço necessário para comportar tal mudança. Gritou, esperneou, arranhou como um animal acuado. 

 Finalmente, ao custo de algumas unhas que ficaram presas dolorosamente no couro, conseguiu rasgar sua prisão. Contemplou a noite, ofegante, ainda em pânico. Sentia tantas dores que mal conseguia se concentrar. Olhou em volta. Algo lutava. Mais a frente, algo urrava. Algo sangrava. Estava com medo. Não era sua luta, então não tinha por que assistir ou torcer. Queria apenas sair correndo, o mais rápido para o mais longe que conseguisse, não importando o estado se seu corpo. Notou que estava perigosamente perto de um penhasco. Perto dele, aquela coisa asqueirosa uivava para a Lua. Não queria mais ver ou ouvir. Sem pensar, correu o mais rápido que pode e pulou pela borda do penhasco mortal. 

 Se encolheu, protegendo a cabeça. A medida que a queda era dolorosamente amparada por rochas e galhos, pedaços de suas roupas e dele mesmo eram deixados para tras. Não viu a pedra protuberante que se projetava em sua rota retilínea, batendo violentamente contra ele. Sentiu alguns ossos quebrando, e algo em seu interior gargalhou animalescamente. Quicou para fora, batendo contra os galhos grossos que compunham a floresta onde se encontrava. Instantes depois, levando o verde consigo, sentiu o baque final do chão, e sua consciência indo embora junto com a poça de sangue que se formava em sua volta.

 

 Novamente, pesadelos. Aquelas presas horríveis e sanguinolentas o procuravam em um labirinto infindável. Henrique nada fazia, além de correr com o rumo incerto, sabendo que o monstro estava em seus calcanhares. O horror o invadiu quando um beco se abriu na sua frente, encerrando seu destino. O monstro abocanhou-o sem dó, rasgando sua pele, fazendo-o morrer.

 Acordou novamente com as dores horríveis o fustigando. Gritava ardentemente, sem esperar resposta, apenas por gritar. Lágrimas saíam de seus olhos, a medida que a dor aumentava cada vez mais. Era como um veneno que mata ao simples toque, que invadia cada vaso sanguíneo de seu corpo. Quando chegou ao ápice, seu corpo se paralizou. Não conseguia mais respirar ou piscar, e admirou seu próprio torpor enquanto o Sol iluminava a copa das árvores, sem que a luz chegasse até ele, escondido pelas sombras. 

 Com a mesma lentidão que aparecera, agora a dor diminuía. Seu coração, porém, ele não mais conseguia sentir, e o calor o deixava. Sua pele se tornou alva como a neve, e seus cabelos perderam o brilho. Seus olhos, antes de um verde esmeralda, agora eram azuis cinzentos, frios como calotas polares inteiras não conseguiam ser. Quando voltou a respirar, notou que o fazia como uma ação mecânica, fazia por fazer. Olhou para a natureza a sua volta, e odiou aquilo tudo. Lembrou de sua família distante, como se fossem apenas pessoas com quem morou, mas com quem nunca trocara uma palavra sincera. Estava completamente lúcido naquela manhã, e sua existência se provava pelo simples fato de conseguir ouvir e ver. 

 Com um susto, notou os passos que se aproximaram sem convite. Galhos se quebraram e folhas foram amassadas pelos pés pequenos e delicados, protegidos por botas apertadas que rangiam o som do couro. Olhou para o lado e notou as formas femininas em baixo das roupas justas.

- Quem diria...? - Disse a voz fria com sotaque inglês.

 


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Notas finais do capítulo

╚ Consegui mostrar como foi horrível a transformação de Henrique em vampiro? (Não sabia que ele se transformaria em vampiro?! Qual seu problema?! O.o')
╚ Deixem comentários me dizendo se estão gostando da história... É mais fácil pra mim escrever sabendo as opiniões dos outros (desconhecidos imparciais, como eu disse. xD). Se bem que eu não acho que eu vá mudar uma vírgula do que imaginar por causa das opiniões de alguém... Mas nevermind, comentem plz. :D