Lycanthrope escrita por Kyoto, tomm


Capítulo 1
Prólogo - A dama branca


Notas iniciais do capítulo

Ele achava que iria acordar com a bexiga cheia em uma manhã normal.



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 Tomas não soube quanto tempo dormiu, mas um estrondo o acordou. Abriu os olhos rapidamente e tentava desesperadamente mantê-los abertos. Mais um barulho, como de madeira se esmigalhando. Ouviu algo parecido com tosses rápidas, como se alguém se afogasse. Mas que diabos?

 Terminou de acordar, levantou-se lentamente, os cobertores escorregaram pelo seu peito largo e caíram na altura da cintura. Imaginou o irmão embolado no meio das cobertas fofas na cama ao lado. Tudo parecia azul escuro durante a noite, salvo pela parca luz prateada que entrava atrevida pelas cortinas meio abertas. Com a ponta dos dedos, tateou o assoalho frio e resoluto e pousou a planta do pé no chão, sentindo calafrios percorrerem seu corpo. Fez a mesma coisa com o outro, mas desta vez o que sentiu foi algo molhado nos pés de sua cama. Henrique fizera xixi na cama de novo?! Não pensou direito, apenas desviou como pôde, enojado.

 Alguns passos em linha reta entre as camas estava a porta, que ele abriu puxando para dentro. A porta do quarto dos pais estava o seu lado direito, e, à sua frente, a cozinha pequena. Na porta do lado do quarto ficava a sala de estar, e após ela, à esquerda, o banheiro. Foi à ele. Acendeu a luz, olhou para o espelho. Ignorou os cabelos ondulados que desafiavam a gravidade e a cara amassada com marcas feitas pelas dobras do travesseiro e pela baba que escorrera durante o sono. Fez suas necessidades e empurrou a porta para sair. Não deveria tê-lo feito. Na frente da porta dos pais, uma parede de pêlos alta e fumegante parecia igualmente espantada ao notar que alguém a surpreendera. A face canídea de olhos escuros e raivosos estava manchada por sangue, que pingava em gotas rubras. Os pelos brilhantes, molhados de suor e sangue eram de cor marrom, e ele levava algo nos braços.

 O primeiro movimento de Tomas, depois de longos e intermináveis segundos, foi piscar. Uma gota de suor brotou de sua testa e caiu no chão. A coisa ouviu, pois as orelhas pontudas se moveram como um raio. A resposta de Tomas foi instintiva: fugir. Tentou correr para a primeira porta à sua direita, da sala de estar, mas o braço desocupado da criatura bloqueou seu caminho, quebrando a parede de madeira e lançando o garoto junto com destroços, que começou a jorrar sangue ao cair em cima da mesa e depois no chão perto de um fogão. Sua pele esfriou, e todo o sangue se converteu para os três grandes cortes no centro do peito, que iniciavam uma hemorragia. Tudo foi rápido demais, apenas depois disso veio a dor, excruciante e cruel, que tirava sua sanidade aos poucos. O garoto urrava, suplicando por um golpe final que não teve.

 A criatura apareceu ao seu lado, se espremendo para passar entre o fogão e a mesa. Olhou para o moribundo do alto de seus mais de dois metros e bufou algo. O braço de Tomas foi movido, e logo ele estava em contato com os pêlos quentes e grossos, que o levavam para a atmosfera noturna. Estava pendurado nas costas daquilo, e sentia sua respiração pesada e calma. Corria, saltando por cima de cercas e ruas, chegando ao bosque, onde desviava de arbustos e pedras, e logo adentrou na floresta, onde desviava de tudo. Tomas morria de dor, sentia que perdia a sanidade, mas algo o impedia de desmaiar. Estava mais acordado do que nunca. Sentia o ambiente à sua volta, sabendo exatamente onde estava. Sentia sua pele quente, e cada grão de terra que atingia seu rosto desprotegido. Sua ferida era um incômodo a parte. Parecia que seu sangue estancara, e, ao contrário de antes, sua vida agora vinha dali.

 Juntou as forças que não eram mais dele, e virou o rosto. Estava na montanha que se originava no centro da floresta, esta que ficava próxima à sua casa, mais precisamente na ponta de uma pedra elevada, que dava em um barranco. Enxergava obliquamente as luzes da pequena cidade que existia em volta, ao longe, mas não era isso que chamava sua atenção. Via a Lua. Maior e mais bonita do que jamais havia visto. Redonda e prateada, ela sorria para ele, como uma mãe sorri após parir seu filho. A criatura que o carregava inclinou a cabeça para cima e uivou, cantando à bela dama dos céus. Tomas não se controlou. Não conseguiu resistir à tentação, e começou a gargalhar para ela. Insanamente, ele já sabia. A Lua, era agora sua mais nova mãe.

 


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Notas finais do capítulo

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╚ Sim, foi curto, era pra ser curto.
╚ Sim, personagens e ambientação são minhas. Se quiser peça. Eu mordo.
╚ Sabe qual o legal de você comentar? Você NÃO perde os dedos! E ainda ganha pontinhos! E simpatia do autor! Que mara!!