Era Sábado e eu estava com Bridgit no quintal dos fundos. Ela queria ir ao balanço, mas não sabia se balançar sozinha.

Então ela havia me chamado para brincar com ela.

__ Me balança bem alto! __ Gritou ela quicando de entusiasmo no balanço.

Revirei os olhos e sorri.

Peguei as correntes e puxei para trás. Bridgit era bem levinha então o balanço não ficou tão pesado, mas ainda sim fiz um pouco de esforço para puxá-la para trás.

__ Auto! Auto! Auto! __ Repetiu ela rindo.

__ Um, Dois, Três... __ Contei enquanto segurava o balanço. __ Já!

Soltei o balanço e Bridgit gritou de animação enquanto o balanço ia para frente e para trás.

Observei-a enquanto se balançava e ria loucamente. Ela quicou algumas vezes no balanço, estava cheia de empolgação. Eu sorri enquanto a olhava.

Vê-la assim me deixava hipnotizada, estava tão feliz por uma coisinha boba que chegava a ser fofo e engraçado de assistir. Eu poderia balançá-la mais alto e ela ficaria mais feliz, e depois iria balançar mais alto ainda e ela gritaria, e depois mais alto e ela começaria a chorar, e depois mais alto... E ela cairia do balanço. Bateria a cabeça no chão e começaria a sangrar... Um sangue vermelho vivo e bem fresco.

Meus olhos arderam e minha boca salivou. Pisquei os olhos varias vezes e balanceia cabeça espantando esse pensamento, e então percebi que ainda estava sorrindo, como se estivesse gostando desse pensamento.

De onde isso veio? Como eu pude pensar nisso? Minha irmãzinha...

Respirei fundo. Não sei de onde veio esse tipo de pensamento, mas espero que não aconteça de novo!

__ Nessa idade tudo são flores não é?__ Disse uma voz conhecida atrás de mim.

Continuei observando Bridgit sem olhar para trás onde sei que Derek estava.

__ Você deve se lembrar dessa idade, não é? __ Ouvi Derek suspirar. __ Todos lembram, mesmo que apenas algumas coisas. Você deve se lembrar.

Virei-me para encará-lo com a testa franzida. Derek estava a muitos passos de distancia, mas estranhamente quando falava sua voz parecia que estava vindo bem do meu lado, a centímetros de minha orelha. Ele estava encostado no cercado olhando para o chão enquanto mexia distraidamente em uma flor violeta murcha em suas mãos.

Ele suspirou e olhou para mim. Seus olhos pareciam estar perturbados.

__ Do que você ta falando? __ Perguntei sem dar de fato muita importância pra qualquer que for sua resposta.

Atrás de mim, Bridgit continuava animada no balanço que agora perdia a velocidade.

__ Você sabe. __ Ele deixou a flor cai no chão e se virou de costas dando um suspiro. __ Você... Sabe. Eu espero que no fundo você saiba.

__ Nada do que você ta falando faz sentido. __ Olhei bem pra ele sem humor. __ Nada em você parece fazer sentido...

E então saiu.

Franzi a testa e encarei a flor que ele deixara cair. Havia apenas uma pétala, as outras foram arrancadas.

“__ Bem me quer, Mal me quer, Bem me quer, mal me quer, Bem me quer! __ Sua voz fina de criança era reconfortante. Quando ele puxou a ultima pétala pulou de alegria deixando a pequena flor cair no chão, e olhou para mim. __ Viu só, estamos destinados! __ Ele me deu um beijo na bochecha, e foi quando me senti nas estrelas com aquele simples toque.”

Pisquei e balancei a cabeça rapidamente.

O que foi isso? A minha nossa... Mais essa agora! O que ta acontecendo com a minha cabeça hoje?

Será que foi uma lembrança da noite em Meygo? Impossível... Essa lembrança... Eu era pequena.

Não me lembro de nada disso. Não me lembro de ter acontecido isso quando criança. E quem era o rapaz? Não parecia ser Jackson ou o Justin. E a voz de criança era diferente, não me lembro de já tê-la ouvido em toda minha infância mesmo que estranhamente a voz me seja familiar.

__ Me empurra mais! __ Gritou Bridgit.

Balancei a cabeça novamente, deve ter sido algum sonho que já tive e me veio em mente agora.

Peguei o balanço, mas recuei.

Mordi os lábios e tirei Bridgit do balanço, ela protestou dando vários chutes no ar e gritando.

__ Não! Eu quero brincar no balanço! Any! __ Gritou a pequena.

__ Melhor não. Eu to cansada... E eu to a fim de brincar dentro de casa. __ Coloquei-a no chão e me ajoelhei para ficar na sua altura. __ Porque não vamos brincar com a Max e as bonecas?

__ Tudo bem, tudo o que precisamos fazer é ter um par. __ Disse Nina.

__ Eu não to muito a fim de ir. __ Disse Emma.

__ Acho que vou ficar em casa no meu quarto. __ Falei. Eu detestava Bailes, nunca fui a nenhum da escola. Nem mesmo as festas. Era cheio de pessoas chatas se achando com as roupas chiques ou sedutoras. Ninguém ia só pela diversão.

Nina se levantou.

__ As duas vão! E se não arranjarmos par... Bom, então vamos nós três juntas. Quem disse que precisamos de homens? __ Disse Nina ajeitando seu vestido tirando um pouco de grama grudado nele.

Estávamos sentadas no quintal da frente. A grama verde estava um pouco molhada da chuva que teve de noite, mas ainda sim confortável. Ficamos perto do cercado próximo aos portões de entrada de Heartland e bem longe da casa.

Nina estava animada para o próximo sábado, pois vai ter um baile chato da escola na praia. Eu não tava a fim de ir, nunca fui aos bailes da escola porque nunca gostei dessas coisas. Mas Nina amava e sempre tentava arrastar a mim e a Emma para essas festas. E por esse ano ser na praia, ela estava mais empolgada ainda.

__ Mas eu não quero ir. Com ou sem par, não estou a fim de ir. __ Falei desanimada.

Nina revirou os olhos.

__ Vamos juntas. Vai ser divertido! E na praia! __ Nina gritou empolgada. __ Fala sério, não podemos perder essa! Por favor!

Emma suspirou e eu sabia que já havia sido levada para o lado de Nina.

Revirei os olhos.

__ Vou ficar por uma hora só. Depois disso vou embora com ou sem vocês! __ Disse me levantando e andando até o cercado. Pulei e sentei na madeira branca.

__ Tanto faz. O importante é que você vai. __ Disse Nina. __ Precisamos nos divertir. Merecemos isso. __ Ela abaixou a cabeça e ficou encarando o chão sem emoção. Eu sabia o que estava na mente dela nesse momento. E como eu não gosto de tocar no assunto, não tentei confortá-la.

Olhei para trás de mim, para além de Heartland. Havia um lugar que eu queria ir muito e que não vou já há um tempo. De repente uma súbita vontade desesperada de ir lá me dominou.

Desci da cerca.

__ Vou sair. __ Andei em direção ao estábulo.

__ Ué, mas para onde vai? __ Perguntou Nina me seguindo.

__ Já disse, sair. __ Falei.

__ Mas... __ Começou Nina.

__ Vocês podem ficar aqui. Vou voltar logo. __ Andei mais rápido até o estábulo e Nina ficou para trás voltando para onde estava com Emma. Seu rosto demonstrava confusão e raiva.

Ela detestava segredos, e sabia que eu não estava contando exatamente tudo. Elas já sofreram de mais com toda essa confusão de Meygo, não quero deixar a cabeça delas mais perturbadas. Quanto mais longe de problemas ou coisas estranhas elas ficarem, melhor.

Corri para o estábulo e abri a baia de Espartano.

__ Com pressa Gatinha? __ Ouvi a voz de Derek atrás de mim.

__ Porque me chama assim? __ Puxei Espartano para fora e peguei o equipamento de montaria. Derek chegou mais perto e começou a pegar as coisas.

__ Não parece problema pra você, na verdade nunca pareceu. Sempre te chamei assim. __ Olhei para ele com a testa franzida e com os olhos cheios de confusão.

A cada dia eu achava esse menino mais estranho do que o normal. E também sentia que eu já o vira antes...

__ Como assim? Acabamos de nos conhecer... O que quer dizer com “sempre te chamei assim”?

Ele ficou quieto por uns instantes. Depois suspirou e balançou a cabeça.

__ Deixa para lá. __ Ele começou a me ajudar a preparar Espartano.

__ Não vou deixar pra lá. __ Disse olhando para ele. Ele não tirou os olhos do que estava fazendo. __ Já cansei de não saber de nada. Quero respostas.

Ele olhou para mim como se entendesse exatamente o que eu queria dizer. Por um momento achei que ele iria me dizer alguma coisa importante, mas então ele desviou os olhos e respirou fundo.

__ Não sei o que quer dizer. __ Disse prendendo as fivelas de Espartano.

Com raiva e com os olhos queimando, tirei todo o equipamento que já estava montado em Espartano e joguei tudo no chão. Impulsionei-me para cima de Espartano rapidamente e montei nele apertando minhas pernas em sua volta. Ele correu para longe do estábulo. Segurei sua crina e o apertei mais entre as pernas.

Espartano pegou velocidade e saiu de Heartland passando rapidamente pelos portões entreabertos.

__ Volte logo! __ Ouvi Nina gritar enquanto passava rapidamente por elas.

Sai um pouco de Heartland vai me ajudar a pensar e tirar da cabeça todas as perguntas sem respostas que tenho.

Eu já tava cansada disso.

Nada tem respostas. Já estou cheia de ter tantas e tantas perguntas e de não ter nenhumas respostas. Já basta Leviathan me dizendo que vou lembrar quando for à hora sempre que pergunto algo para ele, agora Derek que enche minha mente de perguntas com seu jeito misterioso e as estranhas sensações que ele me faz sentir. Tenho tantas perguntas e respostas nenhuma.

Meus olhos arderam e pararam de repente. Eu sabia que a cor mudara.

Espartano correu mais rápido. Cheguei à clareira mais rápido que as ultimas vezes.

Lá no meio da clareira, a rosa estava murcha, quase sem cor. Mas assim que coloquei um dos meus pés dentro do circulo da clareira, a rosa voltou a sua cor.

Parei.

De onde eu estava à rosa era pequena por causa da distancia. Mas eu pude ver quando suas pétalas voltaram ao branco.

Entrei na clareira iluminada. O ar ficou frio, mas como sempre eu não estava com frio. Já estava até acostumada. Nada mais me surpreendia.

Caminhei até a rosa e me sentei o mais perto que pude dela. Eu sentia uma forte energia que vinha dela. Isso me tirava o fogo. Era tão forte e belo que eu queria mais daquela energia.

A rosa estava um pouquinho curvada, como se estivesse um pouco cansada. De longe não dava para ver, mas agora de perto pude ver como ela estava curvada.

Estiquei minha mão e toquei em suas pétalas. Meus dedos passeando em cada pétala em uma forma de caricia.

Essa é boa, eu acariciando uma rosa. Como se ela tivesse muito triste e eu a consolando.

A rosa brilhou por um rápido segundo e de repente ficou em pé. Totalmente reta. Isso fez com que parecesse maior do que já aparentava.

Me levantei.

A rosa bateu bem no meu umbigo. Sua energia radiava muito mais do que antes. Era como se ela estivesse mais viva do que nunca.

Meus olhos arderam e a rosa a minha frente se fechou como se fosse de noite e estivesse na hora de se recolher para florescer no dia seguinte. Estiquei minha mão mais uma vez, dessa vez bem lentamente, e toquei em sua pétala fechada. A rosa se abriu rapidamente soltando uma faísca de luz branca. A faísca foi tão rápida e repentina que achei que estava imaginado coisas.

Mas, como em meu novo mundo que estou vivendo agora, tenho certeza de que não imaginei nada.

A rosa se abriu mais que o normal. Ela se tornou uma rosa cheia de pétalas que antes não tinha. E era lindo. Algumas pétalas eram brancas como o normal, mas outras tinham um tom amarelado nas beiradas que desciam se misturando ao branco, outras também tinham um tom azul celeste nas beiradas da pétala e se misturavam ao branco.

__ Uau! __ Foi tudo o que conseguir dizer.

Era tão lindo. Tão... Mágico. Me deixava sem fôlego. Era tão perfeito que senti as lágrimas começarem a embaçar minha visão.

“Any” Um sussurro ao longe a chamou. Uma voz áspera e monstruosa.

Seus pelos do corpo se arrepiaram.

“Any” Sussurrou alguém mais uma vez, mas dessa vez estava se afastando.

Levantei-me tirando os olhos da bela rosa e olhei em volta assustada.

“Any”

Será que era Leviathan tentando me assustar? Mas, não parecia a voz dele, essa voz é horrível, áspera, monstruosa e um tanto fraca comparada a voz de Leviathan. Corri até Espartano e montei rapidamente.

“Não corra de mim” a voz estava novamente se aproximando. “Ajude-me”

Hesitei um pouco antes de mandar Espartano correr.

Seja lá o que for, estava me pedindo ajuda. E sabia meu nome.

Espartano se agitou. Passei minhas mãos em seu pelo em um gesto de carinho para acalmá-lo. Seus pelos estavam arrepiados.

“Any” A voz começou a sumir até virar um suspiro exausto.