A porta do meu quarto se abriu bruscamente e a luz se acendeu rapidamente. Tomei um susto.

Era Jackson, Jeniffer e Rikki.

__ Querida, __ disse Jeniffer indo pra minha cama rapidamente __ o que aconteceu? Você está bem?

Eu não conseguia responder, olhava fixamente para trás da porta com os olhos arregalados, ofegando e chorando. Ele estava ali... Estava me olhando.

Jennifer me encarou por um segundo esperando por resposta, depois puxou minha cabeça pro seu ombro. Seu toque me fez pular e fiquei em pé na cama.

__ Ei, calma. __ Ela se levantou da cama onde havia se sentado segundos antes assim que eu levantei com o susto. __ Querida sou eu, está tudo bem. Você deve ter tido um pesadelo. Ta tudo bem...

__ Não! __ Gritei.

Os olhos violetas me examinaram, seu sorriso desapareceu. Ela me olhou e depois olhou pra porta confusa onde eu estava olhando.

__ Querida, escuta __disse__ você acabou de acordar gritando, foi um pesadelo... Você está bem agora, ta tudo bem. __ Ela se aproximou de mim. Olhou em volta e esfregou os braços. __ Minha nossa que frio horrível é esse?

Eu me afastei.

__ Não chega perto! __ Gritei estendendo minha mão.

Jackson se aproximou, Rikki cruzou os braços olhando pra mim com uma ferocidade em seu rosto.

Eu estava assustada, não queria ninguém perto de mim. E se o cara dos olhos violetas decidir atacar eles? A culpa seria minha. A dor no coração se suavizou por uns segundos, depois novamente voltou à sensação de que alguém tentava esmagá-lo. O frio no meu quarto não ajudava muito também.

Jeniffer andou até a janela do meu quarto se certificando de que estava fechada.

__ Any, ta tudo bem __ Jackson se aproximou devagar com as mãos estendidas. __ Ela ta em choque Jennifer... O pesadelo deve ter mexido muito com ela. __ Disse ele ainda olhando pra mim e se aproximando bem devagar, me afastei ainda mais e minhas costas encostando-se na parede.

Ele estava atrás da porta, eu podia ver... Eu não estava sonhando. Porque eles não viam o homem? É provável que qualquer movimento ele possa me atacar, ou atacar um de nós. Ele estava em posição de ataque e seus olhos violetas brilharam mais fortes. Ele estava olhando pra mim com aqueles grandes olhos violetas chamativo que brilhavam no escuro banhado por desejo de morte, e a boca cheia de sangue com um sorriso sinistro. Eu podia sentir o cheiro de sangue que impregnava no meu quarto. Depois seus olhos olharam para Jeniffer, eles ferveram e se viraram nas orbitas se transformando em preto. Seu rosto perdeu a cor completamente, agora ele estava branco. Parecia um demônio.

Chorei mais ainda. Que coisa era aquela? Quem era ele? E porque só eu o estava vendo? Será que mais alguém além de mim podia sentir esse cheiro forte de sangue? Parece que sim.

__ Que ridícula! __ Disse Rikki entrando no quarto. Suas mãos acariciaram seus braços. Ela também estava sentindo o frio repentino do meu quarto. __ Não tem nada atrás da porta sua retardada! __ Ela andou até a porta em passos largos, e a fechou.

__ Não! __ Gritei chorando desesperadamente. Fechei os olhos.

__ Rikki! __ Jackson e Jeniffer falaram ao mesmo tempo.

Me ajoelhei na cama com a mão no rosto. Senti braços me envolverem. Era ele? Comecei a me debater para me soltar, mas ele era mais forte.

__ Para com isso Jackson! __ Rikki gritou de raiva. __ Ela é uma fingida, uma louca. Me da nojo vê isso! Quer saber... Fui.

__ O que ta acontecendo? __ Ouvi a voz de Justin.

__ Justin meu filho, __ ouvi Jeniffer dizer__ volte pra cama. Vê se suas irmãs estão dormindo...

__ Não mais. __ disse Shofy com uma voz de sono.

__ Ta tudo bem. __ Jackson sussurrou em meu ouvido. __ Você ta bem, respira fundo Any... Foi só um sonho.

Levantei minha cabeça e olhei pra ele. Não eram as mãos do home em mim, e sim as do Jackson. Relaxei um pouco. Seu rosto estava próximo ao meu, seus braços me envolvendo protetoramente. Por um segundo me senti bem, até ver os olhos violetas em minha mente, e escutar uma voz sinistra ecoando em minha cabeça pedindo por sangue. Pedindo por uma morte.

Tentei sair de seus braços. Ele queria meu sangue. Meu sangue. Meu sangue... E queria matar alguém. Será que era eu? Ou alguém da minha família?

__ Any, calma! __ Disse Jackson.

__ O que ta acontecendo? __ Perguntou Justin.

__ Querido volte pro quarto, veja se Bridgit está dormindo. __ Disse Jeniffer chegando perto de mim. __ Shofy vá também, Any está em choque... Muita gente aqui não vai ajudar em nada.

__ Mas o que ta acontecendo?__ Shofy insistiu. __ Isso aqui ta um gelo!

__ Justin, Shofy vão! __ Ouvi Jeniffer dizer com mais firmeza.

Eles saíram fechando a porta.

__ Any, querida... __ Jennifer encostou-se a mim. __ Escuta...

__ Não! __ Gritei me esquivando de seu toque. Uma outra mão acompanhava a dela, uma mão pálida e suja de sangue.

Ela arregalou os olhos.

__ Any, mas o que...

__ Sai! __ Gritei mais auto. Mas eu não estava falando com ela, estava gritando com o cara dos olhos violetas que estava atrás dela. __ Sai daqui! Sai daqui! Sai daqui! Me deixe em paz! __ Gritei mais alto.

Ele ainda estava me olhando.

__ Any...

__ Jennifer, sai __ disse Jackson ainda me segurando, ou pelo menos tentando me segurar já que eu tentava me esquivar de seus braços __ deixa que eu acalme ela.

__ Não... __ sussurrei, eles precisavam saber que o homem estava no quarto, e se ele tentasse matar eles? E a mim também? __ Não... N... nn... Nã... __ Eu não conseguia falar, estava engasgada em minhas próprias palavras e cheia de medo.

__ Calma. __ Jackson agarrou atrás da minha cabeça a levando até seu ombro. __ Shh... Any eu to aqui, ta tudo bem.

Olhei em volta do meu quarto em busca do homem dos olhos violetas. Mas não tinha mais ninguém, nem Jeniffer estava no quarto também, ela saiu e eu nem vi. E pelo visto ele também.

Eu sentia os olhos violetas em mim, mas não via o homem em nenhum lugar. Olhei em volta perturbada e desesperada. O frio no quarto estava diminuindo lentamente.
Jackson segurou minha cabeça entre suas mãos.

__ Shhh, Any para. Any... __ Ele segurou meu rosto com mais firmeza e me fez olhá-lo.

__ Olha pra mim. Para de olhar pro teto, não tem nada lá! Me escuta...

__ Ja-Ja-Jackson, ele está aqui! Aquele homem voltou! __ Sussurrei.

__ O que?

Eu me afastei dele.

__ É ele... Ele ta aqui, eu o vi! Ele apareceu pra mim... Tava querendo me dizer alguma coisa. Ele estava atrás da porta, me olhando e... Estava... Estava... Sangrando.

Ele me olhou e suspirou.

__ Ta falando daqueles pesadelos que você costumava ter? Com aquele homem que te assustava? Any... __ Ele não terminou de falara, simplesmente subiu na cama se sentou ao meu lado e me puxou para seu colo.

Não protestei.

__ Você acredita em mim não é? __ Não pude conter as lágrimas. __ Eu não sou louca Jackson, eu juro que eu o vi. Ele tava bem ali. __ Apontei para a porta fechada. Minha voz saia desesperada.

Jackson suspirou.

__ É claro que acredito. Não se preocupe, não vou deixar ele te machucar.

Fechei meus olhos com força.

__ Acho que ele queria meu sangue... Quer dizer, na minha cabeça ele ficava repetindo: Sangue, sangue, gangue. Acho que ele quer me matar.

__ Não sei. Quer dizer, você anda tento esses sonhos desde que... __ Jackson suspirou pesadamente e me apertou forte contra seu peito. __ Desde os doze anos, depois deram uma parada. E então começou de novo quando Fredd foi embora. Há cinco anos você vem sonhando com esse cara de olhos violetas, e sempre é quase o mesmo sonho. Você dizia que no sonho você estava em uma caverna escura, que só conseguia ver a luz porque havia na sua frente um lago de água salgada iluminado por uma luz azul, como se tivesse luz em baixo da água. Depois você disse que seu sonho mudava de foco, onde você estava em um quarto com a luz amarelada acorrentada a uma cadeira e na sua frente... __ Ele parou. Podia sentir a pena em sua voz enquanto ele falava. Detestava que sentissem pena de mim.

Abri meus olhos e me virei pra Jackson.

__ E na minha frente o corpo mutilado de Fredd. __ Olhei para porta novamente. __ Logo depois o cara dos olhos violetas abre a porta e diz que havia chegado há minha hora... E então o sonho acaba.

Senti suas mãos me apertarem.

__ Isso... Em fim, você não acha que se ele quisesse te matar já não teria feito? Pense, tem cinco anos que você tem os mesmos sonhos... E sempre que acordava me dizia que ele quer te matar. Mas até agora nada. Não sei se ele quer te matar, talvez só assustar... Ou talvez seja mesmo só pesadelos, não deve ser real. Sua mente pode ta te enganando, fazendo truques com você.

Sai de seu colo e me sentei na beirada da cama olhando pro chão.

Não eram truques da minha mente. Eu sei o que vi! E dessa vez não foi o mesmo sonho, dessa vez ele estava aqui no meu quarto. Era o mesmo de sempre, como nos meus sonhos: cabelos loiros um pouco curtos e encaracolados, lábios e dentes cheios de sangue, roupas escuras surradas e rasgadas, sua pele em algumas partes cortadas e também havia varias cicatrizes em seus braços e no seu rosto... E os olhos violetas que às vezes se transformavam completamente em pretos quando estava com raiva. Um demônio.

Isso nunca tinha acontecido antes, e é por isso que sei que foi real, que ele era real. Antes eu podia até concorda que eram apenas pesadelos, mas dessa vez não. Ele esteve aqui sim e isso é a prova de que não sonhei. Ele nunca apareceu pra mim, somente em sonhos. O que ele queria de mim? Será mesmo que ele queria meu sangue? Mas pra que? Isso parece coisa de vampiros. Mas vampiros não existem, ele não pode ser um. Que idiotice pensar nisso.

Levantei-me e fui até o canto mais escuro do meu quarto. Tirei um pano roxo escuro de cima do vidro retangular, e abri a tampa do vidro.

__ Olá. Como você ta? __ Peguei Nyrlla nas mãos e a coloquei em volta do meu pescoço. __ Você sentiu não foi? __ Sussurrei pra ela dando um beijinho no topo de sua cabecinha áspera.

Algumas lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto. O aperto no coração e a ardência na garganta estavam diminuindo.

__ Como poderia ter sentido algo? Além de ser apenas uma cobra, a caixa de vidro estava tapada todinha. Ela não poderia ter visto ou sentido nada. É só uma cobra. __ Jackson sorriu pra mim zombadeiro.

Continuei olhando pra Nyrlla. Ela colocou sua linguinha pra fora e eu senti ela se apertando em meu pescoço.

__ Cobras sentem. São predadoras... Sentem quando alguém se aproxima, sente quando a algo de errado, sente quando sua vida esta em risco... Sei que ela deve ter sentido.

__ Mas ela parece tão calminha como sempre. Se ela sentiu mesmo não acha que ela deveria ta agitada agora? Se lá, tentando te morder talvez? __ Jackson se levantou e veio até mim.

Dei um riso fraco.

__ É porque você não está com ela em volta do seu pescoço. Ela aperta quando esta agitada é como se ela estivesse se protegendo, pelo menos Nyrlla sempre foi assim toda vez que Jeniffer entra no quarto ou Shofy. Acho que Nylla não foi com a cara delas, talvez porque nenhuma das duas goste de cobras. __ Nyrlla se agarrou mais ao meu pescoço. Sua pele áspera e amarelada se arrastando pra mais perto de mim quase me sufocando. __ E ela não é venenosa, poderia me morder o quanto quisesse, mas tudo que iria causar seria apenas ferimentos. Nada fatal.

__ Não machuca quando ela te aperta? __ Jackson arregalou os olhos para Nyrlla.

__ Não muito. Mas é melhor eu tirar ela daqui porque ela vai aperta mais e depois não tem jeito de tirar. Vou acabar virando a vitima dela. __ Tirei Nyrlla com muito cuidado do meu pescoço e virei sua cabecinha para mim, seus olhos de felino, eram negros em volta e sua pupila era um pauzinho no meio do olho da cor amarela, me encaravam. __ Eu sei que você sentiu. Isso prova que não foi sonho, e que não sou maluca.
Coloquei-a de volta em sua casinha de vidro cheia de mato por dentro, e tapei com meu pano roxo para que não aparecesse nada.

__ Eu acredito em você Any. __ Sussurrou Jackson atrás de mim. Fechei meus olhos por um segundo. Eu sabia que ele não acreditava totalmente, só dizia aquilo pra que eu me sentisse melhor e não uma louca. __ É sério. Vamos descobrir o que tudo isso significa e...

__ Não. __ Me virei pra ele. __ Não quero mexer com isso. Não quero você envolvido nisso. Se for tudo real mesmo, o que sei que é, então é perigoso.

__ Não me importo.

__ Mas eu me importo. __ Voltei pra cama e me tapei dos pés a cabeça. __ É melhor você ir pro seu quarto, já me sinto um pouco melhor, obrigada.

Eu sabia que ele ainda estava de pé perto da minha cama pensando se devia ou não sair. Jackson tem um estilo Bad Boy, mas tinha seus momentos de fofuras. Sempre se preocupava muito comigo, fazia questão de me levar pra onde eu precisava pra que eu não precise ter de andar a pé ou pegar a caminhonete do vovô (porque ele não gostava), quando tenho esses pesadelos sempre fica comigo até eu dormi dizendo coisas confortantes me deixando mais calma... Mas dessa vez foi diferente porque eu não sonhei, era melhor ter mandado Jackson pro seu quarto porque se o cara dos olhos violetas voltasse, ele poderia machucar Jackson. Eu o amava demais e não queria que ele se envolvesse nisso. Deve ter se passado dois minutos quando finalmente ouvi a porta do meu quarto se fechar. Normalmente Jackson ficaria e dormiria comigo como sempre, mas eu o pedi pra ir e ele entendeu o recado.
É claro que eu não ia dormi, não ia conseguir dormi. Na verdade não tenho coragem pra fechar meus olhos. E se eu sonhar com ele de novo? E se dessa vez ele tentar me matar? Não quero dormi. De repente me senti como se estivesse no filme A Hora do Pesadelo. Onde o Freddy Krueger tentava matar um grupo de adolescentes através de seus sonhos, e eles morriam enquanto estavam dormindo.
O que ele queria de mim? É a primeira vez que ele aparece pra mim, é a primeira vez que o vejo pessoalmente, e isso está me deixando louca. Estou com medo... Se Jeniffer e Jackson não tivessem chegado tenho certeza que ele teria me matado. Está quase na hora. A sua hora está se aproximando. foi o que ele dissera nos sonhos. Minha morte está se aproximando? Estava chegando à hora dele me matar? É tudo tão frustrante e assustador. E o que ele estava querendo dizer quando disse que Jeniffer havia me tirado dele? Ele dissera que ela sabe a verdade e não está me contando. Será isso verdade?
Eu não sabia. Mas iria descobrir.

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__ Vadia! __ Dei um pulo quando Nina apareceu ao lado do meu armário fechando a porta com força. Isso chamou muitos olhares.

__ Droga Nina! __ Minha respiração estava a mil. __ O que deu em você? Me assustou!
Ela riu, mas não era um risinho amigável, tava mais pra um risinho de raiva. Muita raiva.

__ O que a comigo?! __ Encostei-me ao armário apoiando minha cabeça para trás e fechei os olhos. Não havia dormido a noite toda por causa do que aconteceu, estava cansada e com muito sono. __ A pergunta certa é: o que a com você? Deixou agente plantada ontem! Nem ao menos mandou uma mensagem pra dizer que não poderia vir.
Abri meus olhos e olhei pra ela.

Droga. Tinha me esquecido.

__ Nina... Desculpe-me. __ Disse. __ Tive problemas ontem, não tava me sentindo bem... Eu acabei esquecendo. Por favor, me desculpe. __ Mordi os lábios e olhei pra ela.
Nina estava vestida com um vestidinho vermelho que realçava bem seus peitos, batia um pouco acima dos joelhos. Nina sempre foi muito bonita, assim como Emma. Mas Nina sempre teve mais corpo que nós duas, suas pernas eram longas e finas, ela tinha bastante cintura e peito também, mas não tinha muita bunda, seus olhos verdes eram lindos, e seu rosto era como de uma boneca de porcelana. Seus cabelos ondulados e repicados castanho claro caiam até a cintura. Sempre gostei muito do cabelo dela, mas ao contrario de Nina meu cabelo loiro claro era muito liso, era difícil de fazer um cacho nele de tão liso que era.

Já a Emma tinha o cabelo loiro escuro, e liso também, seu cabelo ia até os ombros, enquanto o meu ia até a cintura como os da Nina. Seu corpo era como o meu, nós duas tínhamos bunda, mas não tínhamos muito peitos. Mas nós não somos como uma tábua.
Nina revirou os olhos.

__ Que seja. __ Ela colocou as mãos na cintura. __ Mas você vai me contar o que houve! E é bom que seja uma coisa que me convença a te perdoar.

O sinal ecoou pelos corredores da escola. Salva pelo gongo, pensei.

__ Agora não. Preciso ir pra aula. __ Disse. __ Agente se vê na Educação Física.

Comecei a andar para minha próxima aula. Por sorte não era com Nina o que me salvava de ter de contar a história pra ela, e na Educação Física não poderíamos conversar porque o professo nunca deixa ninguém conversar direito, porque vive passando atividades cansativas. E eu tenho certeza que até lá ela já se esquecera de fazer qualquer pergunta que pretendia fazer.

__ Faltam dois meses hem! __ Ouvi Nina gritar. __ Eu to ficando ansiosa, e você deveria ficar também.

Revirei os olhos e entrei pra sala.
Dois meses. Só dois meses pra fazer 17 anos.