A luz fraca do sol invadiu meu quarto pela janela. Não era um sol tão forte, até porque aqui no Alasca é difícil ter algum sol quente com um brilho forte.

Eu amava morar no Alasca, amo dias bem frios e com neve e detestava dias quentes. Já fui varias vezes para Nova York e sempre ia ao verão. Detestava cada dia que eu passava lá apesar da cidade bonita.

Eu amava onde morava e detestava sair daqui. Adorava às vezes em que íamos para o Túnel Anton Anderson Memorial, que conecta Anchorage com Whittier. É simplesmente lindo. Não fica perto de Petersburgo, é bem longe, mas eu amava ir lá. Costumava ir muito quando era pequena e o Fredd levava toda a família para lá.

Isso acabou.

Tudo passado.

Lembro das vezes em que ficava chateada quando não podíamos ir, e então Fredd nos levava ao Clausen Memorial Museum. Era uma chatice, não era a mesma coisa que o Túnel Anton Anderson Memorial.

Mexi-me na cama e senti algo abaixo de mim.

Jackson.

Fechei meus olhos e um leve sorriso apareceu em meu rosto com a lembrança do nosso beijo.

Não acredito que o beijei. Que loucura. Mas foi bom, foi muito bom.

Na verdade eu nem tive escolha. Ele iria ver meus olhos mudarem de cor, e eu não ia consegui deixá-los fechados a noite toda, precisava distraí-lo ou fechar os olhos dele pra que ele não visse nada. Na hora eu nem pensei, simplesmente o beijei.

A respiração de Jackson era profunda e lenta. Eu sentia seu peito nu desce e subi lentamente, seu coração batendo tranquilo e calmo. Levantei meu rosto de seu peito e olhei para seu rosto sereno. Ele sempre dormia com uma serenidade, uma paz no rosto. Era tão calmo e cheio de paz que me dava inveja.

Cheguei mais perto de seu rosto e deixei um beijo na sua bochecha, ele se mexeu um pouco na cama e seu braço ficou em cima de minhas costas. Tirei com cuidado sem acordá-lo e levantei da cama tentando não fazer barulho.

Peguei uma calça jeans escura dentro de uma das gavetas da cômoda, uma blusa de alça fina branca, e um casaco pesado. Eu não gostava de colocar uma blusa de manga longa e um casaco, preferia uma blusa sem manda e um casaco. Depois peguei minhas botas pretas e meu gorro preto no chão. Sai do quarto.

Fui ao banheiro e fiz minha higiene e tomei um banho. Deixei a água quente fazer seu trabalho ficando no chuveiro mais tempo que o necessário.

A água estava tão boa, isso me lembrava o mar. Nossa que vontade louca me deu de nadar bem agora. Senti cada músculo meu relaxar sob a água e respirei fundo não soltando o ar.

A última vez que entrei no mar foi quando Leviathan me pegou. A água estava gelada no raso, mas logo depois que afundamos a água estava quente e agradável. Foi uma sensação boa apesar do pânico que eu sentia enquanto era arrastada para uma caverna subterrânea.

Sentia falta do mar, sinto falta da sensação da água do mar em meu corpo, esteja quente ou fria. Eu amava mesmo assim. Era ótimo de qualquer jeito, eu não ligava pro frio, não ligava para a minha boca roxa que na maioria das vezes ficava quando sai do mar frio. Eu só ligava para a sensação boa que a água me trazia. Eu não nadava muito na piscina no quintal dos fundos da casa, não era a mesma coisa.

Era totalmente diferente. E eu preferia mil vezes o mar. Eu conseguia prender a respiração por três minutos, esse é o meu máximo, e ficava nadando para o fundo com os olhos abertos vendo os peixes nadarem a minha volta. Nossa como eu amava isso. Eu sempre tinha uma sensação de estar no conforto de casa todas as vezes que eu entrava no mar, como se lá fosse minha casa. Como seu eu pertencesse ao mar.

Uma batida na porta me fez pular e soltar a respiração. Por quanto tempo prendi a respiração? Tenho certeza que não foram três minutos, estou aqui há um tempo.

__ Será que dá pra sair? __ Gritou Rikki do outro lado da porta batendo nela com força. __ Vai morar ai por acaso?

Revirei os olhos e desliguei o chuveiro. Enrolei-me na toalha enquanto saia do box. O banheiro estava abafado, o espelho grande em cima da pia estava embaçado. Limpei com a mão.

Ao meu lado vi uma gota subir. Arregalei os olhos observando atentamente enquanto via a minúscula gotinha subir no ar. Do meu outro lado outra gotinha começou a subir também.

Que merda é essa?

As duas gotas de água subiram a cima da minha cabeça flutuando no ar. Eu estava olhando para elas fixamente até que eles se juntaram uma na outra formando uma gota um pouco maior. Elas desceram um pouco e ficaram na minha frente a poucos centímetros de meu rosto. Estendi a mão direita lentamente quase tocando na gota... Quando a porta balançou com força, a gota caiu no chão.

__ Droga Any, eu vou ter de arrombar essa porta pra você sair daí? __ Gritou Rikki com raiva. Olhei para a pequena mancha de água que a gota deixou no chão quando caiu. __ Mas que inferno! __ Gritou Rikki batendo com força na porta.

Balancei a cabeça e pisquei.

__ Já... Já estou saindo. __ Falei lentamente enquanto me olhava no espelho.

Meus olhos estavam violetas. E dessa vez não arderam.