Voltei pra casa depois de uma semana presa no hospital. Detetive Boss me fez milhões de perguntas sobre como fui pra Meygo, o que fazia lá, se alguém me sequestrou, se eu me lembrava de algo estranho, se eu e as meninas estávamos juntas quando desaparecemos.

Mas o problema é que eu não me lembrava de nada. Bom... Não até pisar no meu quarto e as lembranças das ultimas duas semanas antes de desaparecer vir átona. Tudo de uma vez... Uma montanha de lembranças caiu sobre mim.

Eu não fui sequestrada, ninguém entrou no meu quarto e me machucou e me levou pra Meygo, minhas amigas estavam comigo na praia de Meygo porque me seguiram quando entrei lá. Eu não contei isso a eles, os deixei pensarem que fui sequestrada. É tudo culpa minha. Nós desaparecemos porque eu sentia uma estranha e controladora necessidade de ir pra Meygo atrás do homem dos olhos violetas. E elas por serem minhas amigas, se preocuparam e correram atrás de mim. Não me lembro do que aconteceu depois assim que meus pés tocaram Meygo. Tudo se apaga a partir daí. Mas algo estranho com certeza aconteceu... Algo muito estranho e além do normal.

Entrei no meu quarto que se encontrara arrumado. As roupas sujas de sangue estavam dobradas limpas em cima da cama que também fora arrumada. As coisas que eu deixara espalhada no chão do quarto já não estavam mais lá, e o quarto tinha cheiro de lavanda. Nyrlla foi levada. E isso me deixou com uma raiva grande, ela era minha! Como puderam levá-la sem me dizerem nada antes? Por mais que eu estivesse desaparecida eles não tinham o direito de levá-la embora seja lá pra onde.

Eu fechei a porta do meu quarto e sentei na ponta da cama olhando em volta e por algum motivo sem sentindo, estranhando meu quarto. Olhei para o lado, para a parede que pendurava meu espelho grande e me levantei caminhando até ele.

Olhei-me no espelho e novamente a sensação sem sentido me tomou, eu não me reconhecia. Parecia que aquela garota que estava se olhando no espelho não era eu. Seu rosto estava com a expressão... Severa. Com uma expressão má.

Eu era uma estranha.

Lembro-me da ultima vez que olhei para o espelho. Eu estava horrível e acabei me machucando para não dormi. Eu me lembrava dos sonhos, me lembrava dos cortes que se curavam rápido e me lembrava da rosa que atravessou meu peito.

E então eu dei um sobressalto com essa lembrança. A rosa. A clareira.

Peguei meu casaco na cama e o coloquei enquanto saia do quarto e descia as escadas apressada.

__ Ei! __ Chamou Jeniffer. __ Onde está indo?

Peguei minhas botas que estavam ao lado da porta de vidro de casa.

__ Preciso ir a um lugar. __ Falei enquanto calçava as botas. Depois me levantei e peguei meu cachecol que estava pendurada na madeira presa a parede, e o gorro azul claro de crochê.

__ O que? __ Perguntou Jeniffer apressada e correu para a porta antes que eu abrisse.

Olhei pra ela sem humor. Sua energia estava fraca, como se ela estivesse cansada e triste.

__ Será que dá pra você sair da minha frente? __ Perguntei dura.

Ela piscou e balançou a cabeça.

__ Any... Não é uma boa ideia você sair. __ Disse ela com calma. __ Acabou de voltar do hospital! Não sabemos o que aconteceu com você... E se você foi mesmo sequestrada? Acha mesmo que vou deixar você sair de casa depois disso tudo...

__ Sim eu acho! __ Disse já sem paciência. __ Eu não vou ficar presa nessa casa Jeniffer. __ Minha voz saiu como uma ameaça e Jeniffer arregalou os olhos franzindo o cenho. __ Não vou me esconder. E... Eu tenho a impressão de que não fui sequestrada. __ Falei por fim tentando tirá-la de frente da porta para que eu passasse. Ela não saiu.

Olhou pra mim atentamente com a testa ainda franzida.

__ Conseguiu se lembrar de algo? __ Perguntou ainda me encarando.

Eu não podia dizer que sai de casa, fui beber com minhas amigas e que uma vontade súbita, estranha e fora de meu controle havia me dado de entrar em Meygo.

Eu não ia dizer que o sangue no meu quarto era porque eu me cortava, não por causa de uma pessoa que tentou me tirar a força do quarto. Ninguém iria saber disso.

__ Não. __ Disse por fim desviando os olhos para o chão e com o tom de voz frio.

Quando voltei a olhar pra ela, ela estava com os olhos estreitos. Desconfiada.

__ Jeniffer... __ Comecei fechando os olhos e respirando fundo para controlar a repentina raiva que me domou. Meus olhos arderam. __ Você vai me deixar passar ou eu vou ter de te tirara da minha frente à força?

Ela continuou a olhar pra mim desconfiada. Sua boca ficou em uma linha reta. Ela se virou de costas e trancou a porta.

Ri sem humor.

__ Jura? __ Questionei. Um sorriso se abriu em meus lábios, mas eu sabia que não era um sorriso amigável. __ Você não vai me manter presa...

__ Ela não. Mas eu vou. __ A voz de Jackson veio do alto da escola. Virei-me e o encarei.