POV JAKE

Como eu nada tinha para fazer naquela tarde, resolvi chamar o Charles e a Silena para dar uma volta. Mandei SMS para ele, avisando que já estava chegando. O sol não tava muito forte, então deixei o boné em casa.

Charles e Silena estavam em frente ao portão me esperando. Cumprimentei Charles com um aperto de mão e Silena com um beijo na bochecha. Ela sorriu, estava com o cabelo preso em rabo de cavalo e com aquele mesmo All Star azul que ela tanto adorava.

–Você nunca vai tirar isso do pé não é mesmo? – eu disse.

–Nunca, nunquinha!! – ela respondeu me dando um tapa no ombro.

–Vamos? – Charlie perguntou.

–Ahaam, aonde vamos? – eu perguntei.

–Sei lá cara, foi você que convidou. – Charlie disse.

–Ah, eu tava no tédio, então chamei vocês, mas não tenho ideia de um lugar para irmos.

–Por que não vamos tomar um sorvete perto da pista de skate? – Silena sugeriu.

–Pode ser. – eu disse e fomos caminhando vagarosamente.

–Então Jake, como foi seu final de semana com seu avô? – Silena perguntou.

Pois é, junto com minha mãe, estava desde sexta na casa do vovô Tristan. Voltamos essa manhã.

–Legal até. Na verdade é meio estranho, sabe? Agora ele está ajudando na escolha de um ator para uma peça que ele escreveu, então toda hora tem alguém ligando para ele. Eu passei a maio parte desses dois dias, no quarto jogando. E mamãe não gosta dessa vida de “ator famoso” do vovô, então ela nem fez questão de ficarmos por lá hoje.

–Entendo. Ainda bem que não temos nenhum avô famoso. Pelo menos não no mundo mortal. – Charlie disse e eu ri.

–Sorte a de vocês. Mas, vocês não veem seu avô com muita frequência, não é?

–Não. São Francisco é meio longe demais pra gente estar sempre lá. Nem no Acampamento Júpiter nós temos ido mais. Mamãe tem trabalho muito ultimamente. Semana passada, Apolo esteve lá em casa pedindo pra ela fazer um projeto para uma casa de praia dele em Miami. – Charles disse.

–E ela vai pra Miami?

–Na carruagem do sol! – Silena exclamou. – Ele se comprometeu, de leva-la lá sempre que necessário.

Era só um carro do deus sol, por que ela estava tão maravilhada?

–Hum, Apolo é um cara legal.

–Legal? Ele é super legal! Ele disse que podemos ir junto, sabe como é, dar uma volta no carro dele. – ela disse sorrindo.

Tudo bem acho que Apolo nem era tão legal assim. Um deus grego? Grande coisa.

Um trovão ribombou no céu. Pelo jeito Zeus ouviu meu pensamento.

Conversando, logo chegamos à sorveteria. Não estava tão cheia quanto eu imaginei, mas nós preferimos pegar nossos sorvetes e irmos até a pista de skate. Charles e eu éramos frequentadores da pista há alguns anos. Foi um amigo meu do colégio que me levou lá pela primeira vez e que me ensinou as primeiras manobras. Quando eu aprendi, chamei Charles para ir também. Silena não gostava. Ela até nos acompanhava algumas vezes, mas se recusava a subir em um skate. Não, eu ainda não cansei de insistir, mas ela era cabeça dura.

Sentamos-nos há um canto da pista, e ficamos observando alguns garotos que estavam praticando. Eu conhecia somente um deles, chamado Zac. Cumprimentei Zac com um aceno de cabeça, que ele retribuiu.

Tomamos nossos sorvetes aproveitando a sombra, e Charles comentava comigo sobre algumas manobras que os garotos estavam fazendo. Conhecíamos a maioria.

Depois que terminamos os sorvetes, eu fui até uma lixeira e joguei as bandejas lá.

Quando voltei, fiquei observando Zac terminar uma manobra em frente a Charles. Ele parou e se dirigiu a mim.

–E aí cara! Bora dar um rolê aí.

–Mals ae mano to sem meu skate.

–Não tem problema Jake, usa o meu. – Ele disse indicando o skate. Eu aceitei, é claro.

POV SILENA

Não estava acreditando. Jake resolveu pegar o skate de um garoto qualquer e foi dar umas voltas. Só me faltava Charlie também resolver sair pela pista com um skate emprestado. E por que isso me incomodava tanto? Simples. Jake era muito legal quando estava longe do skate. Eu podia dizer o mesmo do meu irmão se não fosse pela parte de que morávamos juntos e ele era irritante a maior parte do tempo. Ou seja, eu raramente vinha com eles até a pista, porque eles me esqueciam quando subiam naquela coisa. Eles não se cansavam de andar naquilo e parecia que ignoravam o fato de que eu também estava presente. Charles e Jake já insistiram para que eu aprendesse também, mas esse esporte não me atrai.

Para minha sorte, Charles não teve a audácia de pedir um skate em prestado, então ficou me fazendo companhia.

–Quem é esse garoto? – eu perguntei para Charlie.

–Zac alguma coisa. Já conversei com ele algumas vezes aqui na pista.

–Huuum. Bonitinho.

Charles riu. Os outros dois garotos que estavam junto com Zac deram tchau e foram embora. Agora, Zac e Jake estavam dividindo o skate. Tudo estava bem, até o celular de Charlie tocar.

–Oi. Não, mas tudo bem. Eu volto. E a Silena? Ah, sim. Tipo dez minutos? Não é longe pai. Me traz aqui depois? Ok, to indo.

–Que foi? – eu perguntei enquanto Charles se levantava.

–Papai ligou. Tá precisando que eu ajude ele a levar umas caixas no aquário. Ele disse que não vai demorar e que você pode ficar com Jake que ele já me traz de volta.

–Demora quanto tempo?

–Uns dez minutos. Não saiam daqui tá bem? Volto já. – ele disse saindo da pista.

–Ta. – eu resmunguei. Agora eu ficaria abandonada ali, sem nenhuma alma viva para me fazer companhia.

Quando era a vez de Zac andar no skate, Jake olhou para mim e viu que eu estava sozinha, então veio falar comigo.

–Cadê teu irmão?

–Papai chamou ele. Ele disse que já volta.

–Sei. Quer andar?

–Não Jake.

–Por que não?

–Porque não.

–Isso não é resposta.

–Aff garoto, não enche ta?

–Não ta nada. Vem, eu quero que você ande! – ele disse me levantando pelos pulsos.

–Não Jake! Não gosto disso.

–Qual é Silena, fala a verdade, vai.

–Que verdade?

–Sobre o porque de você sempre recusar a andar de skate.

–Não tem verdade nenhuma.

–Tem sim. Você tem medo.

–Não tenho, não.

–Tem sim. Por que outro motivo você se recusaria a me deixar te ensinar?

Eu não respondi. Era verdade eu tinha um pouco de medo. Mas só um pouco. E acho que não confiava o suficiente no Jake para deixar que ele me guiasse.

–Viu como eu to certo? Te conheço desde que você nasceu Si.

Eu não respondi. Acho que fiz uma expressão engraçada por que ele riu.

–Vem, para de frescura. – ele disse me puxando pela mão, e eu não resisti.

Zac entendeu a deixa e entregou o skate para Jake.

–Essa eu quero ver. – ele disse indo se sentar no lugar em que eu estava.

Jake suspirou e me segurou pelos ombros, me fazendo fita-lo.

–Certo. Coloca um pé primeiro, e depois o outro. Se segura em mim, até você conseguir equilíbrio.

–Falando assim parece fácil. – eu murmurei.

–Pronta?

–Não.

–Vai.

Eu coloquei primeiro o pé direito em cima do skate e antes de soltar meu peso nele, segurei nos ombros de Jake. Quando soltei meu peso, o skate escorregou para o lado, e eu pulei de cima dele. Tentei novamente. Mesma coisa, só que dessa vez, Jake segurou minha cintura para me dar estabilidade.

–Não me solta. – eu pedi.

–Não vou soltar. Agora, vou puxar você para tentarmos dar uma volta, ok?

Eu assenti sem tirar meus olhos do skate. Quando aquilo começou a se movimentar eu me segurei mais forte nos ombros de Jake. Por um momento ele perdeu o controle do que estava fazendo e o skate foi rápido demais, me desequilibrando. Só não caí no chão por que Jake ainda segurava minha cintura.

–Aaaah! – eu gritei.

–Opa, peguei. – ele disse perto demais do meu rosto. Quando olhei para ele, nossos rostos estavam perto demais. Ficamos nos fitando sem se soltarmos. Foi nesse dia que eu reparei em como Jake era bonito. Aqueles cabelos loiros, e os olhos azuis elétricos.