O sol estava em todo o lugar assim como o calor. A luz forte trespassava minhas pálpebras, tornando tudo vermelho. Estava deitada de bruços, sentindo o suave toque das pontas dos dedos de Jacob fazendo um caminho de ida e volta em minha coluna. Um pequeno e sonolento sorriso apareceu em meus lábios enquanto as lembranças da noite passada vinham à minha mente uma a uma, causando leves tremores na pele onde ele estava tocando. Ouvi-o rir baixinho.

–Dormiu bem? – ele perguntou.

Virei-me para observar seu rosto. Jacob tinha a expressão serena, seus olhos negros derretidos. Eu mesma me sentia calma e relaxada. Física e espiritualmente em paz.

–Nunca dormi tão bem antes – disse ainda sorrindo.

Jacob inclinou-se e beijou meus lábios, de início suavemente, mas depois os nossos corpos reagiram conforme o calor aumentava. E então, Jacob estava em todo o lugar novamente. A luz do tão atípico sol preenchia todo o quarto, criando uma harmonia perfeita com o calor que irradiava entre nós. Meus dedos, que ontem memorizaram cada detalhe do corpo dele, voltavam a fazer o caminho já familiar. Suas mãos estavam em meus cabelos enquanto a sua língua explorava cada canto da minha boca. O beijo parou aos poucos. Os dois ofegantes e com sorriso nos lábios.

–Eu te amo. – disse.

–Eu amo mais.

Então, confortada pelo seu toque, eu logo voltei a dormir novamente.

Quando acordei estava mais desperta. Abri os olhos e procurei imediatamente por Jacob e encontrei o lado esquerdo da cama vazio. Sentei-me rapidamente, assustada com a possibilidade de Sue vê-lo aqui. Ela não era boba nem nada; sabia que Jacob frequentemente dormia comigo, mas devo estar paranoica por que dessa vez algo realmente aconteceu. Levantei-me e coloquei rapidamente meus moletons velhos. Depois caminhei lentamente até o corredor, procurando-o. Quando eu estava começando a ficar magoada pensando que Jacob tinha ido embora, senti o cheiro de ovos mexidos vindo da cozinha.

Jacob estava de costas para a porta, virado para o fogão. Só o que eu pude observar foram os músculos torneados das suas costas sob a camisa verde. Por um momento fiquei meio desnorteada por sua beleza. Depois, ofeguei:

–Jake, você ficou louco? – falei baixo para o caso de Sue estar aqui.

Ele virou-se com um sorriso debochado.

–Achei que fosse querer tomar café da manhã. – Pelo seu tom descontraído logo percebi que estávamos mesmo sozinhos. – Recuperar as energias...

Eu senti meu rosto queimar, mas abaixei a cabeça e ignorei seu comentário mais que malicioso. Ele gargalhou.

–Senta aí – ele desligou um queimador do fogão e serviu ovos e torrada num prato e colocou à minha frente.

–Uau. Serviço completo – brinquei quando ele me beijou.

–Daqui pra frente vai ser assim. – ele disse suavemente enquanto sentava-se também. Nós comemos e depois de alguns minutos ele pegou minha mão na sua, me olhando seriamente. – Eu quero ter uma vida com você, Agatha. Não só sobreviver.

Encarei seus olhos profundos e decididos, um bolo se formando em minha garganta. Era o que eu mais queria também, mas tinha tanto medo... Jacob viu a hesitação em meus olhos.

–Eu sei que toda essa história de decidir o futuro a assusta, porque você não é mais... – ele não precisou dizer. – Mas isso não afeta o que eu sinto por você. Eu tinha decidido dar algum tempo, esperar as coisas se acalmarem, mas ontem você esteve a um passo de... – ele sacudiu a cabeça como se a ideia fosse absolutamente revoltante. – Eu não quero esperar mais.

Meu rosto estava ilegível enquanto ele dizia todas essas coisas para mim, mas meu cérebro trabalhava incansavelmente para descobrir aonde aquela conversa iria dar. Jacob respirou fundo e continuou:

–Quando nós sugerimos morar junto a Sue não ficou nada contente; e eu entendo por que ela ficou assim. Ela apenas está cuidando de você, ela quer que você construa coisas para si antes de começar uma vida séria. – Jacob me olhou seriamente. – Mas você nem sequer tentou encontrar uma profissão por que queria protelar o momento de decidir o nosso futuro. Então isso nos deixa em um pequeno impasse, não deixa?

Jacob esperou por uma resposta que eu não pude dar. De fato, eu estava um pouco frustrada. Eu aqui desfrutando das lembranças da noite mais maravilhosa da minha vida e ele queria falar de problemas?

–E aí? – ele incitou.

Respirei fundo e larguei meu garfo no prato.

–Eu tenho medo de fazer planos para depois ter de abandoná-los.

Ele baixou os olhos.

–Isso era o que eu pensava – de repente um sorriso maroto brotou em seus lábios. –Felizmente eu tenho um solução para isso.

Levantei uma sobrancelha.

–É mesmo?

Jacob enfiou a mão no bolso e pegou algo que não ficou visível, pois estava dentro de sua mão. Ele deu a volta pela mesa e abaixou-se perto de mim. Fixei meu olhar no dele, sem entender.

–E se eu propusesse uma coisa? – ele não esperou uma resposta. – É verdade que nós temos alguns anos de vantagem, por que, aparentemente, você veio de uma dimensão alienígena onde anos se passam em meses. Então, você poderia muito bem tirar esse tempo para pensar no que eu vou dizer agora.

–Jake, eu não estou entendendo.

–E nem deveria. Quer dizer, isso foi uma surpresa até mesmo para mim. Mas quanto mais eu pensava nisso, mais sentido parecia fazer.

–Sentido é o que eu menos estou vendo nisso. – Murmurei.

Jacob estendeu o punho e abriu a mão revelando um anel. Um ruído estrangulado saiu da minha garganta quando ofeguei. Ele me diz que temos tempo para pensar e simplismente puxa um anel do bolso?

–Mas o que...?

Ele sacudiu a cabeça rindo.

–Eu sei, eu sei. Parece loucura, mas não é como se eu tivesse esperando que você decidisse agora. Como eu disse, é só uma coisa que eu vou propor agora e você vai ter todo o tempo do mundo para pesar todas as decisões.

–Você fala como se eu tivesse algum poder para mudar as coisas – sussurrei, ainda atordoada demais ao observar o lindo anel prata. – É claro que eu quero passar o resto da minha vida com você, mas isso não muda o fato de que você é o alpha e que uma vida normal não pode coexistir junto com as suas responsabilidades.

Jacob parecia não se importar com isso.

–Deixa que eu me preocupe com isso. Eu vou resolver essa coisa do alpha, e você pode decidir se vale a pena lutar pelo nosso futuro.

–É claro que eu acho que vale a pena! – protestei. – Jacob eu te amo.

–Eu sei – ele pegou minha mão e beijou o topo dela. – Mas eu quero que você entre comigo nessa sem medo de arriscar. Sem medo de que vá ou não dar certo. Não quero que continue pensando que os planos que fizer possam ser destruídos.

Minha cabeça girava e meus ouvidos zumbiam. Era demais para ser digerido a essa hora da manhã.

–Esse é o pedido de casamento mais estranho que eu já ouvi.

Jacob riu despreocupadamente.

–Tecnicamente só vai ser um pedido se você decidir que sim. – Ele se levantou e colocou as mãos ao redor do meu pescoço. – Com licença. – ele desprendeu o fecho do colar que eu nunca tirava para nada, e colocou o anel ali junto com o pingente de coração. – Ele vai ficar aqui o tempo todo, apenas esperando por sua decisão – sua expressão ficou repentinamente tímida. – Seja ela qual for.

Ele colocou o colar de volta no meu pescoço, e eu girei o anel em meus dedos. Era mais grosso que as alianças convencionais, mas eu gostei. Bem no meio do anel havia um minúscula pedrinha, que agora piscava para mim contra o raio de sol que entrara pela janela. Havia algo naquele simples objeto que fazia todo o meu estomago se contrair. Levantei minha cabeça.

–Desde quando tem isso?

Ele deu de ombros.

–Desde sempre. Era da minha mãe.

Cobri a boca com a mão, meus olhos repentinamente marejados. Segurei o anel com mais cuidado.

–Jake, isso é... Não posso aceitar.

–Por quê? – seu rosto se franziu.

–Era da sua mãe. Eu não acho que deveria ficar com ele.

Jacob se abaixou novamente para observar meu rosto.

–Claro que deveria. É seu. Billy me deu ele na noite em que você voltou para cá, com intenção que eu o desse a você. Por favor, aceite.

Mordi o lábio, ainda em dúvida. Mas ao olhar em seus olhos eu não podia dizer não. Sorri, demonstrando que aceitava. O anel era importante demais, isso era óbvio. Mas apenas significava que ele colocava nossa relação em alta estima para tanto. E ele estava sendo tão compreensível. A ideia de me dar o anel mostrando suas intenções ao mesmo tempo em que me garantia que a escolha era minha... Jacob era simplismente o cara mais atencioso de toda a terra, podia apostar.

E ele era meu. Independente de tudo. É claro que eu iria pensar em tudo como ele me pedira, mas a resposta para o seu pedido mudo era mais do que clara para mim. Afinal, eu podia ter deixado de ser imortal, mas não o meu amor.

–Então – disse. – Você diz que vai resolver a história de ser alpha. Como?

Ele deu um meio sorriso.

–Eu ainda não sei. Mas vamos apenas dizer que eu não vou deixar nada ficar no nosso caminho.