Quando despertei senti meus músculos rígidos e doloridos, porém eu estava tão confortável, deitada em uma cama macia, que não quis abrir os olhos. E apesar da dor no corpo, eu senti que a rigidez na clavícula havia passado. Será que eu havia me curado?

Eu sabia que tinha um assunto urgente que precisava da minha atenção, mas sentia que se me voltasse para ele teria poucas chances de conseguir relaxar novamente. Então depois de algum tempo debatendo internamente se deveria ou não voltar à realidade, meu lado menos egoísta resolveu abrir os olhos.

Estava novamente no quarto amplo que ficara quando quebrei meus ossos. E exatamente como da última vez registrei as várias coisas erradas em meu corpo: fraqueza, incapacidade de farejar e incapacidade de ouvir ao longe.

Não houve espaço para decepção. De alguma forma, eu sabia que isso aconteceria quando caí inconsciente na floresta.

Levantei-me e senti uma tontura imediata. Tentei tatear no escuro pelos meus sapatos quando o quarto girou. Caí no chão com um baque. Antes mesmo de reunir forças para tentar levantar do chão, senti as mãos de Jacob em minha cintura. Ele me levou de volta para a cama e, à luz da lua que entrava pela janela, consegui ver seu rosto.

Jacob estava com a expressão torturada.  Lembrei-me imediatamente daquele dia que o encontrei na estrada, antes de ir embora. Só poderia haver um motivo para ele estar assim. Os flashes de Seth sendo jogado num carro e Jacob tentando salvá-lo em vão me assaltaram.

Agora ele me olhava preocupadamente.

–Como está se sentindo?

Não encontrei minha voz para responder. A angustia em seu rosto se intensificou.

–Agatha? Tá me ouvindo?

–O que vamos fazer? – sussurrei. Ele sabia a que eu me referia. Seu olhar perfurou o meu ao responder:

–Eu vou trazer ele de volta.

–Mas... Como?

Eu não via como poderíamos resgatá-lo. Joham tinha um exército...

Solucei enquanto as lágrimas queimavam os cantos de meus olhos. Jacob ergueu a mão para secá-las e depois encostou sua testa à minha.

–Shh. Fica calma. Eu vou resolver isso. Prometo.

Passei meus braços ao redor do pescoço dele e o apertei com força junto a mim. Ficamos assim por um bom tempo até que todas as dúvidas em minha cabeça começaram a gritar exigindo que eu desse atenção à elas.

–Jacob, o que aconteceu? – perguntei assim que me separei dele. – Foi tudo uma confusão a partir do momento em que Alice disse que eles atacariam Forks. De onde eles tiraram um exército? Onde estão os outros? Eles estão...?

–Calma. – ele me interrompeu. – Eu vou te contar ok? Foi tudo muito confuso. Num minuto estava tudo calmo e no outro eles apareceram de todos os lados. Tivemos que nos separar. A prioridade era vir para a casa de Edward e Bella para proteger Renesmee, mas descobrimos que eles também foram atacados por Joham.

–E Forks? Eles atacaram a cidade?

–Não. Sam e os outros seguraram todos na barreira.

–Eles estão bem? – perguntei rapidamente.

–Ninguém se feriu. – ele garantiu.

Suspirei de alívio.

–Mas e o exército? Eles fugiram ou o quê?

–Nós matamos alguns. O resto fugiu assim que Seth foi levado.

 De repente ele olhou para mim com algo parecido com orgulho no olhar.

–Ainda bem que você estava lá. – ele tocou meu rosto – Se não fosse por você, aquela outra teria pegado Renesmee. – Você lutou muito bem. Agora tem menos uma psicopata para lidarmos.

 Mas eu lembrava de outra coisa. Jacob teve que usar o tom alfa para não me fazer dar meia volta e ir atrás dele. Abaixei o rosto, envergonhada. Jacob pareceu perceber o que eu pensava.

–Aquilo não foi nada. – ele sorriu gentilmente. – Qualquer um teria ficado em dúvida sobre o que fazer. – seu rosto ficou sério depois. – Com Seth caído e todos os outros lutando...

Ele se calou. De repente eu senti uma enorme necessidade de fazer alguma coisa. De planejar alguma maneira de salvar Seth. Não conseguia mais ficar parada.

Levantei-me segurando a tontura e peguei meus sapatos. Jacob me olhava sem entender.

–Bem, agente precisa fazer alguma coisa, não é? – eu disse.

Desci as escadas com Jacob nos meus calcanhares. Por algum motivo ele parecia relutante em me deixar falar com os outros.

Encontrei Carlisle, Edward, Bella e Jasper na sala.

–Então, qual é plano? – perguntei sem nenhuma cerimônia. – Quer dizer, nós precisamos dar um jeito de salvar o Seth. Quem sabe o que podem estar fazendo com ele... – eu não podia nem mesmo imaginar.

Todos pareceram meio desconfortáveis. Virei-me para Jacob e ele evitou meu olhar ao se encostar à parede, parecendo meio cansado. Voltei-me para eles.

–Os outros estão rastreando Joham nesse exato momento. – disse Edward.

Havia uma atmosfera estranha no ar. Como se houvesse alguma coisa que eles não tivessem me contado. Jacob era o mais estranho. Se os outros estavam rastreando Joham, ele seria o primeiro a querer ir...

Olhei para Bella, certa de que ela não conseguiria esconder algo. Seu olhar evasivo entregou tudo.

–Tem algo que eu não saiba? – perguntei.

–Se você pretende mesmo fazer isso, Jacob; é melhor contar logo. – disse Jasper.

–Contar o quê? – disse rispidamente.

Jacob ainda evitava me olhar e balançava a cabeça.

–Jacob não precisa fazer isso. Podemos dar um jeito sem... – começou Bella.

–Sem o quê?

Eles me ignoraram.

–Não podemos sucumbir à chantagem de Joham. – Carlisle se pronunciou pela primeira vez.

–Mas esse é o único jeito de penetrar as defesas dele. – contrapôs Jasper.

–Dá pra alguém me dizer o que tá acontecendo? – falei mais alto. Jacob finalmente me dirigiu o olhar e disse relutantemente:

–Joham disse que não vai soltar Seth a não ser que eu me entregue.

Levei um tempo para entender o que ele estava dizendo. Por que Joham iria querer Jacob? Não era Renesmee quem ele queria?

Lembrei das minhas suspeitas anteriores. Do veneno no meu sistema. Das palavras de Emily antes de eu estraçalhá-la... “Sabe, eu não entendo por que Joham se importa tanto com a sua espécie. Se bem que eu tenho que admitir... Aquele alfazinho parece realmente delicioso...”.

–Isso nunca foi sobre pegar Renesmee, não é? – sussurrei. A compreensão jorrando em minha voz.

–Li a mente de Joham quando ele nos atacou. – disse Edward. – Aro só permitiu que ele vivesse se ele prometesse não tocar em Renesmee, e em troca ele poderia fazer todo o experimento que quisesse nos lobos.

Jacob tremia de raiva e eu vi em seu olhar que ele jamais permitiria uma coisa dessas. Ele lutaria até o fim.

–Mas eu não entendo... Achei que Joham quisesse criar uma nova raça. – disse.

–Para todos os efeitos, Joham saiu ganhando nesse acordo que fez com Aro. Ele poderia viver e ainda por cima continuaria fazendo seus experimentos. – disse Carlisle.

–Aro nunca deixaria Joham pegar Renesmee, por que o próprio Aro a quer. – complementou Edward. – Exatamente como a mim e a Alice. Mas Aro sabe que jamais poderá nos tocar com uma matilha tão grande por perto. Ele viu isso da última vez. Deixar Joham viver e lhe dar uma nova obsessão foi o plano perfeito. – ele acrescentou amargurado. – Na última vez que nos encontramos com os Volturi, Aro ficou muito interessado nos lobos. Leais, foi o que ele disse. É claro que ele adoraria ter um cientista que estivesse disposto a domar os lobos para depois serem usados pela guarda Volturi.

Então era isso. Joham fazendo o maior alarde de sua presença. Ameaçando a cidade e Renesmee ao mesmo tempo, nos obrigando a se dividir... E tudo para pegar a matilha. Para depois deixar o caminho livre para os Volturi.

E agora queriam pegar Jacob.

–Não! – disse sufocada quando comecei a entender qual era o plano que Jasper estava sugerindo e no quê isso implicava. – Não, não, não e não!

–Agatha... – começou Jacob, ignorei-o e me dirigi a Jasper:

–Você ficou louco? Jacob não vai se entregar!

–Ninguém está pedindo para ele fazer isso. – retrucou Jasper. – Mas precisamos virar o jogo. Joham jogou conosco e nós caímos direitinho. Se fizermos ele pensar que está no controle da situação, ou seja, se Jacob disser que irá se entregar aí nós vamos poder atacá-lo.

Jasper falava tudo aquilo como se não se importasse com Jacob. Como se o resultado final fosse o que realmente importava.

–Joham está escondido nos arredores das Montanhas Rochosas, no Canadá. – continuou Jasper. – O lugar já é uma armadilha em si, e ele tem o restante do exército para proteger ele. Em resumo, não vamos conseguir tirar ele da toca, a não ser que ele tenha um motivo.

Jasper olhou para Jacob, e este assentiu concordando.

–Peraí, se Joham quer tanto Jacob por que ele pegou Seth?

–Ela tentou injetar aquela coisa em mim, mas errou. – disse Jacob.

–Faz sentido que Joham queira o Alfa, afinal ele é o mais forte. – complementou Edward.

–Agatha, eu vou fazer isso. – disse Jacob firmemente. – É pelo Seth. Não vai ter problema nenhum. Eu o faço sair lá de dentro, ele devolve Seth e nós atacamos.

–Não. – balancei a cabeça em negativa. – É arriscado demais. E se Joham usar o mesmo veneno que usou contra mim?

–Achamos que Joham não vai mais usar aquilo. – disse Edward. – Vi na mente dele que ele não queria causar os danos que você sofreu. Ele quer subjugar um lobo, não tirar seus poderes completamente.

–Mas Agatha se transformou novamente. – refletiu Bella.

–Só que ela não deveria ter feito isso. – disse Carlisle me olhando severamente. Mordi o lábio. Ele me dissera para eu não me transformar e essa fora a primeira coisa que fiz assim que ele deu as costas. – Os danos podem ser sérios.

–Como assim danos? – perguntou Jacob se aproximando, de repente preocupado.

–Deixa isso para depois. – cortei-o. – E então o plano é jogar Jacob de isca? Que legal.

–Agatha, não é nada disso. – disse Edward pacientemente. – Vamos estar todos juntos lá e atacaremos assim que Seth estiver seguro.

–Isso não vai dar certo. – rosnei. – Vocês mesmos estão dizendo que ele tem um exército e vão simplismente esperar que Joham não vá os mandar atacarem Jacob no primeiro momento em que...

–Agatha, chega! – disse Jacob baixo, mas percebi que ele havia chegado ao limite das minhas reclamações. – Eu vou fazer isso. É o único plano que temos. Fim da história.

Fitei-o sem acreditar no que estava ouvindo.

–Eu sou o Alfa. – ele disse com autoridade.

Era a segunda vez que ele bancava o Alfa comigo. Inflei o peito, quase explodindo.

–Só que você não é o único que pode dar a palavra final.

Ele me olhou, sem entender.

–Vamos ver o que o Conselho acha do seu plano.