Já no trem, tivemos um delicioso jantar, Katniss foi para o quarto cedo, o resto de nós ficou na sala até mais tarde. Depois resolvemos que já era hora de um bom descanso, Haymitch se manteve firme, acredito que ele não vá dormir tão cedo. Vou para o meu quarto e tomo um banho demorado e visto um pijama verde claro de seda. Deito e fico fitando o teto, é como se todo o sono que eu sentia estivesse ido embora com a água da banheira. Perambulo de um lado para o outro do quarto até que ouço uma porta se abrir. Consigo ouvir uma conversa, parece ser de Katniss e Haymitch, decido não me intrometer e volto a tentar dormir. Quando finalmente consigo, alguém bate forte na porta ao lado da minha, a do quarto de Cato.

-- Cato, paramos para abastecer, preciso falar com você.

É a vós de Katniss. Não sei por que eles insistem em me manter fora dos planos, acho que eles fazem ainda pior com o Peeta. Eu posso levantar agora e acabar brigando com todo mundo, ficar excluída o resto do tempo e o meu relacionamento piorar ou continuar aqui e tentar dormir novamente. Após refletir por alguns instantes decido que não preciso de mais problemas, não agora, mas amanha vou ter uma longa conversa. Quando durmo tenho um sonho realmente perturbador, o que me leva a crer que estou com ciúmes. E para melhorar estou sentindo uma dor de cabeça que não sinto desde o dia das teleguiadas. Apesar de estar acordada me recuso a levantar até Charlotte bater em minha porta.

-- Está pronta? – ela fala abrindo a porta – vejo que não, apronte-se logo e vá para o vagão restaurante.

Concordo com a cabeça que ainda está latejando, decido tomar um banho frio para ver se resolve, realmente dá certo, a dor passa de tortuosa para suportável, visto uma roupa qualquer que pego na cômoda e sigo até o vagão restaurante.  Todos já estão sentados, mas Effie não deixou eles começarem a comer ainda. Sento na cadeira vaga ao lado de Brutos.

-- Que horas chegamos ao onze? – Enobária pergunta. Já até havia me esquecido que começaríamos por esse distrito, geralmente começa pelo 12 e por último é o distrito do vitorioso, mas nesse caso terá que ser diferente, vamos começar pelo 11 e iremos até o 1, pulando o 2 obviamente, e então voltaremos ao 12 e depois ao 2 que fica mais perto da festa na capital.

-- Provavelmente ao anoitecer – Effie responde dando de ombros.

Começo a comer, a comida está maravilhosa, pego pãezinhos macios com queijo e suco de laranja . Katniss está com uma expressão triste, acho que é porque estamos indo ao distrito da Rue, para mim o pior vai ser encarar a família da pessoa que quase tirou minha vida, Thresh.

-- Onde estão os outros? – Katniss pergunta praticamente lendo minha mente.

-- Não sei onde Haymitch está, Cinna e Beatriz estão discutindo algumas ideias e Cato, Peeta e a equipe de preparação deles devem estar dormindo. – Effie fala ajeitando a peruca.

-- Porque eles estão dormindo? Não precisam de preparação? – pergunto meio irritada.

-- Sim, precisam, mas não da que vocês precisam – Enobária responde me fazendo notar sua presença.

Termino o café e sou entregue a minha equipe de preparação, sinto cada pelo existente no meu corpo sendo arrancado novamente, logo após sou colocada em uma banheira com uma solução estranha, enquanto eles passam creme em meu cabelo e rosto. Dois outros longos banhos se seguem, mas agora com misturas mais agradáveis. Sou esfregada, massageada e umedecida até meu corpo ficar em carne viva. Quando finalmente terminamos seguimos para o almoço, onde todos com exceção de Katniss e sua equipe já chegaram, sento ao lado de Cato e me sirvo com um pouco de cozido de carneiro. Não estou realmente com fome então fico apenas remexendo o cozido com um garfo.

-- Tudo com você pequena? – Cato pergunta agora mexendo em meus cabelos.

-- Só não estou fome.

-- Sabe que eu te amo né? – Cato fala e eu me aproximo para um beijo, não resisto, não consigo e acho que estou um pouco carente.

Logo estamos todos conversando animadamente sobre a comida e como é confortável dormir em trens, então começamos a falar sobre a turnê entusiasmados e Katniss finalmente aparece, ela aparente estar emburrada ou triste. Fazemos tentativas inúteis de inclui-la na conversa. Em determinado momento o trem para e nos é avisado que não é apenas para reabastecer, uma parte dele foi danificada e precisa ser trocada. Effie fica agitada e começa a falar os danos que o atraso vai causar.

-- Ninguém se importa Effie – Katniss fala a ela grossamente – ninguém se importa mesmo.

Isso não deixa de ser verdade mas é muita falta de educação da sua parte. Tento ajeitar as coisas.

-- Não se preocupe Effie, ela só estra estressada, todos sabemos como o seu trabalho é importante.

Katniss abre a porta do trem o que faz com que um alarme dispare, ela pula para fora. Peeta resolve ir atrás dela e convenço Cato a descer também, precisamos conversar em algum local que eu tenha certeza que não existem câmeras. Começamos a caminhar na direção contrária que eles foram, acho que podemos andar cerca de vinte minutos.

-- Porque você tem me deixado de lado? – Pergunto fitando o chão, se eu imaginasse que estaria fazendo uma pergunta assim ano passado já teria vomitado.

-- Eu não fiz isso.

-- Cheio de segredinhos com a Katniss. – suspiro – Haymitch e Brutos.

-- Não queria te deixar mais preocupada ou atordoada do que já está...

-- Não importa se for me deixar triste, não esconda as coisas de mim, certo?

-- Se é para dizer toda a verdade... Nós quatro tivemos uma conversa ontem. – ele fala revirando os olhos.

-- Eu sei.

-- Vamos ter que nos casar.

Ah? O que? Como assim? Eu tenho 16 anos, sou vitoriosa na septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes e vou ter que me casar? Devo estar fazendo uma expressão muito negativa porque Cato começa a me olhar como se estivesse magoado.

-- Eu tenho 16 anos – Falo com a vós mais controlada que consigo.

-- Fale isso para o presidente. Katniss também não está feliz. Achei que você quisesse casar comigo.

-- Sim, mas, somos muito jovens para um casamento!

-- Acho que não temos escolha.

-- Mas como tudo tem um lado razoável, não imagino pessoa melhor para passar o resto da minha vida – falo isso e começamos a rir.

-- Eu também não – ele responde com sinceridade. Acho que com isso posso deduzir que saímos da crise de relacionamento, certo?