The 29th Hunger Games! escrita por Lançassolar
Quando a chuva finalmente parou e o céu abriu de vez, eu tive a sensação de que realmente o fim estava próximo. O fim da 29ª Edição dos Jogos Vorazes. Assassinatos, ou morte, as únicas duas opções.
Imaginei que poderia começar a escurecer, afinal isso já fora feito antes, um eclipse inesperado, para um combate no escuro. Para nossa sorte, isso não havia ocorrido. Ainda.
Eu e Kayleigh estávamos super atentos. Qualquer movimento, me atraia a atenção. Qualquer som. No começo, meu planejamento era fazer o que eu pudesse e ver aonde eu conseguiria ir. Agora no entanto, eu estava pensando para frente. Eu estava realmente ciente da minha possibilidade de vencer.
Eu e Kayleigh, tínhamos reais possibilidades de vencer Morgan em um duelo, e se isso acontecesse, minhas chances de matar Kayleigh e sair vivo eram boas. Matar Kayleigh. Essa ideia me era apavorante nesse momento. Mas eu não tinha muita opção. Matar Kayleigh, ou dar a vitória a ela? Era realmente uma dúvida que eu tinha. Desculpe Kay, mas eu ainda não quero morrer.
Corremos, descansamos, observamos ao redor. O tempo parecia que havia parado. A espera era algo excruciante, e terrível.
- Cadê ele, cadê ele... – Minha parceira murmurava, mais para si mesma, que para mim.
Eu conseguia sentir a determinação dela, a vontade de vencer e voltar para casa. A sensação também era comum para mim. Um de nós dois vai conseguir, eu posso te prometer isso.
- Kayleigh. – Chamei.
Ela se virou para mim, indagando silenciosamente.
- Vamos passar as amoras nas nossas armas.
Ele balançou a cabeça positivamente, concordando. Abriu a mochila, retirando o pacote de amoras de lá de dentro. Pegou duas, e esmagou com as mãos, enquanto o líquido roxo escorria por suas mãos. Então, o passou no gume do machado, e por um segundo, pareceu que ele havia acabado de cortar uma pessoa. A amora lembra sangue ou é um pressagio do futuro?
Logo depois, pegou mais duas amoras, e fez o mesmo processo na minha lança. Ela guardou o resto que sobrou das amoras de volta na mochila, e prosseguimos.
- Um mínimo corte, e a situação de nosso amiguinho Carreirista vai se complicar bastante.
- Eu espero que sim, partindo da suposição que consigamos cortá-lo.
Ela me olhou surpresa, e depois sorriu:
- Ei, não nos subestime tanto assim ok?
- Eu sei, estou brincando. – Disse, e sorrir um pouco foi bom, para aliviar as tensões que estavam tão à flor da pele naquele momento.
Caminhamos mais um pouco, e finalmente chegamos ao despenhadeiro. Nesse momento, era como se o GPS que havia dentro da minha cabeça houvesse sido religado. Corri para a beira, apenas para conferir o riacho embaixo, e minha surpresa foi imensa, quando eu vi apenas o leito seco. Kayleigh fez a pergunta que eu mesmo tinha na cabeça?
- Qual o objetivo disso?
- Não faço a menor ideia.
O único propósito possível era matar os tributos de sede. Algo como uma grande mensagem: “Encontrem-se e matem-se, ou morram de sede”. Aterrorizante, com toda a certeza. Eu não tinha ideia do objetivo da “seca”, mas tinha certeza que não gostaria de descobrir, se isso chegasse a acontecer.
- Cornucópia? – Perguntei.
- Sim. Não gosto desse lugar...
- Somos dois. Vamos.
Retornamos nossa marcha, na direção do centro da Arena, que parecia ter ganhado vida de vez. Os pássaros começavam a cantar, voando de um lado para o outro. Os animais como cervos e coelhos, que antes viviam intocados, agora corriam de um lado para o outro. E o céu começou a fechar novamente. Nuvens negras e anormais, se juntando cada vez mais, e bloqueando a ação do sol. Logo a Arena estava totalmente nublada. E o frio veio junto, muito frio, sem dúvida todos os ar-condicionados haviam sido ligados simultaneamente, na força máxima. Nada mais explicaria aquela variação brutal e imediata de temperatura.
- O que é dessa vez?
- Esteja pronto Robb. A luta será a qualquer momento, isso está visível.
- Onde ele está. Droga.
Rodava a lança de um lado para o outro, temendo ser pego pelas costas. Cadê você Morgan. Apareça logo. Eu queria dar um fim naquilo, para vencer ou para perder, o mais rápido possível.
- Kayleigh... Se eu morrer, diga a minha família que eu os amo mais que qualquer coisa. E que me arrependo amargamente de qualquer tristeza que tenha trazido para eles.
- Seu recado já está dado. Eles estão assistindo você, agora mesmo.
Concordei. A pressão psicológica era tão grande que eu havia quase me esquecido que estava nos Jogos Vorazes. Quase.
- Já que estamos fazendo confissões, eu gostaria de dizer, que apesar de sermos inimigos, gosto de pensar em você com carinho.
Sorri para ela, diante do frio.
- Você nunca foi minha inimiga Kayleigh, mas sempre fez me sentir melhor... mais seguro. Você foi minha amiga, desde que nos conhecemos.
- Mesmo no treinamento. – Perguntou com um sorriso curioso e alegre, esperando a confirmação.
- Eu previ o futuro. De outro modo não teria lhe dado trégua.
Ela gargalhou, e eu também. O tipo de gargalhada que apenas as pessoas que não tem muito mais a perder, em uma situação dificílima conseguem dar. Estávamos cada vez mais próximos a Cornucópia agora.
- Está com medo? – Perguntei.
- Estou cansada demais para sentir medo.
Iria fazer mais uma pergunta, quando ouvi o som. Me virei na direção instantaneamente, assim como a própria Kay. E não demorou muito para ver a onda. Uma espécie de tsunami.
- Agora sabemos onde está a água do riacho. – Kayleigh falou. - Corra.
Corri, junto com ela. Mas era inútil, e sabíamos disso. A onda nos alcançou logo, nos arrastando com tudo pela arena, em uma direção a seu bel prazer. Arrancou minha mochila, mas não conseguiu tirar a lança de minhas mãos. Senti minhas costas rasgarem no chão, enquanto era arrastado pela onda. O afogamento era outra sensação desagradável que aos poucos começava a dar suas caras. Logo a Arena estava enchendo cada vez mais.
Eu não conseguia ver para onde Kayleigh havia ido, e concentrava todas as minhas forças em segurar a lança, e não perder a respiração. Logo, percebi que duas ondas laterais haviam se juntado a principal. Assustado, percebi o objetivo daquilo. Vão nos jogar com tudo, no leito do rio embaixo. Homicídio duplo.
Cada vez mais, estávamos perto, e aliviado, percebi que a onda estava perdendo a força, mas ainda tinha energia, suficiente para nos jogar embaixo, se não fizesse alguma coisa.
Quando finalmente vi a beira do despenhadeiro, a coluna de água estava fraca o suficiente para que eu pudesse esticar minha lança, cravando-a em uma árvore e me segurando. Kayleigh não teve a mesma sorte.
Foi arrastada, mas conseguiu se segurar na borda do despenhadeiro, devido, a uma balaustrada natural, que havia. Não conseguiu no entanto, evitar a pancada que deu na perna. O baque da onda embaixo foi imenso, fazendo um som altíssimo, para casar com os trovões que começavam a aparecer no céu da tarde.
Corri para Kayleigh.
- Você está bem?
- Estou muito bem, obrigado por se preocupar. – A voz disse.
Me virei na direção dela, e pude ver Morgan, escalando a encosta. Por muito pouco ele não fora arrastado pela onda. Mas agora não havia tempo para lamentação. Ele estava ileso, assim como eu e Kayleigh, que não havia se machucado seriamente.
Sorri. Tudo que havia acontecido na Arena havia sido um mero contratempo. A 29ª edição dos Jogos Vorazes começa agora.
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