Eu não sabia o que pensar. Pela primeira vez desde que eu havia me tornado vampira, o meu escudo não estava me ajudando em relação aos meus pensamentos. Talvez Jake estivesse certo, e Shelly estivesse nos enganando, mas algo dentro de mim insistia em acreditar nela. Ela simplesmente parecia confiável. Eu tive vontade de dormir. De poder me desligar do mundo como eu fazia quando era humana, e entender as coisas de melhor forma, como sempre ocorreu em meus sonhos. Estávamos voltando para casa. Edward dirigia enquanto Renesmee dormia no colo de Jacob, no banco traseiro. Foi então que eu tive a ideia. Não fazia isso há anos, e percebi o quanto me fazia falta. Acenei com a cabeça para que Jacob me passar a mão esquerda de Renesmee, que estava apoiada no peito dele. Ele demorou um pouco para perceber que eu o estava chamando, pois estava distraído olhando para o rosto adormecido dela. Fiquei perdida ali por alguns segundos também, até que Jacob finalmente puxou delicadamente a mão dela e me entregou, sorrindo. Coloquei-a em meu rosto e me deixei ser levada para o mundo dos sonhos de minha filha.

Eu estava na nossa clareira. Minha, do Edward e da Renesmee. Mas não era nenhum de nós lá. Eu observava de longe enquanto Matthew e Shelly conversavam. Tive que me segurar para não tirar a mão de minha filha do meu rosto. Aquilo simplesmente parecia errado. Eles não pertenciam àquele lugar. Mas talvez isso fosse parte importante do sonho. Tentei me concentrar no máximo de detalhes possível. Eles estavam parados um em frente ao outro, Shelly sorria e Matthew parecia tenso. Ela virou de costas para ele e começou a colher algumas flores. Ele parecia impaciente.

- Matt, querido – ela dizia – tudo vai se resolver. Fique calmo.

- Ainda não entendi porque nós viemos até aqui. – Ela franzia os lábios, parecendo preocupado. – Steve não vai gostar nem um pouco disso.

            Shelly correu o olhar pela clareira, como se precisasse se certificar da ausência de Steve. Achei estranho ela não reparar na minha presença, mas só então lembrei que eu não estava ali. Aquilo era um sonho, não estava acontecendo de verdade. Ela revirou os olhos e franziu os lábios.

- Eu tinha prometido a ele que não usaria em você. – Ela franziu o cenho – mas parece que você quer complicar as coisas.

- Como assim?

Ela fechou os olhos, parecendo se concentrar muito e, finalmente, disse:

- Seu irmão está descontrolado atrás dessa menina. Foi isso que o tirou de perto de você, de perto da família. É por isso que nós temos que acabar com ela. E você quer ajudar, por causa dos anos que você passou precisando dele, e ele não estava lá. Ele estava aqui, em Seattle, simplesmente porque era o mais próximo dela que ele conseguiria chegar. Ela destruiu a vida dele. Foi ela que fez com que ele fosse encontrado pelo –

De repente tudo se dissipou em névoa, e eu estava de volta no carro, olhando fixamente para uma Renesmee muito assustada.

- Você estava olhando, mãe? – Ela deixou o susto de lado e mudou sua expressão para surpresa. – Você não vê meus sonhos há algum tempo…

            Realmente, quando ela completou            dez anos, nós combinamos privacidade total para ela. Eu deixava meu escudo sobre ela o tempo inteiro, e nunca mais invadi seus sonhos.

- Perdão, querida… Mas eu precisava ver. Eu lembrei da minha época de humana e dos meus sonhos que sempre significavam alguma coisa… – De repente, comecei a ficar preocupada com o fato de ela poder se chatear comigo por eu ter invadido a mente dela.

- Tudo bem… – Ela sorriu fracamente. – Você viu?

- Vi… O final.

- Mãe… – Ela esticou seu corpo para frente o máximo que o cinto de segurança permitia. – E se… E se for verdade?

- Ok, estou quieto há tempo demais. – Jacob interrompeu. – E você está muito tensa, Ness. Detesto te ver assim. Alguém vai me dizer o que está acontecendo.

Captei com o canto do olho Edward, com os lábios franzidos, concordar com Jacob com um movimento de cabeça. Olhei para minha filha, que já tinha enterrado o rosto no peito de Jacob, e mordi o lábio.

- Tive um sonho muito, muito estranho. – Ela falou, sua voz abafada pela camiseta dele. – E esclarecedor também.

- Você não acha que tenha previsto alguma coisa no seu sonho, certo, Ness? – Jake parecia confuso – Quero dizer, você não é a Alice nem nada assim.

- Não… Eu sei que não sou. – Ela conseguiu sorrir – Mas uma coisa que a mamãe falou faz muito sentido. Ela já me contou que, quando era humana, ela sonhou com o papai sendo um vampiro, depois você sendo um lobo, eu nascendo e os Volturi vindo atrás de nós. Antes mesmo de eu nascer, Jake. Não podemos negar que ela tinha sonhos, no mínimo, esclarecedores.

Edward franziu o cenho e eu entendi que seu silêncio era apenas um reflexo de tudo o que ele estava pensando, provavelmente mil coisas por segundo, tentando chegar a uma conclusão, assim como eu.

- O que o seu sonho disse, então, Ness? – Jacob olhou para mim, e não para ela.

- Lembra daquilo que você falou, sobre a possibilidade de a Shelly ter outro trunfo, Jake? – Eu arrisquei e ele assentiu. – Talvez ela possa… Bom, eu sei que é loucura, mas talvez ela possa colocar pensamentos nas mentes das pessoas. Quero dizer, não apenas enviá-los para qualquer um que possa ler… Mas mudar o que estivermos pensando.

Como se para confirmar a minha teoria, ouvi em minha mente a risada sarcástica dela ecoando, e me senti presa em seu aperto mais uma vez.