A Mortal, Filha De Dois Deuses. escrita por Amortecência


Capítulo 3
Mayana Conhece O Acampamento.




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– Vamos logo! Neste exato momento deve ter um monte de monstros tentando chegar desesperadamente a esse lugar! – disse meu pai, já começando a se mover.

– Como você sabe? – Perguntei.

– Primeiro: eu vi uma esfinge e um ciclope correndo para cá e, acredite, o ciclope não era como Tyson – dizia ele enquanto já corríamos por vários corredores e salas. – Segundo: os monstros sentem a energia e o poder de semideuses.

– Então, quando Mayana fez aquele campo de força, ela atraiu monstros pra cá porque usou uma grande capacidade de seu poder?

– Também, mas na verdade quem mais atraiu monstros foi você, filha – contou minha mãe.

– Eu? Mas como? Eu não tenho poderes.

– Você sempre teve. Só não percebia isso. Você herdou a inteligência da sua avó – respondeu meu pai.

– Mas, de qualquer modo, foi Mayana quem mais atraiu os monstros, não é? Porque eu não demonstrei muito a minha inteligência hoje não. E Mayana fez outras coisas além do campo de força. Ela também criou uma “mini-onda” que desequilibrou Taisa da escadaria.

Meu pai e minha mãe se entreolharam. Corríamos a toda, passando por salas com estátuas, armas, armaduras, etc. e foi aí que percebi que havia esquecido o arco. Eu simplesmente o largara lá quando tentei pegar Mayana, descobrindo assim que ela era mais pesada do que parecia. E agora eu estava desarmada. E se meu pai estiver certo, só vou ter duas pessoas para me defender de um monte de monstros de todos os tipos. Em compensação, aquele arco nem era verdadeiro. Apenas uma réplica.

– A sei-lá-o-quê falou algo sobre isso? Sobre a “mini-onda” ou sobre Mayana? – perguntou meu pai. Acho que com “sei-lá-o-quê” ele queria dizer a ker.

– Hã, sim. Ela disse que eu havia feito àquela onda, o que é impossível, e que Mayana era filha de Hécate.

– Então é isso! É isso que está atraindo os monstros. É a sua onda – falou Annabeth.

– Mas, isso é impossível. Não é? Se meu pai estiver certo e eu tiver herdado a sabedoria de Atena, como é possível eu ter poderes sobre a água.

– Não, não é impossível. Mas é muitíssimo raro. Acho que na história só ouve no máximo três pessoas igual a você, querida. E elas nem chegaram aos 13 anos. Porque pessoas como você são poderosas demais. É como se você fosse, meu bem, uma mortal filha de dois deuses. E assim que seu primeiro sinal de poder se manifestou, os monstros sentiram de longe. Será, para eles, como saborear um deus de verdade.

Eu estava atordoada. Isso é impossível. Eu nunca fui muito boa em nada. Era impossível agora, eu ser mais poderosa que meus próprios pais, Annabeth e Percy. Estávamos agora passando por um corredor estreito de paredes brancas, iluminado por luzes fluorescentes também brancas. E parecia que ele não tinha fim.

Até que, finalmente, chegamos a uma escadaria com o mesmo padrão: branco, com luzes brancas. Mayana estava começando a acordar agora. Graças aos deuses! Subimos correndo a escada, quando algo nos assustou. Um barulho como vidro se estilhaçando e um urro sobrenatural. Horrível. Aceleramos ainda mais o passo.

Após perder as contas de quantos lances de escadas subimos, finalmente emergimos para o ar livre. Nos encontrávamos em um terraço com um heliporto. Mayana já estava de pé. Ainda estava meio pálida, mas parecia melhor.

– Como vamos descer para os carros por aqui? – Eu perguntei.

– Quem disse que viemos de carro? – respondeu meu pai, dando um assovio que pararia qualquer taxi num raio de cinco quilômetros.

No mesmo momento quatro figuras escuras surgiram no céu. Grandes demais para serem pássaros e pequenas demais para serem aviões. Blackjack, Guido e mais dois pégasos pousaram ao nosso lado. Eu, meu pai e minha mãe montamos, mas Mayana hesitou.

– I-isto é se-seguro? – gaguejou ela.

– Mas é claro que sim! Conheço Blackjack desde meus 15 anos! E agora tenho quase 30 – meu pai parecia ofendido.

– Ora, suba logo! Fale sério, Mayana! – Reclamei. – Você prefere ser comida por ciclopes e esfinges a montar um pégaso?

Ela pareceu entender a gravidade da situação pois subiu em seu pégaso imediatamente. Blackjack e os companheiros alçaram voo, e, ao sobrevoarmos o local ao redor da biblioteca, vi que estava realmente encrencada. Havia, pelo menos, 15 ciclopes, todas as três górgonas, algumas esfinges e outras coisas que eu não pude identificar. Isso porque nós não sabíamos quantos monstros já haviam entrado no museu. Me perguntei o que os mortais lá embaixo viam de verdade. Eu nem imagino. Só espero que nenhum monstro alado seguisse nosso cheiro. Infelizmente, eu não podia estar mais enganada!

Estávamos quase chegando, quando senti um arrepio na espinha. Algo estava errado. Nosso caminho inteiro até aqui havia sido completo e perfeitamente calmo. Não era possível. Depois de ver o tanto de monstros que foi ao meu encontro por de eu ter feito apenas aquela “mini-onda”, era muito improvável que nenhum monstro nos seguisse. E parece que isso estava prestes a mudar.

– Para onde estamos indo exatamente? – Perguntou Mayana. Ela havia recobrado ainda mais a cor, mas ainda parecia abalada.

– Para o acampamento Meio-Sangue. É o único lugar seguro para você já que você é uma semideusa. Lá nenhum monstro pode passar da fronteira mágica. Nenhum vai poder te atacar – respondi.

Mas, no mesmo momento em que eu falei “atacar” duas górgonas apareceram do nada, usando minha resposta como deixa. Elas eram horríveis. Uma tinha o cabelo feito por cobras corais e a outra de cobras verdes a amarelas. Então eu percebi que não havia virado pedra ainda. Pelo menos, nenhuma delas era a Medusa.

– Esteno, Euríale? Quanto tempo hein? – disse meu pai.

No começo eu estranhei, mas depois percebi que ele falava sobre as duas górgonas que o atacaram diversas vezes alguns anos atrás. Elas usavam uniformes do Bargain Mart. Eu achei essa parte engraçada, mas agora, com as duas górgonas cara-a-cara comigo, percebo como deve ter sido aterrorizante.

– Percy Jackson? Então essa é a sua filhinha poderosa? – Falou a de cabelo com cobras corais. Eles se falavam como se fosse velhos amigos. Percebi que os cavalos estavam voando ainda mais rápido e Mayana estava quase caindo.

– Mayana! Segura mais firme! Você vai cair! – gritei.

– Isso eu estou percebendo! Só que não estou conseguindo me segurar!

Eu estava em um impasse: ou eu pedia para o pegaso dela diminuir a velocidade para ela se segurar melhor e ela era pega pelas górgonas, ou ela caia. O que eu iria fazer? Só tinha certeza de uma coisa: eu não iria perder minha melhor amiga. Não daquele jeito, pelo menos. Enquanto isso meu pai já atacava as górgonas. Minha mãe acabara de arrancar sua faca de bronze celestial e estava lutando contra uma delas – Esteno acho. Vi meu pai desintegrando Euríale. Pronto agora só restava uma, mas ela não estava facilitando nada. E Mayana estava deslizando cada vez mais, quase caindo.

Bem, e agora é hora das ideias loucas. Deslizei mais para trás e disse para Guido - meu pégaso - ir ao lado do de Mayana.

– Mayana! Pula! – Gritei.

– O quê? Você ta ficando louca?! Se eu pular eu vou cair! – ela rebateu, determinada.

– Confia em mim! Me da sua mão e pula!

– Não vou! Eu não sou louca!

– Mayana! Agora! Você acaba de saber que é uma semideusa. A partir do momento em que passa para esse mundo, não existe mais loucura, tudo é louco – disse e ela pareceu hesitar. – Você tem três opções: pular e ter uma chance permanecer viva, cair do cavalo ou virar comida de górgona. E ai? Qual vai ser?

Ela não respondeu, apenas olhou para baixo e depois para única górgona que lutava contra minha mãe e meu pai. Ela devia ser incrivelmente hábil para estar viva até agora. Então ela simplesmente me deu a mão, passou a outra perna para o meu lado, de modo que ficou sentado em seu pegaso de frente para mim. Eu a içei para perto de mim, mas como eu já disse, ela é mais pesada do que aparenta. Ela caiu e eu segurava apenas suas mãos. Pedi para o outro pegaso ir para baixo e apoiar os pés dela. Ele fez isso e ela começou a subir. Finalmente ela conseguiu montar.

– Obrigado – ela sussurrou.

– Disponha.

Mas, minha mãe e meu pai não estavam tendo a mesma sorte. Então minha salvação novamente: Mayana e minha bolsa. Eu tinha uma pequena adaga de bronze celestial lá dentro. Se eu conseguisse me aproximar por trás da górgona, talvez pudesse acabar de uma vez com isso.

– Passe minha bolsa. Vou pegar a adaga – disse para ela.

– A-adaga? Você tem uma a-adaga na bolsa? – Perguntou ela.

– Ora, nunca se sabe o que pode acontecer!

Ela me passou a bolsa e eu peguei a pequena adaga que minha mãe havia me dado. Era apenas uma pouco maior que a faca dela, mas fatal. Eu sussurrei no ouvido de Guido meu plano. Mas levei um belo susto quando ouvi, direto em minha mente: O.K. Helena! Vamos matar essa górgona! Agora eu estava falando com cavalos como meu pai! Então, quer dizer que talvez fosse verdade sobre eu ter herdado os poderes de meu avô. Tudo bem, eu iria conversar com meu pai sobre isso depois.

Nós já estávamos quase chegando, talvez cinco quilômetros, no máximo até o acampamento. Guido foi até a retaguarda de Esteno. Mas parece que ela pressentiu isso, pois se virou bem na hora em que eu ia passar a faca no meio de suas costas. Eu estava frita! Ela me fuzilou com o olhar e parecia que eu havia virado pedra, mesmo que não fosse a Medusa. Eu, na verdade, estava paralisada de medo, de novo. Naquele momento vi minha vida passando diante de meus olhos e sabia que eu ia morrer. Até que o “filminho” da minha vida chegou à parte em que eu conheci Mayana: Taisa havia feito à cabeça de minha outra melhor amiga, que, na verdade, nem gostava de mim, e Mayana me ajudou nas horas difíceis. E eu me sentia e ainda sinto estranhamente ligada a ela. Mesmo que fosse algo bobo eu sou eternamente grata por isso. São poucas as pessoas que tem o poder de nos reconfortar, e eu não ia perder alguém que podia fazer isso por mim!

Guido se desviou das garras da bruxa e vi, atrás dela meus pais também paralisados de medo. Passamos bem ao lado da cabeça dela e Mayana deu um chute em suas costelas. Teria sido engraçado se não estivéssemos em uma situação tão séria. Esteno pareceu desnorteada e raivosa. E eu aproveitei, passando minha adaga na base de suas duas asas. E agora, tudo o que restava dela era um monte pó carregado pelo vento.

– Você foi muito corajosa dando um chute nas costelas da górgona – eu disse para Mayana. Ela enrubesceu e eu soltei uma gargalhada.

Voamos por apenas mais alguns quilômetros até chegarmos à Colina Meio-Sangue, onde estava o pinheiro da minha tia, Thalia. Eu achava que não havia mais sentindo chamar o pinheiro assim, já que a alma de Thalia já não habitava mais o pinheiro. Devia se chamar Pinheiro do Velocino, já que o Velocino de Ouro estava pendurado ali, mas tudo bem.

O Sol estava se pondo, pintando o mar e o céu de uma mistura borrada de laranja, rosa e azul. Lindo. Guido, Blackjack e os outros pousaram bem no centro refeitório, onde todos estavam fazendo suas oferendas.

– Bem vinda ao Acampamento Meio-Sangue – eu disse para Mayana enquanto todos olhavam, boquiabertos.



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Notas finais do capítulo

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