Loki sentia todo o seu corpo tremer. Enquanto voltava para o caminho do palácio, podia sentir os choques percorrer o seu corpo.

Poderia muito bem atribuí-los ao susto que havia tomado ou à raiva que sentia das feiticeiras. Mas no fundo sabia que era por causa de Thor.

Não se permitia a muito tempo ter pensamentos em torno do seu irmão, mas neste momento era impossível não imaginar, desejar, ansiar por ele.

A todo momento a cena do loiro segurando-o entre seus braços e dizendo para ele ficar calmo repetia em sua mente. Loki suspirou e disse:

– Contente-se com isso, é o máximo que terá.

Entrando no palácio, cumprimentou seus pais e foi direto para seu quarto. Precisava escrever, gostava de registrar todas as suas emoções num pedaço de papel, era como terapia. Seu diário era definitivamente seu maior e melhor confidente.

Ajeitou seus livros em cima de sua escrivaninha sempre impecavelmente organizada e procurou por ele. Repassou os livros pela segunda, terceira vez.

– Não é possível.

Loki viu todos os livros do quarto mesmo com a certeza que tinha levado consigo para escola. Seu coração disparou ao pensar em quem pudesse acha-lo.

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Thor ficou ainda um tempo na beira do lago. A cena de Loki nadando não sairia tão fácil da sua mente e ele se perguntava se isso, essa sensação era algo comum entre irmãos.

Se perguntava sempre, mesmo que no fundo soubesse a resposta.

Pegou o livro que tinha tamanho médio e uma capa de couro escura e muito bem conservada. Abriu e começou a passar rapidamente as páginas sem perceber nada de especial, além de que este servia também de cadernos de lembretes e recordações.

A luz começava a ficar fraca com chegada do final da tarde e ele então resolveu se encontrar com Frandal mais tarde para decidir o que fariam.

Quando voltou ao palácio apenas para tomar um banho, avistou Loki saindo apressadamente da biblioteca.

– Ei...Thor. Espere...- ele disse correndo e ficando de frente do mais velho – Eu só queria agradecer. Por hoje.

– Oh. Não se preocupe...você está se sentindo bem?

– Sim. Foi só o susto mesmo. Na pressa acabei nem agradecendo, fui rude.

– De verdade, Loki. Não se preocupe...

– Aquelas miseráveis terão revanche. Eu quase morri hoje, Thor...se não fosse você ter aparecido e me salvado. Aliás, como você conseguiu chegar naquele lugar?

– Ah...é, eu...é que eu vi. Eu as vi voando e resolvi segui-las para ver aonde iriam, foi aí que achei você.

– Independente de qualquer coisa, muito obrigado.

Os dois sorriram um para o outro e Thor perguntou:

– Você sempre vai para esse lugar? Quero dizer, ele parece um pouco escondido e até meio perigoso...

– Era o meu esconderijo...até hoje. Mas não poderei voltar, não enquanto essas idiotas souberem que eu vou lá.

– É melhor...eu não suportaria se algo acontecesse com você. – declarou o mais velho deixando Loki completamente sem graça.

– Thor, mudando de assunto...você viu um livro meu?

O coração do mais velho saltou em seu peito e ele tentou se manter o mais calmo possível:

– L-livro?

– Sim...ele é muito importante. Tem a minha vida lá.

– Não vi, infelizmente.

– Oh, bem...talvez as feiticeiras tenham pegado. Ou quando eu sai acabei deixando cair pelo caminho. Vou terminar de procurar por aqui.

– Se quiser podemos voltar lá amanhã. Eu te ajudo a procurar...- Thor propôs.

Loki o encarou com seus olhos muito verdes e misteriosos e por fim respondeu:

– Claro. Combinado. Depois da escola, me encontre lá. Bom, vou continuar a procurar por ele. Boa noite! - respondeu saindo rapidamente em direção das outras salas do palácio.

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Thor seguiu para a taverna da qual costumava se encontrar com seus amigos e beber. Sentia-se feliz, leve.

E a imagem de Loki nu voltava às vezes em sua mente, fazendo-o aproveitar ainda mais o momento.

– Você mandou um mensageiro, vim correndo...conseguiu pegar? – perguntou Frandal enquanto se cumprimentavam.

– Sim!

– Oh, maravilha...vamos ver....

– Certo.

Os dois então sentaram em uma das poucas mesas bem iluminadas do lugar e pediram algumas doses para acompanhar a leitura.

– Você chegou a ler algo? Viu algo relevante? – questionou Frandal abrindo cuidadosamente o livro.

– Não consegui ver muito, não.

– Hmm..ok, isso é muito excitante. Descobrir o que Loki tanto escreve nesses livros. Vamos começar pelo começo. Uau, pelo jeito ele já tem esse livro a muito tempo...viu? A primeira folha foi escrita a cinco anos atrás.

– Vá logo, Frandal. Não vai querer ler tudo, né? Temos que devolver...

– Calma, Thor. A pressa é inimiga da perfeição. Ok.

Os dois amigos então começaram a ler alguns trechos, entre outras anotações e receitas, mas nenhum em especial:

“Hoje a aula foi bem interessante. Acredito piamente que a professora não é a mais adequada e que provavelmente eu seja melhor do que ela em quesito de magia, mas mesmo assim darei um ponto de confiança, afinal de contas, ela é minha professora.”

“Loki, se lembrar de ler o livro chatíssimo: ASGARD – O MAIS SURPREENDENTE DOS REINOS. Disso eu duvido muito, mas como é para trabalho, lá vamos nós...”

“Por que o pai não pode comprar a trilogia de livros RAGNAROG? Eu tirei boas notas, me comportei...DROGA”

“Palavra do dia: resistência. Não é fácil perceber que alguém não gosta de você.”

“Perceber que talvez você seja a pessoa que os outros tanto falam que você é, pode ser perturbador. Ou muito divertido. Sif hoje provou do seu próprio veneno de cobra ao tentar me humilhar. Garota arrogante e prepotente. Cortei aquele cabelo seboso dela. Teria feito pior se ela não fosse amiga de Thor.”

Esse trecho fez os dois rirem e se lembrarem do ocorrido a mais de quatro anos. Frandal então comentou:

– Loki sempre foi espirituoso. Oh, veja...ele escreveu ontem...

– Sério? Vamos ver...- disse Thor se aproximando. Ambos então leram:

“Hoje foi um dia qualquer. Nada de especial.

Mas preciso escrever isso: estava tentando me lembrar de uma poesia que tinha visto quando ouvi risadas na sala de banho ao lado. Quem poderia encontrar?

Thor e Frandal, é claro. E estavam acompanhados. De seis mulheres! Nunca tinha visto algo assim...não que eu não tenha curiosidade, mas seis? Desnecessário!

O pior foi ter que sentir o bafo daqueles dois. Bebida alcoólica é algo tão desnecessário quanto. Pode parecer prepotente de minha parte, mas afinal de contas, qual é o objetivo de se beber?

Ficar inconveniente? Parecer bobo? Não se lembrar do que fez no outro dia? Mas pior mesmo foi vê-lo.

Sim.

Ele.

Que tinha me visto ontem de manhã, mas fingiu não me ver. E eu fingi também não me importar. Sou bom em mentiras.

Mas a verdade é que a cada dia está ficando mais difícil disfarçar, me conter perto dele. O que posso fazer? Que outra saída eu tinha? Você meu diário me conhece bem. Eu sempre gosto da pessoa mais errada possível.

Ele ainda ficou nervoso ao me ver expulsar aquelas senhoras de lá. E isso me deixou ainda mais nervoso.

Vê-lo tocar, beijar, sorrir para elas. Tudo isso só me atraiu mais, ao invés de me afastar dele.

Thor foi agiu de maneira bondosa e correta, como sempre e como era de se esperar. Na verdade eu poderia ter matado as mulheres e mesmo assim ele me defenderia.

Ele é e sempre será o melhor de todos.

Mas Frandal não, tão egoísta e tão idiota. Quase tanto quanto eu... A única coisa que eu queria é que ele me visse e me desejasse da mesma maneira que eu o vejo e desejo.

A escola foi interessante, hoje eu vi sobre um tipo de poção que se....”

O dois pararam de ler nessa parte. Ambos sem fôlego. Thor completamente pálido e Frandal muito vermelho.

Não sabiam o que falar e como agir. Nem ao menos se olhavam.

– Pegamos o diário dele. – Frandal disse o óbvio após um tempo.

Thor concordou, mas sua mente estava muito, muito longe dali. Estava no lago, em Loki, nos seus lábios colados no dele, salvando-o. Estava na imagem do seu corpo nu nadando tranquilamente.

Frandal também não sabia o que pensar. Simplesmente sua mente vagava entre o vazio e o desconhecido. Conhecia Loki praticamente desde bebê, e sempre havia implicado com ele. Era assim, sempre tinha sido.

E agora isso. Essa declaração tão verdadeira e genuína. Secreta.

Sentiu seu corpo inteiro estremecer ao lembrar da cena do dia anterior.

Era verdade que tinha fingido não ver Loki na manhã do dia anterior. Era verdade que ele gostava de maltratar o irmão mais novo de seu melhor amigo. Gostava de esnobá-lo, de discutir sobre coisas sem importâncias só para vê-lo ficar completamente vermelho. Queria puní-lo por ser sempre tão correto, crítico, esperto.

Os dois se entreolharam, antes de darem mais um gole de suas bebidas.