Todos continuaram olhando para mim. A única diferença é que suas expectativas não foram atendidas. Como se uma modelo ou atriz famosíssima fosse entrar na sala...

            Algumas garotas que mais pareciam ser feitas de porcelana sentavam-se na fileira da esquerda, perto da porta. Uns garotos musculosos mantinham-se juntos, do outro lado. Provavelmente alguma coisa ocorreu, porque esse tipo de gente se mistura (enquanto os garotos mais comuns e as garotas mais estranhas espalhavam-se pela sala, em seus grupinhos). Uma das bonecas humanas me olhou com desprezo. Sorte a dela que eu estou acostumada. “E se arrume, você não sabe que coisas vai encontrar lá.”... como eu queria escutar os conselhos da minha mãe.

― Posso me sentar? Isso está desconfortável. ― Tentei argumentar, ou sei lá. A professora parecia que estava tentando achar meus piores pecados nos meus olhos.

― Sente-se ali. Na minha frente.

Não argumentei, apenas afastei a cadeira o máximo que pude. Os minutos se estendem e brincam nos meus olhos; nunca vi uma aula demorar tanto. Quanto mais aquela mulher falava, mais meus olhos queriam se fechar (isso porque eu sempre fui a melhor aluna em todas as disciplinas). No final, ela começou a falar sobre um grupo de apoio. Infelizmente, a magia do sono se foi e eu fui obrigada a prestar atenção em tudo.

― Eu irei separar as duplas. Como temos alguns alunos que preferem olhar-se num espelho ou jogar bolas em cestas, precisamos que os mais inteligentes ensinem os mais pobres de pensamentos. ― O maço de cigarros em seu bolso parecia mais tentador do que a explicação ― Senhorita Chase, não me olhe assim. Se fumo, o problema é meu.

Essa mulher é demoníaca. Eu não tenho outra explicação.

― Já mandei você parar de me olhar deste jeito! Me mandaram o seu histórico escolar... melhor do que o de todos dessa classe. Tenho a dupla perfeita pra você.

E que venha alguma boneca ou algum atleta estúpido.

― Percy Jackson, sua tutora particular será Annabeth Chase.

Precisei me virar para vê-lo. Acetei! Ele é o mais bonitinho do grupo dos “atletas promissores”. Uma pele branquinha, cabelos negros bagunçados e olhos extremamente verdes. Se bem que ele nem parece ser tão musculoso assim...

― Minha o que?  Eu não preciso disso. Ou preciso? Minhas notas melhoraram muito, aposto que consigo melhorar ainda mais. ― A professora revirou os olhos. ― ‘Tô tentando ser um bom aluno mediano.

Mediano. Bonitinho. Tentando ser engraçado.

O que eu quero mesmo é o socorro da minha mãe.

...

Terceiro tempo: educação física.

― Por favooooor, eu só quero ler o meu livro ali no canto da quadra, em paz? Posso? ― Implorei. Mas o treinador Hegde não pareceu importar. E me colocou pra dar dez voltas na quadra, por “corpo mole”. Eu não mereço essa vida. Tem várias quadras, mas nossa turma ficou exatamente grudada. Consegui ver os garotos observando as outras garotas jogarem vôlei.

E eu tropecei.

― Annabeth!, corra que nem gente! ― Ele me levantou e quase chutou-me.

Passei o resto da aula correndo. Meus pulmões estão urrando de dor.

O vestiário ficou lotado. Maquiagem, roupas, brilho e futilidade para todos os lados. O maldito som de fofocas. Eu queria tanto ser um garoto...

Mais olhares. O grupinho das garotas bonitinhas já falava sobre mim. Elas tentavam descobrir tudo sobre mim, mas não foram tão eficientes quanto àquela professora Dodds. Fizeram algumas perguntas, mas eu desviei de todas.

― Carne nova sempre desperta curiosidade, não é? ― Uma ruiva disse, tentando ser “simpática” ao jeito delas. Não resisti, tive de rir.

            Fui salva de mais perguntas pelo sinal do almoço.

            Consegui me servir e sentar numa mesa vazia. Uma briga começou no meio do refeitório. A porcelana daquelas garotas estava rachando.

             ― Você pensa que pode fazer isso com todo mundo?! ― Uma garota de cabelos pretos e longos berrou. Seus olhos azuis estalavam raiva. ― Como eu queria que todos soubessem tudo o que você já fez! Duvido que te tratariam como rainha, do jeito que fazem. Fui muito burra de ter feito tudo isso.

― Eu posso fazer o que quero e quando quero, Thalita. ― A ruiva respondeu, mas não expressou nada. Toda a raiva que a outra garota sentia parecia fazer a ruiva se divertir. Só pude observar.

― Tanto tempo e você nem gravou o meu nome? Eu sou uma burra mesmo. Nem acredito que perdi o meu tempo contigo. Terá volta, acredite. Eu sei de muitos dos teus podres, Dare.

A garota com olhos azuis começou a se aproximar da minha mesa. Cada vez mais perto... e sentou-se aqui.

Não sei que expressão eu fiz, mas ela me olhou de uma maneira divertida.

― Eu te assustei? Desculpe ― e riu. ― Você parece perdida no meio de todo mundo. Posso te ajudar?

Só pude assentir.

― Meu nome é Thalia Grace. E, por favor, não me chame de Thalita. Esfolarei a sua cara.

Eu tenho certeza que ela não é feita de porcelana.