― Você vai se atrasar, filha. Levante ― disse minha mãe, abrindo as janelas.

            Eu não quero levantar.

            ― Hoje é o seu primeiro dia na escola nova, você precisa ir. Vamos. Não esqueça seu cartão de acesso. Talvez você faça algum amigo!

            ― Eu não quero ir, por favor. ― Implorei. ― Por que eu não posso ter aulas particulares com um professor bonitão? Seria igualzinho a escola, incluindo uma garota platonicamente apaixonada pelo tutor.

            ― Eu sei que você sonha em viver um clich―

            ― Mas estamos quase no meio do ano! Sei que ainda falta muito, mas por que eu não entro só no ano que vem? Quero me acostumar...

            ― Só se acostuma frequentando lugares e conhecendo gente nova. E eu já decidi, gostei da escola. Todos são absolutamente simpáticos.  Ande, levante!  E se arrume, você não sabe que coisas vai encontrar lá.

            Antes de tudo: coisas são garotos.

            É por isso que eu adoro a minha mãe. Eu poderia estar em San Francisco, na minha antiga escola, junto ao meu pai e aos meus meio irmãos. Mas, nããão, tinha de aparecer uma proposta irrecusável para a minha mãe em New York. E aqui estamos nós.

            Minha mãe deixou a janela muito aberta, parece que meus olhos vão queimar. E, socorro, o que eu posso fazer com o meu cabelo...!? Toda vez que eu preciso fazer algo novo, minha mãe diz que preciso causar a melhor impressão, incluindo a aparência. O nome dela deveria ser Afrodite, não Atena. Se bem que nunca vi uma mulher tão inteligente quanto ela...

            Depois de cinco minutos numa luta com o meu cabelo, pareço até aceitável. Um casaquinho, jeans lavado e tênis são o melhor. Os brincos de coruja nem são repetitivos, mas... eles me dão sorte.

            ― O que você fez pro café? ― Entrei na cozinha, rindo. A manhã está linda. Preciso parecer confiante, Atena acha necessário.

            ― Você sabe que eu não sei cozinhar direito, filha. Fiz o básico. Tem café, pães e eu tentei arrumar a geladeira, mas ficou um desastre. Você consegue se virar, não? Já vou indo...

            ― “pois preciso causar uma boa imagem!”, eu sei disso. Relaxa. Nada pode dar errado. Todo mundo gosta de você, sra. Chase. Não precisa se esforçar.

            ― Espero que sim. Dizem que esses nova-iorquinos são muito ignorantes.

            ― Dizem, dizem. “Nunca confie nesses boatos, prove para si mesma!” ― Imitei. Minha mãe sempre diz isso pra mim, e quase sempre se esquece dos próprios conselhos, de tão naturais que são.

            ― Ainda bem que você, às vezes, me escuta. Estou indo. Talvez eu não venha almoçar.

            ― Sem problemas. Boa sorte! ― Gritei, enquanto ela trancava a porta.

            Tudo bem, é só um café da manhã. Eu consigo fazer isso.

            ― Só ajustar a cafeteira e voilà, um café deliciosamente atrasado.

            Atrasado? Que diabos eu acabei de dizer?

            OH. MEU. DEUS. EU ESTOU REALMENTE ATRASADA.

            A escola é aqui perto, mas, mesmo assim, vou correndo. Cheguei na metade da primeira aula.

            O colégio... é enorme. Uau. Então todos os boatos sobre a Goode eram verdadeiros: tudo parece gigante e reluzente. Tem alguns bancos, e eu consigo ver algumas quadras (perceba que eu nem entrei ainda, e)

            O portão pede um cartão de acesso. Que diabo é isso? Eu não recebi nada disso. Eu não devo apertar todos os botões, não seria algo lógico. Nem acredito que vou perder o primeiro dia de aula por culpa de um cartão estúpido de acesso. Droga.

            Vou até a secretaria. Bato na porta milhões de vezes, até uma das mulheres parecidíssimas com um sapo me atender.

            ― Por que não tocou a campainha? Seria mais educado!

            ― Educado? Você quer que eu seja educada? Eu estou batendo ali e esperando faz uma meia hora, e a porta ainda é de vidro!

            ― Os estudantes da Goode sabem muito bem como entrar na escola. Onde está o seu cartão de acesso, mocinha?

            ― Eu sou nova, nem sei se tenho um desses. ― “Não esqueça seu cartão de acesso”. Santa ignorância, por que minha mãe fala coisas importantes quanto estou saindo do meu estado de sono? ― Alias, eu tenho. Mas esqueci. ― Ela franziu o rosto de sapo. Estou tentando não rir. ― Não me culpe! Hoje é o meu primeiro dia. Por favor, eu―

            ― Tudo bem, tudo bem. Irei registrar a sua presença manualmente. Qual teu nome?

            Falei-o.

            ― Registrada. Sua primeira aula é no bloco B, número 76, no primeiro andar. E não conte comigo para fazer isso de novo. Da próxima vez que você esquecer o seu cartão, irá ficar do lado de fora. Entendido? ― Ela entregou-me um papel.

            ― Entendido. Mais alguma coisa que eu deveria saber? ― Arrisquei. Vai que...

            ― Não, aqui diz que você já se matriculou nas aulas extras. As localizações das salas estão no papel.

            Essa escola deveria ter mais placas. Nunca vi um lugar tão grande. Minhas salas mudam pouquíssimas vezes, graças aos céus. Os primeiros três períodos são na 76.

            Bati na porta. Uma. Duas. Três...

            ― Já vai, já vai! ― Ouvi uma voz abafada. Uma professora enrugada, com um casaco de couro e coturnos atendeu a porta. ― Você está atrasada, mocinha. E esse rostinho ― ela pronunciou a palavra com desgosto ― não é familiar. Quem é você?

            Todos os olhares cheios de expectativas se viraram para mim.            Talvez eles estejam esperando algum nome surpreendente. Então, simplesmente falei:

   ― Annabeth Chase.