O Retorno de Kira escrita por Perola, Hunter-nin


Capítulo 5
Confronto




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Confronto

(By Pérola e x Hunter-Nin)

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As ruas de Kantou eram invadidas pelos sons das sirenes de viaturas e de ambulâncias. Buzinas de motoristas que desconheciam o motivo do congestionamento se uniam a desagradável orquestra. Os murmúrios dos civis assustados com o acidente que presenciaram aumentavam ao redor da jovem. Nada, entretanto, tirava a atenção de Yukiko do estranho caderno que encontrou. Sem compreender o próprio comportamento, colocou o objeto na mochila e se afastou, logo após ouvir o pedido de um policial que desconhecia. A loira ganhava distância do grupo de curiosos que atrapalhava o trabalho dos oficiais. Ninguém, aparentemente, notou seu pequeno furto, com exceção de Raiya. O Shinigami sorriu ao ver quem pegou o Death Note. Antes de ir ao encontro da garota, mirou o rapaz a seus pés.

- Raiya, me ajude. – Implorava o adolescente assustado. Os olhos embaçados fixos no outro. Os para-médicos ao seu lado tentando acalmá-lo. O sangue, que escorria da boca masculina e indicava uma possível hemorragia interna, tingia a branca camiseta, assim como as manchas de fuligem e poeira existentes no asfalto. As trêmulas e sujas mãos erguidas em direção ao Deus da Morte. – Raiya! – Chamava com menos força e mais medo, enquanto o outro nem mesmo se movia. Os enfermeiros colocavam talas provisórias na perna quebrada, bem como a coleira para evitar fraturas no pescoço. O barulho do soro pingando lentamente invadia os ouvidos do rapaz e, por um momento, enquanto a maca em que estava preso era levantada e levada para dentro da ambulância, ele viu o movimento do Shinigami e se desesperou com tal ato. – Não, Raiya... Por favor... Não faça isso... Ainda podemos fazer muitas coisas juntos... Por favor, Raiya. Eu quero viver mais! – Gritava apavorado, assustando, consequentemente, os para-médicos que lhe aplicaram uma injeção para que se acalmasse. Um dos policiais fechou as portas do veiculo que levaria o garoto até o hospital. Esse, antes de fechar os olhos, ainda implorava por sua vida. Enquanto todos acreditavam que era puro susto do acidente, ele lembrava do antigo dono do caderno, que um dia encontrou, escrevendo algo no mesmo. O jovem sabia que Raiya escrevia seu nome ali. Era o seu fim.

Ryuuku se aproximava do outro. – O que está fazendo aqui parado? – Ele tentava não demonstrar a curiosidade em suas palavras. Os murmúrios daqueles que não podiam vê-los cessavam aos poucos. Sem a vitima do acidente presente, mesmos chocados com a violência do mesmo, os curiosos não viam motivos para permanecer ali.

- Acompanhando a morte do antigo dono do meu Death Note. – Comentou sem nenhuma emoção.

- Quem está com o caderno agora? – Perguntou o primeiro, enquanto olhava em volta tentando distinguir o objeto. As pessoas que se afastavam eram analisadas minuciosamente pelos olhos vermelhos.

- Ela já foi embora. Você não irá encontrá-la aqui. – Raiya continuava não demonstrando emoção alguma.

- Ela? É uma garota? Ah! Será muito sem graça. – Disse fazendo pouco caso da jovem que desconhecia.

- Está enganado. Acredito que ela é alguém capaz de grandes feitos. - Pela primeira vez desde que desceu ao mundo humano, uma pessoa despertou o interesse de Raiya. Não sabia o motivo, mas achava atraente ver o Death Note nas femininas mãos.

Ryuuku olhou o companheiro intensamente. Era a primeira vez que o via sorrir desde que se conheceram. – “Realmente, você é alguém muito interessante... Raiya.” – Ria interiormente perante o outro que sempre o impressionava e ansiava conhecer a jovem que fez o companheiro demonstrar algum sentimento na face fria.

Yukiko, alheia a existência do mundo deles, entrava em casa correndo. O ambiente exatamente como visto antes de sair pela manhã. Um casaco largado desleixadamente no sofá e a louça do café ainda na pia eram as principais provas de que Matsuda ainda não tinha feito nada pela casa. Há alguns anos eles combinaram de que o primeiro que chegasse, começaria a organizar o lar. Entretanto, no momento, a jovem só pensava em se trancar no quarto e começar a ler os detalhes do famoso caso Kira. A ansiedade atrapalhava toda e qualquer decisão lógica da garota. Enquanto subia as escadas, parou e mirou cada canto que seus olhos alcançavam. Sentia-se observada e a sensação não lhe agradava. Aceitando o ocorrido como paranóia sua, venceu os últimos degraus e rumou para o próprio quarto.

Sentada na bagunçada cama, Yukiko deixou a mochila, juntamente com o caderno que encontrou mais cedo, largada no chão. Raiya olhou, desapontado, a atitude. A jovem não demonstrou qualquer interesse pelo bem que tinha em mãos. Porém, para não se revelar ainda, teria de ficar oculto por mais tempo. A curiosidade, nada comum no Shinigami, agora o torturava. Ryuuku se aproveitou do fato da garota não vê-lo para se aproximar da mesma e descobrir no que ela se concentrava tanto. Ele se surpreendeu ao ler o nome da ficha. Conhecia muito bem aquele homem e, se a jovem fosse parecida com ele, seria muito interessante ficar por perto.

Yukiko, que lia atentamente cada linha e memorizava o maior número de informações possíveis, paralisou ao ler a pequena nota que se referia a arma usada pelo serial killer. Quase que em desespero, deixou os papéis na cama e avançou sobre a pequena mochila, arrancando desta o pequeno caderno.

- Death Note? – Leu o escrito na capa, ainda chocada, enquanto se lembrava do que tinha lido. – Será?

Ela virou o rosto abruptadamente. Por um segundo, Ryuuku achou que ela o teria visto. Raiya, agora mais curioso do que antes, analisava cada passo de Yukiko. Queria se aproximar para ter uma melhor visão de tudo, por outro lado, não queria que a menina soubesse de sua existência, por enquanto. A loira sentou novamente e voltou a ler as informações sobre o caso Kira, cada vez mais ansiosa com o desfecho e abraçada, a cada nova palavra, com mais força no objeto.

A noite tomava conta da cidade juntamente com o som das sirenes que se tornavam mais constantes durante o período. Até o momento, a garota não se levantou, desviou a atenção ou soltou o precioso caderno. As folhas do caso eram analisadas rápida e meticulosamente. A surpresa a cada nova linha não era mais visível nos escuros olhos. Suspirou pesadamente após ler as últimas informações e se levantou, aproximando-se da janela. Do lado de fora, as luzes da cidade formavam uma bela visão. Virou-se novamente para o aposento e, deixando o Death Note sobre a cômoda, pegou um pequeno ursinho de pelúcia. O brinquedo fora presente de sua mãe, antes de seu falecimento.

- Yukiko, querida. Está em casa? – A voz de Matsuda vinha do andar de baixo. Por mais que quisesse ficar sozinha, ela resolveu agir como se nada tivesse acontecido.

- Sim, papai. – Demorou alguns segundos antes de proferir a última palavra. Por algum motivo ela lhe soara estranha, pela primeira vez na vida.

- Ótimo. Vou preparar o jantar, tem algum pedido para essa noite? – Falava, ainda sem subir as escadas, lembrando a garota sobre a brincadeira.

Yukiko teve a mente invadida por lembranças da infância ao lado do homem que a criou. Desde pequena eles brincavam que ela era uma princesa e ele lhe perguntava qual era o seu desejo para, em seguida, realizá-lo, quando possível. Aos dezessete anos, o ritual se mantinha como um tributo às boas recordações e ao carinho deles. Algo que somente os dois entendiam.

Um fino sorriso iluminou o delicado rosto antes dos belos olhos mirarem novamente os papéis do caso Kira. As verdades a que sua mente chegava não lhe agradavam. Perdendo totalmente a vontade de brincar com seu criador, ela respondeu que não estava se sentindo muito bem e que iria dormir cedo.

- Tem certeza de que não quer que eu chame um médico? – Preocupado com a filha, Matsuda batia na porta do quarto da mesma. Após ouvir a confirmação da garota, ele achou melhor ceder por alguns minutos. Mais tarde, voltaria para ver como sua pequena estava.

Yukiko voltou a olhar pela janela antes de sentar novamente sobre a cama e começar a recolher os papéis que lhe revelaram muito mais do que ela imaginava. O ursinho, no qual esteve abraçada desde o primeiro chamado do pai, estava largado ao lado de sua perna, deitado no travesseiro rosado. O Death Note iluminado pelo abajur recém ligado e única fonte de luz do aposento.

- Quando vai se revelar? – Perguntou, repentinamente, para o nada.

Do lado de fora da casa, Raiya e Ryuuku se impressionavam com a atitude dela. Firme e determinada, ela aparentava reconhecer a presença deles.

- Se esse caderno é o mesmo usado por Kira e como não sou a primeira a usá-lo nesse mundo, então há um Shinigami por perto. Quando vai se mostrar para mim? – Impressionado com a perspicácia da menina, Raiya adentrou o aposento ficando de frente para ela. Diferente do esperado, não houve nenhum grito, nenhum recuo, nenhuma reação. Ela simplesmente o analisava. – Então, esse Death Note é o caderno da morte mesmo.

- Se não tinha certeza de minha existência, por que me chamou? – Perguntou com curiosidade, chocando Ryuuku que nunca o viu assim.

- Era a maneira mais rápida de testar a veracidade de tudo isso. Incluindo do caso Kira. Ele usou mesmo um Death Note? – Agora, quem fazia perguntas era a pequena Yukiko. Sentada confortavelmente na cama e abraçada, novamente, ao ursinho, ela transmitia inocência e pureza a qualquer um que a olhasse.

- Foi o que me disseram. – Falou com a expressão indiferente de sempre.

- Então, eu tenho em mãos o mesmo poder do famoso Kira... – Enquanto apanhava o caderno de cima da cômoda e o analisava, Yukiko esquecia, momentaneamente, a presença do Shinigami. A expressão da garota, de pensativa, passou para alegre. O sorriso dela era tão inocente que ninguém acreditaria ser direcionado a uma fonte de tirar vidas.

As abafadas risadas que a loira tentava controlar desconcertavam o Shinigami de roupas negras e pele clara. – Do que está rindo? – Perguntou deixando-se dominar pela curiosidade que tanto odiava.

- Não é óbvio? – Ela somente levantou os olhos para o outro sem mover muito o rosto. A desfiada franja dificultando a visão dos castanhos olhos. Tanto o ursinho quanto o caderno presos entre seus braços. Perante o silêncio de Raiya, Yukiko resolveu que iria revelar-lhe o que descobriu após a leitura e analise do caso Kira.

Levantando-se da cama, ela depositou nessa os dois objetos que protegia de encontro ao seu corpo. Caminhou lentamente até a mesa em que tinha o computador e sentou-se na cadeira. Enquanto penteava o longo cabelo e o prendia em uma frouxa trança que ficaria caída sobre o ombro, começou a expor todos os fatos de maior importância.

- Sabe, Raiya. Meu pai sempre me disse que ele e minha se casaram quando ela estava grávida de quatro meses de mim. Foi quando ele descobriu. Eu nunca questionei o que aconteceu antes. Quero dizer, para mim era certo que eles namoravam. Porém, segundo os documentos do caso, ela morava com o serial killer Raito Yamagi. Pelas minhas contas, meus pais se casaram dois meses após o fim da investigação. Se minha mãe estava grávida de quatro meses na ocasião, então só há uma conclusão a se chegar, não concorda? – Após a pergunta, a garota desviou os olhos dos próprios dedos que terminavam o trabalho de trançar o cabelo e olhou o Shinigami.

- Você é filha desse tal de Raito. – Respondeu disfarçando muito bem a ansiedade. Todos os Shinigamis conheciam o rapaz, já que foi o mesmo que despertou o interesse do outro mundo nos humanos. O modo como o homem utilizou o Death Note foi única até o momento. Acompanhando a linha de raciocínio, Ryuuku concordava que a garota seria capaz de grandes feitos se fosse parecida com o progenitor.

- Exatamente. – Ela voltou a se concentrar no cabelo, enquanto terminava de explicar para o outro suas conclusões. – No começo fiquei assustada com isso. Depois fiquei brava por ninguém ter me revelado a verdade. Mas isso passou rápido. Eu me coloquei no lugar do meu pai de criação e também teria ficado quieta. Outro dia, durante minha festa de aniversário, ouvi uma conversa entre dois homens que acreditavam que eu era filha de um monstro. Agora isso também faz sentido. Porém, não acho que meu pai biológico deva ser considerado um monstro. Eliminar criminosos torna-o um justiceiro, não um serial killer. Ele, ainda por cima, usou o poder dos Deuses da Morte. Você não vai negar que sem um Death Note, os Shinigamis nada podem fazer contra os humanos, não é?

- Não. – Curto e direto, Raiya prestava atenção em cada palavra. Entretanto, por mais que apreciasse a mente da garota, não pode evitar que o pensamento seguinte invadisse sua cabeça. – “Como fala essa menina! Será descoberta facilmente assim...” – Sem nunca mudar a expressão, voltou sua atenção a Yukiko quando percebeu que ela retomaria a conversa.

- Não existem coincidências. Quem tem a posse de um desses cadernos tem o poder de um Deus. Cabe a nós decidir que tipo de divindade seremos. Meu pai lutou pela paz e isso faz dele um bom Deus. Agora, é a minha vez. Eu irei continuar o trabalho dele e irei limpar esse mundo podre.

- Não está interessada em saber das condições? Saiba que um humano que usa o Death Note não poderá ir para o céu nem para o inferno.

- Então, irei encontrar meus pais de verdade. Pelo relatório, minha mãe passou tanto tempo ao lado de Kira que duvido seriamente que ela nunca tenha usado o caderno.

Após concluir a trança, a loira olhou para o novo confidente sorrindo. – Seu pai não iria gostar de saber que você vai seguir o trabalho de Kira. – Lançou sua última cartada. Raiya ansiava saber até onde a jovem poderia ser influenciada.

- O homem que me criou, meu padrasto, Touta Matsuda, foi o principal responsável pela morte de meu pai biológico, Raito Yagami. Foi ele que deu o primeiro tiro. Um ano após tudo isso, ele tentou fazer Amane Misa feliz e me aceitou como sua filha. Porém, a saudade do meu pai fez minha mãe se suicidar. Entretanto, não o culpo por ter destruído minha família original e mentido para mim minha vida toda.

- Mesmo quando sabe que está fazendo algo errado? – Raiya ainda a desafiava a seguir em frente. Sabia, pelo que a jovem contara, que Matsuda a teria criado com a visão oposta a Raito Yagami. Ela, até então, deveria achar que estaria cometendo os piores erros assumindo o caderno.

- Não existe certo ou errado e sim ponto de vista...

 


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Notas finais do capítulo

Bem... nos últimos minutos do dia, mas no dia prometido XD
Enfim...
Yukiko está revelando um pouco mais de sua personalidade...
Sabem, eu adoro ela n.n
Kira retorna para esse mundo o/
20 de Junho.
Somente no Fanfiction e, agora também, no Nyah.
O Retorno de Kira
Capítulo 5:
“RENASCIMENTO”
p.s.: só uma pessoa está gostando da fic? ç.ç