Última Chance escrita por Echo


Capítulo 6
Enfrentando os sonhos.


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela imensa demora! Sabe como é, fim de ano e talz.
Saindo das desculpas, paro de enrolação e vamos ao capítulo.



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Fly me up on a silver wing

Past the black, where the sirens sing

 

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Eu me via caindo numa escuridão sem fim, caindo num fundo do poço, por um momento me lembrei do Poço do Tártaro no qual Cronos estava aprisionado no meu primeiro ano no acampamento. Via as estrelas lá encima, eu não sabia onde estava, apenas tinha aquela irritante sensação de estar caindo, mas o fim não chegava. Talvez eu tivesse morrido, e aquele seria o purgatório divino.

Sem nenhum motivo aparente, comecei a lembrar. De Grover, de minha mãe, do acidente de carro, de Gabe cheiroso. Esse último foi mais um pesadelo, mais tudo bem. Lembrei-me de minha luta contra Ares, me lembrei da minha luta contra Cronos, me lembrei de Charles, Silena, Luke, Thalia. E por fim, me lembrei de meu pai. Seu sorriso caloroso, seus olhos parecidos com as ondas do mar. Lembrei-me de seu sacríficio. Aceite. Aceite. Aceite. Aceite se tornar o novo Deus do mar. Por fim, a escuridão me abraçou. Com um impacto que eu não imaginava que doía tanto, me vi sendo atirado para baixo da água. Ao pouco, vi que a água era espessa e pastosa. Um pouco entrou em minha boca, e eu senti seu gosto. Sangue. Estou num rio de sangue. Aquilo me apavorou mais do que eu julgava ser possível. Minha mão alcançou o ar lá fora, e logo minha cabeça veio a tona junto. Meus olhos rodavam, minha cabeça parecia malabarista, e eu estava zonzo. Realmente zonzo. Senti meu almoço voltar á garganta e vomitei, com aquela baba nojenta escorrendo pelo queixo.

– Situação deplorável, hein, heróizinho? – Uma voz se fez presenciar naquele local, que até agora eu n entendi. Era apenas a escuridão. Não era uma caverna, não era mar aberto. Era apenas escuro.

Eu tentei responder algo, mas tudo que me veio foi algo como um grito enraivecido de um bebê: Aurhuh guuuuuh ah. Me engasguei com o vômito e sangue na minha garganta, minha cabeça voltando ao normal aos poucos.

– Você lutou bem para um deus novato. Mas se continuar assim, nunca ganhará a guerra. – A voz se pronunciou novamente. Eu não estava bem o suficiente para distinguir se era feminina, masculina, grossa, fina. Eu apenas ouvia. – Vamos, fale. Creio eu que você não esteja tão mal assim.

Me forcei a tentar falar algo, minhas cordas vocais se apertando e se mutilando a cada instante. Tomei ar, e senti uma imensa refrescância tomar conta de mim. Depois, engoli em seco. Tornei a falar, ou pelo menos, tentar.

– Quem é você? – No momento que eu pronunciei isso, parecia que não era eu que falava. Minha voz estava grossa e com um eco profundo. Saia arrastada, como se eu fizesse força para dizer. Não que eu não estivesse fazendo, mas mesmo assim, escutar sua voz com tonalidade diferente é algo que eu nunca havia visto, a não ser com aqueles balões de gás hélio que te deixam com a voz fina. A comparação quase me fez rir se não fosse aquela situação.

– Ohoh. Conseguiu falar. Você parece não ser um verme tão grande quanto parece. Sobre a pergunta, sou Morpheus, prazer.

Naquele instante eu quase me bati por ser tão idiota. Quem mais poderia ser a não ser ele? O titã que eu não lembrava o que representava, mas sabia que tinha o poder de colocar em sono profundo.

Não respondi. Ficamos por alguns instantes em um silêncio constrangedor. Eu não conseguia vê-lo e já havia desistido de fazer isso. Então procurava uma forma de sair daquele estranho mar de sangue que tanto me enojava.

– Oh, heróizinho. O único jeito de sair desse mar de sangue é chegar a sua beira.

E a imagem começou a tremular a minha frente, quase como se fosse uma miragem se desfazendo. E de repente, apareceu. Era areia, apenas uma longa camada de areia que se extendia até onde eu não conseguia ver.

Agora, imagine minha situação: Eu estava num mar de sangue que se extendia até uma escuridão perturbante atrás de mim, e a minha frente – a uns 15 metros pra ser mais exato, tinha uma longa duna de areia. Concentrei meu poder em minhas costas, e em um boost de energia e poder fui jogado a mais de 100 km/h para frente...

...mas não cheguei a me mover um metro. Fui jogado de volta a uma força impressionante, um poder que se equiparava ao de um dos Três Grandes.

Concentrei mais poder em minhas costas e concentrei também em meus braços e comecei a nadar, não conseguia nadar 30 cm sem ser mandado 1m de volta.

– Toda ação tem uma reação. Lei básica da vida. Se conseguir chegar a beira, estará livre disso. Caso não consiga, ora, atrás de você repousa a entrada para o Tártaro.


Leve-me até à margem do rio.

Leve-me até o combate final.

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Moldei com meu poder ‘’garras’’ de água, que cravavam naquele mar sanguíneo como se ele fosse feito de vidro. Fui me arrastando para frente, conseguia avançar um pouco, mas já sentia minha magia se esgotar dentro de mim. Não conseguirei. Esse pensamento me invadia até com certa frequência. Mas eu sempre conseguia. Sempre achava uma maneira, um resquício de salvação, e eu era salvo. Agora não podia ser diferente; não iria. A água – sangue, tanto faz. - veio com mais força. Mas que por... o sangue dobrou de pressão e velocidade. Pequenos cortes se abriam em minha pele. Meu poder já estava menos de um terço do total. As garras titubearam por um instante e eu fui jogado longe. Estou a beira do Tártaro. Senti a magia me abandonar quase por completo, e pela primeira vez na minha vida, encarei a morte como uma companheira que está chegando. Dizem que na morte você vê toda a sua vida como se fossem vários flashes que iam e vinham muito rapidamente. A única coisa que eu via eram meus amigos, as pessoas que me eram importantes. E por último, veio meu pai. A lembrança de seu caloroso sorriso me fez acordar. Eu não posso morrer. Meu pai desistiu de viver e me deu seus poderes. Sinto pai, mais não vou segui-lo nesse caminho. Abri os olhos. As garras titubearam um pouco, mas eu as forcei a ficarem fincadas. Vocês não irão me deixar. Não agora. E então, com um urro destruidor, me libertei.

Certo. Eu demorei alguns instantes para notar que o sangue tinha se curvado perante a minha passagem, e agora eu encarava a areia clara da duna. Não estava com a mínima paciência de saber por quê diabos aquilo tinha acontecido. Apenas encarava a areia e suspirava pesadamente, minha magia retornando aos poucos. Encarei a areia clara, agora cada vez mais brilhante... Brilhante?

A areia brilhou calidamente, como uma vela, mas de uma vez brilhou intensamente, agora mais parecendo um lança-chamas. Me levantei – lentamente, pelo cansaço – mas não adiantou muito. Fui sugado pela areia.

A minha raiva naquele momento era indescritível. Sugado novamente, puta que pariu! Dessa vez eu estava – pelo menos – com uma mínima noção de tempo, então não demorou muito para que eu caísse em um chão duro. Pelo menos eu tinha a certeza que não estava em meio a um mar de sangue. Me levantei, e me pûs a ver aos lados. Só foi olhar a esquerda que eu vi alguém. Meus instintos rugiram, e quando eu estava a um passo de acertar um soco na pessoa, notei que era um espelho, e que ele mostrava a mim.

– Ora, ora. Creio que você passou do primeiro teste.

Primeiro teste? A minha mente voltou ao momento que ele tinha dito que se eu chegasse a beira tudo iria acabar. Ora, acabou um, para começar um que eu tenho quase certeza que iria ser pior. Prestei atenção em minha volta, me vendo cercado por espelhos. Mostravam a minha imagem pálida e machucada pela atividade anterior. Sinceramente, nunca havia me visto tão machucado. Meu peito desnudo carregava com si uma grande quantidade de cortes que eu havia certeza que demorariam a cicatrizar.

– Ora, eu acompanhei você de perto nesse teste, mesmo você não me vendo. Vi suas aflições, vi você a beira de ser jogado para o Tártaro, vi você desistindo de viver, e por fim, o que mais me deixou surpreso, vi você passando por cima de tudo isso. Mas admito, não entendo o que Cronos viu em você para considerar você uma ameaça. Se no seu lugar fosse Poseidon, em um segundo ele havia saído dali.

A imagem de Morpheus apareceu. Não tinha nada de interessante. Parecia um mendigo de Nova York, com suas roupas surradas e sua barba que chegava ao peito. Em um segundo, a imagem tremulou, e ali resplandecia Poseidon, em sua força e poderes totais.

– Vi a sua confusão de sentimentos em relação áquela filha de Atena, e aquela deusa casta. Ora, sentimentos não prestam.

Como flashes, ele se transformou em Annabeth, e depois em Ártemis. Não sei qual das duas teve mais impacto emocional em mim.

– E por fim, vi sua insegurança. Vi sua insegurança em saber se você era capaz de cumprir seu papel de deus. Seu papel de Deus dos Mares. Seu papel de substituto de Poseidon. – A imagem de Ártemis tremulou novamente, e em um segundo eu via um eu mais velho e mais confiante. – Entenda uma coisa, Perseus Jackson. Você é um Deus. É o Deus dos Mares. É o filho de Poseidon. É um dos Três Grandes. Mas você não está a altura. Não está a altura de ser um Deus. O Mar não irá te respeitar. Os Deuses também não. Você irá contra tudo e contra todos, Perseus Jackson.

Aquela hora, eu já não tinha mais chão. Talvez uma parte da magia de Morpheus era nos abalar fisicamente, eu não sei. Eu via os olhos de Poseidon cheio de descontentamento com a minha facilidade de desistir. Vi os olhos de Annabeth me repreendendo por ser tão covarde. Vi os olhos de Ártemis, dizendo que eu era o mais covarde dos homens. Vi meus próprios olhos, me olhando com um desprezo. ‘’Como fui ser o consciente de um ser tão covarde?’’

Ajoelhei. Nos espelhos em minha volta, minha imagem continuava em pé. Morpheus voltou á sua aparência normal, e desta vez, segurava uma espada. Eu não sei por que eu estava tanto abalado.

– Você desistiu de viver, Perseus Jackson. Por um momento, você desistiu de viver. Um Deus desistindo de viver. Huh, Cronos gostaria de ver isso.

A menção á Cronos me fez despertar de um estupor mental que eu estava. Cronos. Annabeth, os Deuses, a profecia. Tudo dependia de mim. E novamente eu amaldiçoei o mundo por jogar um peso tão grande encima de mim, e amaldiçoei, acima de tudo, a mim mesmo, por que havia desistido de viver. Denovo. Morpheus ergueu a espada acima de sua cabeça, pronto para dar o golpe final

‘’Ora, eu sempre me orgulhei de você.’’ Não sei por que diabos aquela lembrança de um encontro com meu pai nas praias de Montauk tenham me vindo a cabeça naquela hora, mas sempre agradeceria.’’Sério pai?’’ Minha felicidade naquele momento ao saber que ele se orgulhava de mim era indescritível. ‘’Claro. Por que teria de ser diferente? Você nunca desiste. Não desistiu de sua mãe, não desistiu de Grover no labirinto. Não creio que desistirá agora.’’ Então me lembrei por quê aquela lembrança havia voltado agora. Eu estava com medo de declarar os meus sentimentos para Annabeth depois de várias tentativas frustradas.

A minha mãe... Ah, minha mãe, como eu fiquei triste no suposto ‘’falecimento’’ dela. Mas não desisti. Por quê diabos eu estou desistindo agora. Quando lutei contra Ares, não desisti. Quando nos separamos no Labirinto, não desisti de Grover. Não desisti. Não desisti. Não desisto.

– Agora morra, heróizinho! – A espada desceu, e eu abri meus olhos. A espada parou a centímetros de minha cabeça.

– Devo agradecer a você, Morpheus, por me lembrar de uma coisa. – Uma aura poderosa me circundava naquele momento. – Eu sou um Deus. Eu sou o Deus dos Mares, um dos Três Grandes, e aquele que ponhará fim na sua miserável vida. Sabe por quê? Por quê pessoas importantes me ensinaram A NUNCA DESISTIR! – Com um grito, tudo a minha volta rachou como vidro, Morpheus urrou amedrontado, e em um segundo, eu caia numa escuridão estranhamente reconfortante. Claro, depois de tantos testes emocionais...

Porque eu sou apenas uma rachadura

Neste castelo de vidro


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Notas finais do capítulo

Outra coisa, venho pedir reviews. Sei que é chato, mesmo com tanto tempo de demora, mas apenas os escritores sabem como é chato você fazer uma história para outros lêem e eles não dão o retorno. Pode ser até mesmo um continua, por que não? isso me inspira a fazer mais capítulos para vocês, leitores. Se você gasta alguns minutinhos para ler um capitulo, por que não gastar mais uns minutos, ou até menos de um minuto para fazer um review?
E se você gostou muito, por que não recomendar a história? Ajuda muito com a divulgação.
Certo, parei com o blá, blá blá
*Morpheus, ou Morfeu, é a personalização do sonho
*Castle of Glass - Linkin Park