Deep in the Meadow escrita por Pennyweather


Capítulo 2
Na Campina


Notas iniciais do capítulo

Olá, miguchos. Gostaria de agradecer à todos que leram e comentaram o capítulo anterior. Vocês não fazem ideia do quanto isso alegra uma autora. Meu coração quase explode.
Eis o capítulo:



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Madge Undersee. É claro. A filha do prefeito. A garota que sempre compra os morangos que eu e Katniss vendemos. A garota mais privilegiada do distrito.

Privilegiada, eu digo, no sentido de vida. Sempre tive em mente a ideia de que ela tem uma vida muito melhor do que a minha: é filha do prefeito, mora em uma casa com uma estrutura muito melhor do que a minha e sempre tem o que comer, o que significa que não tem que entrar na floresta clandestinamente para conseguir um pouco de alimento para sua família.

Eu costumava dizer à Katniss que ela é uma menina mimada, levando em consideração a vida que leva. Por um rápido momento me pergunto se não fui duro demais ao julgá-la. Afinal, a vida dela não parece ser tão melhor do que a minha, levando em conta as circunstâncias atuais. Há rumores de que a mãe dela está prestes a morrer.

E mesmo assim, ela ainda sustenta aquele sorriso. – penso, logo após balançando a cabeça, tentando afastar tal pensamento de minha mente. Com tantos problemas em minha vida, não posso me dar a luxo de ficar reparando no sorriso que Madge Undersee tem ou deixa de ter. Certo?

Então me dou conta de que estou com uma cara de retardado, olhando para o rosto dela sem responder.

– Ah, desculpe. Sim, eu sou o Gale. Gale Hawthorne. - me apresento, apertando sua mão, muito embora esse ato me pareça estranho; nós já nos conhecemos.

Ela assente com a cabeça.

– Só você poderia estar assistindo aos Jogos nessa hora da noite. Afinal, é o melhor amigo dela, não é?

Sinto-me na defensiva.

– Sim. Mas e você? Você não tem uma grande amizade com Katniss. Não tem motivos para ficar aqui até tarde da noite. Já pode voltar para a sua aconchegante casa. - comento, irritado. Mesmo sem intenção, acabo por deixar transparente a raiva que sinto por ela, porque ela leva uma vida de alto nível, enquanto eu tenho que atravessar a cerca da campina para conseguir um mísero alimento.

Isso a faz corar um pouco. Percebo que estou sendo indelicado, e ela responde, com calma:

– Estou aqui porque acredito em Katniss. Acho que ela tem grandes chances de ganhar. E quero ver se ela vai honrar o broche de tordo que dei à ela. - Madge responde, friamente.

Um instante. Foi ela que deu um motivo para que as pessoas se lembrem da ″garota em chamas″?

– Foi você que deu a ela o tordo, huh? - pergunto, incomodado. Nem sei porque continuo conversando com essa garota.

– Bela observação, até mesmo para você. - ela responde, sem olhar para mim. Acho que ela sabe da raiva que sinto por ela, o que me deixa ainda mais perturbado.

– Posso saber o porquê? - pergunto, ignorando seu comentário anterior.

Ela arqueia uma sobrancelha ao ouvir minha pergunta.

– Por que está tão interessado?

– Quero saber a história por trás do tordo. Com ele, você tornou Katniss um símbolo. - reviro os olhos, visivelmente irritado com a conversa. - Só por isso.

Com o olhar focado no telão, ela responde com a voz baixa:

– Como eu disse, eu acredito em Katniss. Isso já resume boa parte da história. Mantenho a esperança de que esse tordo possa trazer alguma sorte pra ela. Ela é minha amiga também, Gale. Não só sua.

Essa resposta me surpreende.

– Imagino que ela esteja muito agradecida por você ter dado à ela esse broche. - comento. Por mais que eu tenha essa rivalidade com ela, preciso ser sincero.

–Ela deve estar, mesmo. - a loira responde.

Ficamos em silêncio desconfortável. Até que ele é interrompido pela voz de Madge:

– É complicado, não é? - ela suspira.

– O que quer dizer? - pergunto, cruzando os braços e evitando olhar para ela.

– Sua vida. Ter que ir à floresta, todos os dias, para caçar, carregando a responsabilidade de manter sua família alimentada. É um ato muito corajoso da sua parte, devo dizer.

– Não é nada de mais. Eu não faço mais do que minha obrigação.

– Às vezes me sinto tão... inútil. Acho que se me jogassem na floresta, eu morreria no mesmo dia. - ela diz, rindo pelo nariz e fitando o chão.

Penso um pouco. Madge tornou Katniss um símbolo. É uma das poucas pessoas além de mim que realmente se desesperou quando soube que Katniss iria para a arena. Acho que devo um favor à ela e, por mais que eu não goste muito da ideia, comento:

– Eu poderia te levar para a campina esses dias, se faz tanta questão.

Ela se vira para mim.

– Não é necessário. Eu fiz apenas um comentário, não uma indireta para que você me leve.

– Se fosse uma indireta, Madge, eu teria ignorado. - comento, dessa vez fazendo questão de olhá-la nos olhos. - Mas o ponto não é esse. Te devo uma, Undersee. Será até melhor se você aceitar o meu favor, porque assim fico livre de dívidas com você.

– Tanto faz, Gale. Então vamos amanhã. amanhã. Você me ensina como manusear um arco e flecha, e pronto. Nada além disso. Está certo?

– Está certo. - comento, dando de ombros. - Só amanhã.

– Isso. - ela responde. Acho que está com pé atrás em relação à essa ideia, assim como eu. Mas dívidas são dívidas. - Certo, Hawthorne. Já está tarde. Até amanhã. - ela diz e me supreende ao se despedir de mim com um beijo em minha bochecha, logo após saindo andando para fora da praça.

Involuntariamente, coloco minha mão no local onde ela depositara seu beijo em meu rosto.

No dia seguinte, à tarde, busco Madge em sua casa. Ela abre a porta e sai de casa, indo à meu encontro, os cabelos loiros sendo jogados para trás pelo vento frio.

– Achei que houvesse se esquecido, Gale. - ela diz, com a voz baixa.

– Sinto muito por te decepcionar, então.

Ela ri pelo nariz e começa a caminhar comigo pelo distrito, vez ou outra olhando para os lados e sem dizer absolutamente nada. Chegamos à cerca eletrificada e Madge parece ficar um pouco receosa.

– O que foi agora? - pergunto.

– Você fala como se não fosse óbvio. - ela bufa, cruzando os braços e encarando a cerca.

– Que quer dizer?

– Oras. E se eu morrer torrada nesse treco aí?

Ela diz aquilo com tanta seriedade que não resisto ao impulso de rir, o que é bem estranho vindo de mim. Respondo:

– Não há a menor chance de você ″morrer torrada nesse treco aí″. Tem um vão nessa cerca.

– Tá, tá bom. - ela faz um meneio com as mãos. - Tudo bem, vamos logo.

Quando, depois de um esforço desnecessário, conseguimos passar pela cerca, ela me fita.

– Obrigada. Não foi tão ruim assim, hm.

– Eu disse que não seria, loira.

Caminhamos até chegar ao meu antigo ponto de encontro com Katniss. Procuro por um dos arcos de minha amiga e, quando o encontro, me dirijo até Madge.

– Pronto. Esse é o seu arco. Mostre-me o que sabe fazer.

– Está brincando, não é?

– Não. Vamos. Não precisa ter vergonha.

– E onde eu miro? - ela franze os lábios, analisando o lugar.

– Naquela árvore ali. - digo apontando para uma árvore alta, que pode servir como um bom alvo.

Ela, com um cuidado extremo, lentamente ergue o arco. Posiciona a flecha e demora um pouco até atirar. Quando o faz, a flecha vai parar duas árvores ao lado da árvore indicada.

– Não, não é assim. Deixe eu te ensinar. Segure o arco.

Ela faz o que peço. Apoio uma mão em seu ombro esquerdo, com cuidado, e apoio a outra sobre sua mão direita, que está segurando a flecha. Ela fica um pouco receosa com meu toque, o que me leva a dizer:

–Calma, Madge. Eu só estou te ensinando como atirar.

Afasto os sedosos cabelos dela para que tenha uma melhor visão. Lentamente, vou puxando sua mão direita até ajeitá-la na posição correta. Tiro minha mão de seu ombro e a coloco sobre sua mão esquerda, que está esticada, segurando o arco. Ficamos em completo silêncio, até que pergunto com a voz baixa:

–Pronta?

–Pronta.

Ela respira fundo.

–Agora.

Soltamos a flecha. Que vai parar bem no centro da árvore - alvo.


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Notas finais do capítulo

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