Já tinham passado-se algumas horas, mas a ideia de tirar a verdade a limpo não tinha saído da cabeça da roqueira, Lia agora estava esperando Fera para ir com ela até a casa de Dinho. Assim que o surfista se arrumou os dois seguiram caminho até a casa do menino.

Na casa de Adriano, Juliana acabara de chegar, eles estavam prestes a começar a conversar, Alice estava na sala fazendo algumas traduções e estava estranhando tal aproximidade do filho com Ju, mas tudo que ela queria era que Dinho fosse feliz.

Raquel andava de um lado para o outro em casa, ela estava ansiosa, preocupada e não tinha o que fazer. Lorenzo estava trabalhando, depois de ficar algum tempo de folga por causa da filha, Paulina estava na cozinha, se distraindo para não voltar a chorar de preocupação. Raquel resolveu ir para a varanda, respirar um pouco de ar puro, quando ela se debruçou no lugar começou a admirar o bairro, foi então que ela prestou atenção em uma menina que estava acompanhada de um garoto, ela caminhava pro prédio ali de perto, não era uma menina qualquer, era Lia. Fera e Lia chegaram a portaria, a roqueira pediu para que Fera ficasse esperando-a ali embaixo e ele assentiu. Lá em cima, Ju e Dinho conversavam, amigos.

— Então quer dizer que você "agiu por impulso"? - Ele suspirou, nada convencido com a história da it-girl.

— É.... Olha, eu realmente não quero perder sua amizade, me desculpa... - Ela disse, cabisbaixa.

— Ju... - Ele suspirou,não era fácil ter que desculpá-la depois do que ela havia feito, ele corria o risco de nunca mais ver Lia.- Eu te desculpo.Lia já estava batendo na porta, Alice atendeu e ficou espantada.

— Lia!! Você não estava sumida?! Ai Meu Deus, já avisou seus pais!?

— Alice, é urgente, posso falar com o Adriano? - Lia perguntou, ignorando as perguntas.

— "Adriano"?! Ih a coisa tá feia, hein? Mas pode sim, entra... - Ela disse e lembrou que Ju estava com Dinho, ela não podia fazer mais nada a não ser rezar pra não acontecer outra briga. Orelha estava chegando e viu Fera na portaria.

— O que tá fazendo aí? - Ele perguntou, curioso.

— Tô esperando a Li...

— Esperando quem? - Orelha se interessou e ficou animado.

— A Liliane! - Fera mentiu, mas Orelha não engoliu a mentira mal feita, ele arqueeou a sobrancelha.

— A Lia, não é?! Não posso perder essa! - Ele disse e correu pra entrar no apartamento de Dinho, Fera bufou e foi atrás. Lia entrou no quarto e viu Dinho abraçando Ju, ou vice-versa. Assim que Dinho notou a presença da roqueira soltou Ju e passou as mãos nos olhos, não acreditando no que via.

— LIA?! Meu Deus, não acredito!! - Ele falou feliz, Ju ficou toda triste. Lia ficou chocada com o que viu novamente, era muita cara de pau de Dinho, ela soltou-o imediatamente e logo Fera e Orelha adentraram o quarto.

— Uau! Quer dizer que a marrentinha tava mesmo com o Fera?! - Orelha perguntou e pegou o celular para começar a filmar. Lia continuava sem reação. Alguém bateu forte na porta da sala fazendo Alice bufar. "Não vou poder trabalhar hoje?!" Pensou ela, brava. Assim que abriu a porta deu de cara com uma Raquel furiosa, que invadiu o apartamento.

— Hey, quem é você!? - Alice falou em tom alto.

— Mãe da menina que entrou aqui, tenho direito. -Ela respondeu e correu para o quarto, assim que entrou viu Lia que olhou pasma.

— Raquel?!- Lia praticamente gritou, todos ali sabiam que agora não seria nada fácil.

— Lia Martins, você tem noção do quanto todos estavam preocupados? Sua irresponsável! Pra casa, agora! - Ela gritou.

— Quem você pensa que é pra me mandar ir pra casa? Some e depois acha que tem moral? - Lia enfrentou-a. Orelhava estava filmando tudo e Dinho estava sem reação.

— Sou sua mãe, querendo você ou não.- Respondeu Raquel.

— Discussão familiar agora, sério!? - Ju provocou.

— Juliana, fica quieta. - Dinho retrucou, fazendo a garota ficar chocada com a atitude, como assim ele mandou ela praticamente calar a boca?

— Pra casa, agora. - Raquel gritou, Lia negou e então a mulher a puxou pelo braço. Dinho se meteu na frente antes que Fera pudesse fazer o mesmo.

— Acho que ela disse que não queria ir, ela tem esse direito. - Dinho respondeu, educado mas Raquel o achou um abusado.

— Ela é menor de idade e é minha filha, com licença. - A mulher disse e puxou a filha, que não teve escolha a não ser acompanhá-la. Lia foi arrastada por Raquel até a sua casa, sendo observada por as pessoas da rua. Fera, Ju, Orelha e Dinho ficaram se encarando.

— Essa mulher não é mole não. - Fera disse.

— Pois é, coitada da roqueira gostosa! - Orelha disse, vendo o vídeo que acabara de gravar para seu novo post do TV Orelha.

— Lia, Lia, Lia! Até quando ela vai ser o centro das atenções, hein!? - Ju gritou irritada e saiu praticamente correndo, os meninos ficaram pasmos com tal reação vinda da menina.

— Me admiro você, viu Fera? Que "amigo"! - Dinho falou, alto. Orelha tratou de começar a gravar novamente.

— Eita, calma! Ela só tava escondida lá em casa, a gente não fez nada não. — Vai saber... - Orelha provocou, rindo.

— Como eu vou saber que vocês não ficaram ou fizeram algo a mais?.... - Dinho indagou, meio irritado.

— Você não tem que saber nada, a Lia ficou mó mal por causa sua, nunca tinha visto ela chorar tanto, você foi um idiota master! - Fera falou alto, Dinho ficou com uma dor no peito quando ouviu a frase "Nunca tinha visto ela chorar tanto" e resolveu não retrucar, sabia que estava errado. Lia e Raquel chegaram causando tumulto em casa, Paulina veio da cozinha às pressas quando ouviu os gritos de Raquel.

— SEU PAI FICOU COLOCANDO A CULPA EM MIM, TODOS ACHARAM QUE TINHA ACONTECIDO O PIOR! E VOCÊ TAVA ONDE?! NA CASA DO NAMORADINHO? - Ela berrou, Lia estava se segurando pra não chorar.

— EU ESTAVA TENTANDO EVITAR VOCÊ, JÁ QUE A ÚNICA COISA QUE VOCÊ SABE É GRITAR, AGIR POR IMPULSO E DIZER QUE EU ESTOU ERRADA! COMO SEMPRE! POR ISSO A GENTE NUNCA VAI SE DAR BEM, POR ISSO EU TE ODEIO! - Ela gritou também e foi correndo para o quarto chorando. Raquel ficou triste com as três últimas palavras dita pela filha. "Eu te odeio". Essa frase ecoou na cabeça dela fazendo-a agir por impulso e caminhar em direção ao quarto, mas Paulina se meteu na frente.

— Você não vai fazê-la sofrer mais. Ela errou, mas você ao menos deu a chance dela poder explicar o que aconteceu, Lia tem razão, a única coisa que você sabe é gritar e dizer que ela está errada! Por favor, faça algo útil e avise Lorenzo que ela está bem, enquanto eu tento acalmar minha neta, o estado dela não está nada bom e você consegue piorar. - Paulina disse em tom normal e foi até o quarto de Lia. A menina estava deitada na cama, chorando. - Lia?

— O quê?! - Respondeu ríspida, com voz embaraçada.

— Você está bem, meu amor? - Paulina sentou ao lado dela na cama e ficou olhando os cabelos loiros da menina, ela estava com o rosto no travesseiro.

— Nunca estive melhor. - Respondeu com ironia, a voz era abafada pelo travesseiro, Paulina suspirou.

— Eu posso tentar te entender se você não se fechar tanto... Não precisa ficar bloqueando,minha obrigação é compreender a sua versão da história, ao contrário do que algumas pessoas fazem...

(...)

Orelha ainda estava na casa de Dinho, ao contrário de Fera que tinha ido embora há bastante tempo depois da "discussão" com o amigo. Dinho caminhava de um lado para o outro, impaciente.

— Qual o seu problema, cara?! Isso tá dando nervoso! - Orelha retrucou.

— Eu preciso falar com ela. - Dinho falou.

— Com certeza não vai ser fácil, a mãe maluca dela não vai deixar. - Ele afirmou, fazendo Dinho ficar mais nervoso ainda, os dois ficaram conversando e Orelha tentou distrair o amigo. Ju estava triste, ela podia ter "conquistado" Dinho se não fosse Lia — que sempre atrapalha seus planos—, a it-girl sentiu a porta abrir-se levemente e assim que olhou para a mesma viu Gil.

— Oi? - Ele sorriu e sentou ao lado da cama dela, a menina ficou meio confusa mas logo se sentou na cama ainda tapada nas cobertas.

—Oi, Gil. - Ju sorriu.

— Aconteceu alguma coisa? - Ele perguntou, tinha notado que ela estava meio triste.

— A Lia voltou...

— A Lia? Voltou?! - Ele sorriu, animado. Ju olhou de cara feia e explicou tudo pra ele. Enquanto isso Lorenzo já tinha chegado em casa e estava falando (lê-se brigando) com Lia depois dela ter explicado tudo pra ele.

— Você não tinha o direito de sumir desse jeito! Ainda mais na casa de um menino que mal conhece, ele podia ter más intenções! - Ele falou alto, Raquel assistia tudo ao lado de Lorenzo.

— Pai, ele é meu amig....

— Não tem essa de amigo, Lia! - Raquel se intrometeu-, o que você fez foi muito errado.

— Engraçado... você pode julgar o que EU fiz, mas eu não posso ao menos tocar no assunto do que VOCÊ fez. - Lia respondeu, ironicamente.

— Parem as duas! O assunto agora é no quão irresponsável você foi, Lia.- Lorenzo adverteu, bravo.

— Mas Pai, eu tinha meus motivos... - Lia tentou se defender.

— Sejam eles os maiores do mundo, você está de castigo. Proibida de ver esse "Fera" já que ele foi metade da causa dos problemas. - Lorenzo afirmou, Lia ficou chocada.

— Pai, o Fera não tem nada que ver com isso! Sério.. - Ela falou alto.

— Se você retrucar vai ser pior. - Ele respondeu sério, Lia bufou e foi correndo para o quarto, Paulina balançou a cabeça negativamente e foi ao encontro da neta. Raquel suspirou e passou a mão pelos cabelos.

(...)

Lia acordou totalmente mal, ela levantou de má-vontade e se arrumou, a menina não se despediu de ninguém e quando ia saindo ouviu Lorenzo chamá-la.

— Espera aí, mocinha. - Lorenzo disse e foi atrás da filha- Eu vou ir também, quero conversar com Mathias.

— Pai... - Lia tentou falar mas ele não a deixou completar e a puxou, os dois foram para o Quadrante num silêncio torturante. Assim que chegaram no local Lorenzo foi até a diretoria conversar com Mathias. Dinho viu Lia e foi diretamente conversar com a garota, trazendo a mente dela as lembranças da cena que ela presenciou no dia anterior, ele abraçando Ju.

— Lia?! - Dinho sorriu, Lia olhou sem vontade.

— O que você quer? - Ela perguntou desanimada.

— Conversar, ué! - Ele sorriu, animado.

— Agora não, hoje não, nesse mês não e muito menos nesse século. Sei lá, tenta em outra vida. - A roqueira disse irônica e revirou os olhos,quando ela foi ir embora Dinho segurou seu braço, não tão forte, mas Fera viu e resolveu ajudar a amiga.— Ei cara, solta ela... - Ele disse, calmo para Dinho.

— Quem te chamou aqui? - Dinho perguntou.

— Adriano! - Lia retrucou- Fera, tá tudo bem! - Assim que ela terminou a frase Lorenzo chegou, furioso.

— Lia Martins, se você não obedecer minhas ordens vou tomar decisões mais drásticas, o Quadrante não é o único colégio da cidade. Vai pra aula, já conversei com o diretor.- O pai da roqueira disse alto, atraindo os olhares de alguns alunos, Dinho sentiu o coração palpitar quando ele disse "o Quadrante não é o único colégio da cidade". Ele não podia afastar Lia dali.

— Pai, por favor..

— PRA AULA, AGORA. - Lorenzo falou mais alto, Lia bufou e foi praticamente correndo pra sala, o pai da menina suspirou e ficou observando a filha até a mesma sumir de vista.