Os pequenos raios alaranjados invadiram o quarto de Lia assim que a cortina foi puxada, ela já podia imaginar quem era. A menina abriu os olhos com certa dificuldade dando de cara com a amiga com as mãos na cintura, esperando ela levantar. Lia bufou e puxou a coberta sobre o rosto na tentativa de tentar pegar no sono novamente, falhou. Ju puxou suas cobertas com tudo, sem dar tempo de Lia nem sequer fechar os olhos.

— Vamos, Lia! - Juliana implorou, jogando-se por cima da amiga.

— Tô com sono, Juliana!

— Por favorzinhooooooo! - Ela pediu mais uma vez e Lia cedeu. Levantando-se ainda emburrada e indo direto para o banheiro se arrumar para ir para à escola.

(...)

— Como assim você e o Dinho namorando? - Lia perguntou, chocada enquanto caminhava com a amiga para a escola.

— Ué, namorando! Sabe quand...

— Sim, Ju! Eu sei! - Lia revirou os olhos, rindo.

— Então! Ele é muito fofo cara, muito! - Ju suspirou num tom apaixonado. De repente Dinho apareceu por trás das duas, abraçando Juliana. Lia suspirou dando tchau e entrando no colégio, não queria ter de vivenciar aquela cena. Ela estava quase perto do seu armário quando esbarrou em alguém no corredor. A menina já ia dizer um palavrão qualquer quando resolveu olhar para quem à a atropelou, era Gil. Ela pegou os cadernos do chão e alcançou à ele que sorriu.

— Desculpa aí! - Ela disse, sem graça.

— Fui eu que esbarrei em você, eu que tenho que pedir desculpas. E, hum, machucou? - Ele repondeu, sincero. Ela sorriu, mais sem graça ainda e negou com a cabeça. Os dois ficaram entre sorrisos uns segundos quando o sinal bateu, eles correram para a sala de aula como todos os alunos da escola. Todos sentaram-se em seus devidos lugares. Ju e Dinho estavam na maior melação no meio da sala, Fatinha sendo filmada por Orelha e Pilha pagando maior pau pra ela. Típico, nada mudava, ah.. o fato de ter Ju e Dinho namorando era bem estranho, pelo menos pra Lia.

— Bom dia, alunos! - Isabela adentrou a sala, sorridente. Todos deram um bom dia de má vontade e ela suspirou, começando sua aula. - Tenho um trabalho pra vocês. Em dupla. - A professora sorriu e quando todos já estavam prestes à formar as duplas ela abordou-os com a informação de que seriam duplas escolhidas por ela. Ela já havia começado à dizer o nome de todos os alunos, enquanto os escolhidos se arrumavam com sua dupla.

— Morgana e Rita. Maria de Fátima e Álvaro Gabriel. Juliana e Rafael. - E assim ela foi dizendo até chegar a hora de pronunciar "Lia e Gil" os dois se olharam, chocados e felizes e formaram sua dupla. Assim que todos da aula já estavam preparados Belinha começou a passar mais informações sobre o tal trabalho.

— Acredita em destino? - Gil quebrou o silêncio, surpreendendo Lia.

— Sei lá, acho que não. - Ela disse copiando algumas coisas que a professora passava calmamente. No fundo ela queria dizer que sim, que acreditava, queria falar pra ele porque sentia que podia confiar nele e se sentia tola por isso, afinal, ela só conversou com ele pela primeira vez hoje, ele era o aluno novo. Gil suspirou levemente, esboçando um sorriso pequeno nos lábios.

— Então, você vai no acampamento de quinta-feira? - Ele indagou, curioso.

— Eu quero muito ir, era a única opção pra não estar aqui quando a Raquel voltar. - Ela murmurou e ele forçou a audição para ouvir.

— Raquel?

— É.. minha mãe... ela é médica, sabe, vive fazendo viagens pelo mundo e.. - Ela suspirou antes de continuar a falar. - ela chega quinta-feira, eu nunca tive uma boa convivência com ela... - A garota estranhou por ter conseguido desenrolar as palavras para Gil, ela nunca havia conseguido isso, mas no fundo ela sabia que ele era especial, diferente. Ou será que aquilo tudo era apenas uma desculpa para arrumar uma paixão platônica para esquecer o suposto sentimento pelo agora... namorado da melhor amiga?

— Não posso dizer que entendo perfeitamente, mas sinto muito. - Ele respondeu sincero, encarando os olhos da menina que brilhavam.

— E você, vai ir?

— Não!

— Porque? - Ela perguntou curiosa.

— Meu pai faleceu num acidente, eu não curto pegar estrada.

— Ah meu Deus... Sinto muito. - Ela disse tão baixinho que quase nem dava pra se ouvir. Gil respondeu com um sorriso amarelo e eles voltaram à prestar atenção na aula.O sinal soou e todos correram para o pátio, era o intervalo. Gil e Lia andaram juntos até o pátio e ficaram conversando sentados num banco, quando Ju e Dinho chegaram ao encontro dos dois Lia bufou, não suportava ter de ver o insuportável namorado de sua amiga ali.

— E aí, galera. - Dinho saudou, só Gil respondeu.

— Lia, não seja mal educada. - Repreendeu Ju e Lia revirou os olhos, Gil riu baixinho da cena, o garoto podia sentir o "ódio" de Lia por Dinho à quilômetros de distância.

A manhã no colégio passou rápida e normal. Lia havia se aproximado um pouco de Gil, por causa do trabalho e também porque se identificava com ele. Ju só queria saber do namorado e Lia sentia uma pontinha de ciúmes por esse ato, na verdade ela achava isso muito sem noção, sempre foi contra trocar à amiga por um carinha qualquer. No caminho pra casa, sozinha, a menina começou a pensar em várias coisas e entre essas coisas o juramento que havia feito com Juliana à alguns dias.

Flashback on.

— Vai, repete comigo! - Lia disse, e Ju logo levantou-se para ficar de frente com a amiga, as duas estenderam as mãos e cruzaram o dedinho.

— Eu nunca vou deixar um garoto estragar nossa amizade. - Lia disse.

— Eu nunca vou deixar um garoto estragar nossa amizade. - Ju repetiu, convicta. As duas sorriram, contentes e se abraçaram esquecendo que estavam com sorvetes em mãos, acabaram por se melecar completamente. Entre risadas e conversas bobas elas terminaram de apreciar o fim de tarde.

Flashback of.

— Argh. - Lia murmurou baixinho e revirou os olhos. Afastou os pensamentos muito sentimentais de sua mente forçadamente e continuou à caminhar até o apartamento. Assim que entrou deu bom dia ao porteiro e seguiu até o elevador, entrou no mesmo e esperou ele chegar até o andar de sua casa. A garota saiu do elevador e foi em passos demorados e nada apressados até a porta de sua casa, não queria ter de entrar naquele lugar de novo.

— Pai? - Lia perguntou curiosa, vendo Lorenzo deitado no sofá, ela podia jurar que ele estava trabalhando.

— Oi, filha. - Ele disse nada animado, sorrindo.

— Hum, não tem trabalho hoje?

— Não gosta de me ver em casa? - Ele sentou-se devidamente no sofá, e ela riu baixinho. Lia jogou a mochila no sofá e sentou na ponta do mesmo. - Filha, preciso conversar com você.

— Eu sabia, tava bom demais.

— Lia! - Repreendeu Lorenzo.

— Fala. - Ela se jogou no sofá de costas, deitando e fitando o teto.

— É sobre a Raquel. - Ele suspirou, Lia bufou, levantando-se rapidamente.

— Pai, por favor, sobre ela não!

— Você sabe como a Tatá ama a Raquel.. - Ele começou a explicar, Lia suspirou e resolveu ouvir com atenção, sentou-se novamente no sofá, agora numa posição correta. - Ela sofre muito com isso, e só quer atenção.. Você também sofre e eu sei que tem seu jeitinho, meio revoltado, de demonstrar. - Ele riu, Lia riu sem graça também. - Mas eu te peço, por favor, não complica com ela, ela não merece o que a Raquel está fazendo, nem você merece, eu só quero que vocês fiquem unidas, não quero que mesmo de longe a sua mãe consiga causar mais dor aqui em casa.

— Hum.. Tá, eu prometo tentar suportar a Tatá enchendo meu saco falando da Raquel.

— Mesmo? - Ele disse, esperançoso.

— Uma condição! - Lia disse, levantando animada. Lorenzo suspirou.

— Qual?

— Tenho que ir no acampamento da escola, pai! Eu preciso! Você sabe como eu amo acampar, e outra... Eu não quero ser obrigada a ver a Raquel, sério, por favor! A Tatá nem vai desconfiar.. Por favor!!! - Ela implorou, Lorenzo riu sem graça e levantou jogando-se do lado da filha e abraçando-a pelo lado, Lia arqueeou a sobrancelha. - Posso considerar como um sim? - Ela disse, séria.

— Pode, Lia. Pode.