Annabeth estava na praia, sentada na areia, olhando para o mar. Era sábado, sua família estava no acampamento como todas as semanas, mas aquele sábado estava sendo um pouco diferente para ela.

Primeiramente ela tivera um sonho horrível da época em que era adolescente. No sonho, ela e Percy estavam presos em algum lugar escuro. Estavam sentados um ao lado do outro em silencio. O ar era pesado e úmido e Annabeth tinha dificuldades para respirar. Percy estava com o olhar assustado na parede rochosa a sua frente. Ela tentou chamá-lo ou se levantar, mas a sensação era de quem alguém a segurava no chão.

Acordou assustada e suada. Olhou ao redor, Percy não estava na cama, o dia estava começando a nascer. Ela foi até o quarto de Charlie. Quando chegou à porta viu que Percy estava lá, parado de frente para a janela com Charlie no colo. Percy apoiava a cabeça do seu filho contra seu peito e Annabeth percebeu que Charlie nunca estivera mais seguro.

Apoiou-se no batente da porta e ficou olhando os dois ali. Até que Percy percebeu sua presença e se virou. Em seu rosto o semblante tranquilo de sempre. Ele sorriu e ela retribuiu o sorriso de maneira sincera.

Ela se aproximou e beijou seu marido, o seu cheiro de água salgada a acalmou e ela somente aproveitou o momento.

Quando foram até o acampamento, ela se sentiu sufocada como se estivesse de volta ao sonho e resolveu se sentar na praia enquanto Percy dava uma volta com Charlie.

De lá ela conseguiu pensar em tudo que vinha sentindo nos últimos dias. Era um desespero sem sentido, uma necessidade de estar em locais abertos. Ela tinha medo, tinha alegrias, todos ao mesmo tempo.

Ficou na praia por mais um tempo até avistar um sátiro vindo em sua direção. Mesmo com seus cascos de bode, ele veio aos tropeços pela areia até chegar até ela.

— Annabeth... – disse ele sem ar – Quíron... precisa... falar com você... agora.

— Onde está Percy? E Charlie?

— Percy está na casa grande e Charlie está com as filhas de Afrodite. Precisamos ir, é urgente.

Annabeth subiu correndo a colina e foi até a casa grande. Quando chegou, viu Percy e Rachel na varanda com Quíron em sua forma de cavalo.

— Tem certeza, Rachel? – Percy disse.

Ao se aproximar deles, Annabeth percebeu que Rachel estava chorando.

—O que está acontecendo? – Ela perguntou.

Foi ai que Quíron contou tudo a ela. Contou, que antes do Charlie nascer, Rachel havia tido uma visão sobre um garoto que observava o Olimpo queimar. O garoto era Charlie e não fazia nada, só observava as chamas. Ele não contou nada a eles, pois não tinha certeza do que realmente iria acontecer e não queria preocupá-los. Mas agora, Rachel havia tido outra visão em que os deuses haviam marcado a data para julgar Charlie.

Annabeth ficou raivosa. Quíron devia ter contado, nunca devia ter escondido essas visões deles. Agora Charlie corria perigo de ser julgado pelos deuses e receber uma punição mesmo ainda sendo um bebê.

— Porque você não nos contou? – ela explodiu – Vocês deviam ajudar a proteger nosso filho, não esconder as coisas!

— Não sabíamos o que significava – Rachel disse calmamente – Mas, agora temos que pensar em alguma coisa.

— Alguma coisa? – Annabeth disse – ele é apenas um bebê! Não sabe de nada ainda! Como é que ele vai incendiar o Olimpo?

Percy se aproximou e pegou a mão de Annabeth.

— Ela tem razão, Annabeth – ele disse calmamente – devemos nos acalmar e achar alguma solução. Não adianta nada gritarmos uns com os outros agora.

Então Annabeth desabou em seus braços e começou a chorar. Seu filho tão pequeno e frágil estava no alvo dos deuses sem ao menos fazer nada. Mas ela conhecia bem os deuses e sabia que eles não correriam o risco de alguém destruir a sua soberania assim como na última vez.

Percy a abraçou forte, mas mesmo assim ela se sentia caindo em um penhasco, sem chão.

— Thalía está vindo – Rachel disse – acho que ela sabe o que fazer.

Passaram a noite na casa grande. Annabeth estava com um Charlie adormecido entre os braços, sentada no sofá enquanto Percy andava de um lado por outro. Nenhum dos dois conseguiria dormir esta noite.

— Percy – Annabeth disse – você não está me ajudando a ficar calma.

Percy sentou ao seu lado no sofá.

— Eu sei, eu sei – Ele disse de maneira cansada – Vamos dar um jeito.

— Eu sei que vamos – ela disse e beijou seu rosto – Juntos. Como sempre.

Ele olhou em seus olhos e sentiu a coragem que sempre admirou em Annabeth. Sua esposa era forte e determinada e sabia que conseguiriam passar por cima de qualquer obstáculo. Percy não se via sem Annabeth ao seu lado, ela era e sempre foi, o motivo pelo qual ele lutava.

— Eu te amo. Não vou deixar nada acontecer.

— Eu também te amo, cabeça de alga.

Ela encostou-se a seu ombro e suspirou. Percy viu que ali era seu lugar.

E o resto da noite foi uma nuvem escura e densa.