Aquela noite foi tranquila. Nada de monstros. O sol estava entrando pela fresta da janela anunciando o começo da manhã. Percy estava o mais confortável possível com Annabeth encostada em seu peito, mas mesmo assim, o clima era tenso. Eles estavam a um mês casados e já tinham sido atacados por uma hidra e duas dracaenae. Todos no meio da noite.

Quíron havia lhes alertado dos perigos de viver juntos, mas os dois queriam ao menos tentar ter uma vida normal (se é que isso é possível para um semideus). Prometeram que caso não conseguissem em um ano, se mudariam para a cidade no acampamento júpiter e ajudariam no treinamento de novos semideuses.

- treze dias inteiros sem monstros – Percy falou quando percebeu que Annabeth havia acordado – estamos evoluindo.

Annabeth suspirou. Ela mais do que ninguém queria que essa experiência desse certo, queria poder estar com seu marido em segurança em sua casa. Queria seguir a profissão de arquiteta agora que conseguira se formar e trabalhar num pequeno escritório no centro de Nova York. Mas as coisas não seriam fáceis, nunca era para um semideus.

Ela sentou-se na cama e deu o beijo de bom dia em Percy como fazia em todas as manhãs.

- Preciso trabalhar – ela disse, levantou-se e foi ao banheiro.

Aquela semana, Annabeth estava trabalhando mais do que o normal, o que incomodava Percy de certa forma. Ele percebia a mulher mais triste e mais preocupada do que nunca e isso o entristecia. Percy saia ainda cedo, ia ao acampamento treinar as crianças e quando voltava no fim do dia, ela ainda estava trabalhando. Ele ficava imaginando o que se passava na cabeça dela, pois duas semanas atrás, estava alegre e animada com o emprego, riam de coisas bobas e nos fins de semana nadavam no rio do acampamento quase o dia inteiro.

Tomaram o café juntos e saíram de casa. Percy seguia o caminho mais rápido para o acampamento: pelo rio. Tudo estava do jeito que deveria estar: os filho de Apolo na quadra, a arena cheia de crianças treinando, o cheiro de morangos e os sátiros correndo na praia.

Percy fez suas atividades normais, dando aula de esgrima e canoagem para alguns chalés inclusive aos dois novos membros do chalé de Poseidon. Ele era um tipo de herói entre os campistas, era o semideus mais famoso depois de Leo Valdez que ainda morava por ali. Lutou com os campistas, mas sua cabeça continuava em Annabeth e no seu comportamento aquela semana.

Quando terminou todas as suas tarefas, resolveu falar com Quíron.

O Centauro estava em sua cadeira de rodas lendo um livro na varanda.

- Olá Percy, como vai? – ele disse colocando o livro em cima da mesinha ao lado.

- Mais ou menos – Percy se sentou na cadeira ao lado de Quíron – É Annabeth, anda triste e preocupada e não quer conversar.

Quíron observou o horizonte.

- De um tempo a ela – ele disse e Percy percebeu que escondia algo – É tudo muito difícil para ela agora, a família sempre foi algo complicado para um semideus.

Apesar de Percy não ter entendido essa ultima parte, percebeu que não deveria fazer mais perguntas e resolveu voltar para casa mais cedo.

Chegando ao pequeno apartamento, Percy deu de cara com Annabeth sentada na mesa da cozinha. Lágrimas escorriam pelos seus olhos. Ele foi até ela e ela o abraçou com muita força.

- Ei – ela falou passando a mão por seus cabelos – O que houve?

Mais ela não falava e mais lágrimas escorriam.

- Não se preocupe ok? – ele disse – Vamos dar um jeito, tudo vai acabar bem.

- Estou com medo – ela disse aos soluços ainda nos braços de Percy.

Annabeth nunca havia agido assim, mesmo quando estava apavorada, seu instinto a obrigava a enfrentar tudo o que temia, ela era corajosa e nada a derrubava, mesmo monstros entrando pela janela da sala.

Percy beijou o topo da cabeça de Annabeth e por um momento ela havia parado de chorar, mas mesmo assim, Percy estava mais confuso do que nunca.

- Tudo vai ficar bem, eu prometo – Percy repetiu.

Depois, Annabeth se afastou e olhou para ele.

- Eu estou grávida.

E naquele momento, Percy sentiu o medo crescer também em seu peito.