Volverte A Ver escrita por Raquelzinha


Capítulo 2
Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Mais um!!!



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No dia seguinte sai para mais um passeio pelos arredores de casa, principalmente, caminhar pela estrada de terra e sentir o aroma do campo no verão, uma época muito especial  pois é quando o sol surge com certa regularidade já que Forks não é exatamente conhecida como a região mais ensolarada do pais.

Voltava do passeio, que surpreendentemente me deixou alegre apesar de ter topado com a vala onde Jake e eu caímos e por vários outros pontos onde costumávamos brincar. Foi quando me deparei com Billy, que vinha em direção contrária, poucas mudanças haviam ocorrido nele nesses anos todos. Seus cabelos tinham agora alguns fios brancos a mais, mas seu corpo se mantinha forte e robusto como sempre fora, ele me sorriu gentil, eu ainda não o vira, pois ele estivera em La Push com Rebecca, irmã mais velha de Jacob, que segundo soube está prestes a dar a luz uma menina.

Ele se aproximou, me beijou gentil como sempre foi, dizendo estar feliz com o meu retorno e me olhando bem comentou:

- Você está linda! -  sorrindo  sempre, aquele mesmo sorriso aberto e franco que era característica de seu filho fazendo meu coração quase arrebentar de saudade e continuou:  – Seu pai vivia alardeando que a filha dele se transformara  em uma bela mulher. – segurou meu rosto e continuou – Tenho que admitir que ele tinha razão.

- Obrigada Billy. Você também está muito bem.

Ele fez um gesto com a cabeça agradecendo  e aproveitei para perguntar por Rachel.

- Ela está com Becca, essa fase final da gestação precisa de muitos cuidados.

- Claro! – falei concordando e conclui : - Vou tentar ir a La Push para vê-las.

- Vá, mesmo, elas ficarão felizes. – e olhando o relógio perguntou:  -  Como está se sentindo ao voltar para casa?

Suspirei e fui sincera:

- Parece que estou fora a mais tempo do que o que realmente foi, é uma sensação estranha essa, é como se minha vida tivesse pulado anos, é como se só agora estivesse voltando a viver.

Parei de falar e encarei o homem que me conhecia desde que nasci, ele passou a mão pelo meu ombro e falou gentil:

- Não se preocupe, logo isso passa é só o efeito do retorno, da mudança.

- É, você deve ter razão.  – concordei mais por educação do que por certeza, a sensação de tudo estar fora do lugar só aumentava com o passar dos dias.

Percebi que ele olhava novamente para o relógio e o liberei, sem ter coragem de perguntar por Jake, apesar de ter aberto a boca umas duas vezes para fazer isso, no  fim, ficava calada. Ele se foi e fiquei observando seu corpo caminhar, Jacob tinha muito dele, constatar isso só me fazia querer evitar novos encontros com Billy, tentando não sentir ainda mais falta de seu filho.

 Billy está sempre ocupado com alguma coisa, ele tem muitas responsabilidades e é muito eficiente além de um grande amigo e companheiro de pescarias de papai.

Me virei e continuei meu caminho até em casa, passei pela cozinha e fui direto para o quarto, me joguei na cama e fiquei quieta, a volta definitivamente não estava sendo como esperava.

Dois dias depois Carlisle, Esmee e Alice vieram, passamos momentos alegres juntos, afinal o tempo que ela e eu estivemos sozinhas naquele internato nos aproximou, estreitou nossa amizade, minha amiga e cunhada é muito divertida e me distrai com facilidade.

Nos divertimos lembrando de coisas que aconteceram no internato fazendo  nossos familiares rirem. Meu pai chegou a comentar que não tínhamos sofrido tanto quanto alardeávamos, ao que Alice logo retrucou, tínhamos muito mais momentos ruins a lembrar do que alegres, mas sim, ao menos havia alguns fatos pitorescos para nos salvar de uma morte muito lenta por monotonia.

Todos riram ao ouvi-la falar com sua voz sonora e clara daquele jeito alegre e espevitado que lhe era característico.

Ao final da tarde quando eles se foram aproveitei o clima ameno e passei horas no meu balanço, lendo, o aroma suave de final de tarde era agradável e a paz daquele lugar facilitava o descanso, as lembranças das brincadeiras com Jake me assaltavam algumas vezes e eu as colocava para um lado, apagava a cada uma com um outro pensamento, provavelmente não voltaríamos a nos encontrar e não havia motivos para me torturar com saudades de alguém que nunca me procurara.

Edward só retornou para casa na sexta feira, e logo veio me visitar, eu estava em meu quarto, atirada na poltrona, totalmente desligada de tudo, lendo, quando Renee foi me chamar:

- Seu noivo chegou. – suspirei, noivo, nós ainda não tínhamos oficializado coisa alguma, era apenas uma conversa mas não falei nada, levantei, passei uma escova pelo cabelo e um batom leve nos lábios e me olhei no espelho achando que não ficaria melhor do que aquilo e finalmente desci. Fazia exatamente dois meses que eu não o via, não podia negar um sentimento de saudade de seu carinho, de sua delicadeza e  de seu sorriso torto que imediatamente me contagiou, seus braços circundaram meu corpo e sua voz suave se fez ouvir, uma leve sensação de alivio tomou conta de mim enquanto ele falava:

- Senti saudades meu amor!

Seus lábios perfeitos vieram carinhosos sobre os meus e assim que nos afastamos confessei que também sentira sua falta. Sentamos juntos de frente para meus pais, minha mãe estava muito feliz,  mas meu pai parecia contrariado, apesar de Edward ser filho de seu sócio e nunca ter lhe dado motivos para essa antipatia, ele não gostava muito dele, não sei bem porque, mas acho que era uma questão de empatia, sei lá, o fato era que ele com certeza não simpatizava com Edward, e por alguma razão idiota isso me diverte, gosto de ver a maneira como Charlie olha para ele, o modo como fala, a provocação sutil, isso me lembra alguém, sorri diante desse pensamento, se Jake estivesse aqui não perderia a oportunidade de se aliar ao amigo de seu pai e participar da provocação.

Meu noivo, como mamãe gosta de falar, almoçou conosco e depois saímos para dar uma volta pelo jardim, parei muitas vezes observando as pequenas flores que surgiam dos botões, elogiando o trabalho do jardineiro, um amigo de Billy, que vive em La Push.

- Seu pai encontrou um ótimo jardineiro. Acho que teremos que rouba-lo dele quando nos casarmos. – Edward comentou tranquilo.

Observei bem o rosto dele, os olhos cor de mel que me olhavam serenos,  achando que aquilo fora uma tentativa frustrada de fazer uma brincadeira e comentei:

- Pelo que soube ele já está a bastante tempo com Charlie, e também  acho que não seria muito correto o genro roubar o jardineiro do sogro.

Com seu sorriso torto e a expressão mais gentil do mundo ele falou:

- Seu pai com certeza não se incomodaria em cedê-lo de vez em quando para cuidar do nosso jardim. – ele sempre tem resposta para tudo, pensei suspirando e lembrando de nossa última conversa falei:

- Pensei que você queria morar em Seattle e não em Forks.

Ele me puxou para perto e acariciou meu cabelo carinhosamente:

- Meu pai viu umas casas aqui, ótimas residências, com um jardim grande e muito espaço, estou pensando em comprar uma para quando viermos para cá.

Tive que discordar, olhando-o seria, “ - Ele hoje tirou o dia para me irritar? –“ pensei antes de falar:

- Quando eu vier Edward vou querer ficar com meus pais ou com os seus. É para isso que viremos para cá, para estar perto deles.

Ele respirou mais fundo, mas não pareceu incomodado com meu comentário, nem me contrariou, apenas falou:

- Já vi alguns apartamentos, amplos e com boa localização em Seattle só falta você ir até lá comigo para escolhermos o definitivo.

Me afastei um pouco e voltei a caminhar.

- Quando você quiser.

Ele segurou meu braço delicado mas firme e me olhando nos olhos perguntou:

- Aconteceu alguma coisa? – seu rosto parecia preocupado  - Você está diferente.

Suspirei retirando de dentro de mim a resposta para dar, eu realmente não me sentia a mesma, era como se alguma coisa tivesse se quebrado em mim e uma outra pessoa estivesse saindo pelo espaço aberto  e estivesse tomando conta do  que eu fora nos últimos anos, era forte demais e eu não conseguia controlar, mas fui menos clara, ou mais clara não sei:

- Estou estranhando tudo, estava desacostumada a ficar tanto tempo sem fazer nada, sinto falta...sinto falta, de tudo, da minha vida...

Seus braços me envolveram com carinho, parece que ele entendeu o que nem eu consigo entender  e sua voz tranquila soou no meu ouvido:

- Não se preocupe  com isso, tudo vai ficar bem, e tem uma coisa da qual você poderia se ocupar.

- Com o que? – perguntei aceitando os lábios dele que vinham sobre os meus.

- Com o nosso casamento. – ele falou serio e eu ri.

- Nós nem oficializamos o noivado e você está falando em casamento.

Aquele sorriso perfeito surgiu outra vez enquanto ele falava:

- Estive conversando com Renee e Charlie, o jantar de amanhã seria um ótimo momento para isso, afinal nossas famílias estarão presentes, nossos amigos.

Aquilo me atingiu em cheio,  uma súbita falta de ar, oficializar no sábado, durante o jantar? Não me parecia uma boa ideia, era um pouco precipitado tentei argumentar, mas ele já tinha as respostas prontas, não havia motivos para adiar o que estava planejado a tanto tempo, era uma ótima oportunidade e não poderíamos perde-la.

Minha cabeça dava mil voltas,  realmente não havia nada que atrapalhasse o que já estava acertado, mas eu pensara em oficializar com uma reunião intima, apenas minha família e a dele, não assim, alardear aos quatro cantos de Forks nossa futura união,  mas, no final aceitei acatando os argumentos dele e decidimos que o casamento ficaria para os primeiros dias da próxima primavera.

- Isso é quase um ano. – a voz dele era de reclamação, mas fui firme:

- Precisarei de tempo para organizar tudo. Minha mãe e a sua não se contentarão com um casamento intimo, elas vão querer uma grande festa, convidarão toda Forks, parentes dos quais nunca ouvi falar, e outros ainda, afinal, eu sou filha única e você, é o único homem da sua família, além de ser o mais velho.

Essa justificativa pareceu convence-lo e nós continuamos o passeio, no final da tarde, depois que ele se foi,  estava me sentindo  cansada, emocionalmente esgotada, tomei um banho morno demorado, vesti uma calça de malha e uma camiseta velha e sentei na janela olhando a rua, a luz da lua cheia inundando o gramado,  apenas o jardim estava na sombra da casa, as luzes do meu quarto desligadas me permitiam ver as estrelas e quase todo o espaço ao longe com clareza,  meu coração estava especialmente  ansioso, disparado, agitado, eu não conseguiria dormir apesar de me sentir cansada, com certeza isso era efeito da oficialização do meu noivado na noite seguinte.

 Fiquei ali recostada na janela por muito tempo, até que toda a casa estivesse em silencio total, sentindo a brisa da noite, quando o som forte de um motor me assustou, uma luz vinha pela estrada da casa de Billy, provavelmente ele estava voltando de La Push, Becca ainda não dera a luz a pequena Sarah. Sorri me sentindo emocionada, ela decidira por colocar o nome da mãe deles na bebê, o que com certeza deixaria Jake muito feliz, ele sentia muita falta da presença materna, ela morreu quando ele era ainda  muito pequeno.

Então, o veiculo saiu de detrás das arvores e vi que era uma moto, que trazia apenas um passageiro,  rapidamente  atravessou o restando do caminho até a casa e estacionou  num ponto onde eu não conseguia ver seu motorista, me movi agitada, tentando encontrar uma posição melhor na tentativa de ver quem era, mas não foi possível. Os minutos se passaram, a pessoa deve ter entrado na residência de Billy,  pensei suspirando, e com certeza era ele, ou talvez algum dos garotos de La Push.

Desisti de pensar no assunto, desci da janela e a fechei, fechei as cortinas também  e acendi o abajur, peguei meu livro que estava na gaveta da mesa de cabeceira, iria ocupar meu tempo com  a leitura enquanto o sono não surgia, e então ouvi um som estranho, parecia alguém assobiando, larguei o livro sobre a cama, e fiquei calada, o coração quase saltando do peito, outro assobio, desta vez mais forte.

 Pulei da cama e abri a cortina, dei uma boa olhada, nada, lá fora, apenas a escuridão. Fechei a cortina e me deitei novamente, com certeza era algum animal fazendo barulho,  mal tinha aberto livro e outra vez o som se fez ouvir, e mais outra.

- Droga! – pulei novamente da cama ao ouvir uma pedrinha bater na minha janela.

Abri a cortina e a janela e coloquei metade do corpo para fora, e uma voz rouca falou poucos metros a frente:

- Faz tanto tempo assim que você não reconhece nem atende mais aos  meus chamados?

Um homem estava parado no meio do jardim, eu não conseguia vê-lo direito, sabia apenas que era alto mas aquela voz com certeza era conhecida, eu a escutara nas minha lembranças nos últimos dias:

- Jake! – falei sorrindo.

- Oi Bells! – sua voz agora estava diferente, ainda mais rouca e profunda, a luz que vinha do meu quarto atrapalhava minha visão então entrei rapidamente e desliguei o abajur, assim que voltei ele tinha sumido.

- Jake! – chamei tentando não falar alto, não era cedo mas com certeza meu pai ouviria, e tudo o que eu não queria nesse momento era Charlie e Renee acordados, senti meu coração bater forte e uma luz também forte atingiu meus olhos, cobri o rosto com a mão e pedi:

- Pare! Eu quase fiquei cega!

Ouvi o som da risada que me contagiava, e a luz foi então para debaixo do rosto dele me fazendo rir e sentir uma incontrolável vontade de chorar, e só então percebi que Jake havia subido em um dos postes que minha mãe mandou instalar no jardim para fazer um quiosque, meu coração acelerou:

- Jake você vai cair daí, desça!

Ele riu, e falou:

- Daqui eu te vejo melhor.

Senti meu rosto corar e agradeci por estar no escuro e tentando  controlar as batidas aceleradas do meu coração  perguntei:

 - Quando você chegou?

- Agora a pouco, meu pai não está, então resolvi dar uma volta,  vi a luz na sua janela, e decidi ver se minha amiga estava acordada.

- Foi você quem chegou na moto?

- Sim, você viu? As luzes da casa estavam apagadas quando cheguei. – e emendou rápido – Agora ninguém vai reclamar se você subir na minha garupa, eu sou maior de idade e de tamanho e tenho carteira de motorista. – ele estava brincando novamente, pensei desejando aceitar o convite e falei rápida:

- Vou adorar. – as palavras saíram fáceis antes mesmo que eu pensasse nelas.

Ouvi seu sorrio e sorri também, mas percebi que ele se assustou:

- Seu pai acordou. Melhor nos falarmos amanhã, não quero ser mandado embora novamente... – ficou calado por alguns instante e concluiu antes de pular do pilar:

- Durma bem.

- Você também. Boa noite!

Rápido e silencioso ele correu em direção a trilha que levava a casa de Billy e eu fiquei olhando aquele corpo se movendo na escuridão, ele estava muito diferente fisicamente, mais alto, mais forte, mas, algo não mudara, ele continuava sendo aquela pessoa da qual eu me lembrava e isso me encheu de felicidade.

Ouvi o som da janela de meu pai se abrindo e fiquei o mais quieta possível, ele falou alguma coisa mas eu não entendi o que era, voltei para minha cama e para meu livro, livro. Não foi lida uma só pagina depois desse instante, ou melhor, uma só linha! Não consegui me controlar fiquei repassando nossa breve conversa, o jeito, o sorriso, a maneira como ele pulou com facilidade de um poste de quase dois metros.

 Não sei quando adormeci, mas finalmente foi um sono sereno desde que voltei, um sono reparador que me fez acordar sorrindo. Observei minha imagem no espelho depois que sai do banho, não era impressão minha, eu parecia mais bonita naquela manhã, escovei lentamente os cabelos,  escolhi uma calça jens, rasteiras e uma camiseta leve, na caixa de jóias ainda havia uns brincos que ele me deu quando fiz dez anos, uma pequena estrela, parecia muito pequeno para uma mulher adulta, mas era aquele que eu tinha vontade de colocar.

Desci cantarolando, minha mãe ao cruzar comigo no corredor comentou:

- Como estamos felizes esta manhã! Será que um certo jantar que vai acontecer hoje que deixou minha filhinha tão alegre?

Nesse instante empaquei, esquecera completamente desse jantar, do noivado, do Edward, desde o momento em que vi Jake parado no meio do jardim voltei a ter doze anos, a ser a mesma, mas eu não era mais a mesma, a situação era outra, nós não poderíamos sair por aí vivendo loucuras, lembrei do passeio de moto que ele me ofereceu, ninguém aceitaria que eu fosse, com razão, como poderia sair por aí na garupa de meu melhor amigo estando noiva de outro?

Me olhei no espelho na parede do fundo do corredor, acima do aparador e lentamente retirei os brincos, e os coloquei no bolso da calça, não havia mais lugar para a Bells do Jake, a pessoa que estava diante de mim agora era a Bella do Edward.

Desci e encontrei Ana na cozinha, fazendo seus quitutes deliciosos, mal consegui comer, precisava sair dali, tomar ar puro, passei pelo escritório, Charlie não estava, peguei um livro na prateleira, “O Morro dos Ventos Uivantes”, péssima escolha na verdade, eu chorei quando o li pela primeira vez, mas agora, ele me parecia bastante apropriado para como eu estava me sentindo, caso alguém me visse chorando, eu teria uma boa desculpa, todos choram ao ler esse livro.

Fui para o balanço, me acomodei de frente para a arvore e abri na pagina em que Heathcliff  foge depois de ouvir sobre o casamento, aquela parte sempre foi muito dolorida para mim. Estava ali, sentada já a algum tempo quando ouvi quase num sussurro:

- Algumas coisas nunca mudam, este sempre foi seu lugar preferido.

Meu coração acelerou, e fiquei em pé, me virando para poder olhar bem para ele, seu rosto era o mesmo, mas os traços estavam fortes e marcados, os olhos fundos e escuros, o cabelo negros agora, eram muito curtos. Usava uma calça jeans surrada, uma camiseta que deixava a mostra o corpo forte, e botinas mal amarradas. Tentei sorrir apertando o livro contra o peito na tentativa de controlar o tambor que batia no meu peito, ele ficou parado me olhando, as mãos nos bolsos, depois lentamente se aproximou me fazendo respirar com dificuldade e assim que chegou bem perto abriu os braços falando:

- Você não vai abraçar seu velho amigo?

Quase me joguei ali, escondendo meu rosto no seu peito grande, não querendo que ele visse que estava a ponto de chorar.

- Você será sempre meu amigo Jake. – falei engasgada.

- Eu sei. – sua mão caminhou para o meu cabelo. – E você sempre vai poder contar com minha amizade.

- Nunca duvidei disso. – confessei, mesmo  quando achei que ele tinha ido embora sem se despedir tentei arrumar uma desculpa, mesmo que fosse uma desculpa totalmente sem sentido, qualquer coisa servia para explicar aquele fato, tudo porque não queria acreditar que ele não se importava comigo.

Nos afastamos lentamente e ele pegou o livro da minha mão.

- Lendo isso outra vez? – fez uma careta e continuou: - Lembro que você passou uma semana chorando quando a professora nos mandou fazer um trabalho sobre isso.

Sorri e emendei:

- E você resolveu fazer este balanço para me alegrar.

Ele riu alto.

- Sim, este balanço me custou caro.

Apertei os olhos tentando apagar da mente a imagem do menino sangrando na minha frente.

- Você poderia ter morrido.  – falei olhando para o galho onde o balanço estava preso. - Cair de lá não foi pouca coisa.

- Vaso ruim não quebra, e depois, nós aproveitamos muito esse balanço não foi?

- Oh sim, muito...- encarei o rosto que estava agora muito perto do meu e me movimentei levemente comentando:

- Meu pai vai ficar muito feliz em ver você.

- Ele já me viu, estava na casa de Billy agora mesmo, e realmente fiquei admirado por Charlie não ter me mandado embora, afinal teve uma época que ele achou que um de nós ia acabar morrendo nas nossas brincadeiras, e que a culpa de tudo era minha.

Tive que discordar dele:

 - Minha mãe era quem reclamava, ouvi muitas vezes ele dizer:  - Deixa as crianças Renee, eles estão apenas se divertindo. – tentei imitar a voz de meu pai e Jake riu alto enquanto eu continuava a esclarecer:

 – Até mesmo a pressão para irmos para o colégio interno foi ela quem fez, lembro quando ouvi a conversa deles no escritório, era ela quem pressionava, por ela teríamos ido no ano anterior. Mas aí meu pai pediu para que fossemos no ano seguinte, quando completássemos doze.

Ele fez uma careta e se sentou debaixo da árvore com as pernas dobradas e os braços sobre o joelho ainda me olhando e completou:

- E convenceram o meu a me mandar também. –  ficou calado por alguns instantes e depois perguntou me olhando sério: - Ainda tem pessegueiros no pomar?

 Corei e não soube o que responder, não tinha ido lá ainda.

Ele me olhou provocante e comentou:

- Poderíamos ir até lá dar uma olhada o que acha?

- Não sei. - falei indecisa e percebi uma ruga se formar na testa dele, ela só aparecia quando ele se sentia contrariado, e tentando mudar de assunto perguntei:  - Você vai ficar com Billy?

Ele fez uma expressão com a boca e depois me olhou serio, antes de falar:

- Ainda não sei, não tenho muitos motivos para ficar aqui.

Meu coração se apertou ao ouvir isso e tive que reclamar:

- Pensei que sua amiga  era um bom motivo para você ficar.

Ele continuou me olhando muito sério, mas não pareceu se comover com o que eu falei e quando falou sua voz era firme:

- Minha amiga vai estar ocupada com o noivo.

Outra vez, agora eu estava a ponto de chorar, comecei a apertar o livro entre as mãos e ele se levantou me olhando e tocou no meu rosto falando:

- Vou estar por aqui ate que você ache que está cansada do seu amigo, ou até que seu noivo, que não gosta muito de mim me mande embora.

- Nunca me canso de você. – falei sincera e ele sorriu com uma expressão mais suave no rosto, eu estava me sentindo como uma criança outra vez a ponto de perder a única pessoa que realmente tinha algum significado na minha vida.

- Nem eu de você.

Ele suspirou e comentou:

- Vamos ter um grande jantar hoje não é?

Eu não queria pensar nisso, mas tive que concordar, nesse instante ouvi Ana me chamando, e me virando beijei seu rosto e o abracei, não tivera coragem de fazer isso antes, mas naquele momento era tudo o que eu queria e antes de sair perguntei:

- Você vem? A noite para o jantar?

Ele mostrou um leve sorriso e afirmou com a cabeça, sorri de volta e corri para casa, com o coração aos pulos e os olhos marejados desejando ter doze anos outra vez e poder ter vivido minha adolescência de maneira diferente. 


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Notas finais do capítulo

É sempre bom encontrar alguém de quem temos ótimas lembranças!!!
bjs



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