Volverte A Ver escrita por Raquelzinha


Capítulo 14
O Bilhete


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo



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Entrei com tranquilidade naquele ambiente totalmente desconhecido seguida por meus pais, a casa era enorme, mas não tinha nada que me lembrasse coisa alguma, observei os objetos tentando encontrar algo familiar, mas a medida que forçava minha memória, me parecia ainda mais complicado voltar a lembrar das pessoas ou de qualquer outra coisa.

 Renee me mostrou cada cômodo insistindo em comentar fatos que aconteceram em cada um, isso me irritava mais, não lembrava de nada, nenhum fato novo vinha a minha mente que pudesse surgir como uma luz na escuridão que minha cabeça parecia ter se transformado.

  Ana a cozinheira, uma mulher simpática e rosada, me olhava com um olhar úmido, vermelho e choroso, isso me incomodava também, tinha a sensação de que estava prestes a morrer, mas ao mesmo tempo que toda essa situação estava sendo difícil para mim, sabia que para eles era da mesma forma, via em seu jeito, no seu rosto, em cada palavra, a necessidade eu tinha de minhas lembranças voltarem era tanto minha quanto deles.

 Saindo da sala entramos no corredor e dali na escada, ela levava para o outro andar da casa, onde havia uma sala e vários quartos, um deles era o meu, Renee abriu a porta para que eu entrasse e imediatamente pedi para ficar a sós, precisava muito ficar sozinha, tentar pensar sem ter a voz de alguém me dizendo isto é assim, ou aquilo é assado, queria lembrar por mim.

Caminhei aleatoriamente pelo grande espaço, o quarto era amplo, iluminado, tinha um aspecto familiar, pela primeira vez alguma coisa me trazia uma sensação de familiaridade, em alguns lugares havia fotos, sobre a escrivaninha algumas me pareceram especiais, estavam num lugar de destaque, separadas das outras.

Me reconheci em duas, na primeira estava sozinha, em outra estava abraçada a um garoto, apertei os olhos percebendo a pele bronzeada, os traços fortes, era o mesmo, o mesmo rapaz que estivera no hospital com meus pais todos os dias, que viera no carro comigo, sentado e calado, ele é o que mais me respeita, mas me olha do mesmo jeito, com a mesma forma ansiosa que eu quando vejo meu rosto no espelho.

Minha mãe diz que ele é meu noivo,  como pode ser meu noivo se não lembro dele? Mas sim, era ele naquela foto, sei que nos conhecemos desde crianças, isso foi dito várias vezes, mas pq não conseguia lembrar, se ele é meu noivo devo amá-lo,  observei mais uma vez nossos rostos juntos e sorrindo, minha expressão na foto era de felicidade, senti as lágrimas surgirem fartas, queria muito lembrar, ver o mesmo sorriso daquela foto nos lábios dele e nos meus. Ser feliz como penso que era antes disso acontecer, mas não consigo, por mais que tente, não há nada que me dê uma luz, que ilumine minha cabeça.

Suspirei e caminhei até a janela secando as lágrimas forçando a memória e observando ao longe, o gramado verde, as árvores, um jardim bem cuidado, de repente uma coisa me chamou a atenção, uma casa do outro lado das grandes árvores que ladeavam a entrada, eu conhecia aquela casa? Me perguntei e logo soube que sim, sim eu  conhecia aquela casa, sorri e me movi olhando melhor, mas não houve mais mudanças, nada voltou, fora apenas um segundo, um lampejo.

Isso me irritou mais, me virei e inalei o cheiro impregnado naquela peça, nem ele, nem o aroma do quarto, nem os objetos, coisa alguma me remetia a alguma lembrança por menor que fosse, e isso estava me irritando imensamente, tinha vontade de sair e ir a algum lugar onde realmente ninguém soubesse quem eu era, talvez assim voltasse a lembrar de quem devia lembrar.

 Voltei a olhar a rua, lá fora havia pessoas trabalhando,  o sol aparecia levemente entre as nuvens, fechei os olhos mas não adiantava, era um buraco vazio, as únicas coisas das quais me lembrava eram as vividas depois que acordei no hospital.

Caminhei até um grande espelho e me olhei novamente, o curativo era menor na minha testa, mas a volta do olho ainda tinha uma cor arroxeada, meus cabelos estavam bem arrumados, escovados com  cuidado, mas não tinha brincos, olhei em volta a procura de uma caixa de joias, se este era meu quarto e aqueles eram meus objetos pessoais poderia usar o que quisesse, pensei.

Vi que sobre o criado mudo havia um livro e duas caixinhas, caminhei até ali e olhei as duas, mas em nenhuma delas havia joias, abri a gaveta, algumas caixas pequenas, mais livros e sobre eles um papel dobrado, era velho e estava amarrotado, algo me atraiu para ele, outra vez o lampejo, ele me lembrava de alguma coisa, fechei os olhos e senti um aroma conhecido, sim muito conhecido, pensei, era suave no principio mas depois ficou forte, não vinha de nada que estivesse ali, estava na minha memória e pertencia a alguém, continuei com os olhos fechados me apropriando dele, fazendo com que me inundasse, e aos poucos soube de quem era, era dele, do garoto sorridente da foto, do meu noivo.

Ansiosa por mais lembranças, peguei o papel e o abri, era uma folha velha, a letra infantil, dizia:  “Bells”, meu coração disparou, eu reconhecia aquele bilhete,  “Meu pai vai me levar...” antes de terminar de ler, estava chorando, “Eu amo você. Você me ama?”, ele concluía, finalmente, pensei, as imagens voavam pela minha cabeça como num filme, finalmente  estava  lembrando de cada detalhe, cada mínimo detalhe do que foi vivido com ele, com Jake, meu tão amado Jacob, mas não só com ele, com toda minha família, meus amigos, apertei o bilhete beijando-o, era a segunda vez que ele me fazia voltar a vida, meu peito doía por causa dos soluços ao imaginar o quanto o fizera sofrer com minha ausência, assim como  a todos os outros.

Observei minha mão e só então percebi, meu anel, o anel que Jake me dera não estava no lugar dele. Sai correndo do quarto e topei com minha mãe no corredor, sorri e ela me olhou entendendo que finalmente estava tudo no seu devido lugar:

- Mãe, cadê meu anel de noivado? – foi tudo que consegui falar.

Ela se aproximou me abraçando apertado, depois, segurando meu rosto, me olhando bem falou:

- Está com Jake minha filha.

- Cadê ele? Cadê o Jake? – perguntei ansiosa.

- Deve estar em casa.

Em casa, a poucos metros de nós pensei, e sorrindo falei:

- Preciso falar com ele.

- Vai, mas vai com calma. – isso não precisava ser dito, iria tomar todo o cuidado necessário, chegar até ele, vê-lo, abraça-lo, matar toda a saudade era tudo o que eu queria.

Desci os degraus com cuidado, não queria cair outra vez, brincar com a sorte, ao passar pelo escritório vi meu pai e sorrindo o abracei,  o beijei apertando-o com força, não foi preciso falar nada, ele apenas falou:

- Que bom ter minha filha de volta!

- Vou ver Jake. – falei me afastando um pouco e ele sorriu compreensivo.

- Vai sim, Jake vai ficar feliz em ver você.

- Não mais do que eu pai, não mais do que eu. – gritei saindo e tomando a direção da cozinha, tinha alguém que eu queria ver ainda, Ana, ela estava recostada no balcão, olhando para o nada, assim que me viu entrar ficou ereta como se esperasse alguma coisa, sorri abertamente abrindo os braços e ela me abraçou com força.

- Que saudades da minha menina. – falou me apertando em seus braços fofos, beijei sua testa e falei rapidamente :

- Senti saudades de todos vocês também, mesmo sem saber. – me afastei um pouco e emendei: - Vou até a casa de Billy ver Jake.

- Pq será que não estou surpresa? – a expressão dela era de brincadeira me fazendo sorrir e depois concluiu: - Vai logo, aquele garoto está precisando de alegria.

Aquela frase me mostrou o quanto fui má nos últimos dias, mesmo sem querer, nunca foi minha intenção magoa-lo, tudo que eu sempre procurei foi a felicidade dele, qualquer coisa para ve-lo bem e feliz, me afastei de Ana e tomei a direção da casa de Billy.

A distancia entre nossas casas nunca me pareceu tão longa, talvez pq eu nunca a tenha feito caminhando com tanto cuidado, a porta como sempre estava aberta, entrei sentindo o aroma conhecido daquele ambiente onde passei boa parte da minha vida e a vontade de chorar voltou, Billy estava no escritório, escrevendo alguma coisa,  quando me viu ficou em pé, me aproximei com calma olhando-o bem tentando não chorar, a presença dele me remetia a Jake, era inegável a semelhança entre pai e filho, o tom da pele, os olhos profundos e escuros, os traços fortes e marcantes, sorri e  ele também sorriu surpreso e veio me abraçar gentilmente falando:

- Jake vai ficar muito feliz em saber que você está de volta.

- Onde ele está Billy? – perguntei por fim.

- Foi para a oficina, disse que quando voltasse iria ver você.

Suspirei  angustiada, não iria, nem queria esperar mais, não queria ficar mais nem um minuto longe dele, e pedi olhando os olhos escuros:

- Billy você me leva até lá?

- Claro, só preciso avisar seu pai.

Vi Billy me dar as costas pedindo que eu esperasse, o acompanhei pelo corredor e assim que a porta se fechou fui em direção ao quarto dele, de Jake, a cama estava arrumada, sobre a colcha uma camiseta amarrotada, aquela era a roupa que ele usava quando foi me buscar no hospital,  a última peça que ele vestiu, pensei pegando-a e inalando o aroma suave que vinha dela sentindo  meu coração disparar,  meu corpo todo responder aquele leve estimulo.

O som forte da voz de Billy pouco depois, me tirou dos devaneios que povoavam minha mente:

- Bella?

- Estou aqui. – respondi  largando a camiseta sobre a cama novamente e saindo do quarto.

Uma surpresa me esperava na sala, minha mãe viera com Billy e me olhava tranquila, ao perceber meu olhar interrogador ele explicou:

- Sua mãe vai levar você até lá.

Ela sorriu e me estendeu a mão falando:

- Vamos?

Dei um ultimo beijo no meu sogro e amigo e me dirigi para onde minha mãe estava, parece que muita coisa mudara e ainda mudará de agora em diante, muitas coisas serão diferentes, ela finalmente parece ter aceitado meu amor por Jacob.

Nosso trajeto até a oficina foi de conversa, falamos sobre muitas coisas, mas especialmente sobre o que ela vira, ou melhor, descobrira sobre meu Jake nesses dias em que estive fora do ar,  acabou por me surpreender ao falar das qualidades dele de forma tão clara, mas que ela por pura irritação e implicância ainda não percebera.

- O que fez você recordar de tudo? – foi a ultima pergunta que me fez quando estacionou o carro diante do velho galpão, que por fora ainda se mantinha igual ao dia em que o visitei.

- Isto. – estiquei a ela o bilhete velho e amassado que Jake me escrevera a tantos anos atrás, seus olhos correram rapidamente pelas poucas linhas ali escritas, e um sorriso aberto surgiu.

- Este bilhete fez você lembrar de tudo? – seu rosto tinha um ar de incredulidade, sei que parecia pouco, mas para mim ele era muito importante, significava a descoberta de ter sido amada por uma vida inteira pelo único a quem amei de verdade.

- Este bilhete me mostrou que  eu o amava como ele me amava, e este bilhete me devolveu as lembranças, não apenas as deles, mas as de todos.

Ela me olhava agora com os olhos cheios de lágrimas me estiando o bilhete enquanto eu falava:

- Vou ver o Jake.

- Vai logo, o coitado não tem tido descanso desde que tudo aconteceu.

Eu sabia, me lembrava de forma vaga, mas lembrava, do olhar assustado, do rosto amargurado toda vez que me olhava, senti meu peito doer por continuar provocando tanta dor em alguém que sempre me fez muito feliz.

Dei um ultimo beijo no rosto dela e desci, a porta lateral do galpão estava fechada, bem como o portão grande que ficava na frente, mas não trancada, empurrei de leve e ela se moveu dando passada.

Lá dentro já havia muitas coisas, o ambiente estava limpo e quase todo pintado, bem iluminado e com algumas prateleiras nas laterais, ouvi vozes masculinas conversando e o som de um rádio, as motos deles estavam estacionadas no meio do imenso espaço central, caminhei lentamente em direção as vozes que vinham da peça que Jake havia determinado como escritório sentindo meu coração bater desesperado.

A porta do escritório estava aberta, Embry foi o primeiro que me viu, estava bem diante de mim, seu rosto se abriu levemente num sorriso,  logo depois Jake surgiu, limpando as mãos, meu coração disparou como se não o visse a anos, seus olhos escuros me olharam assustados, na espera, como se não soubesse como agir.

Tomei a iniciativa, corri em direção a ele colando nossos lábios, seus braços me apertaram com tanta força que era quase impossível respirar, comecei a chorar abraçada a ele molhando sua camiseta velha enquanto ele falava:

- Amo você!

Me movi apertando seu rosto contra o meu acariciando seu pescoço de leve e sussurrando:

- Amo você! Amo muito! Sinto muito o que aconteceu...eu não...- para variar as palavras não voltavam seguras e firmes como deveriam ele me interrompeu:

- Não foi sua culpa amor! – e me olhando bem continuou: - Mas é muito bom ter você de volta!

- É muito bom estar de volta, lembrar das pessoas que eu amo. – ele me beijou novamente me apertando contra ele, segurando meu rosto muito próximo.

Sorri ainda agarrada a ele, aquele era o meu lugar, entre aqueles braços, pensei  e por fim perguntei:

- Meu anel? Onde está?

Ele fez uma careta e falou:

- Está em casa, guardado, esperando pela dona.

- Bem, a dona dele o quer de volta.

- Seu pedido é uma ordem. – ele concluiu rindo e vi Embry se aproximar sorrindo e falando:

- Que bom que você está bem Bella!

- Obrigada Embry.  – falei apertando a mão dele enquanto Jake acariciava meu rosto.

- Jacob estava ficando maluco sem você.

Encarei o rosto do meu amor e falei baixinho:

- Eu sei, também estava ficando louca por não lembrar dele.

Jacob sorriu e falou:

- Isso passou, não vamos mais falar nisso!

Nos movemos abraçados e rindo, ele me ergueu num abraço apertado e só então vimos minha mãe que também entrara, Jake me colocou no chão e me segurando junto a ele foi em direção a ela, pela primeira vez vi as duas pessoas que tanto amo juntas e se dando bem, nesse momento quase agradeci pelo ocorrido, só lamentava o fato por ter causado tanta dor em Jake.

A partir daquele dia as coisas se acertaram melhor, lentamente foram se organizando, Edward mudou de vez para Seatle, realizar seu desejo de trabalhar no lugar dos seus sonhos, Alice decidiu viajar, fazer um tour pela Europa depois de ter organizado meu casamento do seu jeitinho, sento sua falta com certeza, apesar dos  acontecimentos com Jake, ela ainda é minha amiga.

A oficina de Jake e Embry vai muito bem obrigada, eles tem cada dia mais clientes,  e eu, bem, resolvi fazer um curso de administração, já que meu marido e seu sócio precisariam controlar as finanças.

- E então?

Senti uma mão sobre meu ombro me afastando de meus pensamentos, a voz rouca bem perto do meu ouvido:

- Será que ela gostou?

Olhei o rosto corado de minha pequena filha brincando com a prima num carro montado pelo pai e por tio Embry, e  comentei puxando seu braço para mais perto:

- O sorriso no rosto de sua filha não responde para você Jake?

Ele me puxou colando meu corpo no dele, estávamos na fazenda, diante da nossa casa, construída bem perto de meus pais e de Billy, bem no meio do jardim onde plantamos uma árvore e onde meu antigo balanço feito por Jake estava agora, afaguei o rosto bronzeado com a ponta dos meus dedos e sorri enquanto ele constatava com os olhos fixos na sua outra mulher favorita:

- Ela é tranquila.

Observei nossa pequena, os cabelos negros e lisos amarrados num rabo de cavalo, sorrindo e acenando para nós, acenei para ela e jogando um beijo  comentei:

- Isso pq ela não tem um companheiro de brincadeiras como o que eu tinha.

Jake riu alto e falou:

- Se aparecer um desses por aqui vou correr.

Desta vez fui eu quem riu, e me movendo novamente colei meus lábios nos dele aspirando meu aroma favorito o cheiro do meu  marido.

- Você não vai poder controlar isso papai ciumento!

Cochichei roçando a ponta do meu nariz no pescoço dele.

- Eu sei.  – afirmou sorrindo e continuou, se afastando e me olhando nos olhos agora: - Se a pessoa que ela escolher a fizer tão feliz quanto você me faz, vou ficar satisfeito.

Isso era verdade, nossos momentos eram sempre felizes, mesmo quando tínhamos dificuldades, problemas, elas eram superadas através do amor que tem nos unido por todos esses anos, ele tem sido nosso apoio para todas as horas.

- Amo você! – ele falou baixinho com os lábios colados nos meus.

- Amo você também! – confessei mais uma vez aceitando seus lábios macios.

Me apertei contra ele encostando meu rosto em seu peito, ouvindo as batidas de um coração tranquilo e feliz, aquele som era um eco do meu, observei  Sarah e minha pequena Karen, sorrindo felizes, o sol começava a se pôr e minha mãe surgia do outro lado junto com Ana, elas traziam alguma coisa, talvez pêssegos, já que era estação deles, suspirei sorrindo lembrando do episódio do beijo sob a árvore e observei levemente o rosto de Jacob.

-  Mais um dia. – pensei,  esse seria mais um dia de felicidade com minha família  na minha vida imperfeitamente perfeita!


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Notas finais do capítulo

Este é o último, espero q esteja satisfatório!!!
bjs e até uma próxima história!!!



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