Dormi com os olhos cheios de lágrimas e uma curiosidade como nunca antes. Dia seguinte fui para a escola junto a minha mãe. Entrei para minha aula e ela para a sala da coordenação. Na hora do intervalo ela já havia ido embora, sorte minha, não estava a fim de encara-la. Alguns insultos rolaram, nada de muito novo, assim como Alessandra, fiquei calada dessa vez. Deixei Bárbara falando sozinha, fui conversar com Pedro. Ele era um menino encantador, tinha um papo legal, era engraçado, não era um Deus grego mas não era um mostro, me passava uma confiança inigualável. Nossa amizade foi crescendo de uma forma incrivelmente assustadora! Em pouco tempo nos tornamos melhores amigos. Começaram a rolar boatos que eu gosta dele e vice-versa, ou então que estávamos namorando, tudo uma grande mentira...

Cheguei em casa e o clima estava tenso. Minha mãe brigou comigo por eu estar entrando em brigas, fiquei uma semana sem computador (não adiantou muito, eu continuava entrando) e duas semanas sem chocolate.
Os 15 dias se passaram e a diretora me chamou na sala dela:
–E então?
–E então o que?
–Deixe-me ver.
–Ah o.k.- Levantei a barra de minha calça, e mostrei meus braços. Apenas as cicatrizes antigas... Mal sabia ela que eu estava me cortando em outros lugares.
–Tudo bem então, foi o combinado, não vou falar com sua mãe.
–O.k. Tchau.- Sai da sala daquela mulher, ela parecia estar me observado a todo momento.

Voltei pra casa com Pedro e Alessandra. Ao chegar, peguei minha lâmina e passei pelo meu pulso, aquilo me proporcionava extrema sensação de alivio, como isso me fez falta. Aquilo havia se tornado um vicio. Prometi a mim mesma que não ia mais fazer aquilo. Duas semanas se passaram, eu não havia feito mais nenhum corte em meu corpo. Até que... Tive uma discussão com uma amiga virtual, ela se decepcionou comigo, odeio decepcionar os outros; a noite, lá estava eu, com a maldita lâmina na mão, repedindo a mim mesma "Só mais uma vez. Eu prometo."
Os dias seguintes passei normalmente, nada de novo, nada demais. Até um mês depois. Estávamos na aula quando somos chamados para uma palestra. O tema? Cutting. Achei que era brincadeira ou algo assim. A palestra acabou na hora da saída, fui pra sala arrumar meu material, a sala toda já tinha ido embora, quando eu me viro, um dos palestrantes está me olhando.

–Oi?- Perguntei assustada.

–Oi....

–Não vai falar nada? Tenho hora.

–Ah sim. Porque está com essa blusa de manga comprida? Está tão quente.

–É que estou um pouco resfriada, tive febre ontem a noite, acho que ainda estou febril.– Ele pegou e colocou a mão em minha testa.

–Não parece.

–Que bom, já deve ter passado.

–Ok, agora, me conta a verdade.

–Como assim?

–Deixe-me ver seus pulsos.

–E porque diabos eu faria isso?! Eu hein.- Sai empurrando o homem, ele me puxou de volta.-Quem você pensa que é?! Me solta, você não tem autorização para fazer isso.

–Na verdade, tenho sim.

–Ah é?! De quem?!

–Da sua mãe.- Fiquei chocada, então era essa sua ideia.

–Você é louco, só pode. Socorro!!!- Gritei.

–Não adianta gritar, os professores sabem quem eu sou e sabem que você está comigo.

–Você é um psicopata... Já que não tenho outra escolha...- Levantei minha blusa e a barra de minhas calças. Eu estava com lágrimas nos olhos.

–Era o que eu imaginava. Vamos te dar um mês, caso contrário, te levamos para uma clínica psiquiátrica.