Corri até a cozinha sendo guiada pelo cheiro delicioso e a vontade de vê-la.

Parei perto da bancada de mármore sorrindo. Lá estava ela.

– Grace! – pulei em seus braços.

– Olá querida Liz – disse com sua voz calma e doce.

Grace é o tipo certo do tipo errado de avó. Sim, ela é minha avó e também uma espécie mais conservada de Madonna. Grace era loira. Seu cabelo parecia ser branco dependendo da luz, mas era loiro dourado num tom bem claro, ela adorava seu cabelo. Assim como minha mãe ela havia sido modelo quando mais nova e agora, depois de aposentada, mantinha seu guarda-roupa atualizado de forma bem exótica. Quem a vê pode pensar que é alguma cover de Madonna ou Lady Gaga, mas ela é só minha avó que gosta de tons chamativos de rosa e amarelo.

– Estava com saudades – admiti.

– Oh mi niña, como você está crescida!

– Grace estou enlouquecendo! Eu quero que minha mãe volte logo – lágrimas esquecidas voltaram aos meus olhos.

– Mi niña – gentilmente ela secou uma de minhas lágrimas e beijou minha testa – O que você acha de ao invés de chorar comer alguns pedaços de bolo com a sua abuelita no sofá?

Grace tinha uma magia especial para me convencer a parar de chorar, sempre foi assim e sempre será.

Sentamos no sofá com nossos pedaços de bolo. Depois que ambas comemos em silencio eu desabei nos braços dela chorando. Aos poucos me acalmei e contei a ela tudo que aconteceu desde que saímos de Sparks, falei sobre minha depressão e meus amigos.

Ela me encheu de conselhos sobre como devia me comportar, disse também que eu deveria ter ligado pra ela na época da depressão e quando me ouviu falando sobre a fuga de hoje do hospital ligou imediatamente pro meu pai que já estava chamando a policia. Outras coisas aconteceram, mas eu me esqueci, a última coisa que me lembro é de ter adormecido no colo de Grace ouvindo uma música de ninar.

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Acordei magicamente na minha cama como quando era pequena, isso é meio que um trauma meu pois quando era menor sempre dormia no sofá e acordava na cama do nada. É como se alguém pegasse uma das varinhas dos bruxos do Harry Potter e usasse um feitiço pra que eu flutue até o meu devido lugar. Assustador.

Olhei pro meu reflexo no espelho e me segurei para não gritar de pavor. Meu cabelo estava no seu pior dia e parecia que eu havia levado um choque enquanto dormia. Peguei minha escova de cabelo pronta para começar a guerra entre mim e os nos rebeldes que pareciam dominar cada centímetro cúbico de cabelo que eu tenho.

Desisti na metade do trabalho quando vi que mais de um terço do meu cabelo estava preso na escova ou caído no chão. Sai do quarto com exatamente metade do cabelo arrumada e a outra do jeito que acordei.

– Bom dia minha niña – Grace me encarou por um tempo com olhar de pavor- O que houve com seu cabelo?

– Ele resolveu ser um menino rebelde hoje – dei os ombros.

– Prima minha não anda com o cabelo assim.

– Mas Grace eu sou sua neta – pude sentir uma gota se formando atrás da minha cabeça.

– Xiiiu querida, quer que todos saibam? – pos o dedo sobre minha boca – Você não quer que eu fique com fama de velha, quer?

Balancei a cabeça de forma negativa, era o melhor a se fazer caso eu queira preservar minha vida, e a segui para a cozinha onde uma bela fornada de cookies me aguardava.

– Você sabe que devia ter ficado ontem no hospital, não sabe?

– Sim – sentei-me á mesa – E a senhora sabe que eu não aguentaria, não é?

– Senhora está no céu, amém. O que houve com você e seu irmão idiota depois que se mudaram pra cá? Parece até que se esqueceram que eu ainda estou na flor da idade.

Oh, claro. Quase 60 anos realmente ainda é a flor da idade, pensei.

– Desculpe, Grace.

Ela sorriu aprovando minha forma nenhum pouco respeitosa de chama-la.

– Sua mãe foi operada e agora está bem.

– Ainda bem – suspirei aliviada mordendo um cookie em seguida – Acho que vou visita-la.

– Não. Sem visitas – bebeu um gole de seu chá.

– Por que? – perguntei assustada – Algo não deu certo?

– Não querida, tudo foi perfeitamente bem – sorriu de forma doce – Acho que você se esqueceu que dia é amanhã.

– Amanhã? – mentalmente vi a minha agenda pro resto do ano. Não tinha compromisso nenhum.

– Sim, esqueceu que suas aulas voltam amanhã?

Droga.

– A-Amanhã? É brincadeira?

– E eu lá sou de brincar com coisa seria menina? Posso ser uma senhorita, mas levo muitas coisas a serio e uma delas é a educação.

Fiz uma série de estranhos barulhos em sinal de desgosto.

– Mas Grace...

– Sem “mais” nem “menos”, você vai amanhã e seu irmão também. Férias não são eternas sabia?

Bufei irritada. Mordi um pedaço de cookie que agora estava menos delicioso, mas ainda estava melhor que o da minha mãe. Subi pro meu quarto e tomei um bom banho ouvindo Pierce The Veil.

Quando sai vesti a blusa de coelho zumbi que havia roubado do Andrew nos tempos da depressão, minha calça xadrez e calcei meus all star vermelhos.

Nem parece que até três meses atrás eu e Andrew estávamos nesse quarto comendo croissants e conversando sobre música. Hoje em dia ele provavelmente tentaria me estrupar.

Arrumei o cabelo que estava menos rebelde depois de ser lavado com meu xampu do Bob Esponja e fui esperar Grace na garagem. Eu cuido muito bem do meu cabelo lavo ele com xampu que vem sem sal pra ele não ter problema de pressão.

Grace veio usando uma roupa amarelo você-consegue-ver-da-esquina com pintinhas pretas e sapato amarelo. Ela parecia uma banana gigante.

– Vamos comprar os materiais escolares da minha niña – apertou minhas bochechas.

Tenho quase certeza que ela levou um pedaço junto.

Durante nossa viagem no carro rosa de Grace (sim, ela realmente tem um carro rosa como o da Barbie) passei cada minuto mandando mensagens para Andy enquanto Grace me falava sobre as ultimas tendências de maquiagem para adolescente.

“ Você se deu mal. Sorte que eu já comprei o matéria do Saitine.”

“ Joga na cara mesmo, que belo amigo você”

“ KKKKKK Eu sei que você me ama. Meu material é lindo “

“ Algum dos seus cadernos é de desenho?”

“ Não”

“Então o seu material é um lixo”

“ Me desculpa senhora otaku ‘fodona’, perdoe-me por ser um mero mortal que não tem caderno da sessão infantil”

“ Pensarei no seu caso “

“ Se eu te beijar ajuda a pensar mais rápido? ”

Senti minhas orelhas queimarem de vergonha. Grace notou e sorriu para mim.

– Hum, o que a minha niña esta falando?

– Nada abuelita – disse rapidamente.

Ela não perguntou mais nada e voltou a falar sobre maquiagens e tendências de moda que eu nunca seguirei.

Comprei todos os materiais que precisava inclusive as bíblias em forma de livro e voltamos para casa com o porta-malas e o banco de trás do carros cheios.

Uma parte tinha meus materiais, livros e um daqueles bichinhos que cresce quando você coloca na água. No resto tinham roupas, maquiagens e até algumas caixas de sapato que Grace viu enquanto me esperava fazer as compras.