Assim que entrei em casa vi um envelope branco, que provavelmente havia sido passado por debaixo da porta, no chão. Será que esse anônimo das cartas não podia escolher um dia pior pra me mandar uma ?

Peguei o envelope, fechei a porta e subi pro meu quarto.

Depois de tomar um bom banho daqueles em que você mais chora debaixo do chuveiro e pensa em teorias sobre a criação do universo do que esfrega o corpo com sabonete, liguei o meu aparelho de som numa rádio aleatória e resolvi abrir o envelope.

“Querida Jullie,

Desculpe-me se pareço ser uma pessoa intrometida por dizer, ou melhor, escrever o que escreverei aqui, mas acho importante mostrar que me importo com você.

Sinto muito pela sua mãe.

Gostaria de dizer também que sou uma espécie destalker,sou apenas uma pessoa com acesso a internet que viu noticias sobre o acidente.

Espero que esse não seja um momento muito ruim para alerta-la sobre os perigos que te cercam pequena Jullie. Acredite, eles são muitos.

Você anda com as pessoas erradas, sabia?

Confia nas pessoas erradas.

Tem gente querendo te controlar.

Tem pessoas querendo se vingar de você.

E tem eu, alguém que se importa com você, mas nada pode fazer para te ajudar.

Sinto muito por isso.

Com amor,

Eu.”

Reli a carta no mínimo três vezes e depois me deitei olhando o branco do teto branco do meu quarto branco. Branco.

Por que em todos os lugares sempre tem alguma coisa branca?

Essa carta foi tão diferente da primeira, foi quase como se tivesse sido escrita às pressas, até mesmo a letra dela está diferente menos desenhada e mais apresada.

Resolvi ignorar por alguns minutos a carta e o que ela deveria significar e apenas prestei atenção na música que tocava na radio.

Era estranho para eu ouvir uma música tão pop e gostar dela, mas essa me conquistou, posso sentir isso.

A música é como uma confissão, o cara diz pra garota que ama cada pequena coisa nela como a mão dela que se encaixa na dele, as sardas do seu rosto e o fato de que ela odeia a sua voz gravada. Eu ri nessa parte. Ele também fala sobre ela odiar saber seu peso e coisas como “você fala enquanto dorme por beber chá antes de se deitar”, achei engraçado e sincero, me lembrou da famosa frase da minha saga favorita de livros.

 “Você baba enquanto dorme”

Pra mim uma coisa dessas é muito mais especial que qualquer tipo de declaração de amor.

Outro Fato sobre mim:Coisas pequenas me deixam feliz.

Acho que por isso não estava feliz mesmo antes do acidente. As pessoas não demonstram o que sentem com coisas pequenas como poemas ou dizendo que se lembrou de mim ao ouvir uma música. De alguma forma me sinto feliz agora que ouvi essa canção e quero saber quem a canta, quem a compôs e qual é a sua história, seu significado, infelizmente o locutor anunciou as próximas músicas que tocariam e talvez eu nunca saiba o nome dessa música “animadora”.

Céus, como sinto falta das coisas pequenas que me fazem sentir amada! Os cupcakes com pokebolas mal desenhadas da minha mãe, as provocações do Andy e até as piadas idiotas que o Frank fazia misturandoJullieeJude. Acho que é por sentir tanta falta dessas coisas que estou me sentindo tão afetada pelo acidente da minha mãe.

Impulsivamente peguei meu celular e liguei pra primeira pessoa que nesse momento pode me ajudar a pensar direito

- Alô – só pela sua voz já vi que ele estava dormindo.

- A-Andy.. Sou eu

- J-Jullie? – agora o sono havia sido trocado por surpresa em sua voz – O que aconteceu? Você desmaiou e o seu irmão idiota me expulsou do hospital.. Você esta bem?

- Não sei dizer, estou confusa. E-Eu posso ir te ver? – mesmo falando com ele pelo telefone senti que fiquei um pouco corada.

- Claro. Eu estou em casa agora, pode vir aqui?

- Sim, já estou indo. Até mais – desliguei o celular

Só agora notei que ainda estou de toalha senti uma gota imaginaria se formando atrás da minha cabeça e resolvi vestir algo confortável.

Peguei uma calça preta, uma blusa gigante de caveira que eu roubei do Lucca há alguns anos atrás e calcei meus all stars vermelhos que já estão surrados e velhos, mas eu ainda amo.

Caminhei lentamente até a praça onde vi Andrew na primeira vez que fui até a casa dele, sorri com a lembrança. Pena que meu sorriso logo desapareceu quando vi o que não queria.

- Oi Jullie – ajeitou seus óculos estranhamente grandes e sorriu.

- Oi Gregory – disse ríspida.

- Eu ia te perguntar se está bem, mas vi as noticias na internet então já imagino a resposta.

-É.

- Você está estranha.

- Por que será né? – revirei os olhos- Olha Gregory, eu não vou cair no seu truquezinho imbecil de se preocupar comigo porque eu sei que você está pouco se fodendo pra mim. Você provavelmente está aqui para me ver e depois contar como estou acabada pra sua irmãzinha Jessie.

- Eu não faço o trabalho sujo da Jess.

- Não faz? E o que você fez com o Andrew foi o que? Brincadeira?

Por um segundo me xinguei mentalmente por ter dito isso, mas depois de ver que isso havia o afetado quase sorri de maneira vitoriosa. Quase.

- Aquilo foi um erro, eu era jovem e bobo demais ela me influenciou a fazer aquilo. Eu sinto muito por aquilo até hoje.

- Oh, conquistou um pouco de moral comigo assumindo seus erros, parabéns – bati palmas e comecei a andar novamente.

Ele segurou meu braço.

- Escute Jullie, eu não faço mais o trabalho sujo da Jessie porque outra pessoa está fazendo isso.

- E o que eu tenho haver com isso?

- Eu acho que quem está fazendo o trabalho sujo pra ela agora é o Thomas.

- O Thommy?

- Sim, ele sempre foi louco pela Jess e eu vi os dois juntos. Jullie, não acredite nele. ou melhor, não confie em ninguém. Ela quer acabar com você.

- POR QUE ? – não me contive e gritei – Por que ela quer acabar comigo entre todas as pessoas do universo?

- Porque vocês eram amigas.