Narcysa Lannister: A Leoa em Pele de Cordeiro

– Tenhas respeito, eu não sou apenas sua esposa, Aegon, sou sua rainha!

– Estou cansado Daenerys, cansado de vez por outra ser humilhado perante todo o meu povo. Meu pai pode ter reconhecido Jon como seu filho mas isso não o faz menos bastardo, Rhaegar não podia se casar com Lyanna, pois era casado com a minha mãe! Mas ainda assim você o coloca acima de mim! Quando aceitei sua proposta pensei que seriamos tratados como iguais!

– Eu nunca o desmereci – sussurrou a rainha ultrajada.

– Tampouco me honrou como honra a ele! – retrucou Aegon – Não permitirei que minha única filha se case com aquele garoto, Rhaenys merece alguém a altura dela. E não um Príncipe Bastardo.

– Aquele garoto, o Príncipe Bastardo, é meu filho! – vociferou a rainha de olhos semicerrados, Aegon não recuou.

– A simples presença dele aqui me humilha! Ninguém é cego a ponto de não perceber que ele não é um Stark, ele é uma mancha em nossa família, Daenerys, um bastardo, uma vergonha, uma desonra!

Aegon deu as costas a ela.

– Admita, você nunca me amou, nem nunca me amará como ama ao meu irmão.

– Isso não é verdade. No início talvez fosse, mas agora... Não. Agora eu amo você também Aegon, você é meu consorte, pai de dois dos meus filhos, uma das cabeças do dragão.

– Então jure! Jure pelo amor que tem à mim, pelos Sete, pelo Deus Vermelho, pelos deuses antigos e qualquer outro deus que existir. Jure que não casará a minha princesa com Drogo Stark. Eu não posso suportar o fruto da minha desonra sentado no trono dos meus antepassados ao lado da minha filha.

– Se isso faz você se sentir melhor, meu querido, eu juro. Drogo será Lord de Winterfell depois do tio e nada mais do que isso. Rhaenar será meu herdeiro e se casará com Lyanna. Rhaenys se casará com Benjen ou qualquer outro digno dela.

Ela observou enquanto Drogo recuava, obviamente ferido pelas palavras da rainha, que não tinha consciência de que estava sendo observada. O pobre bastardo desejava ser um príncipe, achava que um dia se sentaria no Trono de Ferro. Narcysa sorriu em escárnio, isso jamais aconteceria.

Entretanto as palavras da rainha iriam também contra seus próprio planos, suspeitava que ela planejava casar seus filhos. Mas, ainda assim, seu maior desejo, se os deuses fossem bons, era ser rainha. Ela era filha de uma rainha, portanto merecia se tornar uma.

O Príncipe Bastardo se afastou indo em direção a sua tenda, provavelmente se preparar para a justa que se seguiria. Cys quase podia ler seus pensamentos, ele queria se provar digno para sua mãe, queria provar que tinha capacidade de sentar no Trono de Ferro. Pobre bastardo.

Seus olhos se dirigiram então para a Guarda da Rainha, composta apenas por mulheres, entre elas, Brienne d’Tarth. Narcysa conteve um careta ao vislumbrar aquela aberração, uma mulher com traços masculinos vestida de armadura, um ser que não conhecia seu lugar na sociedade. Crescera ouvindo que aquela era sua mãe, mas torcia em seu íntimo para que na verdade fosse filha de Cersei.

Aos olhos de muitos Brienne poderia parecer forte, uma guerreira, mas Narcysa sabia a verdade, ela era um ser fraco e estúpido, tal qual seu pai Jaime Lannister, dois idiotas que haviam sucumbido perante a ilusão do amor. Narcysa tinha vergonha de seus pais, desprezo por eles... Brienne nascera para ser nada, e nunca passaria disso. Mas Jaime Lannister, este havia nascido para ser Lord de Casterly Rock, mas abriu mão do direito para ficar perto de sua irmã e amante. Se tornou um Membro da Guarda Real e matou o Rei a quem deveria proteger, se tornou Lord Comandante da Guarda Real de sua irmã, mas permitiu que esta morresse também. Teve inúmeras chances de assumir seu posto no Jogo dos Tronos, mas escolhera o exílio, havia nascido para a grandeza mas escolhera a ruína. Um fraco. Preferia pensar em Cersei como sua mãe, esta sim havia sido grande, havia sido uma rainha, uma mulher que tivera o mundo aos seus pés...

Mais distante ainda estava seu irmão, Renly, o desprezava tanto quanto detestava os próprios pais. Ao contrário dela, ele era obviamente filho de Brienne, possuía o mesmo queixo grosseiro e nariz adunco, sendo ligeiramente atenuados pela beleza que puxara do Regicida. E também ao contrário da irmã, Renly era ingênuo, um garoto tolo que realmente acreditava em amor e amizade, um sonhador como Brienne.

Narcysa sabia que amor era uma forma bela de se dizer sexo, e amizade era um nome delicado para interesses. Tyrion a transformou em uma jogadora, Brienne em uma guerreira. Narcysa sabia manejar uma espada tão bem quanto o irmão, tanto que fora ela quem ganhara Oathkeeper. Quando tinha nove anos, Brienne propôs que os irmãos tivessem uma luta com espadas de torneio, o vencedor seria herdeiro de Oathkeeper; ao fim do assalto Renly estava no chão e ela suada empunhava a espada de madeira contra sua garganta, ele a acusou de trapaça, é claro que estava certo, mas não podia provar.

Cys sorriu com a memória, quando partiu de Tarth em direção a Casterly Rock Brienne lhe dera a espada, que agora estava atada a sua cintura, imperceptível, abaixo da roupa. Mas o vestido possuía uma pequena abertura para que ela pudesse sacá-la em caso de necessidade, algo que nunca acontecia. Narcysa sabia que a melhor arma que possuía era sua beleza e sua armadura era a cortesia. Com palavras doces e sussurradas no ouvido certo poderia tirar mais vidas que o sopro de Drogon.

Caminhou até seu lugar, reservado ao lado do tio Tyrion. O anão sentava confortavelmente ao lado de sua esposa, Tysha Lannister. Narcysa já tinha ouvido falar sobre ela, parecia tolice que alguém como a Mão se casasse com um a prostituta. Cys observara o quão carinhoso o tio era com Lady Lannister, mas ao contrário de Brienne e Jaime, esse sentimento não parecia cegá-lo ou deixá-lo vulnerável, o fazia mais forte, o que quer que ele sentisse por Tysha, Narcysa sabia que não era amor, pois amor enfraquecia e não o contrário.

À esquerda dos Lannister, estavam o Lord e Lady Hardyng do Vale, juntamente com suas três filhas, três meninas idênticas de doze anos com cabelos ruivos e olhos azuis. Nos braços da antiga esposa de seu tio, Sansa, estava o quarto filho, um menino de dois anos que um dia seria Lord do Eyrie. Os olhos de Cys se dirigiram para as trigêmeas, o motivo daquela família estar numa posição privilegiada era simples, a Mão pretendia casar Renly com uma das filhas do Eyrie.

Elas eram belas, uma miniatura da mãe, mas possuíam em seus olhos uma inocência que Narcysa não lembrava possuir, eram pobres crianças que pensavam que a vida era uma canção; Cys sorriu, só se fosse uma marcha fúnebre.

Seus olhos se voltaram para os cavaleiros, a justa havia começado.