A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 12
Sonhos Destruídos




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Meio-dia, uma hora depois de Vegeta sair do laboratório.


A mão coberta de pêlos grisalhos esticou-se para “conferir” se o conteúdo da minissaia justa era tão firme quanto parecia. Foi detida no caminho por um garfo.

Lentamente, o homem, já um tanto passado dos quarenta, ergueu os olhos para a garçonete que empunhava o talher. Dois olhos azuis, calmos e frios como a superfície de um lago, devolveram o olhar numa mensagem clara: " Vá em frente e terá de pagar um médico para extrair este garfo da sua mão." O homem estreitou os olhos, largou umas notas na mesa e se retirou, sem ao menos provar o bife com fritas que havia pedido.


Sem uma palavra, Sukie recolheu a comida intocada e levou-a para a cozinha. Ajeitou com indiferença algumas mechas de cabelos dourados que escapavam sob o boné de listras vermelhas e brancas; sabia que levaria uma bronca, mas subitamente não ligava. Havia arrumado aquele emprego há pouco mais de um mês, mas já estava cheia dele.

Ela e seu irmão, Jack, haviam fugido da Cidade do Sul, devido a complicações com gangues criminosas. Uma vida honesta e longe dos furtos e pequenos golpes parecia ser o melhor disfarce... mas também podia ser penosa e extremamente humilhante, quando não se tinha muito com que começar. Os melhores empregos exigiam diplomas e referências, coisinhas difíceis de serem obtidas por dois jovens criados em reformatórios e nas ruas. Sukie, que sempre quisera trabalhar com roupas, só havia conseguido um emprego de garçonete numa lancheriazinha que atendia pelo pomposo nome de “Delicius”


—Eu estou me lixando se ele era o nosso melhor freguês. Continua sendo um velho sujo, e já havia pedido pra não atender a mesa dele! — enfrentou furiosa o dono do bot... isso é, da lancheria.

Pela cor no rosto dele, a sua pressão devia estar subindo até o limite:

—Então agora as garçonetes decidem quem vão servir?! Aonde é que nós estamos! Se eu mandar você sentar no colo dos fregueses, você vai fazer isso, e sorrindo! Você praticamente está aqui de favor, por todo o prejuízo que me causou, eu já deveria tê-la despedido há muito tempo. Só não fiz isso porque tive pena de pôr uma moça tão bonita na rua... — terminou, com um olhar insinuante.

Sukie conteve-se com dificuldade para não bater naquele sem-vergonha.

—Não fui despedida porque este lugar ficaria de novo às moscas! Pela quantidade de moleques e velhos babões que já apareceram aqui desde que cheguei, eu deveria receber muito mais.


O patrão olhou-a como se ela tivesse criado mais duas cabeças. Mas seu tom de voz foi contido, embora cheio de veneno:

—Você já poderia estar ganhando mais se não se achasse boa demais para os nossos fregueses. Acha que esses “moleques”, como você chama, vêm aqui só pra comer bife com batata frita?

As bochechas pálidas de Sukie ficaram vermelhas. Preparou-se para mandar a prudência às favas e agarrar aquele homem nojento pelo colarinho , mas felizmente um estranho toque de buzina os interrompeu. No primeiro instante, ela achou que fosse impressão sua. Então, a buzina tocou de novo:um toque longo, dois toques curtos. O velho código dos tempos do orfanato. Sem pensar duas vezes, derrubou o homem com um empurrão e disparou para fora da cozinha. Um belo carro esporte azul-elétrico estava estacionado bem na frente da Lancheria Delicius, já cercado de garotas fascinadas.

Com mais sorte que a irmã, Jack conseguira um emprego de mecânico. Ele sempre tivera paixão por carros e armas, embora esse amor frequentemente pusesse os dois em encrencas. Era na verdade incrível que ele tivesse conseguido se manter tanto tempo naquele emprego, ainda mais cercado de tentações.

Empurrando as garotas para os lados, sem ligar para gritinhos e olhares feios, Sukie avançou na direção do rapaz moreno sentado ao volante:

—De onde roubou esse carro? — rosnou, sem ao menos cumprimentar.

—Ei, onde está a educação? — ele sorriu — Gente honesta não rouba, pega emprestado. Eu só estou me dando uma recompensa por ter deixado este carrinho como novo, já que só daqui a um mês vou receber uma miséria por todo o trabalho duro...

—Não me interessa a desculpa que arrumou pra matar as saudades da cadeia. O que quero saber é porque veio aqui me comprometer também?

Ele revirou os olhos:

—Oh, você sabe o que dizem sobre nós, irmãos gêmeos: se um está mal o outro sente. Senti que você deveria estar tão cheia quanto eu dessa vidinha chata e honesta, e louca por um pouco da velha emoção... — tamborilou os dedos no volante — Mas se você acha mais excitante continuar servindo hambúrgueres para coroas barrigudos... — a frase ficou em aberto, ainda mais que o patrão ofegante finalmente chegava à porta da rua:

—Sua vagabunda, não se atreva a fugir! Eu ainda não acabei! — urrou o homem.

—Pra mim já acabou! — a garota gritou de volta, livrando-se do avental e boné, e atirando-se na direção do homem, ao mesmo tempo que saltava para o assento ao lado do irmão. O bonezinho de garçonete cobriu a cara do dono do estabelecimento, numa pontaria certeira.

—Isso aí não é uma lancheria, é um bordel! — ela concluiu, saltando para o assento ao lado do motorista.

Jack pisou no acelerador com uma gargalhada.

**************

Algumas horas mais tarde…


O vento uivou no cânion devastado. As quatro figuras no céu permaneciam imóveis, dois se olhando frente a frente e os restantes a uma distância segura.

No solo, não havia nenhum sinal de vida, mas isso nada tinha a ver com a recente destruição causada; aquele sempre fora um lugar deserto. Felizmente, Goku pudera escolher o lugar da batalha, já que para Vegeta não faria diferença lutar num deserto ou num local habitado.

Não ainda, pensou o rapaz, embora uma ínfima parte sua criticasse tanto otimismo. O que lhe dava tanta certeza de que Vegeta acabaria se regenerando?

Os dois homens se encararam, ofegantes, os músculos retesados, sem perder o menor movimento um do outro. Era apenas uma questão de segundos até que voltassem a se atracar.

A uma distância relativamente segura, Gohan retinha a respiração, como se receasse que o som pudesse recomeçar a batalha. Por que aquilo estava acontecendo? Há poucas horas atrás, estava tudo tão bem! Estava no quarto, esperando a mãe terminar de estender a roupa no varal antes de vir corrigir suas lições. Com sorte, se ela não lembrasse de mais alguma coisa que precisava ser estudada ou revisada, poderia sair para pescar. E se ela lembrasse... bom, seu pai daria um jeito. Então, um grito agudo veio do quintal. Reconhecendo a voz da mãe, Gohan pulou a janela e correu até os fundos da casa, que davam para o mato. No momento seguinte, a sensação que teve foi de ter caído num de seus pesadelos.

Vegeta estava parado no meio do quintal, exigindo aos berros que "Kakaroto" lutasse com ele. Goku apenas o olhava, chocado e confuso. Chichi, branca de pavor, escondia-se atrás da tina de lavar roupa, mas, ao ver Gohan chegar, precipitou-se sobre ele, tentando protegê-lo com o próprio corpo.

Goku tentou argumentar, mas Vegeta silenciosamente virou a palma da mão para Gohan e Chichi, deixando bem claro o que faria se o rival não lutasse com ele. Goku silenciou e fechou o rosto, zangado, depois concordou com a cabeça. Então, os dois partiram. Gohan levou quase um minuto para se desvencilhar de sua histérica mãe, que tentava arrastá-lo para dentro de casa, e saiu no encalço deles. Quase em seguida, encontrou Piccolo, que viera atraído pelo ki de Vegeta. Agora, os dois estavam ali, assistindo a uma batalha aparentemente sem sentido. Lançou um olhar para seu mentor. Este parecia feito de pedra, mas Gohan sentia que ele também estava preocupado, por razões que nada tinham a ver com a segurança de seu papai.

O cabelo de Goku parecia feito de chamas, seus olhos estavam azul-piscina. Por exigência de Vegeta, estava lutando como Super Saiyajin. E, embora a desvantagem do príncipe fosse óbvia, ele estava atacando com tudo o que tinha. Conseguira até machucar Goku um pouco, embora houvesse sofrido danos bem maiores.

Um lento sorriso se desenhou no rosto de Goku. Apesar da situação, se sentia excitado.

—Você não estava brincando quando disse que ia se empenhar, Vegeta. Está bem mais forte do que quando lutamos contra aqueles soldados em Namek.

Vegeta limpou o sangue que escorria pelo canto da boca.

—Hum. Acha que me sinto lisonjeado pela sua condescendência?— praticamente cuspiu a última palavra.


—Condescendência? — o queixo de Goku caiu.

—Não me olhe como se eu tivesse caído da lua. Sabe muito bem do que estou falando, Kakaroto! Sei que você se acha melhor do que eu.


Goku abanou a cabeça, com sincera inocência:

—Francamente, não sei do que você está falando.

As veias na testa de Vegeta começaram a inchar:

—Acha que eu não sei que está tentando me enganar? Eu não sou idiota! Você ainda não usou nem METADE do seu poder! O que está esperando?

À medida que a compreensão abria caminho no cérebro de Goku, uma série de expressões que iam da confusão até o horror se estamparam em seu rosto. Seria engraçado, se a situação não fosse tão séria.

—Mas... não posso fazer isso! Você não compreende? Estou forte demais agora. Nem no meu estado normal eu consigo controlar a minha força ainda (lembrou o modo como Chichi atravessara a parede da casa por causa de um "tapinha" seu), quanto mais como Super Saiyajin. Se eu usar todo o meu poder contra você, posso matá-lo!

Piccolo partilhava da mesma preocupação. Se ele morresse, refletia o namekuseijin, ninguém perderia grande coisa. O problema era que Vegeta não podia morrer antes de engravidar aquela mulher, Bulma, ou Trunks não nasceria naquela linha de tempo e as conseqüências poderiam ser catastróficas. Obviamente, Goku estava pensando a mesma coisa. Por duas vezes ele já se entusiasmara demais e só no último instante se refreara para não ferir Vegeta gravemente. Não tendo como saber a verdadeira razão daquele cuidado, obviamente o miserável concluíra que era a bondade do rival que o impedia de atacar pra valer. E isso, claro, o humilhava.

—Minha paciência está no fim. Se não vai fazer o que estou mandando, eu vou obrigá-lo! — estendeu o braço na direção de Gohan e Piccolo. Uma violenta rajada saiu da palma de sua mão.

—NÃÃÃOOO !! — Goku teleportou-se para socorrer os dois, mas antes mesmo que chegasse lá, Piccolo já havia empurrado Gohan para a esquerda e voado para o extremo oposto. Goku teve de se teleportar de novo para não ser atingido.

Olhou para Gohan e Piccolo, certificando-se que estavam bem, depois lançou um olhar duro para o outro homem de sua raça. Ao ver pessoas atacadas de maneira tão gratuita, ainda mais pessoas de quem ele gostava, sumia-se toda a inocência e ingenuidade de seu rosto. O rapaz desajeitado e brincalhão dava lugar ao guerreiro. Seu ki já estava subindo, e Vegeta esboçou um sorriso. Sabia que havia atingido o alvo.

—Vegeta... isso não tem graça. Você poderia ter matado meu filho e Piccolo!

O sorriso do príncipe se alargou. Uma segunda bola de ki se formou em sua mão:

—É exatamente o que vou fazer, se você não fizer o que eu estou mandando.

—Eu não vou deixar! — urrou o Saiyajin mais jovem. "Piccolo! Gohan! " mandou uma mensagem telepática para os dois "Saiam daqui imediatamente... ou pelo menos, fiquem bem longe de nós."

Sabia que eles não iam querer abandoná-lo, mas pelo menos poderiam baixar seus kis e se esconder de modo que Vegeta não os detectasse. Os dois espectadores concordaram com a cabeça e se afastaram rapidamente. Antes mesmo que desaparecessem, Goku já estava elevando o seu ki.

—Muito bem, Vegeta. Se é poder que você quer, então lá vai!

O Saiyajin mais velho riu, satisfeito, e começou a subir também sua própria energia. Os corpos dos dois homens que flutuavam no ar se cercaram de ondas douradas que vibravam em ziguezague. A terra começou a tremer. Piccolo e Gohan tiveram várias vezes que se desviar ou quebrar rochas que caíam, enquanto fugiam para cumprir a ordem de Goku.

—Esses idiotas vão acabar destruindo tudo! — resmungou o mentor de Gohan, pulverizando um bloco de pedra com um raio antes que este os atingisse.

Indiferente ao caos que estavam causando, Vegeta explodia numa gargalhada insana de vilão:

—Isso! Mostre-me toda a sua força! Mostre-me o verdadeiro poder do Super Saiyajin!

—HAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!! — os dois gritaram em coro, os músculos inflando, os cabelos movendo-se como se agitados por um tufão.

***


De outros pontos do mundo, os guerreiros da Terra largaram o que estavam fazendo e ficaram paralisados de espanto e preocupação, acompanhando a energia que parecia não terminar de subir. Em um cinema da Cidade do Oeste, Kuririn subitamente deixou cair o saco de pipocas, bem na hora que ia passá-lo para Oolong. As pipocas se espalharam pelo chão. O porquinho reclamou, e só então viu que o rosto de Kuririn brilhava de suor, refletido pela luz da tela.

—Você está se sentindo bem? — indagou, assustado.

—O-O que Goku está fazendo? — gemeu o pequeno guerreiro para si mesmo, ignorando o amigo.

***

Mas não era necessário sentir ki para perceber os efeitos da competição dos dois Saiyajins. Embora Goku houvesse escolhido um lugar deserto, a vários quilômetros do local da batalha havia uma auto-estrada, ladeada à esquerda por um extenso paredão de rochas. Como era dia de semana, felizmente, não havia muito movimento... exceto por um pequeno carro azul.

—É isso que você chama de excitante?_ Sukie bocejava naquele momento, deitada no banco de trás — Vagar por uma estrada deserta que não acaba nunca?

—A emoção é justamente nunca saber o que vai acontecer depois — disse o irmão, bem-humorado — Eu sempre esqueço que você não é capaz de entender isso.

—Humpf! Se chama de emoção a gente não saber se vai ter o que comer ou morrer de fome, ou se vai ser detida pela polícia...

Uma trepidação interrompeu a conversa. Jack parou de sorrir:

—Sentiu isso?

—É o carro. — Sukie bocejou de novo.

Houve um segundo tremor, que sacudiu todo o carro. Ela se sentou, alarmada. Mas mesmo antes abrisse a boca, olhou na mesma direção que Jack. Uma parte do barranco, a alguns metros à frente deles, estava rachando. Jack usou os freios no momento em que uma chuva de pedras e terra caía à frente deles. O carro fez um “cavalo de pau”, mas as pedras já despencavam também por trás e acima deles. Foi tudo muito rápido. Seus gritos foram abafados pelos estrondos causados pelo horrível desmoronamento, que se repetiu em vários lugares que circundavam o local da batalha. Por isso, nem mesmo os ouvidos sensíveis de Piccolo detectaram o acidente.

Mas em um lugar bem longe dali, uma pessoa percebeu, graças a satélites que acompanhavam toda a luta em vários ângulos diferentes. E não perdeu tempo.

Muitas horas mais tarde, aquele ponto da estrada estaria cheio de carros da polícia e bombeiros. O dono da oficina onde Jack trabalhava identificaria os restos do carro que fora roubado; mas do rapaz e sua irmã, não encontrariam nem sequer um fio de cabelo. A partir daquele momento, Sukie e Jack haviam deixado de existir.

*****

Sem saber da tragédia que haviam involuntariamente causado, os dois guerreiros pararam de gritar e se olharam novamente. Vegeta tinha agora um nível de força quase igual ao de Freeza. Aquilo era mais poder do que ousara sonhar nos velhos tempos, e por alguns instantes sentiu uma pontada de orgulho pelo resultado de meses de treinamento. No entanto, seu cabelo e olhos continuavam negros, e não precisava de um espelho para saber disso. Lançou um olhar cheio de ódio para o adversário. Por que aqueles que não mereciam recebiam tudo numa bandeja de prata? Bom, talvez no calor da batalha as coisas mudassem. Ele logo saberia. Sem esperar mais, atirou-se na direção do oponente.

Trocaram socos e pontapés durante alguns momentos. Vegeta compensava sua desvantagem em força com habilidade e truques sujos, mas tinha de admitir que o ataque de seu oponente se tornara mais pesado e rápido. Os golpes dele eram agora bem mais dolorosos e difíceis de evitar; para piorar, o príncipe também estava ficando cansado, apesar da sua obstinação. Começou a cometer erros, Goku aparou vários golpes dele facilmente.

—Vegeta, você não está aguentando mais. Por que não paramos com isso?

—CALE A BOCA!!!

Usando sua supervelocidade, Vegeta passou atrás de Goku e deu-lhe um golpe nas costas. O rapaz quebrou o corpo, e usando o mesmo truque de Vegeta, deu-lhe um chute que o mandou para longe. Em represália, o príncipe armou as mãos em forma de taça e disparou a rajada mais forte que podia, não na direção de Goku, mas da Terra.

Como esperava, o adversário furioso prontamente desviou o disparo com um rápido kamehame-ha. Vegeta preparou-se para repelir a energia mandada de volta para ele, mas logo percebeu que havia calculado mal. Estava esgotado demais para sustentá-la. Só havia uma esperança, e ele sorriu fracamente.

"É agora. Se isto não me transformar em Super Saiyajin, nada o fará. E se morrer, pelo menos terei morrido no campo de batalha, resgatando meu orgulho.." Fechou os olhos, aguardando o momento em que a possível transformação lhe salvaria a vida ou seria desintegrado.

****

Ele acordou com alguém lhe empurrando alguma coisa na boca e mexendo rudemente em seu queixo, obrigando-o a mastigá-la. Distante, sentiu as folhas de grama cutucando-lhe a pele através dos buracos de sua roupa.

—Vamos, coma — resmungou impaciente uma voz muitíssimo conhecida.

Mesmo antes de seu pensamento clarear já sabia o que era aquela coisa em sua boca. Engoliu automaticamente e sentiu quase no mesmo instante que a dor o abandonava e um fluxo de nova energia reanimava seu corpo, como sempre acontece com Saiyajins que se recobram da morte. Mesmo assim, percebeu frustrado, esse novo nível de força ainda estava muito abaixo do Super Saiyajin. Abriu os olhos devagar. Goku estava agachado na sua frente com um sorriso aliviado. Atrás dele, Gohan e Piccolo também o olhavam, com ar cauteloso.

—Uf! Foi por pouco. Se eu não tivesse me teleportado pra trás de você e nos mandado pra longe no último instante, você teria virado cinzas. — riu o rapaz vestido de laranja — Ainda bem que eu tinha este senzu guardado para uma emergência.

Vegeta sentou-se bruscamente e deu um empurrão no outro:

—Idiota! Você estragou tudo! — levantou-se furioso e recuou com os punhos cerrados, encarando os três.

—Que ingratidão! Papai usou o último senzu que tinha com o senhor, e ele ainda está todo machucado! — Gohan indignou-se.

Vegeta lançou um olhar para Goku. Com efeito, o rival estava visivelmente ferido, embora nem parecesse se dar conta disso, e seu nível de energia diminuíra bastante. Por alguns instantes passou pela mente do Saiyajin mais velho a possibilidade de... Não, não ia adiantar. Mesmo que conseguisse derrotar Kakaroto neste momento, o que isso provaria? Não o faria conseguir aquilo pelo qual estava disposto a morrer alguns minutos atrás.

—Não pedi que salvassem a minha vida! — berrou para o garoto — Por que vocês insistem em se meter no que não compreendem?

Gohan recuou, intimidado, mas seu pai olhou o príncipe com ar curioso.

—Então, a impressão que eu tive estava correta? Você estava realmente querendo se matar, Vegeta? Mas por quê?

—Idiota. Não tenho motivo pra querer me matar, mesmo com a vida patética que levo agora. Mas descobri finalmente que para conseguir um poder como o seu, não terei outro jeito senão desafiar a morte.

Goku olhou-o confuso por alguns segundos, depois pareceu entender e deixou cair o queixo:

—É isso? Você achou que lutando comigo até a morte iria se transformar em Super Saiyajin?

—O que mais poderia ser? — o tom amargo de Vegeta era quase um suspiro — Essa era uma honra que deveria ter sido minha. Eu com certeza teria me transformado, se... se aquele miserável do Freeza não tivesse me matado antes.

Embora o seu orgulho o impedisse de falar abertamente, todos entenderam o que Vegeta queria dizer: se ele não tivesse desistido de lutar em face ao imenso poder de Freeza, e praticamente se deixado matar. As imagens do corpo quebrado de Vegeta e seu rosto molhado de lágrimas passaram pela mente de Goku. Não acreditava que houvesse como ele ter escapado, pensava, mas não tinha coragem de lhe jogar isso na cara. O desespero do outro homem de sua raça era tão palpável que o rapaz quase teve vontade de chorar pela cegueira daquela alma, tão distorcida em seus valores.

—Vegeta — ele disse suavemente — não foi o fato de estar perto da morte que me transformou. Eu só me tornei Super Saiyajin porque fiquei com muita raiva, quando Freeza matou Kuririn!

—Seu idiota! O que pensa que está fazendo? — gritou Piccolo.

Por um momento, o rosto de Vegeta pareceu inexpressivo, como se ele não tivesse ouvido. Então uma gargalhada explodiu no ar. Uma gargalhada sarcástica, cruel.

—Não minta para mim, Kakaroto! — Vegeta deu um sorriso que mais parecia uma careta — Quer me fazer acreditar que foi apenas a sua raiva por Freeza ter matado aquele imprestável que causou a transformação? Mesmo que você tenha se zangado, o que acredito, não pode ser apenas isso.

—Hã?

—Deveria ser óbvio, até para um cérebro atrofiado como o seu! Eu odeio você, Kakaroto, com todas as minhas forças! Se a concentração da raiva e do ódio fosse o que causa um Super Saiyajin, então eu deveria ter me transformado há muito tempo, porque só de pensar em você, sinto que vou explodir!_ berrou a última palavra, enquanto seu corpo mandava ondas de energia que teriam atirado longe qualquer um que não fosse aqueles três.

Os três o olharam em silêncio, as palavras de Vegeta calando fundo dentro deles.

“É necessário um coração calmo e puro”, recordou Piccolo, lembrando as palavras do senhor Kaioh sobre a lenda do Super Saiyajin “Tudo o que esse filho da mãe não tem... quase me dá pena dele.”

"Já pensei várias vezes a mesma coisa", pensou Gohan " Papai raramente se zanga de verdade. Então, quando o senhor Kuririn morreu, ele ficou furioso demais e perdeu o controle. Como eu, quando machucam alguém que eu gosto. Mas Vegeta está sempre zangado, então ficar bravo de mais ou de menos pra ele não deve fazer diferença. Será que isso significa... que ele não pode se tornar Super Saiyajin?"

O olhar de Goku endureceu:

—Vegeta, você não está entendendo! Não é apenas a raiva que cria o Super Saiyajin. É a raiva criada por uma dor muito profunda! Eu fiquei profundamente ferido ao ver Kuririn morrer diante de meus olhos, de uma forma tão cruel! Mas você não pode entender isso porque não gosta de ninguém!

—Kakaroto — o tom de Vegeta agora era ameaçador — Se você está brincando comigo, eu vou esmagá-lo agora mesmo, nem que tenha que...

Goku perdeu a paciência.

—EU NÃO ESTOU MENTINDO! Não julgue os outros por você mesmo! Acha que eu inventaria uma coisa dessas?

Os olhos de Vegeta se arregalaram. As ondas de energia pulsante em volta de seu corpo diminuíram de intensidade.

—Você... está me dizendo que realmente só conseguiu se tornar Super Saiyajin por causa... por causa daquele inseto?

—O que isso tem de errado?

Deveria haver mais alguma coisa. Kakaroto tinha de estar mentindo. Porém, alguma percepção lá no fundo da mente de Vegeta lhe dizia o contrário, talvez porque já conhecia bem o jeito de Kakaroto. Além disso, mesmo sendo incapaz de compreender os sentimentos alheios, Vegeta já vira muitas vezes a dor de pessoas que haviam sofrido perdas, inclusive pelas mãos dele. A raiva na expressão de Kakaroto e a mágoa em sua voz eram sinceros.

Seria possível?

Para Goku, pareceu que Vegeta diminuía de tamanho na frente dele. Até seus músculos pareceram se encolher. E os olhos dele... os olhos dele...

Abruptamente, o príncipe virou-lhe as costas.

—Você é um rato — murmurou, e foi embora sem dizer mais nada.

Goku ficou olhando o adversário sumir em meio ao azul do céu. Piccolo e Gohan se aproximaram dele.

—Papai, o senhor está bem?

—Espero que tenha uma boa razão para ter dado de bandeja a Vegeta a receita de como se tornar Super Saiyajin — rosnou o namekuseijin — Mesmo que aquele miserável não consiga se transformar, foi uma imprudência.

—Ahã — Goku respondeu distraído, o olhar ainda distante.


—É por que daqui a três anos vamos precisar de toda a ajuda possível, até mesmo do senhor Vegeta? —a pergunta de Gohan soava quase como uma afirmação.

Goku finalmente pareceu voltar à realidade. Olhou para eles com seu clássico sorriso inocente e passou a mão pelo cabelo desgrenhado.

—Nem me lembrei disso! —riu — Só fiquei com pena de ver Vegeta se empenhar daquele jeito pra nada. Vocês não acham que tanto esforço merece uma recompensa?

Os dois caíram para trás.

—Além disso... — Goku ficou sério de novo — Talvez, agora que sabe da verdade, Vegeta comece a entender que não é fraqueza se importar com outras pessoas. Quem sabe ele não mude depois disso?

Seus interlocutores apenas fizeram aquele olhar de "como você é ingênuo".

—Numa coisa eu concordo com Vegeta — Piccolo resmungou, levantando-se — o seu cérebro é mesmo atrofiado!

Goku não ligou. Já estava acostumado com aquele tipo de reação, e com o tempo passara a entender porque a outras pessoas eram tão desenganadas em relação aos seus semelhantes. Em momentos assim, dava graças de não ter perdido ainda a esperança. Frequentemente, descobria que não havia se enganado ao acreditar nos outros, e rezou mentalmente para que esta fosse uma das vezes. Pelo bem de Bulma e Trunks.

—Vamos pra casa. Chichi deve estar preocupada — disse.




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Notas finais do capítulo

Nota: Para quem está se perguntando o que esses dois irmãos têm a ver com Vegeta e Bulma, eles já fizeram uma pontinha no capítulo 4 de A Ovelha e o Porco-Espinho. Escrever sobre Sukie e Jack de maneira convincente foi até mais difícil que descrever a batalha entre Vegeta e Goku, essa parte escreveu-se sozinha apesar da minha dificuldade com cenas de luta. Talvez vocês já tenham intuído o que essa tragédia tem a ver com história... se não, melhor ainda, porque assim terão uma surpresa. O próximo capítulo será um pouco mais leve, prometo.



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