Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 14
Acrofobia


Notas iniciais do capítulo

Três coisa:
1) Mudei a capa então se quiserem que volte para a antiga é só falar o/
2) Se você lê, comente. Sério gente, eu tento ser legal nas respostas, nunca mordi ninguém (não fisicamente falando) -?-
3) Biscoitinho da sorte continua.
3.1) Espero que esse capítulo seja legal
3.2) Algo me diz que talvez a história mude um pouco daqui para frente, mas pode ser um boato.



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Acrofobia é o medo irracional de lugares altos. Pessoas que sofrem de acrofobia podem se habituar com determinados lugares altos em particular, isto é, perder o medo desses lugares, mas a sensação de medo voltará quando o indivíduo for a algum outro lugar alto.

BERNARDO

Já tinha passado um bom tempo desde a minha conversa com a Pan (que por um lado tinha sido um desastre, já que, ela tinha outro alguém em mente o que me dava um sentimento estranho de fracasso e ciúmes, contudo, era de um grande alívio saber que, pelo menos, eu havia falado). Como de costume, lá estava eu sentado na poltrona da livraria lendo os primeiros capítulos de um livro para decidir se compraria ou não. Tive a impressão de ouvir uma voz familiar, mas como a leitura estava realmente interessante simplesmente não pude levantar a cabeça. Só que a sensação de conhecer a voz ali perto persistiu, só me restou espiar por cima das páginas, nada. De novo a voz. Espiei de novo, agora olhando para mais de uma lado, e lá estava.

     Ela segurava um livro e fazia comentários, estava sorrindo, segurava o braço dele de uma maneira carinhosa . E ele...bem, ele respondia aos comentários e também sorria, segurou o queixo dela e deu-lhe um beijo na testa. Ele era o outro alguém. Senti um incomodo de vê-los assim rindo, de vê-lo beijá-la assim tão naturalmente, admito – não sem uma constrangedora vergonha e até nojo de mim mesmo- que doeu vê-los assim felizes. Mas me virei rápido antes que fosse notado, anos de amizade e esse era meu plano, não ser percebido e fingir que não tinha visto os dois. Voltei a olhar para o livro por um tempo, depois me levantei e fiz um certo esforço para não espiá-los.

- Qual a forma de pagamento, senhor?

- Cartão...débito – disse e me virei para olhá-los.

Ele segurava o rosto dela com as duas mãos e falava alguma coisa que só os dois sabiam, ela sorriu mais um pouco e retribuiu com um beijo. Doeria menos se alguém me desse logo um tiro. De repente percebi que sou muito mais idiota do que julgava. Não eram necessários muitos neurônios para entender, quero dizer, olhem para ele...imponente, belo sorriso, atitude ... ele é um lobo macho alfa, e eu? Bem, eu sou o vira-lata que a família jogou na rua porque fazia muito xixi no tapete da sala. Ele tinha pedigree, tinha porte. E eu jogava vídeo game com meu sobrinho aos sábados. Já se sentiu o estrume do cavalo do bandido? Pois é bem vindo ao clube...

Já estava pegando a nota fiscal quando alguém esbarrou em mim, virei e pedi desculpas distraído.

- Eu que me desculpo, companheiro.

Ele estava bem atrás de mim, encarei o e depois meus olhos chegaram até ela que mudava de um semblante de pura felicidade para um de surpresa desconfortável.

-Bernardo...

Acenei com a cabeça e dei alguns passos para sair da fila.

- Tudo...bem...?- ela disse sem graça.

- Tudo..tudo . E com você?

- Também...- disse ficando um pouco vermelha - ...aah.... Vitor, esse é o Bernardo. Bernardo, esse é o Vitor.

- Opa...- estendi a mão para cumprimentá-lo.

- Muito prazer em conhecê-lo – ele disse sorrindo, malignamente sorrindo – Amigos? – e olhou para Pan que acenou positivamente, com um “sim, amigos” que foi meio que o auge do constrangimento – Ah, que sorte você tem, companheiro, em conhecer essa criatura. Ela é mesmo fantástica não é?

- Vitor...

- É sim, ela é- digo e mentalmente repito “fantástica”.

Falamos mais algumas coisas sem qualquer importância antes de nos despedirmos. Sai com um sorriso no rosto e um grito no meio do peito. Pior do que eu pensara, ele não só parecia um lobo macho alfa, ele era mesmo um. Extremamente simpático, se ele não estivesse beijando a mulher que eu amo desde guri eu até que gostaria mais dele.

Ela estava feliz. Isso conta muitos pontos para ele. E pensando bem, do que adiantaria Pan ficar comigo se fosse infeliz? Não é mesmo? E vai ver depois de um tempo eu me acostumaria a vê-los juntos, eu superaria, também quem nunca teve uma decepção amorosa? É normal. É passageiro. Vai haver um alguém para mim também, confere? Vai, vai...

Talvez se eu repetir isso toda noite, talvez se eu parar de ouvir as músicas que me lembram dela, talvez se quando a lembrança do que nunca aconteceu voltar eu expulsá-la da minha cabeça, talvez eu passe a acreditar que vai haver alguém para mim, é talvez.

Mas não hoje. Hoje eu vou dormir lamentando as decisões do acaso, vou ouvir todas as músicas que me lembram do jeito dela, e não só vou lembrar do que não aconteceu como vou escrever capítulos novos de uma história falida e inexistente, eu vou choramingar e praguejar contra mim, vou tomar uma dose amarga de solidão e ter a certeza de que ninguém nunca vai olhar para mim como ela olha para ele. É, quem sabe amanhã eu acorde otimista. Mas não hoje.

***

Vitor chegaria logo e então eles iriam a uma peça chamada O esplendor de um qualquer . O porteiro avisou que um conhecido do Vitor gostaria de subir, o que era estranho, mas e se ele tivesse se sentido mal e alguém tinha vindo avisar? Podia ser um amigo dele mesmo ou vai ver era só mais uma brincadeira do próprio. A campainha tocou e ela observou pelo olho mágico. Dois homens, um senhor de terno e semblante austero e um outro atrás que vestia preto e tinha cara de ser segurança. Hesitou duvidando se abria ou não. A campainha tocou de novo. O que um senhor mal humorado poderia fazer não é mesmo?

- Pois não... – ela abre a porta ainda receosa

- Boa noite, meu nome Alberto di Campani, será que eu posso entrar...Pan, esse é seu nome ? Pan? – o senhor disse com um quê de prepotência.

“Campani”, ela refletiu antes de responder, “esse nome...onde eu ouvi esse nome...”

- Sobre o que o senhor gostaria de falar?

- Vitor.

O homem entrou seguido de seu segurança que, apesar do convite para sentar-se, permaneceu em pé.

- Aconteceu alguma coisa com o Vitor?

O homem deliberou olhando para os lados.

- Olhe moça, eu sou um homem direto. Não me parece atrativo fazer rodeios antes de se chegar ao alvo, de modo que, vou imediatamente aos fatos – fez uma pausa para respirar – Eu andei pesquisando sobre o seu relacionamento com meu filho, a senhora é médica dele, correto? – ele prosseguiu sem dar tempo para que Pan respondesse, na cabeça dela a palavra ‘filho’ ecoava, mas como não encontrou espaço para interromper, continuou ouvindo – E apesar de ser um tipo de relacionamento...pouco usual, creio que você seja uma boa influência para o Vitor, comparando com o tipo de pessoas que ele anda, com certeza, é um grande avanço...

- Só um instante – ela disse tomando a palavra – O senhor disse filho?

- Sim. Embora Vitor evite manter contato, o fato é que ele sempre foi assim – olhou para o lado como se recuperasse uma lembrança – Um tanto rebelde. O que é minha culpa também, uma criança mimada deve ser corrigida, não foi feito e agora colho o resultado. A mãe era a que mais mimava, enchia o menino de vontades...- voltou seu olhar para Pan lembrando de voltar aos fatos – O que quero dizer é, pela primeira vez vejo meu filho se aproximando de uma pessoa decente, que é você, e não sei quando terei outra oportunidade de ajudá-lo. Porque é disso que o Vitor precisa, de ajuda. E é por isso que estou aqui, para lhe pedir que ajude-o a tomar as decisões corretas.

Não sei se ele lhe disse, mas não nos falamos há um tempo. E, então tenho certeza que isso ele não disse mesmo, que como meu filho ele poderia muito bem trabalhar na empresa, e futuramente me substituir. Nunca se interessou por nada, quem saber agora com a sua ajuda...

“Empresa....As empresas Campani! O Vitor era filho do dono das empresas Campani! Mas....o que? ...o que...”. Antes o homem continuasse a porta abriu e Vitor entrou com um sorriso que logo foi desfeito pela percepção da cena.

- O que é isso? – ele disse já totalmente diferente de sua doçura habitual – O que esse homem está fazendo aqui Pan?

- Vitor...- o homem fez menção de falar, mas foi prontamente silenciado com um “eu não me dirigi a você” dito com ferocidade.

- O que é isso Pan? – disse com mais calma interrogando-a

- O senhor Alberto, seu pai, veio conversar comigo. E é isso – ela se aproximou e segurou a mão dele, estava fria, as pupilas estavam dilatadas e seu rosto era uma mistura de ansiedade e mágoa.

Vitor balançou a cabeça afirmativamente, desvencilhou-se da mão dela e deu alguns passos na sala, voltou para mais perto do homem, olhou-o com tamanha repulsa que Pan sentiu vontade de falar alguma coisa só para interromper aquele momento, foi ele mesmo quem quebrou o silêncio.

- Você vai sair daqui agora – disse num tom mais baixo – E não vai mais voltar.

- Espera um pouco Vitor, respira...- ela tentou acalmar os ânimos, mas Alberto Campani tomou a palavra.

- Que eu saiba esse apartamento é dela, de modo que você não pode me dizer quando eu devo sair.

- Ah então foi pra isso que você veio aqui!

- Não Vitor, eu vim para tentar lhe ajudar. Porque, muito embora você não tolere olhar para mim eu sei que você é meu filho e que precisa de ajuda. E não importa mesmo o quanto você me despreze, o quanto você tente se esconder, você não vai deixar de ser meu filho.

- Infelizmente a genética é um tanto despótica – ele disse e se virou para Pan que assistia a cena sem saber se deveria ou não dizer alguma coisa – Minha cara, você faria a gentileza de dizer a esse honradíssimo senhor que já é hora de partir?

- Vamos...vamos...- Pan olhou de um para o outro – Olha, acho que nada vai ser resolvido nesse estado de ânimos, então ao invés de encerrar a conversa poderíamos remarcá-la, tudo bem?

Foi um tanto duro observar o desapontamento nos olhos dele, como se dissessem “você joga no meu time lembra?” . Mas ela respondeu com um suspiro que respondia “não vai ser tão ruim assim”. E ele permaneceu calado, deixando que ela se despedisse de Alberto Campani e marcasse uma dia, num fim de semana para que fossem visitá-lo e assim continuassem a conversa de um modo mais calmo. Quando ficaram sozinhos de novo ela se aproximou e deixou um beijo em seu ouvido.

- Não fique assim por favor, não parece nem você – disse ainda perto do ouvido dele.

Ele respondeu com um resmungo.

- Eu sei que você tem seus motivos para não querer falar com seu pai, e respeito isso, sério – falou segurando as mãos dele e beijando-as – Mas precisamos dar novas chances para as pessoas. Claro que não sempre, ninguém tem essa vocação angelical...Vai ser bom pra você, vai ser revigorante poder virar a página.

Ele ergueu os olhos. Suspirou com pesarosamente.

- O rancor deixa a ideia de uma responsabilidade de sentir raiva, e isso vai envenenando a gente. Tenho certeza que quando você captar que não precisa se sentir assim, a vida vai ficar mais leve.

- Eu gosto do peso da vida, eu faço musculação com ele – disse num sorriso triste.

Um sorriso que correspondia a um dar de ombros, ao momento que se entra na montanha russa e o brinquedo está prestes a começar, quando se respira fundo e se pensa “já que eu já estou aqui mesmo...só quero sair vivo sem cair dos trilhos”. A montanha russa estava subindo a ladeira, então ele abraçou Pan – que era o cinto do de segurança- e quis gritar para o administrador do parque que ele desistia de brincar, mas a altura é estrategicamente calculada para que o controlador do brinquedo não ouça. A certeza de que o carrinho desceria ferozmente o trilho é pior do que a descida em si.

Desistiram da peça e ele pediu para dormir lá essa noite, o que foi amplamente aceito. Apoiou a cabeça no colo dela, Pan repetiu que ficaria tudo bem. Então ele acreditou, e dormiu tranquilo. Tranquilo, no todo da ladeira.


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Notas finais do capítulo

Voltar para o topo da página e ler as três coisas de novo.

E então, como está? E vocês como vão?

Bjs e queijs



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