Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 13
Síndrome de Estocolmo


Notas iniciais do capítulo

Acho que vocês não têm gostado dos últimos capítulos, ne? Peço desculpas. Eu espero que o de hoje soe melhor.

* Quem quiser ouvir uma música durante a leitura>> I miss you -Blink 182



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Síndrome de Estocolmo é um estado psicológico particular desenvolvido por algumas pessoas que são vítimas de sequestro. A síndrome se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu captor ou de conquistar a simpatia do sequestrador. Pode ser também chamado assim uma serie de doenças psicológicas aleatórias.

É bem verdade que Pan estava no que podemos chamar de princípio de felicidade plena. Nada mais do que o estonteante momento em que se está prestes a dar o primeiro passo rumo a deliciosa e desejada felicidade, a absoluta, suprema e inigualável felicidade. Alguns dias que somaram semanas construíram uma relação saborosa entre ela e Vitor. Uma união despretensiosa, descompromissada e,muito provavelmente por isso, quase sem defeitos. Zoe, que se mostrou certa ao detestar Gustavo, gostou bastante do jeito eloquente do presente pretendente, lamentou a péssima situação da amizade de Bernardo e Pan, mas isso não era culpa do Vitor (não diretamente, é claro).

E no Lar eles conversavam sobre as batalhas do cotidiano, riam das histórias de infância e conservavam uma amizade conhecidamente pintada com vários lápis das mais variadas cores, se é que me entendem. Eram do tipo de amigos que saiam para tomar um café, que é coisa de amigo mesmo, e depois sussurravam palavras melosas perto demais, que é coisa de mais que ‘amigo mesmo’, se é que me entendem.

– Você tem os olhos mais bonitos que jamais habitaram esse mundo, senhorita – ele disse antes de tomar um gole de cappuccino .

Ela corou um pouco, mas tudo bem porque estava um pouco escuro. Respondeu que eram olhos castanhos, portanto normais. E ele continuou a encará-la por longos segundos.

– Certo, estou ficando muito envergonhada, olhe para o outro lado.

– Que data é hoje?

– Por que?

– Preciso me lembrar do dia em que tive certeza que ficaremos juntos...

– Vitor...

–....não acha um dia importante? – disse e depois pareceu ponderar por um instante – Você tem toda razão, o mais importante não é o futuro, é o presente. E então não importa se estaremos aqui amanhã, pois estamos agora e isso me basta. Tem razão, tem razão...

Ela apenas riu, há muito percebera que era inútil discutir com ele. Seus argumentos e reflexões fugiam da lógica padrão. Ele era um personagem circense num mundo de engravatados. Enquanto, todos viviam numa realidade pré-moldada e rígida, ele estava dançando sob a corda bamba, tornando flexível o destino inexorável. E ela certamente não podia precisar a data, mas estava absolutamente sufocada, mortificada , destinada a desilusão ardente ou, como os mais doces – e mais iludidos....- preferem chamar, estava realmente apaixonada pelo trapezista que recitava versos instantâneos, pelo maluco lúcido, por um Vitor viciante. Outro dia eles foram assistir um filme bem recomendado pela crítica. E enquanto esperavam as luzes apagarem ela resolveu perguntar para onde iriam depois do cinema, uma nova pizzaria havia sido inaugurada e o geriatra do hospital dissera que quinta-feira era justamente o dia de promoção.

– Para onde vamos depois daqui? Ora...- ele pegou um punhado de pipoca - Para sua casa, espero, porque você nunca me convidou para conhecer o seu apartamento, e já está na hora.

– Sabe, eu iria sugerir uma pizzaria nova, mas já que tocou no assunto...gostaria de conhecer meu apartamento?

Ele balançou a cabeça negativamente.

– Ah eu sei que você só está me chamando por educação – disse fazendo cara de ofendido – Mas temo que eu seja suficientemente descarado para aceitar o convite mesmo assim.

O descaramento, aos poucos, tornou-se um hábito. Mas por favor, não vá supervalorizando uma condição específica de relacionamento. Ora, ora, nada disso. Eles não precisavam intitular um ao outro como meu ‘alguma coisa’, não era uma dessas estúpidas relações de posse, não. Era um relacionamento livre, sem proprietários, repleto de sentimentos intensos. Pan pensou que amava o Gustavo, mas ela (e eu ouso concordar) percebia aos poucos que não era nada disso. Era afeto, apego e necessidade. E só. Agora, o Vitor era diferente. Vitor era o cara que falava com paixão de suas convicções, que tinha um cheiro quase alucinógeno de tão delicioso, tinha também um sinal logo abaixo do olho e mais alguns pelo corpo, ela não sabia o motivo, mas esses pontinhos de melanina ficavam realmente sedutores na pele dele. Ele ria quando achava graça, chorava quando tinha vontade e não possuía um grande filtro entre pensamentos e falas, desse modo, quando dizia alguma coisa não era necessário buscar motivos a serem subentendidos, intenções disfarçadas, não. Eles pediam uma pizza pelo telefone, conversavam, dançavam desengonçados, riam, e passavam a noite juntos, e brincavam de ‘quem ri primeiro’ lado a lado nos travesseiros.

Zoe também estava saindo com um carinha gente fina, e saíram os quatro, e foi muitíssimo engraçado, quem não se divertiria com as improbabilidades do Vitor? Quem teria a audácia de não ser absolutamente contente ao lado dele? É claro que ao falar com Zoe era impossível não lembrar do Bernardo, mas não devemos procurar o que não está certo, viver não é brincar eternamente de jogo dos sete erros, é saber valorizar as coisas boas. Então ela viveu. Cautelosa, mas não fria. Maravilhada sem ser lunática. Sonhadora e realista. Não destinando muito de sua preocupação por estar se relacionando com um paciente, o que certamente seria reprovável nas vistas dos céticos conservadores da medicina. Contudo, quando consultado sobre o assunto, Dr. Oscar respondera: “Seja prudente, seja profissional, mas não se impeça de ser feliz. E quem sou eu para negar a companhia de uma pessoa maravilhosa para um paciente com câncer? Não, minha querida, não sou eu quem vai lhe dizer para afastar-se do Vitor. Eu confio em você, Pan”. E isso foi como uma alforria, a ruptura da represa, o empurrão que faltava para que ela pudesse permitir-se.

Permitir-se é fundamental, e não, não é nada fácil.

***

– Você não fala muito dos seus pais, da sua família- ela disse fazendo um cafuné no cabelo dele – Problemas com eles?

– Hum – ele disse um tanto sério – Minha morreu quando eu tinha 15 anos. E eu não falo com meu pai há algum tempo. Então, sim, problemas.

– Sinto muito...sua mãe estava doente?

– Câncer – ele abaixou os olhos por um momento, voltou a erguê-los junto com um sorriso amarelo – Acho que é carma de família.

Permaneceram assim por um instante, cada um buscando algo que pudesse ser dito para calar o silêncio que se impunha.

– Mas não é a mesma coisa, não se preocupe- ele repousou a mão sobre o ombro dela e o acariciou com o polegar – Você é bem mais bonita que o meu pai.

– E espero que você não fique sem falar comigo – ela se apoiou no cotovelo e deu um beijo na testa dele – Aliás, pode ficar sem falar comigo só não deixe de frequentar meu travesseiro.

Ele riu e envolveu o corpo dela num abraço que dizia “continuarei por aqui”.

E continuou.


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Notas finais do capítulo

E então? Melhorou o andamento da coisa? ó pra incentivar vocês a comentarem, vamos fazer uma rodada de biscoitinho da sorte*, tá? Mta paz nesses corações, bjsssss.

*Pra quem não conhece ainda o biscoitinho da sorte é assim: Quem comenta ganha uma frase aleatória, uma parte de uma música, uns versos, que eu vou oferecer como agradecimento pelo comentário. OK? Vamos :)))



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