A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 9
Encrencada


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo vai especialmente para todos aqueles que têm me acompanhado e deixado reviews!! Aproveitem!!



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Meu pai sempre me diz que sou a pessoa mais teimosa que existe, mas eu não sou uma pessoa teimosa, eu só sigo meus instintos e caminho sempre em direção àquilo que acho que é certo. Quando começo algo, vou até o fim e não importa quantas vezes você me diga que não vai funcionar, eu vou seguir em frente até conseguir o que quero. Isso não é teimosia, isso é persistência. Bem talvez seja. Talvez seja por isso que, há tanto tempo, eu estava andando a esmo sem saber que direção tomar. Onde eu estava com a cabeça quando decidi pular do furgão e sair à procura de Sofia, sozinha, num lugar que eu nem sequer conhecia? Era tudo culpa de Victor, por que ele tinha que me desafiar dessa maneira? “Ok. Não entre em pânico Luiza, você não está perdida, você só não achou o caminho certo ainda” pensei comigo tentando me manter calma.

Mas eu estava quase em pânico. Logo que pulei do automóvel fui obrigada a me esconder atrás de uma grande pedra, para que Pedro e Miguel não percebessem que eu havia fugido. A sorte estava do meu lado e tudo deu certo, o problema é que esperei tempo demais. O resultado?  Victor e Maicon partiram e eu não vi. Agora, eu andava na direção que pressupunha que eles haviam seguido, só que, até então, eu não tinha tido nenhum sinal deles. A verdade é que eu deveria ter seguido para aldeia, acabado com todo esse mistério e descoberto logo o que eles queriam comigo, mas não, aqui estava eu, perdida, depois de fugir de Pedro e Miguel. Senti pena, eles iam ter uma bela surpresinha quando chegassem à aldeia, “desculpem-me por isso meninos” pensei.

Enquanto eu caminhava, desanimada, tentando achar uma solução para o problema que eu mesmo criara, eu tinha tempo de sobra para observar a bela paisagem imérica. Há algumas horas eu pude vê-la sob a luz do dia pela primeira vez, no entanto, não pude reparar em seus detalhes porque eu tinha preocupações mais prementes. Nada me impedia agora, e eu fiquei encantada com o que vi. O solo era coberto por uma terra amarelada tão fina, que se assemelhava a areia do deserto. Em vários pontos era possível ver gramíneas lutando para recuperar o lugar que era seu de direito, em outros, via-se que a natureza saíra vencedora, formando pequenos arbustos esverdeados que chegavam aos 40 centímetros de altura. O céu, azul celeste, dividia sua beleza com nuvens de algodão, e o sol completava o quadro desértico dando uma coloração dourada a toda a paisagem que reluzia como ouro. Era lindo, e ao mesmo tempo triste, observar o que a vida sob a Terra se tornara.

Parei de repente abismada com a mudança repentina da paisagem. A minha frente imponentes árvores formavam um paredão assustador como se para proibirem a minha entrada. Era como se eu tivesse atravessado um portal mágico que dava para outra Terra, em um planeta diferente, duas paisagens opostas dividindo o mesmo espaço, uma lutando bravamente por sua sobrevivência, a outra imperiosa sobre suas raízes dominando o seu habitat. E eu ali, sem saber que direção tomar. A floresta bem no meio do deserto deveria ser a Floresta Proibida que Miguel mencionara, era para lá que Sofia havia sido levada e que Victor e Maicon deveriam estar. Eu estava no caminho certo, então, mas isso não me deixou menos preocupada, eu tinha uma leve sensação de que se eu entrasse naquela mata selvagem, ou eu encontrava meus amigos, ou eu nunca mais sairia dali. Mas o que eu faria? O caminho de volta?  Voltar para onde já que eu estava completamente perdida?

Ouvi vozes não muito longes de mim e adentrei na floresta. Estava escuro, um clima sombrio e assustador, uma sensação constante de estar sendo vigiada a todo o momento por olhos invisíveis, como se eu estivesse em um lugar proibido e alguém esperasse a oportunidade certa para pegar-me no flagra. Deixei minhas cismas de lado e comecei a procurar, seguindo o som que vinha à minha frente. O silêncio perturbador fazia com que as vozes ficassem cada vez mais claras à medida que eu seguia adiante. Praticamente correndo, eu desviava de pedras e tropeçava em raízes majestosas, mas nada me detinha. “Podem ser os saqueadores” conjecturei.  E se fossem eles? Eu não havia pensado nisso antes. Diminui meu ritmo, sendo mais cuidadosa em cada passo.

Repentinamente as vozes mudaram de direção, não estavam mais a minha frente, mas vinham de trás de mim. Meu coração disparou com a surpresa, procurei por uma proteção e me joguei atrás de um enorme tronco caído à minha direita. Com a cabeça encostada no tronco, sem poder checar com meus olhos, escutei atentamente a conversa procurando reconhecer alguma voz.

- O que nós faremos com ela Jow?

- Eu sei lá? Não sei por que raios Claude quis trazer a moça. Ele que decida que fim dará para ela – Eles falavam de Sofia? Era Sofia a tal moça? Continuei prestando atenção.

- Ah! Não é obvio porque ele quis trazê-la? Ela é um primor, uma peça rara – riu o primeiro deles.

- Sim ela é, mas se eu não conhecesse Claude... Eu acho que ele vai fazer com ela o mesmo que fez com as outras, escravizar enquanto for útil e depois você sabe... Se bem que parece que ele já conhecia aquele bando, você percebeu?

- Sim, foi estranho.

- Com certeza, Claude esconde tantos mistérios. – comentou Jow.

- Qual é o nome da mocinha? – perguntou um deles.

- Não interessa! Vocês são nojentos! Meu irmão vai nos encontrar e acabar com cada um de vocês – respondeu a moça. Era a voz inconfundível de Sofia. Fiquei tensa e aliviada ao mesmo tempo. Aliviada porque aparentemente ela estava bem, tensa por que ela ainda estava presa com os saqueadores. Eu tinha que fazer algo.

- Conte-nos “Não interessa” – ironizou Jow - Claude parecia conhecê-los, como?

- Se ele não te contou, não sou eu que vou contar.

Então esse tal de Claude sequestrou Sofia porque já conhecia meus “sequestradores”? Isso não fazia sentido. Mudei de posição e espiei sobre o tronco. Sofia estava dentro de uma pequena jaula puxada por um cavalo negro, cercada por três homens que provavelmente a vigiavam. Eram três contra um e se não fosse o fator surpresa a meu favor, eu não teria chances. Avistei uma árvore majestosa a minha esquerda. Dali eu teria uma visão melhor da cena e maiores possibilidades de fuga se algo desse errado, então, peguei meu arco a laser e caminhei sorrateiramente até ela. Segurei o arco com a mão esquerda e procurei um possível alvo. Talvez o mais baixo de cabelos curtos? Não, melhor não, se eu quisesse uma chance a mais, seria melhor atirar no mais forte e alto, de cabelos rastafári. Pensando bem... Segurei a corda com a mão direita e a puxei até o queixo, quando a flecha avermelhada de laser se formou, mirei em um grosso galho acima do bando e soltei.

O galho foi ao chão derrubando dois dos rapazes com ele, o terceiro, o mais baixo, veio em minha direção com uma faca à mão. Corri no sentido oposto em círculo, procurando não me afastar muito de Sofia. Eu tinha que ir até a jaula e solta-la antes que os outros recuperassem a consciência. Naquele momento mais cinco rapazes se juntaram ao bando, como se surgissem do nada, espalharam-se na mata à minha procura. Ok. Agora eu tinha um problema.  Agachei me escondendo entre as folhagens e fui engatinhando até perto da jaula. Esperei alguns minutos e quando vi que ninguém a vigiava, levantei correndo em sua direção.

- Ali – gritou um deles.

Droga. Eles tinham me pego no flagra e eu não teria chances, pois eram muitos. Corri para o interior da floresta enquanto era perseguida por meia dúzia de saqueadores. Sem uma direção pra seguir, corria sem rumo tentando escapar, tropeçava em galhos e escorregava em poças, me reequilibrava e continuava a correr. Tudo o que eu ouvia era meu coração batendo aceleradamente. Já sem fôlego, vendo que eu tomara certa distancia deles, me escondi atrás de uma árvore tentando me recuperar. Enquanto respirava com dificuldade, observei um a um passar em minha frente, procurando entre árvores e folhas. Fiquei em absoluto silêncio, contando com a sorte mais uma vez.

Eu não tinha muita visão de onde estava, mas como qualquer movimento poderia chamar-lhes a atenção permaneci em absoluta imobilidade. Quatro deles pareceram se convencer que eu não estava ali e se afastaram, mas os outros dois continuaram procurando. Um deles veio em minha direção, ficando cada vez mais perto, um passo e eu seria pega. Meu pulso acelerou novamente.

- Ela não esta aqui, vamos Bob!

A esperança tomou conta de mim, mas a tensão só se esvaiu quando, parecendo desistir, ele seguiu em direção ao amigo me deixando para trás. Nunca me senti tão aliviada. Esperei mais alguns minutos e sai do meu refúgio. Mãos taparam minha boca, eu quis gritar mais nenhum som saiu. Comecei a me debater tentando me soltar, mas quem quer que fosse não estava me dando alternativa. Tentei gritar mais uma vez e a mão se apertou mais em minha boca. Agora sim eu estava encrencada.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam dos reviews pessoal, eles são meu combustível para escrever, beijinhos até o próximo capítulo !!!