A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 10
Ameaçada


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas! Desculpem pela demora... tentarei manter uma regularidade, postando um capítulo novo nos finais de semana. Boa Leitura! Espero que gostem!!



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Impossibilitada. Presa entre mãos fortes e desconhecidas, eu tentava me soltar de todas as formas possíveis. Nenhuma delas surtia algum resultado. Eu batia, eu chutava, eu xingava, e nada; nem o rosto do meu perseguidor eu podia ver na posição em que estávamos. Desesperada, pensando numa possibilidade de fuga, eu só me acalmei quando escutei aquela voz tão familiar pra mim:

– Não faça barulho – pediu Victor suavemente ao pé do meu ouvido. Fiz que sim com a cabeça e lentamente ele soltou sua mão de minha boca colocando, em seguida, o dedo indicador na sua, num gesto para que eu fizesse silêncio – Vamos!

- Victor, mas e Sofia? – eu quis saber. Não podíamos deixa-la correndo perigo com os saqueadores, nós tínhamos que voltar e liberta-la! Por que ele estava indo em direção oposta?

- Vamos Luiza, obedeça pelo menos dessa vez! – ele colocou ênfase nas duas últimas palavras, demonstrando sua impaciência corriqueira.

- Onde está Maicon? – eu insisti. Se eu falasse com ele, com certeza ele me entenderia e me apoiaria, porque ele era muito mais sensato que Victor nas situações de risco. Pensando bem, não só nas de risco, mas em todas as situações, afinal, Victor era o senhor “faça o que eu mando porque eu estou sempre certo”.

- Fique em silêncio! Que parte do “não faça barulho” você não entendeu? – respondeu ele elevando o tom de voz, claramente irritado.

- Desculpe – disse sem jeito. Ele não nada respondeu, construiu uma bolha invisível entre nós, e lá ficou trancafiado, em um mundo a parte, enquanto caminhávamos por entre as árvores. Eu parecia estar sozinha, nem seus passos podiam ser ouvidos tamanha destreza com que ele se movia na mata. Comecei a me sentir incomodada com aquela indiferença e quando quis romper sua barreira, preferiria que não tivesse tentado:

- Victor – comecei timidamente, mas ele me interrompeu antes que eu continuasse.

– Eu não sei o que fazer com você Luiza! Você me tira do sério. Eu não mandei você ir para a aldeia?

– E eu disse que não iria - Respondi tranquilamente.

– Você está me desafiando? É de desafio que você gosta. Pois bem...

Ele estava entendendo tudo errado, eu só queria ajudar Sofia! Tentei explicar-lhe, mas ele me deteve. Em um piscar de olhos, eu estava com as costas coladas em uma árvore e com a ponta de uma faca em meu pescoço, enquanto ele me olhava com uma frieza assassina uma superioridade aparente.

– Preste bem atenção no que eu vou te dizer, não quero ter que repetir. Sempre estive no comando, quem dá as ordens aqui sou eu, você pode entender isso? –perguntou de um jeito ameaçador, pressionando a faca, um pouco mais, sob minha pele que ardeu com o toque afiado da lâmina. Eu estava tão surpresa e assustada com a mudança de atitude de Victor, que não tinha fôlego para responder.

– Responda – ordenou ele – Quem dá as ordens aqui? – perguntou, pressionou a faca um pouco mais. Ele ia acabar me cortando se continuasse assim, será que ele teria coragem para tanto? Bem, se tratando de senhor Victor volúvel, preferi não arriscar.

– Você – respondi engasgada.

– Boa menina – zombou ele dando um sorriso sarcástico. Ele aliviou um pouco a pressão da faca e começou a desenhar pequenos padrões em minha pele, enquanto continuava a falar pausadamente, com um olhar maníaco sobre o rosto – agora eu vou te soltar e como a boa menina que você é, você vai obedecer cada ordem que eu der, sem reclamar ou interpor. Não vai? – desdenhou.

Engoli a saliva e fiz que sim com a cabeça.

– Diga, quero ouvir! – mandou ele.

– Sim – eu disse receosa – você está me machucando, Victor!

– Que bom que você sabe do que eu sou capaz! – satirizou ele.

– Mas você não pode fazer nada comigo! – eu disse confiante.

– Será? – zombou ele - Ninguém sabe que você está aqui, eu poderia perder o controle por um segundo e ninguém saberia o que te aconteceu – afirmou parando a faca sobre minha bochecha – Tsc, tsc, tsc!- ele estalou a língua – Seria uma pena machucar esse seu rostinho lindo!

– Acho que você está enganado.

– Acho que quem está enganada aqui é você senhorita Luiza.

– Victor eu sei que você está furioso porque eu fugi - eu disse com cuidado, um movimento em falso e, só Deus sabe do que ele seria capaz. Não sei por quanto tempo eu ainda iria aguentar meu corpo sobre meus pés. Meu coração pulsava acelerado e eu suava frio com medo do que ele provavelmente faria comigo caso eu o desafiasse.

– Eu não estou furioso, você ainda não me viu furioso, Luiza. Não me desafie! Se pensa que o que aconteceu hoje de manhã na caverna te dá liberdade para me desobedecer, saiba que não aconteceu nada para que eu mudasse minha atitude... Eu não confio em gente da sua laia. Agora, continue andando- ordenou e logo em seguida retirou a faca de meu pescoço e guardou em uma bainha da calça. Respirei aliviada.

“Idiota” pensei, mas não disse mais uma palavra. Caminhamos em silêncio pelo restante do caminho, ele parecia estar perdido em seus pensamentos, mal notando minha presença. Quando paramos em uma pedra, Victor ficou em pé e eu me sentei no chão coberto de folhas enquanto esperávamos por Maicon. Eu tinha as mais diferentes coisas para me preocupar: eu fui sequestrada, eu estava sendo levada pra um lugar que eu não fazia ideia de onde ficava e eu acabara de ser ameaçada de morte, e mesmo assim, o que mais me preocupava era aquela única frase “Não aconteceu nada de manhã”.

”Não aconteceu nada de manha”, fiquei repetindo pra mim mesmo na tentativa de me convencer disso. Eu não devia estar chateada. Eu não devia estar me importando. E eu não devia estar a ponto de chorar por causa daquele garoto. Quando Maicon finalmente apareceu, deixei toda resistência de lado e me joguei em seus braços. Era um colo doce e acolhedor. Tudo que eu precisava naquele momento para aliviar toda a minha tensão das últimas horas. Ele me abraçou firme e eu não tentei mais segurar o choro, desabei em lágrimas.

– Luiza – ele disse surpreso e ao mesmo tempo assustado – O que está acontecendo. O que você está fazendo aqui? Calma! Está tudo bem, você está bem, a gente vai cuidar de você. Chiuu, chiuuu! – ele tentava me acalmar e eu não conseguia dizer uma só palavra.

– Victor, o que aconteceu? – ele quis saber.

– Eu não sei – ele disse como quem não entendia o que se passava, puro fingimento – Quando eu a encontrei ela estava escondida atrás de uma árvore, o bando de Claude procurava por ela, eu não sei por que, mas ela parecia estar bem, ela até discutiu comigo.

– Calma Lu!– pediu Maicon docemente enquanto acarinhava meus cabelos. – Conte-nos o que aconteceu, onde estão Pedro e Miguel?

– Eu não sei – disse entre soluços – eu fugi.

E Então comecei a contar tudo o que havia acontecido, desde minha fuga, até o momento em que Victor me encontrou, deixando de lado apenas o episódio com a faca. Quando acabei, a noite caía serena e assustadora. As sombras das árvores, criadas pela luz amarelada de uma fogueira, davam um clima espectral à floresta e o silêncio macabro, era quebrado apenas pelas vozes de Victor e Maicon, planejando o resgate de Sofia para o amanhecer.

Eu prestava atenção a cada palavra dita e não dita, observava os olhares convictos de Victor, e a sua aparente mudança de humor. Era como se outra pessoa ocupasse seu corpo, todo o descontrole e irritação tinham se evaporado, tudo que restara era sua capacidade excepcional de planejamento. Ele parecia tão seguro de seus planos, que até eu confiaria cegamente neles. Ou então, talvez fosse o efeito acolhedor dos braços de Maicon. Eu continuava abraçada a ele que me dava à sensação de tranquilidade e segurança, eu me sentia protegida.

– Ah! Victor, eu já ia me esquecendo - lembrou Maicon – você tem que me devolver meus feijões...

– Feijões – perguntei baixinho para que somente ele pudesse me ouvir.

– É Lu, nós apostamos – disse Maicon em voz alta - Victor disse que você iria direto para o acampamento e eu tinha certeza que você daria um jeito de vir. Achei que ele tivesse ganhando, mas já deu pra perceber que eu te conheço melhor do que ele. – completou ele, com um sorriso presunçoso no rosto.

Victor nada respondeu, tirou um saquinho de guardar moedas do bolso e jogou mirando em Maicon. O saquinho veio voando bem na minha direção e acertaria minha cabeça caso eu não me abaixasse a tempo, eu o fiz e saquinho caiu atrás de nós. Fingi que nada tinha acontecido, olhei pra Maicon e perguntei:

–Por que feijões? Por que não dinheiro?

– Nós não temos dinheiro na aldeia, acho que ninguém na Iméria tem.

– Hmm... Como vocês compram as coisas?

– Nós não compramos, é tudo feito a base de troca.

– Não se precisa de dinheiro quando se tem fome é de comida que precisamos. Sementes são muito mais valiosas que papel – se intrometeu Victor com um tom desdenhoso, ficando em pé logo em seguida – Vou dar uma volta, pra deixar vocês a sós.

Ele saiu como um furacão. Olhei pra Maicon fazendo uma careta e colocando as palmas das mãos para cima, num gesto de dúvida, sem entender o que tínhamos feito de errado.

– Não ligue pra ele, acho que isso se chama ciúmes – declarou Maicon.

– Duvido muito – respondi sem certeza.

– Victor não queria vir para essa missão, ele só veio porque foi obrigado. Se bem que – supôs Maicon – acho que ele pensou que essa viagem poderia ajuda-lo a esquecer.

– Esquecer? – eu quis saber.

– A namorada, ex na verdade. Eles terminaram uma semana antes de sairmos para te resgatar. É... eu acho que o tiro saiu pela culatra – ele riu.

– Como assim?

– Nada não. A verdade é que ele devia gostar muito dela porque ele nunca chegaria nem perto da Fortaleza, ele odeia mavros.

– Bom isso explica o porquê ele me odeia tanto.

– O fato de você ser uma mavra, uma habitante das cidades subterrâneas, não tem nada haver com isso, eu acho... é, talvez ele não te odeie, acho só que ele não esperava. Mas não fique triste, ele não merece.

– Eu não estou – menti – é só tensão. Foi um dia difícil. Você acha que vamos conseguir resgatar Sofia em segurança? – perguntei.

– Vamos sim – ele sorriu, passou a mão sobre a grama, pairando por alguns segundos sobre ela. Em seguida pude ver uma delicada flor brotando do chão, em crescimento acelerado, vi suas folhas se formando, e pétala a pétala, se posicionar para formar uma pequena margarida. Ele quebrou seu caule delicadamente e me entregou em seguida, um presente precioso, criado com suas habilidades de telecinésia. – Victor me contou que você já sabe – ele disse calmamente, como se fosse algo comum, que pra ele era. – Não se preocupe, mesmo depois de dias chuvosos o sol ainda tem forças para nascer – me incentivou – Agora descanse, amanhã teremos um dia complicado. Boa noite Luiza!

– Boa noite Maicon – eu disse me deitando, encantada com aquele pequeno gesto. Ah! Personalidades tão opostas.



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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? Por que será que Victor odeia tanto os habitantes das cidades subterrâneas? Até o próximo capítulo!



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