Destino escrita por Eve


Capítulo 9
Capítulo Nove


Notas iniciais do capítulo

[São 04:54 da manhã e ao mesmo tempo em que editava esse capítulo, estava revisitando uma das fanfics que li aqui há uns anos, e sei lá, de repente comecei a pensar em quanta coisa mudou desde que entrei nesse site, e no quanto ele foi importante na formação da minha personalidade, através dos escritores maravilhosos e leitores verdadeiramente angelicais que conheci aqui. Só posso dizer que sou infinitamente grata por tudo isso, e que sinto muita saudade dos velhos tempos, quando tudo era mais simples. Obrigada por ainda estarem aqui. Espero ainda poder enfrentar muitas etapas da minha vida com vocês. Tô chorosa. Me abracem.]



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IX

 

 

Por um momento, Poseidon pensou que a deixaria cair.

Não que Atena fosse pesada. Na verdade, ela parecia não pesar quase nada. Mas seu súbito desmaio meio que o pegou de surpresa. Ela despencou para o lado contrário ao que estava apoiado nele, e se não fosse pelo seu braço na cintura dela, Atena agora estaria com um hematoma bem feio na cabeça. Em vez disso, agora Poseidon a carregava pelas escadas do castelo, tentando prestar atenção em qualquer coisa que não fosse o seu decote e com Deméter atrás dele resmungando a todo tempo que se Atena comesse mais cereais esse tipo de coisa não aconteceria.

Poseidon até estaria gostando de ter que carregar Atena, de sentir seu corpo pequeno e delicado contra o seu, ou do modo como seus longos cabelos prateados caíam como uma cascata em direção ao chão, fazendo cócegas em seu braço. Isso se ele não estivesse tão insanamente preocupado com ela.

Finalmente Poseidon chegou ao cômodo que queria. Pediu que Deméter abrisse a porta, já que suas mãos estavam ocupadas no momento, e adentrou no aposento com cuidado para não bater Atena em lugar algum.

O aposento em que eles se encontravam era um dos poucos que Poseidon realmente gostava naquele castelo. Ele costumava chamá-lo de Sala de Leitura. O piso era escuro, como no restante do castelo, e uma das paredes era completamente ocupada por uma estante que continha os livros preferidos de Poseidon. A outra parede era coberta por uma tapeçaria vermelha e tinha uma porta exatamente no meio, que conduzia à biblioteca. No meio do aposento, que não era tão amplo quanto outros daquele castelo, havia um divã de veludo vermelho, grande o suficiente para que alguém como Poseidon se deitasse confortavelmente. Ele já ia colocar o corpo inerte em seus braços ali quando Deméter falou:

— Não, nada disso. Vire-se para mim. – Ele obedeceu à ordem hesitantemente. – Agora a coloque de pé, virada para você. Eu já sei o que há de errado com ela.

Poseidon então abaixou-se, e apoiou os dois pés de Atena no chão delicadamente. Ele sentia como se estivesse manipulando uma grande boneca de pano. Mas não comentou nada, apenas apoiou a cabeça dela em seu ombro, e segurou sua cintura com as duas mãos, como se a estivesse abraçando. Ele já ia perguntar o que Deméter faria a seguir, quando ela se aproximou e começou a desabotoar o vestido de Atena.

Agora sim Poseidon não estava entendendo nada. Deméter já havia acabado de abrir o vestido de Atena, deixando o espartilho à mostra, quando Poseidon subitamente compreendeu, e desviou o olhar, constrangido. Deméter passou cerca de dois minutos folgando o espartilho de Atena, até que Poseidon sentiu-a respirar profundamente, e o sopro da sua expiração se tornou mais forte em sua pele. Poseidon não percebeu, mas de repente Atena já estava devidamente vestida novamente, então ele a deitou no divã, enquanto Deméter seguiu para a parede atrás deles e abriu as janelas.

— Tudo isso foi por causa de um espartilho? – Poseidon perguntou enquanto se sentava no chão, bem ao lado de Atena.

— Aparentemente. Ela não estava acostumada a esse tipo. Mas pode ter sido apenas um mal-estar momentâneo, igualmente. Não podemos saber com certeza.

— Se Lorde Zeus visse aquela cena, provavelmente me mataria. – Poseidon não tinha visto nenhuma parte do seu corpo desnudo, apenas as vestes de baixo de Atena, mas sabia que estaria em uma enrascada se o pai dela os surpreendesse naquela situação.

Deméter apenas riu.

Como que na deixa, Zeus entrou na sala, trazendo em suas mãos um pequeno frasco e uma taça com água. Aproximadamente um milhão de pessoas vinham atrás dele, mas Poseidon não prestou atenção em seus rostos. Estava muito ocupado vendo Deméter acomodar adequadamente a sobrinha no divã, erguendo um pouco suas pernas com a ajuda de algumas almofadas e sentando-se na beirada do móvel, no aguardo de alguma reação da jovem. Todos na sala observavam Atena, num silêncio sepulcral. Poseidon estava ajoelhado bem ao seu lado, então foi o primeiro que viu quando suas pálpebras bateram levemente. Logo em seguida Atena abriu completamente os olhos, e Deméter suspirou aliviada.

— Ela ficará bem agora. – Deméter falou em voz alta. – Vamos sair e lhe dar um pouco de espaço.

Lentamente, todos foram saindo, murmurando entre si possíveis teorias sobre o episódio e se questionando se a festa continuaria. Ele identificou entre o movimento seus pais conduzindo todos de volta ao salão e garantindo que as celebrações ainda não haviam chegado ao fim. Poseidon já ia segui-los quando sentiu um fraco aperto em sua mão. Virou-se para trás e viu que Atena a segurava.

— Fique. – Ela pediu. Mesmo com a voz fraca, ela ainda tinha aquele inconfundível tom de comando do qual ele achava impossível escapar. Então ele voltou à posição em que estivera antes, sentado no chão ao lado dela.

— O que aconteceu? – Ela perguntou, olhando para ele e depois para a tia, que ainda estava ali, aparentemente misturando na taça de água algumas gotas do que quer que fosse a substância dentro do frasco que Lorde Zeus trouxera. 

— Você desmaiou - Ele respondeu, ao mesmo tempo em que Deméter dizia: 

— O de sempre. - Enquanto estendia a taça para Atena, que a tomou sem questionar.

A resposta de Deméter e a expressão familiarizada de Atena indicavam que aquele realmente não era um episódio raro. Entretanto, como nenhuma das duas ofereceu uma explicação mais detalhada, ele supôs que aquele não fosse o momento mais propício para questionar.

— E quem me trouxe para cá? - Ela perguntou, pela primeira vez parecendo confusa.

Poseidon quase riu diante daquele questionamento.

— Acha mesmo que eu a confiaria aos braços de outro?

Pelo franzir de suas sobrancelhas, aparentemente aquela não era uma pergunta retórica para ela. Mas antes que Atena pudesse dizer algo, sua tia anunciou:

— Vou voltar para o baile e dar notícias suas à família. Vocês dois provavelmente ainda são esperados lá embaixo, então não se distraiam muito, por favor. 

Ela saiu rapidamente e fechou a porta atrás de si, o tom sugestivo de suas palavras ainda pairando no aposento. Atena aproveitou a pequena distração para erguer-se suavemente, ficando sentada com as pernas mais próximas do corpo e virada para ele, com sua cabeça graciosamente apoiada no encosto do divã e toda a atenção dos olhos cinzentos voltada para Poseidon.

Por um momento ele se viu incapaz de dizer qualquer coisa, preso sob a força daquele olhar. Descobriu que não conseguia encará-la por muito tempo, e que desviar sua atenção para outros pontos do seu rosto, como o nariz perfeito ou a boca convidativa também não era de muita ajuda, então simplesmente mudou seu foco para um ponto qualquer na parede.

— Eu disse que não me dava muito bem com aglomerações. - Ela finalmente quebrou o silêncio.

— Da próxima vez levarei seus comentários mais a sério. - Ainda era estranho pensar que ainda haveria muitas próximas vezes para eles dois, uma vez que iriam de fato se casar dali a algumas semanas. 

— Assim espero. - Foi só o que Atena respondeu, com uma sugestão de sorriso no canto dos lábios ainda empalidecidos pelo desmaio. Ela revirou-se minimamente no sofá, fazendo-se mais confortável, antes de observar rapidamente o cômodo em que estavam e dizer: - Este é um belo aposento.

Poseidon não conseguiu desviar o olhar do rosto dela, apreendendo cuidadosamente cada detalhe da sua expressão enquanto ela erguia os olhos para examinar o lustre que pendia sobre suas cabeças e analisava os pormenores da sala. Involuntariamente, sua mão ergueu-se até seu rosto, atraindo a atenção dela de volta para si. Esperou que dissesse algo ou tentasse pará-lo, e quando ela não o fez, continuou com seu propósito, acariciando suavemente a lateral de sua face, da têmpora até o queixo, maravilhando-se com a maciez da pele dela sob seus dedos.

Subitamente, se deu conta do quanto estavam próximos, e talvez pela primeira vez desde que se conheceram, completamente sozinhos, e o impulso de um desejo que ele tinha desde a primeira vez que a vira o dominou. Em um só movimento ele anulou a pouca distância entre seus rostos e selou seus lábios, pressionando o inferior de Atena entre os seus. A mão que estivera em seu rosto escorregou até o pescoço delgado de Atena, mas antes que ele pudesse continuar com qualquer investida, ela delicadamente virou o rosto e se afastou.

Aquela recusa o fez cair em si e perceber o quão desrespeitosa tinha sido sua atitude. Antes que pudesse fazer alguma outra tolice, se levantou e caminhou para longe dali. Atena ainda estava com o rosto virado para o outro lado, negando-lhe sua reação, e então, envergonhado, ele se retirou do aposento, tentando evitar qualquer outra ofensa à sua honra.

 


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Notas finais do capítulo

Gente, vocês podem ter achado um exagero essa história do espartilho, mas é verdade. Eu fiz inúmeras pesquisas sobre o assunto, e todas elas diziam que na Idade Média as mulheres usavam espartilhos tão apertados que chegavam a ficar deformadas. Tenso.