Destino escrita por Eve


Capítulo 42
Capítulo Quarenta e Dois


Notas iniciais do capítulo

Quero aproveitar que postar três capítulos de uma vez me dá mais espaço para falar aqui nas notas e dar as boas-vindas aos novos leitores, além de agradecer pelos novos favoritos e pela paciência de todos ♥ Vocês são os melhores.



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XLII

  

Era a noite de véspera da chegada dos vassalos e Poseidon estava exausto; os preparativos intensos de seus soldados consumiam quase toda a sua energia diária e fora isso, as burocracias envolvendo as negociações e acordos que pretendia firmar durante aquela semana estavam prestes a deixá-lo completamente insano. Havia finalmente encerrado todas as suas últimas tarefas e agora, em suas roupas de dormir, tudo o que queria era repousar como uma pedra até o grande dia de amanhã.

Estava muito próximo de cumprir seu objetivo quando ouviu uma batida discreta na porta do seu quarto. Com algum esforço levantou-se e a abriu, mas não havia ninguém do lado de fora. Talvez o cansaço estivesse lhe provocando delírios; estava prestes a voltar para a cama quando ouviu a batida novamente.

O som vinha do portal que separava o seu quarto do de Atena, ele finalmente percebeu. Tantos dias haviam se passado sem que aquela passagem fosse usada que não pensara nela de imediato; correu para abri-la assim que percebeu seu erro.

— Estava dormindo? - Atena perguntou energicamente, e uma parte dele conseguiu questionar-se de onde ela tirava tanto vigor. - Não queria incomodá-lo.

— E não o fez. - Ele respondeu reprimindo um bocejo. Percebeu que ela também já usava suas roupas de dormir, parcialmente escondidas por um pesado manto, e trazia nas mãos toda uma sorte de pergaminhos.

— Preciso de sua ajuda. - Ela declarou, e aquela frase rara capturou sua atenção. - Pode me acompanhar?

— Claro. - Ele assentiu, fechando a porta atrás de si. Cada pedacinho do seu corpo ansiava por descanso ao segui-la até seus aposentos, mas uma chance para reaproximar-se da esposa era tudo que havia desejado durante os últimos dias e além disso, não era como se ele fosse capaz de negá-la qualquer coisa, então apenas ignorou qualquer incômodo e aguardou que ela explicasse qual era a situação.

Atena colocou os pergaminhos sobre a cama e deixou seu manto de lado antes de se acomodar com metade do corpo sob as cobertas. Olhou para Poseidon como se esperasse que ele fizesse o mesmo, e hesitantemente ele aproximou-se da cama dela e sentou-se na outra ponta do colchão. Não havia partilhado dos aposentos de Atena desde sua falsa noite de núpcias, e as lembranças daquela ocasião não eram bem-vindas naquele momento em que ele tentava manter o mínimo de compostura.

— Tenho aqui uma compilação de todos os nossos convidados mais relevantes de cada comitiva que chegará amanhã. - Ela quebrou o silêncio, capturando a atenção de Poseidon de volta para aquele plano. - Gostaria de memorizá-los para tornar minha hospitalidade mais eficiente, mas como ainda não os conheço, temo confundir rostos e títulos.

Poseidon acompanhava muito de longe aquela linha de raciocínio.

— E por isso quer que eu os descreva para você? - Ele arriscou, torcendo para estar errado.

— Exatamente.

Ele acomodou-se melhor sobre o colchão, apoiando as costas num dos pilares do dossel. Aquela seria uma tarefa longa.

— Tudo bem. - Ele concordou novamente. - Pode começar.

Atena pegou o pergaminho mais próximo e enquanto corria os olhos por ele, falou:

— De acordo com meus registros, os Carteret são os vassalos mais antigos de Atlântida.

— Sim. Eles também devem ser as pessoas mais antigas que você irá conhecer. O atual Lorde Carteret já era um ancião quando eu era apenas um garoto. A família dele tem sido leal aos Valence de Atlântida desde que as duas casas surgiram, então provavelmente não precisaremos de muito para convencê-los a nos apoiar.

Atena assentiu.

— Geoffrey e Margery d’Aguillon? - Ela perguntou.

— Não me recordo de tê-los conhecido pessoalmente, mas sei que o brasão deles é muito parecido com o dos Carteret, então não será difícil identificá-los.

Ela colocou a folha que segurava de lado e pegou outra entre o monte à sua frente.

— O que sabe sobre os Baignard?

Poseidon refletiu por um momento.

— Lorde Hefesto Baignard também herdou seus domínios recentemente. Seu pai era vassalo de tio Oceano mas Cronos tentou obter sua lealdade ao oferecê-lo a mão de minha irmã em casamento quando ele ainda era apenas herdeiro. Ele vir até nós provavelmente significa que pretende renovar os votos do antigo senhor, mas pode ter sido abordado novamente por Cronos, então temos de ter cuidado ao negociar com ele. Ele usa uma bengala, se não me engano; um acidente durante a infância o deixou manco. - E a esposa de Lorde Baignard era uma das mulheres mais belas que ele já conhecera, mas sabiamente guardou aquele detalhe para si mesmo.

— Não acho que seu pai voltaria a abordar alguém que já recusou uma aliança com ele uma vez.

— Talvez não, mas cuidado nunca é demais.

Ela anuiu e continuou sua lista; ele descreveu mais alguns senhores e seus brasões, assim como as histórias por trás de suas alianças com Atlântida. Os dois já haviam bocejado mais de uma vez ao chegar finalmente à última família convidada.

— Lorde Beauchamp provavelmente enviará um de seus filhos como emissário. Ele não deixa o próprio castelo desde que sua esposa faleceu há alguns anos.

— Algo relevante sobre os filhos? - Ela perguntou.

— Apenas que são tantos que não consigo me lembrar a quantidade exata. - Ele falou enquanto se espreguiçava. Haviam chegado ao fim daquela tarefa, mas ele ainda não queria deixá-la.

— Não posso dizer que os invejo. - Ela comentou enquanto recolhia todos os papéis e os guardava no armário mais próximo à cama.

— Mesmo? Não gostaria de ter muitos filhos? - A pergunta lhe escapou.

Atena corou de leve.

— Quis dizer que não invejo os filhos de Lorde Beauchamp; também tenho muitos irmãos e viver numa casa extremamente cheia pode ser mais difícil do que parece, mas você não saberia disso.

Ele deu de ombros, admitindo sua ignorância naquele quesito - também sem querer forçá-la a responder mais alguma pergunta constrangedora.

— Mas por quê tanto estranhamento? - Ela perguntou, e seus lábios estavam curvados no que quase poderia ser um sorriso curioso. - Você gostaria de ter muitos filhos?

— Sim. - Ele confessou, e houve uma pausa antes que ela comentasse:

— Me admira que tenha pensado nisso.

— Nunca pensou?

— Na verdade, não. - Ela falou sem olhá-lo nos olhos, correndo no lençol branco um padrão invisível com a ponta do dedo. - Nunca pensei que iria mesmo me casar. E... Pelo fato de minha mãe ter morrido no parto e de minha constituição física fraca, muitos dos que me examinaram presumiram que eu seria infértil.

Aquela admissão soou quase inaudível, e sua cabeça baixa mostrava que se sentia envergonhada por isso. Poseidon alcançou timidamente a mão dela que desenhava pela superfície do colchão e enlaçou seus dedos. Atena ergueu os olhos para seu rosto.

— Eles não teriam como saber disso. É apenas uma suposição. - Ele contestou, e ela apenas o encarou enquanto ele gentilmente acariciava o dorso de sua mão com o polegar.

— Aquela carta… - Atena começou, e algo em Poseidon se revirou ao abordar novamente o assunto delicado. Mas ouviu atentamente e em silêncio, uma vez que ela parecia pela primeira vez lutar para encontrar as palavras certas para algo. - Não quis realmente dizer nada daquilo. A escrevi poucos dias após chegar aqui e ainda estava… Ainda não o conhecia. Muita coisa mudou desde então.

Ele não soube como responder, uma intensa sensação de alívio misturada com toda a vergonha que já sentia triplicada ao descobrir que o motivo que levara a tudo aquilo sequer era válido. Atena retirou a mão que repousava abaixo da dele e o movimento chamou sua atenção para um hematoma amarelado no seu braço.

— O que foi isso? - Ele questionou enquanto impulsivamente se aproximava para tocar a pele exposta de leve e observar o machucado mais de perto.

— Cortesia de seu pai. - Ela falou, e quando ele ergueu um olhar confuso para seu rosto, esclareceu: - Cronos esteve no casamento de Hebe. Me encurralou durante o baile para proferir suas ameaças e me deixou isso de lembrança quando tentei desvencilhar-me.

O sangue de Poseidon ferveu ao ouvir aquele relato.

— Eu irei matá-lo. - Murmurou entredentes.

— Não diga insanidades. - Ela pediu. Poseidon respirou fundo e flexionou os dedos que havia cerrado em punho sem nem perceber. Ainda estavam muito próximos, e ele aproveitou-se disso para admirar de perto seus traços graciosos e a suavidade dos seus cachos dourados caindo soltos pelos ombros e costas tão delicados.

— Sinto muito. - E parecia que ele repetia aquele pedido pela milésima vez. - Por tudo.

Atena apenas acomodou-se melhor e mais próxima dele; Poseidon aproveitou aquele conforto redescoberto ao partilharem da companhia um do outro para continuar sua confissão:

— Menti quando disse que teria me deixado levar mesmo sem a carta. Não teria. - A resposta que dera a ela num momento de raiva o havia incomodado desde então, e havia refletido muito sobre a veracidade das palavras que pronunciara naquele momento, chegando à conclusão de que quaisquer que fossem seus instintos, não teria traído a esposa em outra circunstância, ou se soubesse que o conteúdo daquela carta não era verdadeiro. Se importava demais com Atena para feri-la tão deliberadamente daquela maneira.

— Não vamos mais falar sobre isso. - Ela pediu. - Por favor.

Poseidon engoliu em seco, porque estava claro naquela vulnerabilidade que a havia machucado mesmo que não de forma intencional. Ergueu uma mão hesitante para afastar uma mecha de cabelo do seu rosto enquanto perguntava:

— E como saberei se me perdoou?

— Você saberá. - E não se surpreendeu ao perceber que acreditava piamente naquela promessa.

 


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Notas finais do capítulo

Estou bem chateada porque tinha planejado publicar todos os capítulos que faltavam até o fim da fic durante esse mês de setembro, mas infelizmente não foi possível colocar esse plano em prática porque praticamente toda a minha família resolveu adoecer de uma só vez e passei mais de duas semanas alternando entre morar num quarto de hospital e visitar mais consultórios médicos do que fui capaz de registrar. Enfim, aparentemente estamos de volta a alguma normalidade, e o ritmo de atualizações aqui deve ficar mais frequente. Desculpem mesmo pelo sumiço!



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