Destino escrita por Eve


Capítulo 20
Capítulo Vinte




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XX

 

 

Atena acordou com a forte luz do sol em seus olhos. Ficou tão desnorteada por um momento que não se lembrou da noite passada ou o porquê de estar em um quarto completamente estranho. Apenas quando sentiu uma mão gelada em seu ombro foi que se levantou, espantada, cobrindo-se até a cintura e recordando tudo.

Poseidon não estava ali, o que a fez relaxar de encontro aos travesseiros. Na verdade, quem lhe acordava naquele momento era uma senhora baixinha e enrugada, sacudindo-a com brusquidão e depois se afastando para abrir as cortinas restantes, fazendo com que a luz invadisse ainda mais o quarto. A senhora resmungou qualquer coisa sobre um banho e Atena deixou-se guiar até a banheira que estava a um canto. A criada levou suas roupas até o outro lado do quarto enquanto Atena submergia. A água estava confortavelmente quente em comparação ao ar gelado de Atlântida, e a madeira era envernizada e suave ao toque.

Quando terminou o banho, suas roupas já estavam escolhidas e dispostas sobre a cama. Atena ergueu uma sobrancelha para a combinação de vestido marrom, longo, justo e com decote pequeno, e uma sobreveste simples e de cor cinzenta. Atena vestiu as polainas e a chemise sozinha, mas a senhora fez questão de vesti-la o vestido e a sobreveste. A combinação de cores a deixava terrivelmente apática, e a falta de um espartilho acompanhando o vestido a fazia sentir-se como uma criancinha. Então Atena foi carregada até um banquinho e a senhora dispôs-se a pentear seus cabelos. Escovou-o até que os cachos deixaram de ser cachos, e quando Atena fez menção de levantar-se, ela a puxou novamente dizendo rispidamente:

— Mulheres casadas não devem sair por aí com os cabelos à mostra. – E então os prendeu todo atrás da cabeça, cobrindo-os em seguida com touca e véu. Atena sentia-se como uma freira ou mesmo como as viúvas que viviam cobertas.

Dispensou a tal senhora assim que ficou pronta, e desceu as escadas sozinha, arriscando perder-se no caminho, pois ainda não conhecia o castelo muito bem. Mas para encontrar seu caminho, bastou seguir o aroma de comida que a levou até o pequeno salão onde aconteciam as refeições quando havia hóspedes no castelo. Como de costume, ela era a última a chegar, quando todos já estavam devidamente acomodados. Apesar de haver muitos lugares desocupados, a cadeira vazia entre a cabeceira – onde estava Poseidon – e o lugar de Cronos indicava claramente que era ali onde deveria sentar-se.

Atena caminhou até seu lugar sem olhar para ninguém na mesa, resmungando mentalmente que agora escolhiam suas roupas, o lugar onde ela se sentava, e sabe-se lá Deus o que mais. O desjejum foi rápido por falta de muitas opções no cardápio, e então todos foram guiados até a capela para a missa matinal. Quando esta acabou, Poseidon imediatamente posicionou-se ao seu lado, oferecendo-lhe o braço para que pudesse acompanhá-la. Atena aceitou porque sabia que era esse seu dever. Mas ainda não conseguia olhar para ele, depois da noite anterior.

— Pelo visto você conheceu Madge. – Ele comentou casualmente.

— Quem é Madge?

— A criada.

Atena finalmente compreendeu. 

— Ah, sim. Ela é um tanto... Excêntrica.

Poseidon riu, o que fez com que ela virasse para olhá-lo.

— Desculpe-me, mas você está muito engraçada com essas roupas... – E começou a sorrir novamente. Ela sabia que deveria ficar irritada pela zombaria, mas dadas as circunstâncias, só conseguiu sorrir também. Estava aliviada de saber que a tensão da noite anterior não se prolongara.

— Madge é a criada mais velha do castelo. - Ele explicou - Acho que ela já estava aqui quando meu tio Oceano era apenas uma criança, e isso não é pouco. Ela foi a ama da esposa dele, e ainda é muito apegada aos modos antigos, por assim dizer.

— Eu percebi.

— Queria poder trocá-la por outra criada, mas nós estamos com um pequeno problema aqui. A maioria dos servos voltou aos campos assim que meu tio morreu. Apenas os mais antigos continuam aqui, e isso porque não há mais trabalho para eles na cidade. – Atena percebeu que sua expressão agora era preocupada, abandonando o tom de brincadeira usado anteriormente.

— E o que podemos fazer sobre isso? - Ela perguntou.

— Ainda não sei. – Ele suspirou de frustração. – Mas terei tempo para pensar numa solução depois que nos despedirmos dos hóspedes.

Só então Atena olhou a seu redor e percebeu a movimentação típica de um dia de viagem.

— Todos já vão embora? – Ela perguntou, não sem um pouco de decepção na voz. Ainda não estava preparada para viver naquele castelo enorme apenas com Poseidon.

— Sim.

Eles caminharam em silêncio até o portão principal. A uma ordem de Poseidon, os vigias baixaram a ponte levadiça, e as carruagens já prontas saíram sem demora. Logo já estavam apenas eles e suas famílias no pátio. Todos se despediram de Poseidon primeiro, e então deram adeus à Atena. Seu pai cumprimentou os dois formalmente e sua madrasta - assim com Ares - a ignorou como sempre. Não que ela se importasse. Hebe despediu-se rapidamente e com timidez, mas Ártemis e Apolo passaram longos segundos junto a ela em um abraço triplo, com Atena espremida entre os dois. Ela prometeu que escreveria para eles sempre que pudesse. Tia Deméter a relembrou sobre seus deveres de esposa, e era como se ela soubesse que o casamento não havia sido consumado. Por fim, Perséfone a abraçou longamente, sussurrando em seu ouvido:

— Você escapou de mim hoje, mas eu ainda quero saber de tudo. Escreverei muitas cartas. – Atena estremeceu ao imaginar as perguntas indiscretas que viriam nessas cartas.

Despediu-se também da família de Poseidon – que agora era também sua família, tinha que se recordar a todo momento – discretamente, mas Héstia a abraçou antes que partissem. E então todos já haviam ido e Poseidon e Atena estavam novamente sozinhos, observando a ponte subir lentamente. Atena não conseguiu conter um suspiro quando ela se fechou. Era como uma prisão.

— Pretendia mostrá-la todo o castelo hoje – Poseidon disse, interrompendo seus devaneios. – Mas preciso resolver alguns assuntos urgentes. Você se importa de ficar sozinha por hoje?

Ela negou com um aceno, e Poseidon curvou-se em uma mesura antes de partir. Poderiam ter superado o atrito da noite anterior, mas o modo frio e cauteloso com o qual ainda se tratavam era a prova de que as coisas entre os dois estavam longe de ficar bem.

...

Atena basicamente não fez nada durante o dia todo. Perambulou um pouco pelo castelo e acabou até descobrindo uma antiga biblioteca que estava enterrada em poeira por conta da falta de uso. Uma rápida verificada em seu interior mostrou que a maioria dos manuscritos ali contidos ainda poderiam ser aproveitados, e Atena fez uma nota mental de voltar naquele cômodo depois e responsabilizar-se por restaurar todo aquele conhecimento. Continuando sua exploração, percebeu que o castelo parecia realmente descuidado e estava muito silencioso sem a presença dos sons de pessoas andando, falando e por vezes gritando, coisas comuns de se ver e ouvir principalmente em castelos grandes como aquele. Na verdade, o único lugar que indicava que aquele não era um lar abandonado era a cozinha, que Atena visitou rapidamente durante a manhã. Quem estivera cozinhando para eles durante aqueles dias foram criados trazido por Cronos de Ótris, e agora que eles haviam ido embora a cozinha estava sob a responsabilidade de Madge, que acabou se revelando uma terrível cozinheira no almoço.

Os dois almoçaram em um silêncio desconfortável, Poseidon passou a tarde fora novamente e ela foi para seu quarto, aproveitando o tempo livre para arrumar suas coisas, tirando tudo das arcas, sacolas e baús e distribuindo seus pertences adequadamente pelo quarto. Quando se desocupou novamente já era quase noite, e desceu para jantar. Poseidon não apareceu. Ela voltou então a seu quarto e dispensou a ajuda de Madge, despindo-se sozinha e vestindo sua longa camisola branca. A criada acendeu a lareira e retirou-se, mas Atena demorou a dormir.

Revirou-se na cama, sem querer admitir que a achava estranha sem a presença de Poseidon ao lado, e acabou por deitar-se bem na borda, virada para a parede oposta à janela e encarando a porta que ligava seus quartos, tentando imaginar o que ele estaria fazendo agora.


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