Como havia dito, acordei com uma maldita dor de cabeça, eu nem iria para a escola hoje.
Fui ao banheiro fiz minha higiene pessoal, e logo desci para tomar meu café da manhã.
Vi Matt totalmente perturbado e Zoe com mau humor (novidade).
Todos tomaram o café da manhã juntos e silencioso.
Zoe pegou sua mochila e colocou nas costas, ela ia para porta, mas Matt impediu.
- Senta Zoe, ninguém vai à escola hoje! – ele disse ainda olhando para o seu café.
Ela bufou e sentou na cadeira.
Matt cruzou as mãos e colocou-as na mesa, em seguida olhou para nós duas.
- Hum vamos lá – disse ele com calma
Eu e Zoe nos olhamos aquilo estava estranho demais, sem gritaria, sermão?
Estava quieto demais...
- MAS QUE MERDA FOI AQUELA ONTEM? – Gritou ele.
Ficamos quietas, e olhamos para baixo.
Era assim, que sempre fazíamos quando estávamos erradas.
- Andem, me respondem! E eu quero uma explicação muito boa – falou ele zangado
- A culpa é dela – falamos num uníssono.
- Eu estou cansado de ver vocês duas discutindo, mas ontem foi demais! Brigarem como se fossem duas garotas do gueto se pegando por aí por causa de um macho! – falou ele irritado
Não aguentei, comecei a rir... Aquela expressão de meninas do gueto, macho... Matt jamais falaria assim, isso só me fez mais rir.
- Gwen não tem graça! – disse ele zangado.
- Desculpe Matt, mas a hipótese que você usou me faz rir – disse ainda com a mão na boca para não deixar a risada predominar.
- Ok, expliquem porque se embebedou ontem? – disse ele.
- Não sei porque fiz isso, mas só estava magoada e com raiva, precisava me distrair. – disse.
- E que história é aquela? – falou ele
- Longa demais... – enrolei.
- Estou muito decepcionado com você Gwen! – falou ele.
Aquilo me irritou.
- Eu não sou perfeita Matthew, eu também erro. Vocês sempre esperam que eu seja perfeita, que não faça nada... E quando erro me ataca mil pedras. – falei semicerrando os dentes.
Ele ficou em silêncio.
- Eu cansei! Todos ficam me pressionando, a ser a perfeita, desde pequena. Principalmente você Zoe – falei olhando pra ela.
- Eu? Você está reclamando do quê Gwen? Você sempre foi a xodó, a preferida do Matt, sempre recebeu amor, enquanto todos me desprezaram.. Você está sendo julgada uma vez... UMA! Já eu, sempre fui eu a culpada, você era a certa e eu a errada – Zoe disse, elevando o tom de voz.
- Você sempre fez da minha vida um inferno, porque você tem ciúmes... E eu não tenho culpa de nada! Você não sabe de nada, você não sabe nem a metade do que eu sofro – falei irritada.
- Sofre? E eu? Você sempre teve o Matt para te defender, já eu nunca tive ninguém. E agora que eu fiquei com o Noah, você está nervosinha... Mas você sempre ganha tudo, quando eu ganho você pode se revoltar? Para de reclamar, eu sou sempre a excluída, a rejeitada– bufou ela e revirou os olhos.
Agora a conversa estava entre nós duas, Matt apenas olhava nossa discussão.
- Por mim que você apodreça com ele sua idiota! – gritei.
- CHEGA! Vocês estão piorando as coisas... Eu estou decepcionado com vocês duas! Porque sempre fui eu que cuidei de vocês, nossos pais pouco se importaram com nós.. E eu sempre dei meu melhor, deixo de fazer várias coisas pra mim, para dar a vocês, e é assim que vocês agradecem? – diz ele zangado.
- Ninguém pediu nada para você! Nunca ninguém se importou comigo... Só com a princesa perfeita – Zoe apontou para mim.
- Pra mim isso já deu! Jamais pensaria isso de vocês duas... Quer saber, eu não me importo com mais ninguém, vou ligar para mim... Ser egoísta, porque quando eu me importo as pessoas se aproveitam disso – disse ele totalmente estressado.
- Não Matt... – falei
- É isso aí! Liga pra si mesmo, eu não preciso de vocês, porque sempre nessa merda, eu fui a culpada... – disse Zoe cuspindo as palavras fazendo Matt quase chorar, e ela também.
- Cala a boca sua idiota, você é mal agradecida.. Matt largou a escola para cuidar de nós duas... Porque os nossos pais pouco se importavam.. E você reclama? Você que nunca se interagiu, sempre reclamando, você é uma idiota, isso que você é idiota! – gritei.
- Eu sou idiota? Você não sabe nem metade do que eu passei, enquanto você estava sendo paparicada – ela disse irônica.
- E nem você sabe de mim, mas eu não fico reclamando tempo todo! – disse com lágrimas nos olhos, mas eu as seguraria, não queria parecer fraca.
- Ah não enxe, você é uma fraca! Olha para você... Eu posso até reclamar, mas eu sempre tive amigos. Já namorei, e você? Fica ai se importando com idiotices... Ou melhor você é uma idiota – ela falou.
- E você é uma vadia! Vai ficar que nem nossa mãe, largou nós para ficar com um vagabundo qualquer! Você vai fazer isso com nós... Seguir o mesmo caminho – gritei.
Matt e Zoe me olharam incrédulos, não me importei. Zoe estava seguindo o mesmo caminho.
- Sabe o que eu queria? – perguntei. Ninguém respondeu, então continuei – Uma família de verdade, pais que me amassem, uma irmã com quem eu posso contar... Um irmão que tivesse terminado a escola e que agora tivesse um futuro melhor, e não parado para cuidar das irmãs, porque os pais largaram – agora eu chorava. – E sabe o que mais? Que tudo fosse normal, não precisa ser perfeito, só feliz... Mas ninguém é feliz, e você Zoe, se fosse realmente uma irmã, você se importaria comigo e não teria ficado com o garoto que eu gosto para fuder com a minha vida! Matthew, eu entendo que você tá chateado, desculpa por tudo, eu fui mal-agradecida e entendo se quiser ficar com raiva – falei e subi para o quarto.
Peguei uma mala e enfiei minhas roupas.
- Onde você vai? – perguntou Matt
- Eu não vou ficar hoje, preciso esfriar a cabeça, depois eu volto. – falei.
- Gwen, não precisa ser assim! – disse ele
- Precisa sim!  Eu cansei disso, da minha própria irmã me trair, de pais que me largaram, de um irmão que precisa ser feliz, e sou eu que estou estragando isso – falei.
- Não Gwen – disse ele com a cabeça baixa, mas pude ver suas lágrimas caindo – Não fui culpa sua, nem de ninguém, apenas deles.
- Me deixe ir Matthew – falei.
Ele parou na porta e olhou para mim, eu tinha que ser firme, mas aquilo me machucava muito.
- Tchau – disse.
Passei pela sala e Zoe ainda estava lá sentada, em choque, pelas palavras que eu disse. Ela ficou me olhando.
Então saí dali.
Corri o mais rápido possível, sem olhar para trás, mas lágrimas me cegavam, novamente as mesmas dores.
Sentei na calçada e ali desabei, me sentia um lixo! As pessoas passavam e me olhavam, mas eu não ligava, queria que o mundo explodisse!
Voltei a andar, e para piorar, começou a chover.
Agora eu era uma garota fraca, detonada, chorando e na chuva, com frio e fome.
Eu andava sem rumo, não queria ir na casa de Amy, não queria estragar mais a felicidade de ninguém.
Estava tão distraída que só escutei uma buzina e o carro freando.
Eu não aguentava mais, sentei no chão e comecei a chorar.
- Você é louca garota? – eu reconhecia essa voz.
Olhei para o garoto que tomou um susto.
- Gwen?? – disse Noah.
- Por que não me atropelou? – disse com uma voz baixa.
- Você está delirando! Vem vou te levar para casa – ele disse.
- Não vou a lugar nenhum! – falei.
Os outros carros começaram a buzinar e reclamar.
- Não tenho outra opção! – disse ele.
Me pegou no colo e me colocou dentro do seu carro no banco de trás.
E começou a dirigir, sempre me olhando para o retrovisor.
Eu chorava, chorava e chorava... Minha cabeça doía meu nariz já estava ardendo.  Meu corpo estava dolorido, eu simplesmente queria morrer. E porque eu estava no carro dele? Logo do cara que me magoou e causou tudo isso.
Ele viu minha situação e parou em uma rua.
- Gwen o que está havendo?
- E por que você se importa?
- Não sei, mas eu não deixaria você lá no meio da rua.
- Que hilário – eu comecei a gargalhar – Você me beija num dia, fica com minha irmã no outro.. Fode com minha vida, e agora resolve se importar?
- Gwen você está bêbada?
- Não porra! – gritei.
Eu jamais havia falado um palavrão, agora minha boca parecia o lixão.
Ele olhou para mim, e voltou a dirigir.
Parou numa casa e colocou seu carro dentro da garagem, deve ser a sua casa.
Desligo o motor e tirou as chaves, abriu a porta e fez um gesto para mim descer.
Desci e peguei minhas coisas. Nem tinha reparado que estava descalça.
Dei de ombros, e vou andando na chuva.
- Espera! – ele gritou.
Continuei a andar, não ficaria de jeito nenhum na casa dele, ele é o causador disso tudo!
Eu sentia seus passos se aproximarem, e fui um pouco mais rápido. Mas ele foi mais e puxou me braço.
- Me larga – gritei.
- Não vou deixar você ir embora nessa chuva, sozinha. – falou ele.
- Deixa de ser ridículo, você nunca se importou.. Só queria que eu fosse mais uma na sua lista, e agora fica se importando. Não vou entrar na sua casa!
- Vai sim! – ele disse, me irritando mais ainda.
- Não, não vou! Vou para qualquer lugar para longe de você – falei.
Voltei a andar, senti uma dor forte de cabeça, senti minhas pernas trêmulas e fracas demais para continuar. Parei no caminho.
- Gwen! – gritou Noah.
Então senti meus olhos fecharem e desmaiei.