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POVs Wade

Estive trancado naquele quarto de hotel por quase uma semana, sem poder falar com ninguém, por culpa dessa maldita herança no meu sangue. Estive lutando contra isso por tanto tempo, toda essa raiva, e essa sede por sangue dentro de mim. Mas não posso sair por ai machucando as pessoas, apenas pra que eu me sinta melhor.

É torturante a dor que sinto, quando nego a mim mesmo, os prazeres que o lobo em mim pede para que sejam saciados. Mas não posso ceder a eles nem por um instante. Mesmo assim, com todos esses problemas pessoais, não consigo parar de pensar na Alice. Esse desejo incontrolável de falar com ela, de tocar o rosto dela, ouvir sua voz, tocar seu corpo. Isso é o que mais me atormenta.

Decidi sair... Espairecer a cabeça... Fui então até um jogo de basquete na cidade.

Pra minha infelicidade, dei de cara com Alice, e aquele namoradinho dela. Me sentei na arquibancada no lado oposto ao deles, mas conseguia ver claramente cada movimento de ambos. Meus olhos vêem mais longe do que qualquer pessoa normal poderia ver, por isso sei que eles não poderiam me ver ali. Ainda mais no meio de tanta gente.

Mal consegui prestar atenção no jogo, tudo que eu via, era Alice. Ela sorria, e parecia feliz com aquele idiota. Não suportava o jeito como ele olhava pra ela. O modo como tocava ela. Por negar meus impulsos animais, as coisas ficavam mais desagradáveis pra mim. O que me deixava com raiva geralmente, me deixava com três vezes mais de raiva agora.

Sentia meu sangue fervendo nas minhas veias. E um desejo enorme de ser violento. Eu poderia esmagar cada osso da cara dele, sem nenhum esforço aparente. Ele nem precisaria saber quem fez aquilo. Ficaria inconsciente por pelo menos uma semana, e seria bastante doloroso.

POVs Alice

O jogo estava divertido, e Jimmy estava todo empolgado por que o time dele estava vencendo. Mas, eu comecei a ficar entediada, e com outras vontades. Então sussurrei no ouvido dele, que se ele me tirasse dali, eu recompensaria a noite dele.

Ele se virou pra mim e sorriu, olhando para meus lábios. Então convencido pelos meus métodos, decidiu desistir de ver o final do jogo. Saímos dali, indo direto para o estacionamento pegar o carro dele e ir pra qualquer outro lugar onde pudéssemos ficar sozinhos, e a vontade. Puxei Jimmy pela jaqueta e o encostei no capô do carro, ignorando as pessoas que estavam um pouco mais adiante, estacionando seus carros. E o beijei, inclinando meu corpo sobre o dele. Ele sorria enquanto me beijava, e colocava suas mãos nas minhas pernas, subindo ate meu traseiro. Eu poderia ficar com ele ali mesmo, se não fossem aquelas pessoas. Mas ainda tinha um pouco de noção, e educação. Então entramos no carro pra não dar um show para aquela gente.

...

No caminho que pegamos, pela estrada menos movimentada que passava por um bosque fechado. Íamos ouvindo as musicas do meu Pen Drive, com certo volume. Isso me deixava animada, mais do que o comum. Além do mais, dava um clima mais gostoso pra se pegar com seu namorado.

Fiquei cantando feito uma maluca ao som de “Animal I Have Become”, do Three Days Grace, musica que, aliás, combinava muito com minha situação atual. Enquanto Jimmy dirigia, tentando não rir da minha desafinação notória.

Eu estava me sentindo bem naquela noite, sem alucinações, e sem meus ataques histéricos de costume. Tudo que eu queria era libertar aquela energia de dentro de mim. E como Jimmy conhecia um jeitinho especial de me ajudar com isso...

O problema foi que segundos depois, de Jimmy me chamar de maluca e se inclinar pro lado enquanto dirigia pra me dar um beijo, algo entrou na nossa frente, batendo na lataria do opala. Jimmy não pode controlar a direção depois disso. Eu gritei percebendo que ele havia perdido o controle, e que iríamos capotar.

O carro virou tão depressa dando duas voltas, enquanto batia nas pedras da estrada. Que me fez bater com a cabeça e apagar. Devo ter ficado uns vinte minutos ou mais desacordada... Quando acordei, estava pendurada de cabeça para baixo, presa no cinto do carro. Olhei pro lado procurando Jimmy, mas ele não estava mais no carro. Soltei o cinto caindo sobre uma pilha de vidros quebrados. Depois sai do carro, de joelhos. Fiquei em pé sem muita dificuldade, e procurei por Jimmy.

Chamei o nome dele varias vezes, mas ele não respondia. Avancei alguns metros a frente, gritando pelo seu nome. Até que finalmente ele me respondeu, dizendo meu nome.

Corri na direção de onde vinha à voz dele, até encontrá-lo caído entre as árvores. Ele parecia assustado, com os joelhos no chão, e inclinado para frente, com as palmas das mãos na grama. Quando me viu, fez sinal para que eu não me aproximasse mais...

-Jimmy? _gritei de onde estava_ Voce tá bem?

-Volta pro carro e chama ajuda Alice... _disse ele com os olhos fixos em um ponto_

-O que? Jimmy, eu vou até aí...

-Alice não, volta pro carro... _ele disse em voz alta_

Ignorei seu pedido e avancei pelo meio das arvores até avistar um pequeno grupo de lobos. Mas esses não eram como os que vi na noite em que fui atacada. Eles não eram como os de antes. Eram maiores, com pêlos mais altos, e escuros. E dentes mais afiados tambem... Muito mais assustadores do que os anteriores. E eu não estava preparada pra enfrentá-los...

-Alice sai daqui, agora...

-Não... _disse assustada_ Não vou deixar voce aqui... _disse olhando para os lobos_

Jimmy estava segurando entre os dedos um pedaço de madeira, solto de uma das arvores. Imagino que ele esperava se defender com aquilo. Lembrei do meu recipiente com spray de prata, que eu havia conseguido com um uma mulher que vendia artesanato e ervas para rituais de bruxaria. Que ela dizia serem do tipo, magia branca, ou magia boa. E meu punhal, tambem de prata, mas estava tudo na minha bolsa no carro de Jimmy.

-Alice, sai daqui, eu vou cuidar disso, precisa chamar por ajuda... Meu telefone tá no carro... Vai... _não sei como ele tava conseguindo manter a calma, mas ele parecia seguro_ 

-Eu vou, mas eu vou voltar... _disse enquanto via dois dos lobos descerem de cima de uma pedra grande e rosnarem para Jimmy_

-Fica no carro... _disse Jimmy me olhando com olhar sério_

Apenas olhei pra ele, e sai correndo antes que aquelas coisas viessem atrás de mim. Senti que um deles iria me seguir, tentando evitar que eu chegasse ao carro, antes mesmo de ele se mover. Consegui chegar ao carro rapidamente, antes que a criatura se aproximasse. Mas eu não chamei por ajuda como Jimmy havia pedido. Ao invés disso, apanhei minhas coisas, e sai do carro. Dei de cara com um dos lobos ferozes me encarando. Coloquei uma das mãos dentro da mochila e segurei o spray. Quando ele saltou na minha direção, eu espirrei um jato forte de prata moída misturada a um líquido ardente, bem nos olhos daquela coisa. Isso não o mataria, mas causaria muita dor, com certeza. Isso me deu tempo de correr até Jimmy.

Quando cheguei ao lugar onde Jimmy estava, ele estava em pé, como se estivesse em posição de ataque, como fazia nas aulas de karatê. Com certeza ele sabia se defender, mas não sei por quanto tempo perto daquelas coisas. Junto das minhas coisas, havia um telefone. O coloquei no bolso, depois de apanhar o punhal envolto ao pano escuro dentro da mochila, e colocar o mesmo na cintura da minha calça jeens. Segurei o spray nas mãos, e me aproximei de Jimmy, vendo que ele havia se machucado.

-Voce tá ferido? _perguntei chegando pelas suas costas, vendo sangue no seu moletom_

-Alice, falei pra ficar no carro e esperar ajuda... _disse nervoso_

-E deixar voce aqui, com essas coisas? Vai sonhando...

-Eu me viro...

-O caramba... Não sabe o que eles são. Eu sei... Agora segura isso... _entreguei a ele o spray e o telefone_ Liga voce pra policia.

-O que é isso?

-Mira nos olhos... Isso vai nos dar uma vantagem.

-Como sabe disso?

-Já usei no outro...

Os lobos pareciam esperar uma atitude nossa, pareciam brincar com agente enquanto nos rodeavam e nos observavam. Parecia que queriam ver minha reação. Me coloquei na frente de Jimmy me mostrando disposta a fazer qualquer coisa para mantê-lo seguro.

-O que tá fazendo? _disse ele_

-Fica atrás de mim... Eu vou dar um jeito nisso. Sei o que eles querem... _passei a dirigir minhas palavras em alto e bom som para os lobos dessa vez_ Mas não vão ter o que querem... Podem tentar o quanto quiser...

-Voce tá doida? _disse Jimmy sem entender porque eu parecia conversar com as criaturas_

Nesse momento senti que um dos lobos se aproximava pelas costas de Jimmy, para atacar. Não sei dizer bem como fiz aquilo, mas usei uma das mãos para empurra Jimmy contra a árvore logo atrás de nós, e com a outra apanhei ligeiramente o punhal de prata na cintura. Quando a criatura passou por mim, consegui atravessar a lamina bem no centro da barriga. O lobo conseguiu me arranhar no braço, mas não senti dor por muito tempo. A dor foi rápida, e o corte foi fundo. Mas apesar do sangue não parar de sair, eu não sentia muita dor.

(continua...)