Falling Snow - O Despertar escrita por Tamires Vasconcelos


Capítulo 6
Capítulo 5 - Strange in Tok


Notas iniciais do capítulo

Oiee Gente. Bem eu gostaria de Ter postado esse capitulo no começo da semana, mas meu Computador resolveu dar problema e como o capitulo estava no Word não podia de jeito nenhum postar.
Bem espero que gostem.
Beijos!



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Com um longo e pesado suspiro, começo aos poucos despertar. Minha mente vai clareando conforme saio do mundo dos sonhos. Minha cabeça parece ter sido amarrada, com um tijolo em cima dela pressionando meu cérebro. 

Sento-me na cama ainda com os olhos fechados, passo as mãos na testa retirando os cabelos grudados do rosto. Em seguida esfrego os olhos, e com uma grande dificuldade eu os abro, como se uma força maior os quisesse mate-los fechados. Com a cabeça baixa e com os olhos ainda lutando desesperadamente para se manter abertos, afasto a coberta cor de rosa com minúsculas flores amarelas e azuis. Ajeitando-me com dificuldade para levantar.

Só então percebo que não estou em meu quarto. Olho em volta, as paredes são rosa com alguns pequenos desenhos de flores e personagens. Todos os móveis ali eram rosa ou derivados dele, brinquedos estavam espalhados por todos os lugares.

Posso ver um pequeno raio de sol surgir entre a brecha das cortinas brancas com formato de mãos coloridas espalhadas por ela toda.

Esfrego a cabeça, aquilo com certeza era um sonho. Tento raciocinar para lembrar como vim parar aqui, mas minha mente esta vazia para tal ação.

- Essa é a Anne - Ouço uma voz doce e meiga vindo da porta.

Uma garotinha pequena aparentemente com idade entre cinco e seis anos me olha curiosa com seus minúsculos olhos verde claro. Seus cabelos são castanhos escuros quase negros, caem até acima dos seus ombros em pequenos cachos. Ela me parece realmente familiar, na maneira como me olha ou a forma como seus pequenos cachos balançam a cada movimento. A garotinha veste uma blusa de moletom cor de azul bebe juntamente com uma saia jeans com botas rosa, repleta de plumas violetas.

Com os dedinhos pequenos e gorduchos ela aponta para a cama, sigo seus olhos e encontro do meu lado uma boneca de pano com cabelos de tricô rosa e um vestido de babado verde claro. Pego a boneca com cuidado que se desmancha com em minhas mãos, olho novamente para a garotinha.

- Anne? - Pergunto acariciando os cabelos da boneca.

Ela balança a cabeça fazendo seus cachos pularem.

- A coloquei ai para você não ter pesadelos - Ela dá um passo para frente, enquanto fala se atropelando nas palavras.

Sorrio para a garotinha.

- Muito obrigada ela me ajudou bastante - Olho em volta - Esse quarto é seu?

Ela dá mais alguns passos para frente. Balança a cabeça olhando os brinquedos no chão.

- É sim. Pedi para o papai colocar você aqui.

Analiso a garotinha familiar novamente. Sinto um estalo na minha mente, como se uma lâmpada tivesse sido acessa.

- Qual o seu nome? - Pergunto com um exagerado sorriso.

- Allie. Allie Stalteri. Tenho seis anos - Ela diz orgulhosa colocando suas mãozinhas na cintura de forma desajeitada.

- Allie Stalteri - Repito devagar cada palavra - É um nome realmente lindo. Você sabe quem eu sou?

Ela sorri levantando um pouco o rosto, tentando parecer mais velha.

- Sei sim. Você é a tia Amy.

Encaro a boneca em minha mão. 

- Tia Amy - Repito a palavra com um pequeno sorriso no rosto.

A garotinha sem aviso prévio sai correndo do quarto e ouso suas delicadas pisadas sobe o piso de madeira, que suas risadas de criança.

- Ei. Espera! - Grito, mas só escuto sua doce risada ficando cada vez mais longe.

Olho novamente o quarto. Não acredito que estou realmente aqui, respiro fundo e me ponho de pé. Ao pé da minha cama encontro uma muda de roupa, uma blusa branca sem mangas juntamente com um casaco de moletom azul marinho, calça jeans e sapatos. Ajeito meus cabelos apenas entrelaçando meus dedos nos fios. Pondo apenas a cabeça para fora do quarto, vejo que um longo corredor se estende com diversas portas, e entre este uma escada de madeira. Ao olhar a escada de madeira velha e lascada, uma lembrança retoma minha mente. Uma garotinha de curtos cabelos castanhos escuros, sentada comendo um doce caramelado, deixando seu rosto, roupa e a própria escada completamente suja.

Balanço a cabeça, afastando a lembrança. Desço as escadas devagar e chego á uma grande sala, com sofás fofos e aconchegantes de uma cor bege quase amarelada, com almofadas em marrom. Uma televisão grande de tela fina estava suspensa na parede, um pouco mais á frente vejo um pequeno corredor. Sei que atravessando este eu estaria na vasta cozinha, com um balcão e uma pequena mesa redonda. Aquela era a minha casa.

Chego à cozinha e vejo Ian de costas na beira do fogão, vestia calças jeans escuras e uma blusa branca sem mangas. Seu cabelo como sempre em um estilo rebelde. Allie está sentada á mesas, suas pequenas pernas ainda não alcançando o chão balançam freneticamente enquanto canta.

- Tia Amy! - Pulo dando alguns passos para trás, quando a garotinha grita.

Ian olha instantaneamente para trás também assustado. Nossos olhos se encontram, não sei por quanto tempo ficamos naquela situação. Apenas observamos as emoções e reações um do outro, como sempre mantenho firme meus olhos e não ouso desviar. Por fim ele sorri voltando a se concentrar no fogão.

- Acordou mais cedo do que eu achei que fosse acordar – Ele diz com uma voz rouca.

Cruzo meus braços ainda de pé.

- Por quê? Por um acaso você me deu um, Boa-Noite Cinderela? – Digo enquanto Allie começa a cantar novamente brincando com os talheres.

- Foi – Ele diz hesitante, mas com um pequeno sorriso.

- Você está brincando, não é? – Dou alguns passos para frente com a intenção de escutar melhor, para não estar enganada.

Ele se vira para mim com uma frigideira na mão que contem ovos e bacon. Suas sobrancelhas estão arqueadas de forma divertida. Pelo motivo eu não sei, pois aquela conversa não estava realmente sendo engraçada.

- È claro que estou. Eu não faria isso com você – Ian diz ainda com um pequeno sorrido. O que me faz bufar.

Ele caminha até mesa e serve uma porção de ovos para Allie, acompanhado de suco. Vejo que tem três pratos na mesa, antes de servir o ultimo ele se vira para mim.

- Quer tomar o café da manhã? – Ele diz casualmente. Apenas dou alguns passos em sua direção.

- O que foi que você fez comigo Ian? – Pergunto elevando um pouco minha voz.

Ele respira fundo.

 - Vamos falar disso depois – Sua voz permaneça calma. Isso me irrita mais.

- Não. Nós vamos falar disso agora, o que aconteceu comigo? – Enquanto falo cruza meus braços novamente. Sinto minha pele ferver com a demora da sua resposta.

- Foi o seguinte. Eu sabia que você não viria para cá de boa e espontânea vontade. Então quando você teve alta do hospital eu meio que droguei você um pouco, só para ficar um pouco tonta e te trouxe para cá - Ele diz de forma o mais simples possível, como se aquilo acontecesse diariamente.

- Você me drogou? Não acredito que você fez isso Ian! - Digo quase gritando.

- Me desculpe Amy. Mas eu não pensei em nada melhor - Ele diz colocando com força a frigideira na mesa.

Solto uma risada.

- Certo. Agora você é realmente louco – Digo levantando os braços para o alto - Me sequestrou usando drogas. E agora vai me manter em cárcere privado? - Pergunto começando a andar de um lado para o outro.

- É claro que não. A porta está ali. Se você quiser sai pode sair, o que você não consegue entender Amy é que eu não estou te sequestrando nem tentando te manter presa, quero que você fique em Tok. Pelo menos por um tempo é as coisas se acalmarem. Se você quiser sair e aproveitar a cidade, por mim tudo bem. 

Fito o chão de porcelana branco sob meus pés, olho finalmente para Ian que ainda está de pé.

- Que seja – Digo com um gruído. Dou-lhe as costas caminhando com passos pesados até a porta.

- Não está com fome? – Eu o ouço gritar atrás de mim. As finjo não escutar e bato a porta com força antes de sair.

Viro-me para encarar o vasto jardim em minha frente e recebo uma brisa refrescante em meu rosto. É outono, as folhas estão secas, a grama está marrom e com um aspecto terrível, mas contem a sua estranha beleza. Meus olhos se mantêm par a única arvore do jardim, uma Sacomoro, aquela era minha arvore favorita. Extremamente alta com um tronco grosso e galhos longos, de onde possivelmente era possível tocar o sol.  Sempre fora farta de folhas tão verdes quando a grama.  

A arvore Sacomoro agora parece um espantalho. Esta rodeada de folhas amarelas e marrons, poucas foram as que resistiram em seus grossos galhos.

Sigo com passos rápidos e precisos uma passagem, em meio à grama, grandes quadrados de cimento, mas que estava sendo tomado pelo lodo. Chego rápido á um portão grande de ferro. O fungo da ferrugem já havia se alastrado por ele todo. As dobradiças estavam tortas, e seriam facilmente quebradas com uma pequena quantidade de força.

Analiso um pouco mais o portão e concluo que só poderia passar por aquele portão se por um acaso tivesse a chave. O que não era exatamente uma opção, pois que nunca voltaria aquela casa para pedir a chave.

Olho muros em volta das propriedades da casa. Os muros gastos estão tomados por ervas daninhas que seguram o frágil portão ainda de pé. Posso ver entre apenas os galhos secos das ervas daninhas, pequenos buracos nos blocos de cimento, inconscientemente um sorriso surge em meus lábios.

Analiso cuidadosamente o muro escolhendo minhas opções. Por fim encaixo a ponta do meu pé, uma das minhas mãos preenche um buraco um pouco acima da minha cabeça enquanto a outra apenas segura em um frágil galho da arvore. Dou um impulso, ficando colada com a ponta do meu sapato espremendo se no buraco e minha outra perna suspensa no ar. Minha que está segurando o buraco começa a doer com a força exercida, sinto as pequenas pedras se alojarem em minha pele. Sinto-me cair quando os pequeno galhos que seguro começam a se quebrar, solto-os com rapidez, me esticando ao máximo seguro em um outro buraco ainda mais alta que o ultimo. Minha perna suspensa se dobra para alcançar um buraco mais acima. E assim começo minha escalada. Ao chegar no final minhas mãos já estavam dormentes e anormalmente doloridas, precioso as palmas das minha mão e faço força para puxar meu corpo para cima, minhas pernas lutas para conseguir alcançar a superfície do muro. Por fim consigo me sentar, respirando ofegante pelo esforço.

Olho para baixo, com certeza o muro era alto demais para pular de uma vez só. Mais se eu conseguisse, mas seu eu conseguisse descer um pouco seria fácil pular. Viro-me tentando encaixar a ponta do meu tênis novamente em um buraco, só que dessa vez, muito menor. Seguro com firmeza no muro, não confiando mais nos galhos consigo colocar meu pé em um buraco um pouco longe do outro. 

Mas escorrego e fico pendurado no muro, minha mão que antes estava engessada começa a apresentar uma fina e insuportável dor. Eu poderia ser milagrosa como o Dr. Richards dissera, mas aquele braço jamais seria o mesmo. Tento lutar com meus pés tentando ficar de pé no muro, mas minhas mãos não aguentam e caio sentada no chão. A queda me causou menos danos do que eu imaginei, apenas minhas mãos estavam raladas.

Me ponho de pé rápido e olho em volta, desejando que ninguém estivesse ali naquele momento. Passo as mãos na minha calça e ajeito meus cabelos, puxando algumas mexas para trás.

Uma pequena estrada que provavelmente daria na cidade, algumas casas de madeira foram construídas ao lado da minha, uma das coisas da qual sempre odiei era morar longe dos meus amigos. Mas a floresta a minha frente repleta de pinheiros estava intacta. Começo a caminhar pela estrada, mas paro e olho para os vastos pinheiros, conhecia aquela pequena parte da floresta como a palma da minha mãe, e sabia um atalho que Ian havia me ensinado, para chegar mais rápido na cidade.

Meus pés avançam até o mata, mas simplesmente param, devido minha recente lembrança dentro de uma floresta permito-me afastar. Talvez a longa caminhada até cidade me faça bem, desde o meu acidente que eu não caminhava, literalmente. Dar pequenas voltas nos corredores repletos de pessoas vestidas de branco ou com algumas quase morrendo não era uma caminhada muito agradável.

Continuo a caminhar, tentando não lembrar da minha infância naquele lugar. Mas era quase que impossível  tudo naquele lugar me fazia lembrar. O cheiro dos pinheiros, das madeiras das casas que não estavam muito longe da estrada, e até mesmo o céu cinza com algumas pequenas pinceladas de azul.

Estou imersa em pensamentos quando uma buzina me retira dos meus devaneios. Respiro fundo. Eu estava no acostamento, era impossível estar atrapalhando alguém que não queira apenas atormentar. Olho para trás e encontro uma camionete branca com a tintura já gasta. O carro se aproxima desacelera ao meu lado acompanhando meus passos.

Olho dentro do carro e encontro no banco do carona, uma garota pequena de cabelos negros presos em um rabo de cavalo, segura apenas uma bichinho de pelúcia no qual estava entretida brincando. Dirigindo o carro e inclinando-se para mim uma mulher esbelta, com um rosto fino e seguro, longos cabelos negros que caiam por seus ombros e intensos olhos azuis.

Emily Salonen.

Eu a reconhecia, seus intensos olhos azuis e cabelos negros eram suas características pessoais. Lembro-me dela como uma mulher sorridente e nada modesta. Bastante severa e dura nas palavras, não tolerava erros e bobagens. Muito ao contrario do seu Marido, Derek Salonen. Sempre brincalhão de liberal demais, gostava de contar piadas e brincas com as crianças.

- Quer uma carona? – Ela pergunta alternando os olhos entre mim e a estrada.

Balanço a cabeça.

- Não obrigada, gosto de andar.

Ela me analisa por um tempo e distribui um falso sorriso por seu rosto.

- Você é nova na cidade, não é? – Pergunta ainda com um sorriso.

Olho para os lados e respiro fundo. Por um lado fiquei feliz por ela não ter me reconhecido, por motivos que agora eu preferia não lembrar.

- Sou – Digo hesitante – Mais ou menos.

Ela me olha confusa.

- Certo. Sou Emily Salonen e essa é minha filha Rachel – Ela diz orgulhosa – Diga olá para a moça.

Solto um sorriso amarelo, por não notar que aquela era sua filha. Olho para a garotinha que estava apenas preocupada com seu brinquedo.

- Claro que é – Digo para mim mesma.

- Certo. Temos que ir agora, talvez nos veja por ai – Ela diz e simplesmente dispara o carro.

Continuo a caminhar. A caminhada não é tão longo quando eu esperava em pouco tempo as casas começaram a ficar mais freqüentes assim como os carros e em seguida pude ver a pequena cidade, todos os comércios e casas de madeira o que era estranho.

As pessoas estavam em seus afazeres normais. Adultos trabalhando em lojas, restaurantes, supermercados, alguns policiais e guardas de transito nas ruas. Crianças indo para a escola. Tudo parecia ser estranhamente normal para eles, talvez porque a maioria não conhecia o outro lado que Tok existia. Mas muito provavelmente eu era a estranha ali, que não estava acostumada com a vida calma e sonegada daquele lugar.

Enquanto ando pelas ruas cheias de folhas de outono encaro as pessoas esperando reconhecer alguma, assim como reconheci Emily. Mas não reconhecera quase ninguém ali, algumas pessoas eu poderia chutar os nomes e a minoria tinha certeza de quem era.

Encontro uma pequena loja, na qual onde vendia e comprava livros antigos. Entro na loja e um sininho toca. A bibliotecária de óculos caídos em seus olhos cansados, uma mecha de seus cabelos grisalhos caia sobre seu rosto e ela não parecia se importar. Está debruçada sobre um livro velho do qual parecia ter chamado sua atenção. Ela apenas olha para mim e com as sobrancelhas arqueadas volta à atenção para o livro.

Dirijo-me para as prateleiras de madeira velha com alguns buracos causados por cupins. Passo o indicador por cada livro empoeirado, apenas aqueles em que as capas são bem trabalhadas e parecem ser realmente antigos me interesso de apenas pegar para observa o nome e folhear com cuidado algumas paginas. E os coloco de volta no lugar com a maior cuidado possível, pois sei o valor que eles têm.

- Quer ajuda? – Ouço uma voz masculina e consideravelmente sedutora atrás de mim.

- Não obrigada – Digo sem ao menos olhar para trás.

Pego mais um livro e eu observo, minhas mãos tocam a capa dura, que retira a grossa poeira acumulada, liberando o nome do livro e seu autor. Ao Farol, Virgínia Wolf

- Esse é um livro de Virginia Wolf de...

- De mil novecentos e vinte e sete – Eu o interrompo com um sorriso – Conta a história da Família Ramsay e seus amigos que viajam até um farol em plena, Primeira Guerra mundial. Da qual tira a vida de muitas dessas pessoas.

Coloco o livro com cuidado no lugar e me viro para o rapaz que apenas me observa. Um pouco mais alto que eu, possui um rosto forte e incrivelmente sarcástico, mas que o deixa com uma beleza natural. Olhos castanhos olhos claros que me encaram de forma interrogativa, seus cabelos também são castanhos claros, mas estavam em um corte de soldados costumavam usar. Veste blusa de moletom cinza e calça jeans escura com uma parte de tênis sujos.

- Conhece sobre livros antigos? – Ele me pergunta um tanto surpreso.

- Conheço muito bem.

O Rapaz me olha de baixo para cima.

- Então talvez - Ele vai para uma prateleira e pega um livro - Você conheça As Brumas de Avalon de Marizon Zimmer Brasley de 1982. Sobre o famoso Mago Merlin e a Feiticeira Morgana, narrada na época do Rei Arthur, Lancelot e os Cavaleiros...

- Da Távola Redonda. É um livro realmente ótimo, o melhor sobre a época do Rei Arthur - Digo o interrompendo novamente.

Seus olhos param em mim de um jeito desafiante. Em seguida faz um sinal para que eu o siga para a próxima prateleira, eu o faço com um sorriso no rosto.

- Com certeza você nunca leu o Preço da Conquista, de Elizabeth Mayne...

Um pequeno sorriso surge em meus lábios.

- Um clássico de 1808. Conta a história do romance conturbado entre Elizabeth e Evan, um livro cheiro de mistérios. Realmente bom – Digo com meu sorriso resistindo em meus lábios.

Ele também sorri, levantando as mãos em forma de rendição.

- Certo você ganhou - O rapaz se aproxima de mim - Talvez também tenha lido Romeu e Julieta, o amor impossível de Shakespeare

Eu me afasto, dando alguns passos para trás.

- Com certeza impossível, pois a garota era uma idiota. Primeiro quem se mata por amor como o gênio do Romeu? Julieta então nem se fala é uma imbecil por não ter arranjado um plano melhor do que forjar a própria morte, não antes de ter certeza que Romeu soubesse. Por isso prefiro os livros de Emily Bronte, com mulheres fortes e determinadas.

Um sorriso surge no canto dos seus lábios.

- Também gosto de mulheres fortes e determinadas – Ele sussurra chegando perto de mim.

- È claro que sim. Mas não conhece nada sobre elas – Digo a ultima parte sussurrando

Ele apóia um braço nas prateleiras, querendo claramente mostras seus músculos definidos.

- Sou Natan – Ele estende a mão – Natan St. Jones – Ele diz com uma voz sedutora.

Eu o encaro por um tempo e me afasto para observá-lo melhor. O rapaz em minha frente ainda com a mão estendia, com certeza não parecia com o garoto magrelo de cabelos arrepiados que me ajudou a escapar do ataque dos Lobos.

- Não, não é você – Sussurro para mim mesmo, enquanto o observo – Quer dizer, nossa. Você.... Isso é impossível.

Ele me olha confuso, quase como se estivesse me chamando de louca ou psicopata.

- Não se lembra de mim, não? – Pergunto sorrindo.

- Com certeza me lembraria de alguém linda você – Ele diz retribuindo um sorriso.

Reviro os olhos diante do seu comentário.

- Amy. Quer dizer, Amélia Stalteri. Mas sou eu Amy – Digo arqueando as sobrancelhas.

Seu sorriso se desfaz e por um segundo achei que ele estivesse decepcionado por me ver. Mas em seguida em sorriso maior toma conta dos seus lábios e seus olhos parecem brilhar.

- Não acredito que é você. Isso é impossível – Ele diz desajeitado em seguida me envolve em um abraço que me retira no chão.

Respiro fundo.

- Isso é estranho. Você está... Diferente – Digo com um sorriso amarelo.

- E você... – Ele olha novamente para meu corpo, o que me deixa um pouco desconfortável – Está realmente linda.

- Você já disse isso.

Ele passa as mãos no cabelo.

- É eu disse. E dei em cima de você também – Ele diz nem um pouco envergonhado.

Cruzo os braços encarando ele com os olhos semicerrados.

- Mas não funcionou muito bem.

Ele sorri.

- Não teria tanta certeza – Ele diz e pisca para mim.

Reviro os olhos de novo.

- O que foi? Porque está me olhando desse jeito? – Ele pergunta com uma voz inocente.

Um sorriso escapa dos meus lábios.

- Você não era assim. Lembro que você era um garoto bonzinho que nunca fazia nada de errado. E agora virou um BadBoy conquistador.

Ele estufa exageradamente o peito, prendendo o ar.

- Qual é Amy, eu tinha oito anos desde a ultima vez que nos vimos eu ainda não pensava em garotas. Você também mudou bastante, não costumava ser uma chata sabe tudo.

Dou um leve soco em seu ombro, mas ele segura minha mão. Inclina-se um pouco e estica sua mão ocupada em direção ao meu rosto, mas sua mão para meus cabelos e retira alguma coisa. Uma pequena folha verde em forma de gota.

- Mas algumas coisas não mudam. Você ainda anda cheia de folhas na cabeça.

Solto do aperto forte da sua mão.

- Isso deve ter ficado no meu cabelo quando pulei o muro.

Ele me olha de jeito engraçado e passa as mãos nos meus cabelos, bagunçando-os. Seus lábios se abrem para dizer algo, alguma coisa decente não era, pois estava com um sorriso sarcástico no rosto. Mas é interrompido por uma voz feminina rouca e um tom baixo e casando.

- Natan. Tem milhares de livros pra você guardar aqui – Ao mesmo tempo nos olhamos para a bibliotecária que ainda está com os olhos colados no livro a sua frente.

- Tudo bem. Já estou indo – Natan grita.

- Você trabalha na biblioteca? – Pergunto enquanto ele faz uma careta para a mulher.

Ele coloca as mãos no bolso de sua blusa de moletom e olha para mim com um pequeno sorriso.

- Trabalho. È um emprego temporário.

Ele solta uma risada.

- Está explicado porque você sabe tanto sobre livros.

Natan retira a mãos no bolso e pressiona o dedo indicador nos seus lábios. Fazendo sinal de silencio.

- Só você que sabe até agora. Então nada de ficar espalhando boatos – Ele diz sussurrando.

- Seu segredo está guardado comigo.

Ele vai até o balcão e pega uma pilha enorme de livros, alguns de aparência velha e outros que pareciam ter sido restaurados para a leitura.

- Me conta um segredo seu? – Ele pergunta com um pouco de malicia em sua voz.

Olho pra ele que possui um pequeno sorriso nos lábios, seus olhos me encaram de um jeito divertido.

- E porque você acha que eu contaria um segredo meu? – Pergunto, enquanto ele se aproxima com os livros.

Natan joga os livros no chão que caem um sobre o outro. Sobe então em uma escada de ferro que está ao lado da prateleira.

- Pode pegar o livro da capa azul, por favor? – Ele diz apontando os livros.

Pego o livro da capa azul, sendo ele o primeiro da pilha recém destruída entrego para Natan que apenas me agradece com um aceno modesto.

- Você sabe por que quero que conte um segredo seu. Porque que isso pareça estranho no momento. Mas é verdade – Ele diz enquanto confere a numeração do livro e tenta encaixá-lo no meio dos outros.

Penso um pouco sobre o que ele acabará de dizer, mas não consigo chegar em nenhuma conclusão em meio a sua resposta.

- Não estou entendendo o que você está querendo dizer – Digo encostando-me na prateleira.

Ele olha para mim como se não acreditasse em minha palavra, ele arruma o livro da capa azul entre os outros e desce as escadas, em seguida pega mais alguns livros indo para outra prateleira e eu apenas o seguimos.

- Certo – Natan diz hesitante – A gente resolve isso depois. Ian me contou sobre seu acidente. Você está bem?

Cruzo os braços e me aponho em um pé, enquanto Natan faz o mesmo processo de conferir a numeração do livro e guardá-lo em seu devido lugar. Solto um suspiro.

- Estou bem. Quer dizer, acho que nunca mais vou ser a mesma – Eu o encaro por um momento – O que ele te contou mais?

Ele balança a cabeça.

- Bem, ele me contou que traria você pra cidade, mas que seria meio contra sua vontade – Natan diz com um pequeno sorriso.

- E você achou isso certo? – Pergunto com o tom de voz se alterando.

Ele começa novamente a guardar os livros, de forma pensativa.

- Bem de certa forma, sim.

Solto uma pequena risada enquanto resmungo baixo.  Natan ainda com o livro nas mãos se volta para mim com seus olhos castanhos fixos nos meus.

- Amy, o que aconteceu com você em Dawson City não foi bem um acidente.

- Acho que posso notar isso sozinha pela experiência – Digo em um sussuro.

Natan apenas balança a cabeça negativamente, ainda olhando em meus olhos.

- Você não entende. Tem coisas estranhas acontecendo em Tok.


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