Falling Snow - O Despertar escrita por Tamires Vasconcelos


Capítulo 5
Capítulo 4 - I'm Back




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/259351/chapter/5

Estou novamente na escuridão. Sinto minha consciência ser retomada aos poucos e a escuridão não é mais tão assustadora. Devagar, volto no mergulho da inconsciência, trazendo junto más lembranças. Meus sentidos tornam a funcionar. Uma dor que se alastra rapidamente por todo meu corpo. Meus dedos dos pés e das mãos estão formigando, e os esfrego um no outro para me livrar da sensação.

Como um flash, meus outros sentidos voltam. O cheiro enjoativo de remédios misturado com álcool invade minhas narinas, me fazendo contorcer o nariz. Percebo então, algo que passou despercebido no começo, mas que agora era quase impossível de ignorar. Um bip frenético e irritante martela em meu ouvido, adentrando cada vez mais em meu cérebro.

Solto um longo suspiro.

Sim, eu sei onde estou. Não era a primeira vez que acordo em um hospital. O bip irritante, o cheiro dos lençóis brancos e dos remédios fundindo-se com o álcool denunciavam por imediato o lugar. Meus olhos tremem e abrem no mesmo instante recebem um jato de luz branca, que me cega. Isso faz meus olhos se fecharam e as pálpebras se contraírem com força. Abro os olhos novamente piscando diversas vezes para que estes se acostumem. Minha cabeça gira quando finalmente desperto, é o efeito daquelas malditas drogas hospitalares.

Solto um gemido colocando uma das minhas mãos na testa.

Aquele quarto não era diferente de outros, paredes impecavelmente brancas, uma grossa poltrona bege estrategicamente em direção a maca, um armário com portas de vidro onde se encontra diversos tipos de remédios e, por fim, máquinas e fios espalhados por todos os lugares.

- Até que fim você acordou - Uma voz masculina corta o silêncio.

Meus olhos automaticamente seguem até a janela. Um homem alto está olhando com os braços cruzados o jardim através de vidro polido da janela, ele não parece realmente interessado na paisagem em sua frente. Posso ver parcialmente seu rosto, queixo forte e sobrancelhas levemente arqueadas, indicando uma preocupação evidente. Uma barba rala contorna seu rosto assim como seus cabelos castanhos, que estão em um comprimento um pouco abaixo das orelhas.

Continuo a encará-lo e o homem não parece se importar. Como se esperasse pacientemente por algumas palavras minhas.

- Quem é você? - Pergunto com uma voz rouca.

O homem sorri, fazendo covinhas surgirem no canto de seus lábios. Ele se vira devagar, ainda com os braços cruzados, deixando seus definidos músculos ressaltados.

- Não está me reconhecendo, Amy? - Ele diz com um pequeno sorriso.

Sinto o ar fugir dos meus pulmões e meus lábios se abrem, desejando que alguma palavra seja proferida. Mas isso não acontece, pareço ter perdido minha voz. Encaro novamente o homem em minha frente, desta vez com mais atenção, as feições de criança estavam mais adultas, mas ainda eram as mesmas, seus olhos castanhos claros, transmitiam uma doçura que seu rosto sério e firme logo apagou. Ele não é mais aquele garoto magrelo e desajeitado. O sorriso bobo em seus lábios havia sumido a única coisa que restará era a perturbação escondida por trás da doçura em seus olhos.

Ian Stalteri.
Meu irmão mais velho. Costumava ser protetor, mas também nunca perdia uma oportunidade de me irritar. Sempre contava histórias para mim antes de dormir, a fascinação pelo contar em seus olhos me transportava para outro mundo. Tudo mudou quando aqueles mesmos olhos se tornaram loucos após a morte dos meus pais. Estremeço com a lembrança e vasculho, procurando o olhar assassino daquela noite fria.
- O gato comeu sua língua? - ele pergunta enquanto caminha para a pequena poltrona bege.

Ian senta na poltrona e apóia os braços nos joelhos se inclinado em minha direção. Um pequeno sorriso ainda resiste em seus lábios.

- Sério, Amy? Não vai falar nada...

- O que você está fazendo aqui? - Minha voz retorna como se tivesse ganhado uma própria vida, a frase se torna quase incompreensível, mas sei que, pela sua reação, alguma coisa deve ter entendido.

Seus lábios se abrem para me dar uma resposta, mas é interrompido com um rangido esquisito que a porta faz ao se abrir. Um jovem homem trajando um jaleco branco entra no quarto, que trás um elegante sorriso no rosto. Seus cabelos são loiros, e estão minuciosamente penteados para trás. Ele possui um doce e sincero olho cor de mel.

Com uma prancheta em uma de suas mãos, ele caminha até mim a para ao lado da minha maca.

- Fico feliz e surpreso que tenha acordado Srª Stalteri. Eu sou o Dr. Richards, está se sentindo bem? - Sua voz grossa voz está em um tom rígido, mas o sorriso em seus lábios continua.

- Surpreso? - Pergunto com a voz rouca.

Ele balança levemente a cabeça em concordância.

- Isso mesmo, todos os médicos estão. Você se recuperou milagrosamente, além de que seu sangue é um enigma para todos. Queríamos sua permissão para realizar mais alguns testes...

- Não. Não podem - Eu o interrompo antes que termine sua frase.

Meu olhar vai até Ian, que com um pequeno movimento com a cabeça, concorda comigo.

- É claro - Diz o médico claramente decepcionado - Como está se sentindo?

- Bem. Há quanto tempo estou aqui?

Seus lábios se abrem em um largo sorriso, como quem vai dar uma boa noticia.

- Faz quase três semanas. Você provavelmente está sentindo dor no corpo e até mesmo tonta, por conta do efeito dos remédios...

- Três semanas? - Pergunto espantada - Dormi durante três semanas? Quer dizer então que eu fiquei em coma – Minha voz sobe algumas uma oitava enquanto falo desesperadamente.

Ele parece não se importar com as minhas palavras, com os olhos na minha ficha ele continua a dar suas orientações. Olho para Ian concorda novamente balançando a cabeça.

- Tente não fazer muito esforço certo? Vou mandar buscar uma enfermeira para realizar alguns exames de rotina, mas de qualquer forma você está ótima. Como eu disse, você é milagrosa.

- Certo - Digo, desviando meus olhos dos seus.

Seu sorriso aumenta consideravelmente.

- Eu... Vou indo então... Vou deixar vocês conversarem. Vou chamar uma enfermeira para alguns exames.

O médico sai em passadas rápidas e pesadas. Consigo ouvir seus passos até o fim do corredor e sua voz contagiante alegrar outros médicos com piadas.

- Acho que ele gostou de você - Diz Ian em um tom zombeiro, ele me olha por alguns segundo - Você mudou muito.

Respiro fundo.

- Você também mudou. Mas ainda não respondeu minha pergunta. O que está fazendo aqui? - Minha voz saiu mais séria e sem emoção do que eu gostaria que fosse.

Ian franze o cenho e encara o chão por uns instantes.

- Amy você quase morreu, eu não podia ignorar isso.

Eu bufo.

- Não precisava ter se dado o trabalho. Dr. Richards disse que sou milagrosa, você viu. Eu estou bem, não precisa ficar mais aqui.

Ele levanta os olhos para mim

- Eu estou tentando, certo? Eu sei que não temos uma relação muito boa. Mas eu estou tentando ser legal, não me mande embora como se não se importasse com nada.

Desvio meus olhos dos seus. Encaro a bainha do lençol enrolando-a em meus dedos.

- Não precisa tentar - Sussurro.

- Como? Não preciso tentar? Isso não tem haver com você, Amy, você acha que eu não me arrependo daquela noite. Você acha que eu não passo um só dia sem pensar que você foi embora por minha causa.

Ainda fitando os lençóis, eu os agarro com força fazendo o fino tecido se enterrar em minhas mãos.

- Não foi por sua causa.

- Então foi pelo o que? - Sua voz está em um tom severo e baixo. Ian passa as mãos nos cabelos puxando-os para trás e volta a falar - Vamos falar disso outra hora, certo? Está se sentindo bem?

Balanço a cabeça, e fecho os olhos.

- Não. Estou toda dolorida, acho que quebrei a perna e o resto do meu corpo. E com certeza tem alguma coisa de errado com a minha cabeça.

Ouço sua risada pela primeira vez.

- Você disse ao Dr. Richards que estava bem - Ele diz em um tom divertido.

Ajeito minha cabeça no fofo travesseiro tentando me sentir confortável.

- Ninguém diz aos médicos o quanto está mal.

Um silêncio constrangedor se abateu ali. Eu não fazia idéia do que falar e também não queria realmente conversar alegremente com meu irmão. Encaro o teto branco e sem graça, tamborilando os dedos um nos outros.

Ouço Ian suspirar.

- Amy? - Ele me chama, cortando o silêncio.

Fecho os olhos por um instante, mas com impaciencia giro minha cabeça de lado para encará-lo.

- Preciso te contar uma coisa, que acho que você não vai gostar muito - Um sorriso forçado surge em seus lábios, mas logo se desfaz.

- O que foi?

Seus olhos se movem rapidamente para a porta e o sigo me virando em direção a mesma. Encostado no batente com as mãos nos bolsos está Dr. Richards com seu sorriso brilhante estampado no rosto.

- Espero não estar atrapalhando - Ele alterna os olhos entre mim e Ian - Um policial e uma psicóloga está aqui e quer fazer algumas perguntas para você.

Ele aponta o dedo indicador para mim.

- E por quê? Não fiz nada de errado.

Dr. Richards me olha curioso.

- È sobre o seu acidente. Você se lembra certo? Tentativa de assassinato.

Inconscientemente assovio para dentro. Coloco uma mecha do meu cabelo para trás que insiste ficar em meus olhos.

- A tentativa de assassinato. Certo, tem que ser mesmo agora? – Pergunto deixando minha voz o mais doce possível.

- O policial disse que seu depoimento é essencial para que as investigações continuem.
O seu sorriso perfeito se torna consideravelmente mais largo e sai rapidamente do quarto.

- Não conte nada para eles - Ian sussurra.

Olho confusa para ele. Com um pulo Ian vem para meu lado e se inclina para falar novamente.

- Não conte a verdade para eles, invente alguma coisa - Ele sussurra novamente.

- E porque não posso contar? - Pergunto em um tom desafiador, tentando pela primeira vez me sentar.

Ele bufa.

- Amy, apenas faça o que eu digo. Depois te conto o resto.

Tento levantar o que torna uma simples tarefa extremamente difícil. Um dos meus braços está coberto de gesso. O outro também estava dolorido, mas consigo fazer com que este de impulso para que levante meu corpo impossibilitado e me coloque devidamente sentada.

- Quer ajuda? - Pergunta Ian ao meu lado.

Balanço a cabeça.

- Não eu consigo. Me diz porque não posso contar o que aconteceu?
Consigo finalmente me ajeitar na maca, com um longo e pesado suspiro.

- O que você não pode contar? – Diz uma voz masculina em direção á porta.

Olho instantaneamente para porta e encontro um homem com uma expressão série e severa, de olhos escuros e intimidadores. Ele olha atentamente para mim, com os braços cruzados.

- Ian acha que se contar tudo o que aconteceu posso ficar mais traumatizada ainda - Digo agradecendo por não ter gaguejado.

- Certo - Sua voz grossa e ríspida, me faz tremeluzir.

O homem é realmente amedrontador, seu forte rosto moreno não transmitia nenhuma emoção. Detém uma barba grossa grisalha que ficava um pouco estranha com sua cabeça raspada. Veste calças jeans escuras e com sapato social preto, uma camisa de linho cinza define seu corpo musculoso, ressaltando seus bíceps.

Ele apenas balança a cabeça e ainda olhando para mim pega uma cadeira giratória e coloca ao meu lado.

- Pois bem, Amélia Moira Stalteri - Ele diz pensativo.

Reviro os olhos me controlando diante do meu nome pronunciado. Realmente eu não gostava daquele homem, além de usar meu nome que sempre amaldiçoei, ele ainda diz em voz alta Moira. Que tipo de pessoa tem como o segundo nome Moira?

Olho para Ian que sorri, sentando-se de volta em sua poltrona beje.

- Sou o Policial Reynolds. Estou investigando seu caso. Por favor, poderia relatar detalhadamente o que aconteceu na noite em que tentaria lhe matar? - Ele diz ainda me olhando sério sem nenhuma expressão.

Olho para Ian que apenas sobressalta as sobrancelhas. O que eu diria aquele homem? Provavelmente se soubesse que eu estava mentindo me quebraria, por ter destruído seu trabalho.

- Onde está a psicóloga? Dr. Richards falou que ela vinha também.

Ele respira fundo com o cansaço aparente em seu rosto, piscando algumas vezes.
- A Srª. Coleman virá em alguns instantes. Poderia me dizer o que ocorreu naquela noite – Aquela não é exatamente um pergunta e sim uma ordem.

Balanço a cabeça e respiro fundo. Eu me lembrava exatamente de tudo que havia acontecido àquela noite. Do homem loiro que invadiu minha casa, me assassinar com certeza não era sua intenção. Talvez a culpa de eu estar em um hospital totalmente quebrada, é minha, eu decidi pular da janela dando inicio ao meu fim. Aquele homem me queria viva de qualquer modo eu estraguei seus planos. A tentativa de assassinato se encaixava perfeitamente nas intenções do grupo na floresta, sei que eles me queriam morta tanto quando o homem loiro me queria viva. Mas por quê? O que eu tinha feito?

Respiro fundo puxando as mechas do cabelo para trás, começando meu falso relato.

- Como na maioria das noites eu estava sozinha em casa depois do trabalho, ouvi alguém bater na porta. Fui atender e um homem tentou entrar para roubar minha televisão, ele entrou e tentou pegar, mas eu o expulsei - Digo esfregando os dedos uns nos outros.

- Ele disse que queria roubar sua televisão especificamente?

- Hmm... Disse, com todas as palavras – Arrisco um sorriso, mas ele apenas me retribui com uma séria expressão.

Policial Reynolds balança a cabeça anota algo, em um bloco pequeno com filhas amarelas.

- Estranho você conseguir expulsar um ladrão de sua própria casa - Ele diz semicerrando os olhos.

Dou um sorriso amarelo.

- Sou mais forte do que pareço, principalmente quando estou com raiva.

Ele se inclina um pouco mais em minha direção.

- Está me dizendo que expulsou o homem usando a força bruta? – Ele baixa o tom conforme fala.

- Sim, quer dizer não exatamente. Mas sim eu usei, o cara entrou na minha casa e queria roubar minha televisão, que por sinal foi bem cara, você queria que eu desse passagem para ele e dissesse que poderia levar meu sofá ou minha vassoura também. Ou então que eu serviria café e bolo antes de ele ir embora? Eu bati mesmo no cara e espero...

Ian pigarreia. Olho para ele que apenas sorri, dizendo silenciosamente para eu calar a minha boca.
- Certo. Srª. Stalteri. Poderia me explicar o sangue que encontramos nas escadas e no seu guarda-roupa? – Ele diz me desafiando.

Encaro seus olhos por um instante. Tinha me esquecido totalmente do sangue.

- O sangue? Sim... Eu... Cortei-me com uma faca - Digo rápido.

- Se cortou com uma faca? Isso foi enquanto o ladrão estava na sua casa? - Ele murmura.

Finjo uma cara de surpresa, talvez um pouco exagerada.

- Não, posso ser violenta, mas também não sou uma assassina. Escuta, o que aconteceu foi o seguinte. Depois que eu o expulsei foi preparar algo para comer, porque estava com muita fome, e me cortei sem querer. Foi até meu quarto e pegar um pano para enrolar minha... Mão.
Ele me encara por alguns segundos até que por fim desvio dos seus olhos.

- Tudo bem. Vamos recapitular. Você estava em casa sozinha durante a noite, um homem entrou querendo roubar sua televisão você agrediu ele e o expulsou. Sentiu fome então foi preparar algo para comer e se cortou com uma faca, subiu até seu quarto para pegar um pano no seu guarda-roupa e cobrir sua mão. Certo?

O encaro por alguns instantes

- Não gostei do seu tom – Digo rápido.

Um sorriso mesquinho surge em seus lábios.

- Não me interessa se você gosta ou não da forma como eu falo. Quero que responda minhas perguntas sem nenhuma gracinha – Tento não me deixar abalar com a sua voz assassina.

Aproximo-me mais dele.

- Está insinuando que estou mentindo pra você? - Digo cruzando meus braços.

O policial estufa o peito, e levanta um pouco o queixo me encarando.

- Estou querendo dizer que alguma coisa está errada em seu relato. Me diz, como foi para na floresta esfaqueada e com os ossos quebrados?

Me indireto na maca ainda encarando seus olhos escuros.

- Muito simples. Eu estava com a mão sangrando então como não tenho carro nem nada fui tentar pedir ajuda na rua. O homem que tentou assaltar minha casa me encontrou e me bateu bastante, depois me esfaqueou.

- E depois...

Solto uma gargalhada sarcástica.

- Como é que eu vou saber depois disso fiquei inconsciente durante três semanas – Permito-me sorrir um pouco mais, tirando onda com a sua cara séria.
Ele balança a cabeça devagar com os olhos semicerrados.

Aquele homem me encara como se eu fosse uma louca ou talvez uma mafiosa.

- Escuta aqui se você por um acaso está achando que estou mentindo, vai...

- Amy! - Ian me adverte.

Respiro fundo e encaro novamente a bainha do lençol.

- Srª Stalteri... - Ele começou novamente, mas eu já estava de saco cheio daquilo tudo.
- Por deus, pare de me chamar de Srª Stalteri. Pode me chamar de Amy ou até mesmo Amélia.

- Continuando Sr. Stalteri Vou precisar voltar a Dawson City para mais algumas pericias depois do seu relato. Mas tenho apenas mais uma pergunta...
Levanto a palma da minha mão, pedindo para que pare de falar.

- Como disse?

- Disse que vou fazer mais uma pergunta – Ele aumenta o tom de voz, talvez esperasse que eu me irritasse novamente.

Balanço as mãos no ar.

- Não, antes. Você disse que precisa voltar para Dawson City. Onde é que eu estou se não no hospital de Dawson City?

Ele me olha confuso seguindo para Ian. Coça cansado sua barba rala e joga o bloco de notas em seu próprio colo.

- Achei que soubesse. Você não está mais no Canadá. Está em Tok no Alasca.

Minha respiração começa a acelerar e minha cabeça a girar. Demoro um pouco para processar a informação. Olha para janela como se dessa forma eu pudesse tirar conclusões, mas vejo apenas um jardim e pacientes como qualquer outro hospital.

Como assim eu estava em Tok? Meus olhos vão até Ian que se levanta da poltrona com as mãos em forma de rendição.

- Amy eu ia te contar - Ele diz vindo até mim.

- Porque você fez isso Ian! - Eu praticamente grito.

Ele passa as mãos nos cabelos puxando-os para trás.

- Eu queria você por perto. Queria cuidar de você, você é minha irmã. Qual é!

- Agora eu sou sua irmã - Solto uma risada - Quer saber você não tinha o direito de me trazer pra cá sem que eu soubesse.

Um sorriso surge no canto dos seus lábios.

- E como é que você ia saber? Estava inconsciente.

- Não me interessa se eu estava inconsciente ou não. Você não tinha esse direito e pronto...

- Chega! - O policial grita dando um pulo para fora da cadeira - Não me interessa se vocês dois tem problemas de irmãos ou não. Chega de briga enquanto eu estou trabalho, resolvam isso depois...

Levanto novamente minhas mãos.

- Ei! Espera um pouco, He-man. Depois você pode fazer quantas perguntas você quiser. Agora eu tenho que resolver algumas coisas.

Volto para Ian antes que o policial comece a protestar.

- Não quero nem saber. Vou voltar agora para Dawson City, e você nem ouse me impedir.
Ian aponta para minhas pernas.

- Como você vai voltar? Não pode andar. Provavelmente vai ter que ficar aqui alguns dias e depois disso vai precisar de alguém com algum meio de transporte.

Eu bufo cruzando os braços.

- Deixa de ser engraçadinho. Não preciso de ninguém.

Ian começa a andar de um lado para o outro, seus cabelos acompanhando o ritmo dos seus passos rápidos e suaves.

- É claro você nunca precisa das pessoas – Ele diz levanta os braços para o alto, em seguida esfrega os olhos, respirando fundo – Amy você vai...

Ele se vira para o policial, que está encostado na porta com os braços cruzados.

- Poderia nos deixar sozinhos, por favor.

O policial Reynolds assente com uma expressão cansada e sai arrastando os pés. Ian vai até a porta e a fecha com cuidado.

- Amy - Ele diz ainda de costas - Você tem dezoito anos, sabe... Você vai fazer dezenove exatamente quando o inverno começar... Daqui uns três meses. Nos temos tradições.

- Eu sei, eu sei o que vai acontecer... Tenho pensado muito nisso, todo esse tempo, e já decidi. Vou deixar acontecer.

Ele se vira para mim com os quentes.

- O que você está querendo dizer?

Reviro os olhos.

- Qual é Ian você sabe o que eu estou querendo dizer.

Ele começa novamente a andar de um lado para o outro. Aquilo começa a me deixar realmente tonta.

- Você não vai fazer isso - Seu tom é tão calmo que me faz arrepiar.

- Não é você que decide... Sou eu – Digo parecendo ser a coisa mais obvia.

Ele vai até a parede totalmente branca e a soca com força. Em seguida volta-se para mim e apóia as mãos no colchão, olho para suas mãos procurando algum vestígio de sangue, mas encontro apenas uma pequena mancha avermelhada.

- Amy, você não vai fazer isso. È suicídio.

Olho em seus olhos castanhos por um tempo e me aproximo, tentado parecer o mais calma possível, mas na verdade eu estava gritando por dentro, pedindo que ele fosse embora e me deixasse em paz.

- Não é suicídio. Eu nasci assim, você me entende, eu nasci assim, é o meu destino. Eu não quero...

Interrompo minha frase olhando para baixo. Eu não sabia o que dizer. As palavras deixaram de existir em meus lábios, minha cabeça está confusa, mas a certeza que eu deveria aquilo deixar seguir o que lhe foi destinado estava claro como água, escondido no fundo da minha mente.

- O que você não quer? - Ele levanta meu rosto com suas duas mãos - O que você não quer? Me diz Amy! Você não quer lutar é isso, tem medo...

- Ian escuta. Não é que eu não queira lutar, eu não quero ter um monstro preso dentro de mim pelo resto da minha vida, não quero ser uma mera reprodutora nata de novos seres sobrenaturais, nunca quis ter filhos. Eu me lembro das tradições certo. Me casar com uma pessoa que eu se quer conheço só para manter uma linhagem, não estava nos meus planos – Eu grito fazendo as palavras jorrarem de meus lábios.

Ele respira fundo e senta ao no pé da minha cama.

- Eu sei que isso da um pouco de medo...

- Não estou com medo - Digo rapidamente.

Ele pousa sua mão na minha, mas eu a retiro rapidamente com o toque.

- Não estou com medo - Digo tentando convencer mais a mim mesma.
Ele passa novamente suas mãos nos cabelos.

- Amy, por favor, não faz isso. Nem a mãe e nem o pai gostariam de te ver tomando essa decisão.

Eu o encaro com raiva. Ele definitivamente não tinha nenhum direito de tocar no nome de nossos pais. Covardia. Essa era a melhor palavra para descrever sua atitude.

- Não acredito que está levando pra esse lado. Eles estão mortos, certo, mortos. Não sentem nada e não gostam de nada. Então não me venha com esse papo de chantagem emocional, porque não funciona comigo.

Ele baixa os olhos, claramente pensando em outra tática.

- Você não vai fazer isso, não estou pedindo pra você. Tem que me obedecer, não vai fazer isso e pronto - afirmação era fria e severa.

Solto um leve risada.

- Espera um pouco, você acha mesmo que pode me obrigar a fazer alguma coisa depois de anos sem me ver. Sinto muito te decepcionar, mais não sou mais uma garotinha, eu cresci se você não consegue perceber percebeu.

Ele me olha com desdém.

- Eu prometi que ia cuidar de você. Prometi para o papai naquela noite que cuidaria de você – Sua voz continua fria, mas consigo ouvir as emoções por trás daquelas palavras.

- Acho que você não começou muito bem, quando tentou me matar. Quem me garante que, agora você não quer tentar novamente...

- Cale a boca – Ele levanta a voz, em um tom severo.

Olho para suas mãos uma delas se matem fechada em punho, a força que ele exerce é tanta que posso ver as veias do seu pulso se ressaltar. Ele se levanta rapidamente e vai até a porta ficando de costas para mim, posso ouvir sua respiração pesada, como se ele estivesse tentando se acalmar.

- Não me mande calar a boca! Você não é ninguém! Não é meu irmão e nunca vai ser. Escuta, eu não sei nem porque estamos conversando...

- Isso mesmo – Ele me interrompe – Não tem mais o que falar, tentei convencer você, mais não quer me escutar. Você vai ficar em Tok querendo ou não, não vou perder você.

Solto novamente uma risada, dessa vez um pouco assustada com seu tom.

- E o que você vai fazer? Me sequestrar por acaso, me manter presa.

Ele se vira devagar para mim.

- Se você não mudar de opinião, quanto a ficar em Tok. Vou fazer isso mesmo, mas não vou deixar você ir embora novamente, não vou deixar você ir. Fiz uma promessa e vou cumpri-la quer você goste ou não.

Abro meus lábios para dizer para rebater, mas ele rapidamente sai do quarto, batendo com força a porta atrás de si. Pego um dos meus travesseiros e jogo na porta, tenho vontade pegar tudo daquela sala e jogar em sua direção. Mas o inútil travesseiro é o único ao meu alcance.

 Respiro fundo e um fio de lagrima escorre de um dos meus olhos. Não permito que isso aconteça. Limpo rapidamente com as costas das mãos, fechando os olhos para impedir que mais escorram. Olho novamente para a janela e vejo naquele comum jardim, uma gaiola da qual sempre estive presa, mas que não ia desistir de fugir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram. Ohhh espero que sim. Já estou quase acabando o proximo então logo logo eu posto.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Falling Snow - O Despertar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.