Perigo Eminente escrita por DeHh_PsyChO


Capítulo 3
Gritei que parasse




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Chamei-a de zumbi maldito e descarreguei a pistola em sua direção. Devo ter errado um ou outro tiro, porque minha vista estava muito descompassada. Todo aquele ambiente começava a me fazer mal. Eu precisava de puro. Vi que o corpo dela despencou, não sei como morreu, não sei onde a atingi. Tentei correr, sair dali. Estava me sentindo mal, por tudo. Queria chorar por minha família. Quase caí no chão, mas me mantive de pé. Parei ao lado do corpo imóvel e podre. Abaixei-me, apanhando sua bolsa. A última lembrança de uma vida inteira juntos. A saudade já me consumia os pensamentos. Escancarei a porta que ela deixara aberta.

Lá fora, o céu era um manto arroxeado uniforme. As ruas se ondulavam como uma maré. Várias pessoas na rua me observavam, ao longe, com as mesmas expressões monstruosas. O mundo fora tomado. Será que não havia mais sequer uma pessoa viva, além de mim?

A dor ficou maior, tanto no peito quanto na cabeça. Arrastei meu corpo, outra vez pesado, pelo pórtico, até o jardim, ainda aguentando os olhares esfomeados dos malditos zumbis que se acumulavam na rua. Não consegui andar muito. Parei, respirando o fardo do pavor de não ter mais minha família. A saudade era a pior dor, mas a cabeça latejava em todos os ângulos. Senti que perderia os sentidos logo.

Enfim, caí de joelhos. Meu corpo nunca fora tão pesado. A visão se tornara escurecida, inebriada por uma mistura gigantesca de imagens disformes e assombreadas. Nada parecia mais fazer sentido. Deixei a pistola cair de qualquer jeito e comecei a vasculhar a bolsa de minha mãe. Comecei a entender o que estava acontecendo. Encontrei ali dentro um pequeno bolo de dinheiro. Segurei aquelas notas com força, na vil esperança de que me ajudassem no que eu precisava. Não consegui me mover muito e despenquei na grama. Comecei a me sentir cercado por eles. Só que nenhum atacava.

Em pouco tempo, os sons à minha volta se tornaram mais intensos. Luzes azuis e vermelhas apareceram, girando de forma caleidoscópica.
Nada fazia o menor sentido, mas tudo começava a se encaixar. Eu precisava do dinheiro. Eu precisava de ajuda. Precisava de mais. Percebi quando dois deles agarram meus braços, puxando-me com força. Tentei pedir que parassem, que me ajudassem, mas minha voz não saiu. Queria que conseguissem para mim. Eu precisava. O efeito estava passando.

E, agora, a dor que mais me perturbava era a vontade de ter mais heroína.

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