Perigo Eminente escrita por DeHh_PsyChO


Capítulo 2
Um zumbi




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Recuei, assustado, e tentei reverberar um ou outro argumento que convencesse meu irmão de que sempre nos amamos. Não pareceu surtir efeito, pois aquela criatura estendeu os braços e veio em minha direção. Agora, com total domínio sobre o corpo, sentindo a adrenalina correr dentro das artérias, pulei e o empurrei, jogando-o contra o chão com um soco muito potente. Entrei no quarto de nossos pais.

Quieto e escuro. Meus pais não estavam ali. Assustei-me, porque me veio a sensação de que meu irmão poderia ter atacado os dois. Poderiam estar mortos, e até ter sido convertidos a coisas semelhantes. Tranquei a porta a chave. A visão continuava a me atrapalhar, fazendo as imagens girarem dentro de meu cérebro. Tentei não dar importância a isso. Corri até meu objetivo: o closet. As portas amarronzadas haviam sido substituídas, nas últimas horas, por um amontoado de madeira trêmula, sobre a qual rastejavam dúzias e dúzias de insetos e aranhas. Bateram à porta, assustando-me. Meu irmão deveria estar ali, procurando uma forma de invadir, para me apanhar. Não tinha tempo a perder. Comecei a mexer os braços, tentando afastar todos aqueles bichos. Quando consegui um espaço, corri a porta dupla do armário.

Havia ali várias caixas, acumuladas em prateleiras. Tudo era tão igual, que a imagem era como um fenômeno estroboscópico. Passei a vasculhar caixa por caixa, derrubando-as, soltando ao chão, enquanto escutava a porta do quarto sendo chutada e esmurrada. Enfim, consegui achar a maleta alcochoada. Havia um código para abri-la. Meu pai, nem um pouco esperto, nunca me dissera quais os números. Era provável que não houvesse mais como perguntá-lo, e eu precisava daquilo. Desesperadamente. Bati a maleta uma vez no chão. Não cedeu. Bati outra, e outra, e muitas. Cada golpe com mais violência, até que o lacre se partiu, deixando cair algo coberto por uma camurça.

Apanhei e livrei do pano uma pistola, muito brilhante por nunca ter sido usada.

A porta do quarto foi arrombada, denunciado pelo som explosivo da madeira rompida. Respirei fundo, observando o alumínio do tambor. Estava cheio. Era chegada a hora de dar fim ao sofrimento da alma de meu pobre irmão. Deixaria que descansasse em paz, e iria atrás do resto de minha família. Torcia para que estivessem vivos, mas não sentiria pena se também fossem monstros.

Esperei enquanto os movimentos dentro do quarto aumentavam e se aproximavam. De repente, a porta dupla do closet foi aberta, e a criatura no corpo de meu irmão se revelou, rugindo sons indefiníveis. Ergui a arma com apenas uma mão, apontando para seu rosto. Ele parou, de imediato, mas não teve tempo para recuar. A arma espirrou com tanta potência que o corpo dele rolou de volta ao meio do quarto, a cabeça transformada em uma massa ainda mais disforme de sangue e carne. Saí do closet, vitorioso, e me deparei com uma sombra, parada à porta do quarto.

Meu pai. Estático, diante de mim, encarando-me com olhos avermelhados e famintos, tão diabólicos quanto os do meu irmão. Senti uma dor enorme no peito, pedindo a Deus que tivesse piedade de sua alma perturbada. Não sei de onde, retirei forças e ergui outra vez a pistola, segurando-a com duas mãos trêmulas. Apontei para seu corpo apodrecido. Ele tentou evitar o ataque, mas os dois tiros foram certeiros, estourando seu coração.

Tive vontade de chorar. Meu corpo estava fraco, meus olhos se encheram de lágrimas. Só que ainda não havia acabado. Minha mãe deveria estar em algum lugar, e eu tinha de encontrá-la. Saí do quarto lentamente, arma em punho. Segui pelo corredor escuro, até alcançar a sala. Surpreendi minha mãe, abrindo a porta de casa, ainda com a velha bolsa presa ao ombro. Ela se voltou, com lábios carcomidos e dentes famintos. Um dos globos oculares até se perdera, dando espaço a uma órbita ensanguentada. Abriu a boca e proferiu algum rugido incompreensivo.


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