A História De Uma Avox escrita por Liv


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Não deu tempo de postar ontem, dediquei a tarde a fazer tudo e a noite pra escrever, só que teve umas tr3t4s aqui de noite e n deu pra postar, enfim, ta aí. U.u revisar esse cap foi trabalhoso... se acharem algo no-sense me avisem pf, pra eu poder consertar *-*
Espero que gostem! u.u



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Percebi que o barulho vinha de uma sala. Sala 13. Continuei andando, afim de passar direto por ela. Mas não foi o que aconteceu.

– Fale logo o que deseja, Ewald. Tenho muito que fazer. – A voz de Zaro me fez parar. Todo meu corpo tremeu.

Eu queria passar em frente, sair dalí. Mas a resposta que o maldito recebeu me fez andar até a porta e começar a escutar a conversa.

– Vim aqui, senhor, para falar de algo que me está preocupando. Vim falar sobre as crianças da Capital. As várias que estão se tornando Avoxes.

Olhei em volta. Ninguém. Todas as portas no corredor escuro estavam fechadas e não havia nenhuma luz por baixo delas. Colei o ouvido na porta.

- Já disse que não quero que me encham com esse assunto, Ewald. 

- Mas senhor! A situação está mais grave do que o senhor imagina.

- Mais grave... Do que eu imagino? O que está insinuando? Que eu não sei o que está acontecendo na Capital? Eu recebo e aplico suas sentenças, Ewald.

- Isso significa que o senhor não acha que a situação está crítica e preocupante?

- Na verdade, não. Já houve tempos piores. Agora, estamos com exatamente sete avoxes da Capital e mais uns tantos dos distritos.

- E esse é um número muito grande! - Ewald gritou, me assustando. Pulei para trás, e, milagrosamente, consegui não fazer barulho. 

- Pense bem: Temos duas relativamente novas, incluindo aquela menina, a filha dos Idealizadores e aquela outra menina com uma cicatriz no rosto. Uma já está aqui a tempos, serviu os tributos do doze. Aquela, que fugiu com o namoradinho. Chegou até o distrito doze a pé. Também tem aquela que tentou colocar fogo num lugar importante. Não me lembro muito bem. Aquele menino que fez um show no meio do círculo da cidade. Não sei como ele não foi executado. E alguns outros. Não é tão sério.

- Mas senhor! Algo tem de ser feito. O número de adultos e crianças se rebelando vem aumentando. Temos de fazer melhorias! Não sei... Aumentar a segurança nas fronteiras da cidade, para os que tentam fugir ou espalhar boatos de punição para toda a família, não apenas para o traidor... Não sei.

- Ah, Ewald! Pare de me encher, já disse. Mas se quiser aumentar as torturas...

- Pode ser. Mas o presidente aprovará? E será que os Avoxes aguentarão? Afinal, a maioria já chega bem debilitada, e fica mais ainda devido ao “tratamento”. Avox bom é avox vivo e...

- Talvez aprove, talvez não. Mas mesmo se não o fizer... Bem, afinal, ele não precisa saber. O que ocorre na sala de tortura não sai de lá. E eu não ligo para os traidores. Se não forem fortes o suficiente, que morram.

- Mas vai que...

- Não tem “mas”! Já resolvi o que fazer, se isso lhe agrada. Agora me deixe em paz. Se eles morrerem, eu digo que eles já chegaram bastante ruins. Agora vá e diga a seu chefe maldito que eu...

- Atchim!

Espirrei. Não consegui me segurar. As vozes se calaram. Houve um momento apreensivo. Um momento em que tudo pareceu paralisado, como numa foto. Então, o rangido de uma cadeira sendo arrastada pelo chão me acordou. E eu corri.

Pov Narradora

- Onde está indo, senhor Zaro? Gritou Ewald, sem se levantar da cadeira.

- Você não ouviu, seu retardado? – Respondeu, enquanto abria a porta com dificuldade. – Tinha alguém lá fora, eu ouvi. Alguém escutou demais. – e finalmente abriu a porta. Zaro viu ao longe uma sombra entrar em uma porta. Uma sensação de deleite e raiva invadiu seu corpo enquanto ele corria. Alguém escutou demais, e isso o enchia de raiva, mas esse alguém seria punido. Talvez até morto, dependendo de quem fosse.

Kaethe entrou na porta, ofegante, assustando o enfermeiro. Pela sua reação – pular da cadeira, mas não emitir qualquer som – ela percebeu que ele era mais um avox.

Ela praticamente jogou o bloquinho amassado em cima dele e sentou-se no banquinho branco grudado na parede, também branca. Tudo ali era branco, tirando a sua túnica.

Só deu tempo de ele terminar de ler sua mensagem e um Zaro furioso entrou, batendo a porta, dando mais um susto no pobre avox, que se encolheu a ver quem estava na sala. Provavelmente – ou melhor, certamente – ele fora seu torturador.

Zaro o observou rapidamente e depois correu os olhos pela sala, se deparando com uma assustada – e ofegante – Kath. Ele abriu um sorriso demoníaco, deleitando-se com a expressão de terror – e ódio – dela. Viu como ela estava cansada, e deduziu que fora ela. Não havia mais ninguém na sala. Foi até Kath e a pegou pelos cabelos, jogando-a no chão.  Ela gritou, um som horrível, e ele a pegou pelo braço e a levantou.

- Foi você, não é, sua vadia?! Você que estava espionando, hã? – Gritou ele.

Ela retrucaria se ainda pudesse falar. Mentiria, mas, mesmo que o fizesse, era óbvio que fora ela.

- Receberá sua punição para aprender a não sair de sua toca, peste.

Ela, num último apelo, apontou para o bloquinho no chão, tremendo. Ele a largou, fazendo-a cair no chão com um baque surdo acompanhado de um gemido rouco e pegou o bloco em um movimento brusco. O outro Avox, ainda encolhido, se afastou dele, com os olhos arregalados de medo.

- Olha só, a pequena vadia está doente! Ah, que peninha. – disse ele em tom irônico, soltando uma risada em seguida. Repentinamente, mudou o tom, para um brusco e grosso. – Mas devia ter ficado no seu quarto, traidora. Já estive pior que você e não fiquei saindo de meu posto para uma enfermaria, não. Nunca vi Avox ser fresco. Que aguente. E se morrer, menos um. Quem a mandou aqui? Todos sabem que é proibido. Ande, escreva! – e jogou o bloco em cima dela.

Kath queria escrever que fora Jules. Mas, depois de ter ajudado tanto, ela não teve coragem. Era impossível que ele tenha feito de propósito. Provavelmente Zaro estava apenas arranjando um meio de poder torturá-la. E, como tinha ouvido, ninguém – ou quase ninguém – o contrariava. Ela sabia de alguma forma, que mesmo sabendo que não é proibido, Jules seria castigado. E por culpa dela. Ela não deixaria isso acontecer.

Escreveu, com letra tremida, enquanto ele gritava para ela se apressar.

“Eu achei que, como aqui há uma enfermaria, eu pudesse vir até aqui me tratar.”

Ele leu e riu mais uma vez.

- Avox não acha nada, só obedece, e olhe lá.

Ela tentou se arrastar para longe dele, mas ele a puxou de volta.

- Hora de “se tratar”!!! – E riu. Um som que a fez pensar se essa tortura seria pior que a da primeira vez.

- x – x – x – x – x – x –

Kaethe gemeu quando a água gelada molhou sua túnica. Zaro a jogara em algum lugar – ela fechara os olhos e dissera a si mesma que ficaria com eles fechados até tudo terminar – e estava apenas esperando. O silêncio era total. Era algo como uma banheira – ela não tinha ideia de onde estava – e a água subia e subia. Barriga. Pescoço. Ela tentou se levantar, se não se afogaria, mas Zaro a empurrou de volta, impaciente, fazendo a água se agitar e ela soltar mais um grunhido. Ele segurou sua cabeça, enquanto a água subia.

Depois de ela ter quase se afogado, Zaro a colocou sentada em um pequeno banco. Amarrou-a, cada mão para um canto, com duas pesadas correntes presas em lados opostos do teto. Olhou pra ela e rasgou sua túnica nas costas, expondo sua pele molhada. Kaethe se sentiu apreensiva e teve medo. Medo do que ele faria com ela.

Zaro foi até o pequeno armário na parede, abriu-o e pegou o chicote. Sorriu, adorando sua profissão, e se dirigiu até ela. Apertou um botão do chicote e levantou a mão e a desceu, ponto toda sua força nele.

Kaethe soltou o primeiro de muitos gritos, enquanto seu corpo tremia. Se levantou e tentou sair, mas as correntes não permitiram, e ela perdeu o equilíbrio, ficando pendurada pelos braços. Seus pulsos latejaram fortemente, e o sangue escorreu onde a corrente a cortou.

Mais um som gutural escapou de sua boca quando Zaro a chicoteou, duas, três, quatro vezes. Gritava e tremia ,a dor tomando conta de seu corpo. Zaro riu ao ver o sangue escorrer lentamente por suas costas. O chicote era elétrico, por isso ele a molhara. Para piorar tudo.

Ardia. Ela sentia como se tudo estivesse queimando. Suas costas estavam em chamas.

“Mate-me! Acabe logo com isso!” Gritou, desesperada. Mas a única coisa que saiu de sua boca foi um som horrível, sofrido, como um animal sendo abatido. As chicotadas ficaram piores, e assim a dor também piorou. Sua cabeça girava e girada, tudo doía e ardia, estava em chamas, estava queimando. O desespero já era pouco para definir o que ela sentia, e queimava, queimava.

E continuou... Uma eterna tortura. Nem Kaethe nem Zaro tinham noção da hora. Podiam ter se passado cinco horas ou cinco minutos, era como se nunca fosse terminar.

Kaethe começou a perder os sentidos. Ficou “mole”. Já não via nada direito nem sentia. A dor tomara seu corpo por completo. Ela ouvia o som do chicote cruel encontrando suas costas nuas, cheias de sangue. Um som abafado.

Ela havia aberto os olhos várias vezes durante a tortura. Tentava fecha-los, mas não conseguia. A sala onde se encontrava era escura. Via apenas chão, teto e armários, vários armários. Na parede da esquerda havia uma porta e na da direita outra, mas ela não sabia se tinha vindo de uma delas. Não importava.

Então, cansada, tanto mentalmente quanto fisicamente, Kaethe desmaiou.

Os braços de Zaro já estavam doloridos, mas ele não se cansava. Perdera a conta na décima nona chicotada. E continuara.

Ele percebeu que a Avox já havia desmaiado. “Fraca” pensou. Parou e examinou suas costas. Em carne viva. O sangue escorria e pingava no chão, e já havia feito uma pequena poça. Soltou um muxoxo, largou o chicote e foi até a porta.

- Jheff!!! Gritou impaciente. A primeira coisa que viu no corredor foram os cabelos castanhos do Avox, correndo, tropeçando em sua túnica. “Idiota”.

- Tire-a daqui! Ordenou ele. O Avox arregalou os olhos ao ver o estado da menina, e ele sentiu um calafrio. Só esperava que nada similar acontecesse com ele. Tratou de pegar as chaves da mão de seu patrão, abriu as correntes que prendiam os pulsos da menina desacordada e pegou-a no colo antes da mesma cair.

Jheff olhou incerto para o patrão. “O que vou fazer com ela?” Era o que seu olhar dizia.

Zaro respondeu, como se tudo fosse óbvio.

- Coloque-a em seu quarto. Limpe as feridas e o resto é com você. – Basicamente, um “se vira”. Mas ele já estava acostumado.

Zaro observou enquanto os dois desapareciam no corredor escuro. E nem o mais inteligente, ou esperto, ou qualquer coisa, conseguiria desvendar o que ele pensava.

- x – x – x – x – x – x – x – x –

Pov Kaethe

- Acorde, minha filha! – disse minha mãe enquanto me balançava. Abri os olhos, sonolenta, e ela sorria. Seus cabelos alaranjados brilhavam com a luz do sol que batia neles. – Feliz aniversário!!!

- Oi, mamãe!

Levantei e dei um abraço nela. Me senti estranha, mas ao mesmo tempo confortável. Balancei a cabeça, tentando espantar essa sensação estranha.

- Vamos filha, mamãe preparou um café da manhã delicioso pra você.

Eu e ela descemos as escadas rindo sem motivo. Chegamos na cozinha e a mesa estava meu pai e... No fundo da enorme mesa se encontrava Simon. Algo soou estranho nisso, mas meu pai e ele conversavam animadamente e logo que nos viram nos convidaram à mesa. Nos sentamos em lugares afastados mas mesmo assim conversávamos, como se estivessem um do lado do outro.

Simon cantarolava alegremente enquanto minha mãe e meu pai riam de algo. A casa estava linda, decorada como nunca esteve. O sol entrava pelas várias janelas que se estendiam pelo cômodo e o cheiro de lavanda – ou algo assim – era embriagante. Fechei os olhos e me permiti “saborear” aquela sensação.

Peguei um pãozinho recheado com chocolate e mordi. A sensação era ótima. Logo depois Nick entrou com um bolo rosa grande, com uma vela em cima.

- Feliz aniversário! – todos gritaram. Animada, soprei as velas. Minhas primas Anthea e Annazi entraram e me abraçaram junto com as outras duas da banda The Roses. Todos nós comemos do bolo – que estava uma delícia – e nos sentamos.

Quando encostei na cadeira, aconteceu algo estranho. Senti uma dor horrível e as pessoas na mesa foram parando de sorrir... A dor aumentou. O cheiro de lavanda foi embora, deixando em seu lugar um forte cheiro de sangue. Meu sangue. Minhas primas se levantaram e foram embora, sem sorrir ou se despedir, e Nick foi com elas. Simon se levantou e começou a retirar os pratos sujos, sem nenhuma palavra, e foi pra cozinha. Minha mãe pegou sua bolsa e seus brincos, meu pai foi até ela e simplesmente saíram de casa. A linda decoração da casa começou a desmoronar, tornando-se cinza e desmanchando ao chegar ao chão.

Tentei gritar, mas nada saiu de minha garganta. O gosto do bolo fora substituído por um gosto ruim. Mais sangue. Minha língua desapareceu e eu comecei a cair. Cair, cair, afundar, com várias frases e imagens soltas em minha cabeça. Minha mãe, meu pai, Simon e seu rosto inexpressivo, Nick. Todos foram.

Atingi o chão com um baque surdo, a dor inundando meu corpo. Mãos surgiam da escuridão, agarrando meu cabelo, minhas roupas e meus pés, cada mão me puxando para um lado, e doía.

Então fechei os olhos e tudo foi engolido pela escuridão.

Abri os olhos. Minhas costas doíam e ainda ardiam. Tentei me levantar, mas gritei de dor e resolvi ficar ali mesmo.

Percebi que estava sem minha túnica. Alguém devia tê-la tirado.

Os flashes da tortura foram voltando... Desde quando Zaro me pegou na sala branca até eu desmaiar...

Passei os olhos pelo quarto, a cabeça latejando. Vi minha túnica rasgada nas costas até o final da coluna e ensanguentada. Virei a cabeça para o outro lado.

Comecei a pensar no sonho que eu acabara de ter. E logo me vi pensando em casa. E mais do que nunca desejei estar nela... Com minha mãe e meu pai... Trocar olhares amigáveis com Simon e depois ir para o meu quarto conversar com Nick... Saber mais sobre tudo, e pensar que nunca mais vou ver os dois...

Comecei a chorar. Por tudo. Por causa da forte dor que eu sentia... Da falta dos amigos... De pensar que provavelmente nunca sairia daqui... E o quão pouco eu vou viver... E principalmente em saber que nunca mais poria os pés em meu lar, nem veria quem eu mais queria ver.


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Notas finais do capítulo

Tenso e.e
Próximo cap surpresaaaaaaaaa!!! Pov de um personagem que nunca teve povs aqui u.u
Se alguém mandar um palpite e acertar mando uma prévia do próximo cap adiantado (~ele já está sendo escrito).
Bjjjs!! See ya semana que vem.