Pov Liam

Aproveitei que Victoria estava no banho e saí de casa, eu queria ficar sozinho para esfriar a cabeça. Era tudo tão estranho, alias, eu me sentia estranho. Era como se eu não me reconhecesse mais, era como um... sonho.

Eu olhava as pessoas ao redor e sentia culpa, talvez por estar assassinando a raça delas, e isso me afetava de uma certa forma que eu adoraria saber, afinal, eu sou um vampiro, não posso ter sentimentos. Era isso que me deixava confuso, por que eu me importo tanto?

Andei até chegar perto de uma faculdade, e parei para fita-la. Sempre quis fazer direito, mais nunca tive essa oportunidade. Eu observei os alunos que entravam aos poucos para dentro da faculdade e sorri de lado, afinal devia ser bom ter a sensação de estar dando mais um grande passo em sua vida, fazendo algo em que realmente gosta. Senti um cheiro extraordinariamente familiar e levantei completamente a cabeça, olhando para todos os lados tentando identifica-lo. Uma menina loira, de olhos azuis caminhava a poucos metros de mim, segurando um fichário, com um mochila nas costas. Eu a segui com o olhar, eu a conhecia de algum lugar, eu só não me lembrava de onde. Por um impulso involuntário eu a segui, e vendo que ela não pararia até estar lá dentro, usei a velha técnica do esbarrão.

- Me desculpe! – eu disse assim que esbarrei propositalmente nela, fazendo com que seu fichário caísse, e ela abaixasse para pega-lo. Após ouvir minha voz, era como se ela tivesse congelado ali mesmo. Ela foi se levantando lentamente, e após alguns segundos seu olhar se encontrou com o meu.

- Li-liam? – ela gaguejou meu nome, me fazendo estremecer.

- Como sabe meu nome? – Eu perguntei franzindo o cenho, e sua expressão mudou, como se acabasse de ouvir algo decepcionante.

- Eu tenho que entrar – ela disse e rapidamente passou por mim, esbarrando de leve.

- Hey – eu segurei seu pulso rapidamente fazendo ela se virar para mim – como sabe meu nome? – perguntei mais uma vez e ela suspirou.

- Você não se lembraria – ela respondeu e mais uma vez tentou se soltar.

- Não me lembraria do que? – perguntei confuso, e ela pareceu ficar cada vez mais nervosa.

- Me deixa ir por favor, estou atrasada – ela disse e tentou se soltar mais uma vez.

- Me fala ao menos o seu nome – eu disse, e ela ficou alguns segundos me encarando.

- Meu nome é Candice Lopez – ela sussurrou, e então eu senti um Deja vu.

- Espera... era você que estava naquela casa abandonada 1 mês atrás – eu disse me lembrando dela sendo arrastada da casa, pelo Jack. Eu sabia que eu a conhecia de algum lugar! – Por que você disse aquelas coisas, antes de Jack tirar você de lá?

- Escuta, eu preciso realmente ir – ela estava impaciente.

-Quando é que nós podemos nos ver de novo? Preciso que me responda algumas perguntas– eu disse, e finalmente a soltei.

- Nós não podemos nos ver Liam, não é mais seguro – ela disse e logo se virou, fazendo eu ficar desentendido.

- O que não é seguro? – perguntei um pouco mais alto, já que ela estava mais afastada, e ela não respondeu.

Bufei e olhei ao redor, ninguém estava mais ali. Me aproximei de um banco que havia ali perto, e me sentei. Eu tinha o dia todo livre, eu com certeza poderia espera-la sair.

[...]

A porta da faculdade se abriu, e muitos alunos foram saindo apressados, mais não me desesperei em não visualiza-la, ela não estava ali no meio, pois eu não sentia seu cheiro.

Passou um tempo e todos os alunos já tinham ido embora, eu fitava a porta e quando estava quase desistindo, pude vê-la saindo olhando para todos os lados, como se estivesse procurando ou fugindo de alguém.

- Candice! – gritei seu nome, e assim que ela me viu, aumentou os passos, e continuou caminhando, o que foi em vão, já que sou muito mais veloz que ela.

- Não pode fugir de mim – eu disse parando em sua frente, o que a fez levar um susto.

- Me deixa em paz tá legal? Nós não podemos nos ver, nem nos falar, e alias, como me achou aqui? – ela estava nervosa, isso era evidente.

- Eu não achei, foi uma grande coincidência... Agora que respondi sua pergunta, pode por favor responder uma minha? – perguntei e ela bufou.

- Sinto muito, mais tenho que ir para casa – ela passou por mim, mais eu segurei seu braço e a puxei de volta para minha frente.

- Você não vai a lugar nenhum enquanto não me responder – falei o mais firme possível.

- Liam, me solta – ela sussurrou, e tentou inutilmente tirar minha mão de seu braço. Suspirei impaciente e fitei o céu, enquanto ela começava a se debater.

- Eu só quero que me diga o que exatamente aconteceu naquele lugar, e por que você ficou gritando que me amava? Nós não se conhecemos, não é mesmo? – perguntei inseguro e ela fitou o chão.

- Pra falar a verdade, nós nos conhecemos sim – ela disse, e eu franzi o cenho.

- Como? Eu não te conheço, quer dizer, eu sinto que conheço, mais eu só não me... lembro – respondi me surpreendendo com minhas próprias palavras.

- Costumávamos a assistir filme juntos, mais você só gostava de filme de terror, e era engraçado como você ficava entediado quando eu colocava comédia romântica – ela dizia como se estivesse tendo algum tipo de flashback, com um sorriso imenso estampado no rosto – também costumava a fazer canções para mim.

- Nós... nós éramos... – deixei a frase no ar, sem conseguir completa-la.

- Namorados – ela completou e meu corpo estremeceu.

- Isso é impossível, eu não me lembro de nada disso... Você está mentindo! – alterei minha voz e ela me encarou indignada.

- Não, eu não estou! Victoria enfeitiçou você para que não se lembrasse de nada... – ela disse, e pude ver uma lágrima escorrendo em seu rosto – eu senti tanto sua falta – ela fechou os olhos e mais lágrimas caíram. Aquilo estava me deixando cada vez mais confuso.

- Do que você está falando? Victoria sempre esteve ao meu lado, nós somos uma dupla... eu nem sei quem você é!

- Se passaram 74 anos Liam, Victoria te deixou, e quando finalmente estávamos juntos, ela apareceu e te quis de volta, mais você a rejeitou...

- Eu jamais a rejeitaria – eu a interrompi.

- Você sentia ódio dela por ela ter te deixado, e então ela... Simplesmente pediu para que Katie jogasse um feitiço em você, para que se esquecesse da sua vida, de nós...

- Para, para, para! – berrei, soltando o seu braço, e entrelaçando meus dedos em meus cabelos – Eu não sei do que você está falando, Victoria nunca me deixou...

- Quer saber? Estou perdendo meu tempo... Jamais acreditaria em mim, está completamente enfeitiçado – ela disse e passou por mim novamente, mais pude ouvir sua voz soar como um sussurro atrás de mim – eu tinha esperança de que um dia você me procuraria e se lembrasse de tudo em que nós vivemos – e assim escutei seus passos se afastando.

- Candice! – gritei seu nome me virando, e ela parou e me encarou – Londres está muito perigoso ultimamente... quer que eu te acompanhe até em casa?

- Por que você se importa? Se algo acontecer comigo, não vai ser mais da sua conta – ela respondeu secamente.

- Para de ser cabeça dura...

- Ah, eu que sou cabeça dura? – ela sorriu irônica – você acha que eu sou uma mentirosa patética, então para que quer ir comigo?

- Por que eu sinto que devo – respondi rapidamente, e ela pareceu surpresa, até eu senti.

- Tem que ficar longe de mim Liam – ela disse, mais sua voz falhou.

- Por que eu teria? Do que você tem tanto medo?

- Tenho medo do que Victoria possa fazer. Eu sou apenas uma humana, não posso encara-la, muito menos posso impedi-la de fazer algo não só comigo, mais com toda essa cidade.

- Se o que você disse é verdade, então por que se interessou logo em mim, já que sou um assassino? – perguntei e ela sorriu fraco, encarando o chão.

- Por que você mudou por mim... Você deixou de ser um assassino, para se tornar um príncipe maravilhoso, mais parece que nem todos os contos de fadas tem um final feliz, e a malvada que dessa vez venceu...

Involuntariamente, em questão de segundos eu estava na frente dela novamente, a fazendo levar um pequeno susto.

- Por que eu sinto que posso confiar em você? – perguntei praticamente em um sussurro, e ela me encarou.

- Por que você confiava Liam, nós sim éramos uma verdadeira dupla - ela respondeu firme. Ficamos por alguns segundos encarando um ao outro, e então ela suspirou – deixa que eu te acompanho até em casa.

- Não acho uma boa ideia – ela respondeu e logo deu dois passos para trás – adeus Liam.

Suas duas últimas palavras foram como uma facada em meu peito. Era como se fosse uma grande perda, como se mais uma parte de mim tivesse ido embora. Eu abri a boca algumas vezes tentando arranjar palavras que a fizesse ficar pelo menos alguns segundos, para que eu encarasse de novo aqueles olhos azuis, que me transmitiam total confiança. Eu apenas a segui, e rapidamente parei ao seu lado.

- E então, o que mais costumávamos fazer? – perguntei enquanto caminhávamos.

- Acredita em mim agora? – ela perguntou sem esperanças, enquanto seu olhar era fixo em algo distante a sua frente.

- Só me responda – disse, e ela suspirou.

- Cozinhávamos juntos, e você ria de mim por eu ser uma péssima cozinheira. Uma vez eu fui cortar um legume, e quase cortei meu dedo junto – ela deu uma risadinha, e eu sorri imaginando a cena – éramos muito caseiros, mais as vezes você me levava para jantar, ou para ver um filme... Teve uma vez em que você me levou no London Eye de noite, e foi uma coisa extraordinária... E também as vezes você cantava para mim antes de dormir – sua expressão de felicidade de desmanchou repentinamente, e ela parou de andar.

- O que foi? – perguntei idiotamente. Lógico que eu imaginava o motivo, e até me sentia culpado por não lembrar, mais eu não sabia se aquilo era verdade.

- Estou voltando a um assunto que foi difícil tirar da minha mente, pelo menos um pouco – ela sorriu sem emoção – não sabe como está sendo difícil seguir minha vida sem você ao meu lado...

- Eu... não sei o que dizer – e eu realmente não sabia, só sei que eu me sentia mal em vê-la assim por causa de mim.

- Não precisa dizer nada – ela disse e voltou a caminhar ainda mais rápido – Liam, me deixa sozinha tá legal?

Ela continuou caminhando em silêncio, e eu não a obedeci, continuei ao seu lado.

- Já faz faculdade a muito tempo? – tentei puxar algum assunto.

- Não, depois que Victoria conseguiu o que queria, eu decidi entrar para a faculdade e fazer direito, para ocupar minha mente...

- Eu também sempre quis fazer direito – eu disse sorrindo de lado.

No caminho trocamos mais algumas palavras, embora ela ainda estivesse bastante insegura, mais eu realmente não queria deixa-la ir sozinha.

- É aqui que eu fico... – ela disse assim que paramos em frente a um prédio, e mais uma vez tive um deja vu.

- Tá legal, boa noite... – sorri fraco e ela assentiu.

- Liam, pode me prometer algo? – ela perguntou repentinamente, me fazendo ficar sem reação, e mesmo assim ela prosseguiu – promete nunca mais me procurar? Se for pra te esquecer, é melhor eu não te ver – ela abaixou a cabeça em sinal claro de tristeza.

- Eu... – comecei, porém havia um nó em minha garganta que não me deixava continuar, e após alguns segundos, enquanto ela me encarava com um olhar triste, limpei a garganta e prossegui – prometo.

Ela fechou o olho fortemente e depois abriu, como se aquilo houvesse sido um coisa muito difícil de ser ouvida. Ela não disse mais nada, apenas entrou no prédio, e eu fiquei parado, tentando digerir tudo que havia acontecido.

Vazio. Era a palavra que me definia no momento, eu me sentia completamente vazio. Na mesma hora senti uma necessidade imensa de vê-la de novo, como se eu precisasse dela. Meus pés se moveram involuntariamente para dentro do prédio, na qual o porteiro acenou para mim, como se já me conhecesse.

- Pode me falar onde fica o andar da Candice Lopez? – perguntei e ele franziu a testa, como se estivesse estranhando algo.

- Ahn... no mesmo andar de sempre sr. Liam, o 4 andar – ele sorriu desconfiado e eu sorri fraco em agradecimento, ótimo, ele também sabia quem eu era.

Peguei o elevador, e fui para o 4 andar. Andei apressado pelo longo corredor, e pude sentir o cheiro dela cada vez mais próximo, até que cheguei no último apartamento do corredor, e eu tinha certeza absoluta que aquele era o apartamento dela. Respirei fundo, e apertei a campainha, ouvi passos se aproximando, e quando ela abriu a porta sua expressão facial era uma mistura de felicidade e surpresa.

- Desculpa quebrar nossa promessa, mais eu simplesmente não resisti – eu disse e sorri de lado, enquanto ela ainda me encarava, como se eu fosse de ouro, ou algo do tipo.