Eu, particulamente não sou um cara que liga muito pros outros. Mas aquilo era uma garotinha inofensiva,inocente, e eu não podia deixar ela ali. Os caras estavam se aproximando. Peguei a menina no colo e saí correndo. Parei uns 15 minutos depois. Deixei a menina do meu lado e sentei. Percebi que ela não tinha falado nada, nem gritado até lá.

- Érr.. hey. - Ela se escondeu em um canto. - Eu... não vou te machucar. 

Vi ela vindo um pouco mais pra frente, e ela parecia ter uma expressão mais velha, assim que a luz bateu no seu rosto. Impressão minha. 

- Não?

- Não. Cadê sua casa?

- Eu não tenho uma. - Ela ainda falava de um jeito meio mole, criança. 

- Quantos anos você tem?

Ela fez o numero quatro com os dedos.  

- Aqueles caras fizeram alguma coisa com você?

Ela fez que sim com a cabeça. Respirei fundo. Aí eu percebi o quanto eu precisava que a minha mãe me ensinasse a ser independente. Mas eu não ia voltar. 

- Juro que eu não vou te machucar. Só.. vou procurar um lugar pra gente ficar por uns dias até eu achar outro lugar.

- Você também não tem casa, moço?

- É... não.

- Cadê sua mãe?

Ia começar aquela coisa de criança irritante.

- Não sei.

- Ela morreu?

- Não.

- Como você sabe?

- A gente conversa depois, vem.

Levantei e chamei ela pra vir junto. Ela levantou e veio. No final não achei nenhum lugar. E acabei parando em outro beco, provavelmente em outra cidade. 

- Acho que a gente vai ter que parar aqui.

- Tá.  

- Mas fica perto de mim, dorme... que... eu tô aqui.

- Você vai me machucar?

- Não, juro.

- Oque você é?

Olhei pra baixo.

- Não sei.

- Não?

- Meu nome é Alex. Tenho vinte anos e.. eu fugi de casa.

Ela fez uma expressão terrivel, como se alguém estivesse morto na frente dela.

- Meu nome é Clarisse. Tenho - Ela fez o simbolo de 5 com os dedos. - anos.

- Não era quatro?

Ela ignorou.

- Vou dormir - Ela disse.

- Ok... boa noite.

- Boa noite.

Ela se deitou no chão. Mandei ela levantar e peguei umas blusas minhas e coloquei no chão. Eu sentei do lado dela, e esperei ela dormir.

Abri minha bolsa e peguei um cigarro. O acendi e começei a fumar. É estranho... eu nunca tinha pensado em como tudo podia acontecer tão rápido. Nem pensei em tudo o que podia acontecer. Sem pensar que a gente aprende. Mas seilá.. nesse pequeno tempo aí eu tinha encontrado uma pequena menina que já tinha sido violentada. Não parece grande coisa, mas quando você se depara com pequenas coisas, elas podem se tornar grandes. É um pouco estranho.  Continuei pensando em tudo o que aconteceu, e no que mais poderia acontecer, porque seilá.. vai que eu encontrasse umas cinco crianças abandonadas. Também meio que me dei conta que eu não sou tão egoísta. Cara, eu não tinha falado nada com aquela menina, mas eu tinha aprendido tanto.. Quando olhei o sol estava se pondo, e eu não sabia mais pra onde ir.